segunda-feira, 25 de junho de 2012

Euro 2012: Um decálogo sobre a dramática vitória da Itália sobre a Inglaterra (4-2, após g.p.)















1. Mudança de paradigmas. Deixámos de assistir, neste Euro, a uma Itália sobretudo fechada, conservadora e muito organizada tacticamente para passar a ver uma Itália pressionante, consistente defensiva e tacticamente mas sem medo de atacar e de assumir o jogo. No fundo, este Euro 2012 marcou um corte radical dos italianos com o "catenaccio". Ontem, no duelo contra os ingleses, quem teve mais bola foi sempre a Itália, quem dominou foi a Itália e quem criou mais ocasiões e teve mais remates foi a Itália. Inglaterra? Quase sempre fechada em 30 metros (linha defensiva e média muito recuadas), a equipa de Roy Hogdson raramente se soltou em jogadas de contra-ataque bem gizadas e capazes de criar muito perigo. Quiçá há uns anos a história tivesse sido contada de outra maneira. Mas agora, em 2012, verificámos uma mudança de paradigmas. O futebol tem disto...















2. Pirlo, o dono do jogo. É, nitidamente, o jogador mais influente da equipa italiana. Apesar dos 33 anos e da carreira longa, com muitos títulos e histórias para contar aos netos, continua a ser um jogador essencial. Andrea Pirlo não se consegue arrastar em campo. Mesmo quando está cansado, baixa um pouco ritmo, não consegue desparecer totalmente do jogo, aparecendo depois em maior evidência quando tiver recuperado as forças. A maneira como distribui jogo, como passa, como dribla curto, como remata, como rouba bolas sempre com a mesma classe é algo de único nesta equipa italiana e quiçá no futebol actual. Vê-lo jogar é sentir que este astro roubou ideias criativas a poetas como Dante ou Quasimodo, de tão poético que se torna o futebol quando jogado pelos seus pés de veludo. Um mago, o autêntico rei, dono e senhor do jogo para o qual entra...
3. A colocação inteligente de Montolivo. Pareceu-me, de facto, uma boa ideia a de Prandelli quando decidiu dar a titularidade a Riccardo Montolivo. O técnico italiano decidiu colocar Pirlo e De Rossi como médios-centro e jogar com Marchisio e Montolivo como interiores (uma espécie de 4x2x2x2). Notou-se, então, a presença de Montolivo neste esquema de uma maneira mais evidente durante o primeiro tempo. Através de toques simples, de grande qualidade e nota artística, foi conseguindo desequilibrar a defesa inglesa, que não pressionava tanto na zona de acção do nº18 da Squadra Azurra. Na segunda parte e prolongamento, devido ao cansaço, já não foi tão acutilante. Mas fica o registo para a decisão inteligente do seleccionador italiano.
4. Balotelli em 120 minutos! Parece algo de incrível, de facto. Balotelli jogou o tempo todo. E ainda converteu exemplarmente um dos penalties decisivos! Mas preferia cingir-me, neste caso, ao jogo do polémico avançado em 120 minutos. Depois de revisto o jogo percebo porque Mario se manteve em campo o jogo inteiro: não pareceu tão distante da equipa, mostrou mais entrosamento do que em qualquer outra ocasião se bem que tenha sido individualista e um pouco displicente em determinadas situações. Mas foi, sem dúvida, um Balotelli diferente, pela positiva. Mais sensato, mais integrado na equipa. Naturalmente que motivou-o jogar contra os ingleses, que tanto o assobiaram ao longo de todo o encontro, mas mesmo assim foi um jogador mais calmo até no confronto com os adversários. Mario Balotelli, sempre diferente até quando se porta bem!














