terça-feira, 30 de abril de 2013

Apontamentos do fim-de-semana: Do 33 a caminho da Luz a uma "cancha" louca passando por goleadores e um Professor com "alma"

1. O 33 está a caminho... Mesmo a tremer um pouco, o líder Benfica não vacila. O 33º título está bem encaminhado para os "encarnados". O Marítimo foi o que se esperava: oponente duro, rápido na maneira como se organiza a sair para o ataque e bem posicionado a defender. Um pénalti e um auto-golo (e os Deuses da Sorte...) decidiram o jogo a favor do Benfica. A qualidade da exibição já nem conta: o importante passa mesmo por somar os 3 pontos todos os fins-de-semana (pelo menos até ao Dragão). Não brilhou muita gente na noite amena da Pérola do Atlântico mas há um rapaz que sobressai sempre: Nemanja Matic. Brutal a recuperar, a pautar os ritmos e a sair com a bola controlada, não deixando que ninguém a roube. Entra, de caras, num "onze" das revelações das maiores ligas europeias desta temporada. Magnífico. Ele é a cara lutadora e brava deste Benfica, a cara que merece mesmo o tal título nº 33...
2. Lucho, dragão de ouro. Já mais lento, mas sempre abnegado, Lucho é a imagem de um Porto que se quer manter vivo, que quer acreditar e que sonha ainda, apesar da possibilidade de título não ser mais do que uma imagem ténue. Para lá do golo apontado ao Vitória de Setúbal (com assistência magistral de James), há sempre mais a registar na exibição do capitão portista: a abnegação. Mesmo já não aguentando tão bem fisicamente e desaparecendo do jogo umas quantas vezes, El Comandante mantém a aura e a capacidade de, um momento para o outro, transportar a equipa para um campo de classe e elegância que é difícil de atingir. Há quem diga que no actual esquema Lucho já atrapalha. É certo que falta rapidez, mas a coordenação e inteligência estão lá. Juntem-nas ao habitual espírito de sacrifício e temos jogador para todas as horas. Sejam boas ou más.
3. A "alma" de Jesualdo. Para mim, é indiscutível que o Sporting ganhou, com Jesualdo Ferreira ao leme, um verdadeiro condutor de homens. Condutor de vontades, de atitude, de perseverança, no fundo, um autêntico líder. E um líder é alguém que se quer com carisma, com alma. Acho que esta é mesmo a palavra-chave: alma. O Sporting de Jesualdo joga com alma (seja lá o que isso for...). Confiando no dicionário, alma significa a parte imoral do ser humano, o próprio corpo ou a consciência. Neste caso, fico-me pela oitava definição: alma é agente, motor principal; o que dá força e vivacidade. A coexistência da inteligência e maturidade do Professor e a vontade de aprender e de triunfar dos jogadores revelou-se fundamental para que o casamento funcionasse. O Sporting precisa de estabilidade e parece ter encontrado o homem certo. Será que Bruno de Carvalho irá renovar com Jesualdo? Para bem do Leão, era o melhor que tinha a fazer...
4. A "alma" dá força e vivacidade... Pois bem, é o que aparece descrito na tal oitava definição do Dicionário da Língua Portuguesa. Força e vivacidade. O que não faltou aos extremos do Sporting no encontro frente ao Nacional. Eles foram fogo em campo, quais puros-sangue latinos, correndo desenfreadamente pelo campo, procurando o melhor espaço, a melhor finta, o melhor cruzamento e o melhor remate. Bruma e Capel, Capel e Bruma. Brupel e Capruma (a dada altura já ia confusão tal na cabeça dos laterais do Nacional que até os nomes se misturavam...). No primeiro golo, Bruma dançou com Claudemir, abandonando posteriormente o par e cruzando para o mágico calcanhar do ex-sevilhista. Depois disso, continuou o recital de ambos no relvado do estádio com nome de honrado Visconde (que orgulho teria ele se fosse vivo e visse algumas das maravilhas destes rapazes). Ele eram fintas, mudanças de velocidade, conduções em aceleração, um sem-número de bonitos, porém, sem a eficácia desejada. Entretanto, Bruma ofereceu o "cálice da salvação" a Candeias, redimindo-se a caminho do fim, com um cruzamento imparável para a cabeça de Rojo, após canto de...Capel. Um final feliz numa história estonteante. O que este Leão precisava era de alma!
