terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia 4 do Euro, grupo D: O derby da Mancha em 8 pontos e ainda o Ucrânia-Suécia


















França-Inglaterra 1-1


1. Ter a bola ou não ter: eis a questão. Olhando para este França-Inglaterra o que saltou mais à vista foi a maneira como a França com bola, jogando de pé para pé, procurando espaços onde estes não existiam ( e eram quase impossíveis de encontrar...), não conseguiu criar perigo a não ser de fora da área e mesmo assim não foram muitas as jogadas. Acho que faltou aos franceses, sobretudo, capacidade de jogar mais directo, colocando Benzema mais próximo dos centrais ingleses. Benzema jogou praticamente todo o jogo fora da área, algo impensável para a referência ofensiva do centro do ataque de uma equipa. Benzema, é certo, prefere procurar outras zonas, onde se sente mais confortável. Ontem mal se notou, a não ser em dois remates. E de onde foram rematadas essas bolas? Pois, de fora da área...
2. A "nova" Inglaterra de Hogdson. É uma equipa que joga com as linhas recuadas, parecendo que joga com dois laterais de cada lado. Hogdson optou pelo jovem Chamberlain do lado esquerdo, um jogador que se revelou muito útil pois deu-se ao sacrifício de apoiar Ashley Cole no trabalho de parar Debuchy e Nasri. Do outro lado também Milner apoiou várias vezes o lateral-direito Glen Johnson. Foi uma equipa defensiva, a jogar em bloco baixo, mas que conseguiu apesar de tudo desequilibrar, sobretudo nas saídas rápidas de Chamberlain e nas combinações venenosas entre Young e Welbeck (belíssima dupla de ataque, diga-se). Foi uma estreia convincente de uma equipa que, já se sabe, irá ser diferente das Inglaterras de outras competições.
3. A importância da dupla Parker-Gerrard. Um é o pulmão da equipa, jogador de grande resistência e exímio passador. O outro é o líder, o capitão, o cérebro da equipa, quando a bola passa pelos seus pés é tratada com uma leveza e um carinho próprios de um jogador de classe. Além disso assistiu para o golo, com uma sublime execução de livre que encontrou a cabeça de Lescott, colocando assim a Inglaterra em vantagem. Falo-vos, claro está, de Scott Parker e Steven Gerrard, respectivamente. Uma dupla indispensável para esta "nova" Inglaterra.
4. Nasri: magia em estado puro. Samir Nasri é um jogador do outro mundo e isso já o sabemos há muito. Voltou a prová-lo ontem à tarde. Destreza incrível, toque macio na bola, grande técnica e rapidez na execução de movimentos são algumas das qualidades deste pequeno génio da Gália. O golo de ontem prova que é um jogador inteligente e que não sabe desaproveitar oportunidades: apanha a bola fora da área, aponta à mira ao canto inferior direito, sem hipóteses para Hart, e está feito o empate. Os magos são assim: quando menos se espera, sacam um coelho da cartola...
5. Agora, o meio-campo da França. O meio-campo francês ontem foi constituído por um trinco mais posicional, jogador mais físico (Alou Diarra), por um médio criativo, com grande visão de jogo e capacidade de passe (Cabaye) e por um jogador mais rápido e capaz de dar progressão imediata ao jogo francês (Malouda). Diarra recuperou imensas bolas e é um jogador essencial nas bolas paradas ofensivas. No entanto, esteve muito mal no lance do golo inglês, ao deixar Lescott saltar à vontade nas suas costas. Cabaye é um jogador de grande qualidade. Fez uma 1ª parte muito boa, recheada de grandes passes a desmarcar Ribery, Benzema ou Nasri e uma 2ª parte menos conseguida, com mais passes falhados, embora tenha tido nos pés uma das melhores ocasiões francesas nesse período. Já Malouda nunca foi capaz de ser o jogador influente de outras ocasiões porque a defesa inglesa quase não deu espaço para grandes correrias aos jogadores franceses.
6. Tempo para algumas questões: deveria Blanc ter optado por outros jogadores de início? Acho que para começo de jogo não estava nada mal aquele "onze". A equipa nem se portou mal nos primeiros 10/15 minutos. O problema foi quando se começou a percepcionar, especialmente a partir do 2ºtempo, que a equipa francesa parecia estar a ir contra um muro. Blanc poderia porventura ter apostado em Menez de início, jogando com Nasri um pouco mais recuado e com Malouda no banco. Até podia mas, como se viu, Nasri rendeu bem na sua posição. Agora uma coisa é indubitável: o seleccionador francês deveria ter substituído mais cedo. Fazer a primeira substituição aos 84 minutos revelou alguma falta de ambição e, quiçá, conformismo de Laurent Blanc. Só arriscou quando viu que os ingleses estavam de rastos fisicamente. No entanto, foi tarde de mais.
7. O que irá fazer Hogdson à equipa quando Rooney regressar? Rooney é claramente um elemento fundamental desta equipa. Possante a nível físico, rápido e com um remate letal, o avançado do Manchester United é dos melhores do Mundo na sua arte. Escusado será dizer que a Inglaterra ganha outra dimensão ofensiva com ele em campo. Mas, e pelo que tenho visto da dupla Welbeck-Young, pode até nem entrar para titular no imediato. A dupla actual, companheira de Rooney no United, tem dado bem conta do recado e parece-me que ambos se complementam bastante bem. Solução? A natural. Recuar Ashley Young para a sua posição habitual (médio-ala esquerdo) e juntar Rooney a Welbeck. Nada mais simples...
8. Por último, como estarão as duas selecções nos próximos jogos? Apesar da vitória da Ucrânia, acredito que França e Inglaterra continuam a ser as duas principais candidatas ao apuramento. No entanto, muita coisa pode ainda mudar. Como, por exemplo, a Suécia ainda conseguir entrar na luta. Muito está dependente já da próxima jornada: os franceses defrontam os anfitriões, que, surpreendentemente, lideram o grupo. Jogo difícil, onde a equipa de Blanc não pode perdoar. Já os ingleses defrontam os desesperados suecos, que não podem falhar mais nesta fase. Portanto, serão dois jogos muito complicados para os irmãos da Mancha. Em termos exibicionais, espero os franceses a tomarem a iniciativa nos dois encontros e os ingleses, um pouco como ontem, mas arriscando um pouco mais e com as linhas um pouco menos recuadas. Cá estaremos para descortinar e tirar conclusões.
