5. Inglaterra nasceu para defender? Tão estranho ver este confronto entre uma Itália dominadora e uma Inglaterra defensiva, esperando o erro adversário e sem capacidade de criar um número elevado de ocasiões (pudera, estava a jogar contra uma Itália que além de ter bola, tem uma defesa bastante consistente). Olhando para a equipa de Roy Hodgson dou por mim a fazer a pergunta inicial inúmeras vezes. A equipa, senti durante todo o Euro, estava já mecanizada para jogar assim. Não era fácil fazer melhor. Em termos defensivos, diga-se, a equipa esteve muito bem. Saiu do Euro com 3 golos sofridos em 4 jogos bem complicados. Não é um mau registo. Mas o seu jogo ofensivo, especialmente ontem, defraudou-me um pouco. A falta de criatividade, de velocidade e, por vezes até, de capacidade de remate surpreendeu-me. Equipa que tem por prioridade defender para depois sair em contra-ataque tem que ser mais eficaz. E eficácia foi algo que faltou claramente a esta equipa na noite de ontem...
6. A dupla Terry-Lescott. Nem tudo foi mau neste Europeu para os ingleses. Como já referi anteriormente a equipa esteve muito organizada e compacta em termos defensivos. Nesse sector, destaca-se claramente a dupla de defesas-centrais: John Terry e Joleon Lescott. Em princípio, Lescott nem seria titular mas com a lesão de Cahill tudo se alterou. Gary Cahill podia ser um excelente titular, é certo, mas Lescott cobriu a ausência na perfeição. Junto com Terry, formaram uma dupla temível, forte nos duelos pelo ar e na intercepção de diversos lances da equipa adversária. No fundo, foram um dos principais esteios desta equipa inglesa neste Euro. Do outro vou falar já de seguida...
7. A outra dupla importante dos Três Leões: Gerrard-Parker. Na ausência de Lampard, creio que Scott Parker foi um companheiro à altura do capitão Steven Gerrard no meio-campo inglês. Muito sólidos defensivamente, mostraram-se a dupla perfeita. Complementaram-se bem durante os 4 jogos da Inglaterra nesta competição. Gerrard esteve em foco pela sua capacidade de ajudar a defesa, de lançar o ataque e, sobretudo, pelas duas assistências para golo que efectuou. Já Parker mostrou toda a sua raça, combatividade e capacidade de roubar bolas a meio-campo. Dois jogadores enormes, um mais cerebral, o outro mais raçudo, mas que se mostraram absolutamente fundamentais para que a estratégia de Hogdson resultasse.
8. Onde andou Ashley Young? Esperava muito de Young para o jogo de ontem, confesso. Mas não esteve lá muito bem, na verdade. A minha expectativa era que o confronto com Abate fosse intenso e o jogador inglês ganhasse boa parte dos duelos. Durante o primeiro tempo, foi durante algum tempo um jogador difícil de parar (como é habitual) para os defesas italianos. Mas com o tempo foi desaparecendo e a equipa ressentiu-se da sua perda de influência. Muitas vezes víamo-o desesperado tentando ajudar Ashley Cole em tarefas defensivas. Não foi uma noite terrível, simplesmente esperava mais de um jogador habitualmente decisivo.
9. As revelações Hart e Glen Johnson. Este Europeu teve o condão de mostrar ao mundo dois excelentes jogadores da equipa inglesa, que afirmaram-se na Ucrânia, em definitivo, como jogadores fundamentais no "onze" dos Three Lions. Falo-vos do guarda-redes Joe Hart e do lateral-direito Glen Johnson. O primeiro mostrou todas as suas qualidades, verdadeiro guarda-redes elástico, tão bons são os seus reflexos. Tem estatura de grande guarda-redes, claramente. Desde Seaman que a Inglaterra buscava o guardião ideal. Aí está ele. Já Glen Johnson é jogador de grande equipa. Vê-lo no actual Liverpool, com todo o respeito por um dos clubes mais importantes da história do futebol mundial, custa-me um pouco. É uma equipa "pequena" para ele. Defensivamente imbatível e forte no apoio ao ataque, Johnson tem tudo para se tornar numa referência, a nível mundial, na posição que ocupa. Aliás, para mim já é uma referência. Falta só o salto para uma equipa mais competitiva.
10. Por último, fazendo jus ao número: Wayne Rooney. Rooney foi o jogador mais combativo da equipa inglesa frente à Squadra Azzurra. Forte, explosivo e com a bola bem colada aos pés foi o elemento mais desestabilizador para a defesa italiana nos primeiros 20 minutos de jogo, principalmente. Na segunda parte, quando a Inglaterra, finalmente, conseguia perfurar o espaço defensivo italiano, dava sempre a sensação de poder ser Rooney a tornar-se no homem decisivo. Aos 92´, esteve perto disso: atirou por cima da baliza de Buffon, num pontapé de bicicleta extraordinário. Despediu-se do Euro com 2 jogos realizados. A decepção do craque foi evidente no fim da lotaria de grandes penalidades. É, de facto, uma pena para ele, não tanto pela ausência nos primeiros 2 jogos da fase de grupos (a equipa aguentou-se bem sem ele), mas sobretudo pela derrota de ontem...

Sem comentários:

Enviar um comentário