5. Portas fechadas à emoção. Compreendo que se puna a violência ou tentativas de tal. Mas parece-me que privar os adeptos de ir ao futebol ou, sequer, de vê-lo ou ouvi-lo na rádio, é tremendamente injusto para quem não prevarica (larga maioria) e quer estar sempre perto do seu clube. Ontem, aconteceu em Guimarães um jogo triste. Não pelo resultado e pela intensidade (2-2, entre duas das melhores equipas da nossa Liga, com uma 2ª parte vertiginosa), mas pela falta de público. O tal 12º jogador. Confesso que fiquei muito agradado com o acto dos jogadores vitorianos, que antes de entrarem em campo para defrontarem o Paços, foram à porta do estádio, agradecer ao milhar de indefectíveis que se deslocou só à porta do D.Afonso Henriques, para dar apoio à distância e, com um pouco de sorte, descobrir uma nesga que desse para assistir a um pouco do gracioso encontro lá disputado. Encontro esse que teve grandes golos (Tiago Rodrigues e Luís Carlos) e que veio confirmar que Baldé não engana, vai ser mesmo um tanque de ataque valioso num futuro próximo.
6. Vidal, o melhor jogador da época. A Juventus tem um grupo de jogadores absolutamente extraordinários, que irá revalidar o título nesta temporada. Fala-se muito em Pirlo, Marchisio, Vucinic ou até Lichtsteiner mas para mim o melhor jogador da época tem sido o chileno Arturo Vidal. Essencial no apoio defensivo, na transição, mostra incríveis qualidades na condução da bola e na maneira aguerrida como disputa cada lance. Este fim-de-semana mostrou outra das suas mais-valias: a meia-distância. Após passe de Marchisio, pegou de primeira e atirou colocado, sem hipóteses para o keeper do rival da cidade, o Torino. No fundo, este golo, que garantiu quase em definitivo o título, foi um dos pontos altos de uma época extraordinária deste médio chileno. A Juventus já é um clube muito grande mas acredito que um dia possa acabar num dos grandes de Espanha ou Inglaterra. Ou até no país da moda, a Alemanha, onde já foi figura e cresceu como jogador, ao serviço do Bayer Leverkusen.
7. Goleadores do fim-de-semana: Bony, Pellè, Benteke, Huntelaar, Pazzini... Este fim-de-semana dediquei-me a ver alguns goleadores que tem chamado a atenção esta temporada e outros que pareciam perdidos mas que regressaram às suas equipas em grande. Na Holanda, saltam à vista dois "9" de área, autênticos monstros sagrados do golo e autores de uma temporada para a história. Falo de um craque já referido aqui noutras semanas, Bony Wilfried, e do italiano Graziano Pellè. Bony, nome-maior do Vitesse, é golo puro. Seja de cabeça, seja com o pé direito, a sua potência física e capacidade de entrar nos espaços na perfeição faz dele um dos homens-golo da moda no futebol europeu. Só na Eredivisie, já leva 31 golos (este fim-de-semana mais um, na recepção ao Willem II). Tudo isto, em apenas 28 jogos. Arrasador. Quanto a Pellè, depois de um início promissor de carreira, foi-se perdendo por clubes modestos em Itália, até que chegou a oportunidade holandesa (para jogar no AZ Alkmaar). Entretanto saiu para o histórico Feyenoord, onde esta época se tem revelado uma autêntica máquina de fazer golos (26 em 27 jogos). É alto (1,93m) mas relativamente coordenado nos seus movimentos. Não é muito rápido nem tecnicista mas a maneira como coloca a bola na baliza com o seu pé direito ou de cabeça fazem dele um ponta-de-lança muito interessante de seguir. Já com 27 anos, poderá estar à beira de ter a primeira oportunidade da carreira num clube grande. Depois da Holanda, trago goleadores de campeonatos maiores. Em Inglaterra, o espectáculo-Benteke continua. E vão 18, só na Premier. Esta segunda-feira apontou hat-trick na goleada ao Sunderland (6-1). Na Alemanha, reapareceu Huntelaar. Primeiro jogo desde a lesão que o vergou no dérbi frente ao Borussia Dortmund, em Março. E logo respondeu com hat-trick, pleno de oportunismo, marca pura de um autêntico Caçador do golo. Na Série A, por fim, Pazzini voltou a mostrar que o Milan lhe tem feito muito bem. Um pouco afastado da equipa após a chegada de Balotelli, tem respondido com golos, daqueles marca de homem de área. Bisou frente ao Catania no último domingo, revelando-se peça-chave da magnífica reviravolta milanista. A prova de como os homens-golo puros continuam bem vivos na velha Europa do futebol.