Ucrânia-Suécia 2-1

Não tendo sido um jogo extraordinário, pelo menos, teve emoção até ao fim. Os ucranianos mereceram a sorte, sobretudo por dois aspectos: a consistente primeira parte, onde tiveram mais posse e foram mais capazes de desequilibrar o jogo e a maneira como responderam à vantagem sueca(golo de Ibrahimovic), com dois excelentes golos do veterano Andriy Shevchenko.

Em termos individuais destacaria, do lado dos ucranianos, as grandes exibições de Shevchenko (após uma semana com dores de costas, o avançado de 35 anos provou ainda estar para as curvas), Yarmolenko ( talentoso, arrancou grande cruzamento para o empate), Gusev ( um lateral que atacou imenso mas que defendeu com muito critério) e Konoplyanka ( grande promessa ucraniana, rápido, flecte muitas vezes para o centro e faz lembrar um pouco o próprio seleccionador Blokhin, grande estrela do futebol soviético nos anos 70 e 80, na projecção que dá ao jogo ofensivo).

Do lado sueco, pouca coisa a dizer. Foram lutadores, até nem jogaram mal, mas a falta de uma defesa realmente consistente revelou-se uma catástrofe. Lustig e Olsson, os dois laterais, são lentos a defender e com jogadores rápidos como Yarmolenko ou Konoplyanka pela frente sentiram imensas dificuldades. Ibrahimovic fez o golo e é sempre um jogador disposto a causar perigo. No entanto, para mim, o melhor foi Kallstrom. Belo jogo, tanto a defender como a atacar, e com uma assistência para golo no pecúlio.

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