8. Diego, o mago da cidade da Volkswagen. Wolfsburgo foi uma cidade concebida em 1938 pelos nazis para albergar a fábrica de uma nova marca de automóveis do estado (a Volkswagen) e os seus trabalhadores. Hoje em dia, findo há muito o período autoritário na Alemanha, Wolfsburgo é uma cidade industrial, tranquila, ainda muito agarrada à marca da Volkswagen, é certo, mas com uma qualidade de vida interessante. Ainda mais interessante, certamente, porque no clube local joga um mago, um daqueles craques do futebol que nos enche a alma (novamente a dita cuja...) e nos faz ficar fascinados de cada vez que o vemos jogar (quase como se fosse sempre a primeira vez que o víssemos). Falo, claro está, de Diego Ribas da Cunha, mais conhecido como Diego. O número 10 do Wolfsburgo continua a espalhar magia com o seu pé direito, assistindo os seus companheiros, encontrando as melhores linhas de passe e, claro está, finalizando. Este fim-de-semana, numa onda mais underground, decidi acompanhar jogos menos importantes dentro das grandes ligas. Assisti ao Wolfsburgo-Borussia Moenchengladbach e posso dizer que, com toda a certeza, não me arrependi. Foi um recital de Diego, aliás mais um, numa época de grande nível (9 assistências e 12 golos em 34 jogos, entre Liga e Taça). 2 assistências e 1 golo, pormenores de magia pura, que fazem da Volkswagen Arena (casa do Wolfsburgo) um dos estádios mais felizes do mundo. Isto é Diego em estado puro. 28 anos, o auge da maturidade na sua carreira. É jogador para algo mais que o actual Wolfsburgo, com todo o respeito pelo clube. Para a próxima época, perspectivo saída para outro patamar competitivo, de novo. Merece.
9. Vendo o Spartak Moscovo. Boas sensações tem deixado a equipa de Valery Karpin (suspenso no encontro deste fim-de-semana). Na última jornada, vitória sobre o Anzhi, por 2-0. Como sempre, montada em 4x2x3x1, a equipa do Spartak mandou quase sempre no jogo, assentando o seu jogo numa posse de bola objectiva, tentando aproveitar a verticalidade dos laterais (sobretudo o talentoso Kombarov) e os movimentos amplos dos alas Yakovlev e McGeady, assim como do brasileiro Ari. Kallstrom ajudou à festa, marcando, num remate colocado, ainda bastante cedo. Atrás, vai brilhando o italiano Bocchetti, grande reforço de Inverno da equipa moscovita. Implacável no desarme, por alto e por baixo, na saída de bola e muito forte posicionalmente. Tem progredido imenso. Na 2ª parte, o Spartak foi controlando, perante um Anzhi excessivamente dependente da magia de Willian e da capacidade finalizadora de Eto´o (nem um nem outro estiveram nos seus melhores dias...). Emenike, de regresso à equipa, forçou pénalti, provocou expulsão do guarda-redes Gabulov e Kombarov aproveitou para decidir o encontro. Vitória clara, assente numa dinâmica interessante, com um duplo-pivote de excelência (Kallstrom-Vukojevic), um central em excelente forma (Bocchetti), um dos laterais-esquerdos mais interessantes da Europa (Kombarov), uma dupla de alas correcta e desequilibradora e dois homens, que juntam mobilidade e capacidade de segurar bola e jogar em apoios (Ari e Dzyuba). A época já esteve bem negra para o Spartak. Hoje em dia, a Liga Europa parece certa. E veremos se ainda dá para chegar à Champions...
10. Newell´s-Racing. Grande jogo na Argentina este fim-de-semana. Terminou 4-3, a favor da equipa do Newell´s Old Boys. Gosto muito de ver esta equipa jogar. Tacticamente correcta e muito competitiva, a formação de Rosario tem jogadores com muita qualidade técnica (Pablo Pérez, Tonso, Cruzado), tem um avançado completo e incisivo (Scocco) e elementos com experiência europeia que são claras mais-valias (Heinze ou Maxi Rodriguez). Do outro lado, brilhou um jovem do qual já falei aqui: Luciano Vietto. 3 golos e um recital de futebol. Completo, joga a toda a largura, tem técnica e é muito forte a aparecer nas zonas de finalização. 19 anos e já mostra muito futebol. Grande promessa a surgir do clube de Avellaneda.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Apontamentos do fim-de-semana: De um Braga finalmente campeão a uma Juve belíssima passando por um dragão deprimido, um italiano louco ou uma cidade a ferver em golos

1. O título que Braga já merecia. Indiscutível, para mim, a justiça da vitória bracarense na final da Taça da Liga, sobre um pálido e errático FC Porto. O título foi o corolário físico de um crescimento sustentado em termos futebolísticos, ao longo dos últimos 10 anos. O jogo foi pragmático na 1ª parte, embora com ligeiro ascendente azul-e-branco. No entanto, uma grande penalidade convertida por Alan no tempo de compensação (e consequente expulsão de Abdoulaye) acabaram por ajudar o Braga a levar de vencida o 2º troféu realmente significativo da sua história. No 2º tempo, os dragões foram tentando atacar, mas de forma muito atabalhoada (muitas perdas de bola, com James e Moutinho em claro sub-rendimento), enquanto que os minhotos eram mais objectivos na saída para o ataque, pecando só na finalização (e de que maneira!). No final, porém, fica o registo para uma vitória justíssima de um clube cada vez mais assentado entre os grandes do nosso futebol.
2. O estado depressivo do Dragão. Há explicações difíceis no futebol. Perceber objectivamente o que vai acontecendo com o FC Porto actualmente pode não ser tarefa fácil. Explico-me: há evidências em termos futebolísticos, as quais já irei explicar, mas também me parece que há um problema na componente psicológica. Em termos futebolísticos, esta equipa parece estar a atravessar período claro de menor fulgor físico. Sobretudo entre jogadores que correram quilómetros esta época (Danilo ou Alex Sandro, por exemplo, já não têm, de longe, a mesma acutilância da fase mais forte da temporada) ou jogadores regressados de lesão (James só apareceu em grande no recente jogo da Liga frente ao Braga e Moutinho, desde a lesão, parece jogar com mais cautelas). A equipa ressente-se, porque a pressão para recuperar bola em zonas adiantadas já não repercute o mesmo efeito. O FC Porto tornou-se num doente em estado depressivo, que vai tomando comprimidos (posse de bola) para ir disfarçando a doença. No entanto, sabemos como os anti-depressivos, muitas vezes, têm um efeito perverso nos doentes. Neste caso, parece-me evidente. O Porto agarra-se à bola mas é muito pouco objectivo. Oportunidades escasseiam. Velocidade nas acções? Quase nenhuma. Erros individuais? Vão começando a ser cada vez mais. Perdas de bola, falhas de concentração defensiva, pouca acutilância...O Dragão está adormecido numa depressão que lhe pode custar tudo numa época. Vão-se salvando poucos jogadores em momento de forma brutal (Fernando ou Mangala, por exemplo). Culpas do treinador? Claro que as há, embora não seja o único. No entanto, insistir na medicação errada em vez de optar por um cuidadoso tratamento do foro psicológico pode acabar por matar o paciente...
3. Benfica a caminho de ano de sonho? Fim-de-semana sem Liga, tempo de reflexões. Neste caso sobre um Benfica que parece bem encaminhado para um ano de incrível sucesso. Às suas portas, dois títulos nacionais e a possibilidade de regressar a uma final europeia. Em termos teóricos, parecem cenários altamente prováveis. Vem aí fase decisiva para o confirmar (jogos contra Sporting e Marítimo na Liga, intercalados pela decisiva meia-final da Liga Europa frente aos turcos do Fenerbahçe). O Benfica vem de dois empates com um sabor doce (apuramentos garantidos para o Jamor e "meias" da Liga Europa). Creio que não poderemos, ainda assim, encarar esta ausência de vitórias nos dois últimos jogos como sendo um período de menor fulgor encarnado. A equipa sentiu naturais dificuldades perante a pressão do Newcastle e só não chegou com a questão resolvida ao intervalo do jogo de St.James Park porque não foi eficaz. No jogo de ontem frente ao Paços, o Benfica mandou tranquilamente e nem o tardio golo de Cícero (falha grave de Maxi Pereira) colocou em causa a passagem à final da Taça. Porém, fica o registo: dois golos sofridos após dois erros bem graves nos últimos encontros. Sinais de algum relaxamento, em especial no jogo de ontem. Jorge Jesus irá alertar os seus jogadores, seguramente. Até porque o sucesso se constrói, sobretudo, na maneira como se aprende com os erros...
4. O ano de Cristiano. 2013 candidata-se seriamente a ser o ano de CR7. Este fim-de-semana, em Bilbau, juntou mais 2 golos a uma vasta lista (27 golos só desde Janeiro). Para muitos, vai a caminho de melhor jogador europeu da História. Pode parecer um conceito discutível mas, em termos individuais, acredito que possa lá chegar. Tem 28 anos, seguramente mais 6/7 anos ao mais alto nível, portanto pode chegar a conseguir essa distinção. A sua potência de remate, as arrancadas infernais, os golpes de cabeça utilizando o seu 1,86m tornam-no no jogador mais em forma do Mundo neste momento. Está nas "meias" da Champions e na final da Taça do Rei. Ganhando estes dois troféus (ou melhor, não os perdendo para Messi...) e conseguindo ajudar Portugal a resolver difícil encrenca rumo ao Brasil, seria uma injustiça tremenda se ele não conseguisse levar para casa a segunda Bola de Ouro...
5. Sevilha quente, num Betis-Sevilha feito Alemanha-França... Uma data inesquecível para todos os fãs de futebol (pelo menos aqueles que nasceram nos anos 70): 8 de Julho de 1982. Estádio Ramón Sanchez Pizjuán. Meia-final do Mundial espanhol, entre Alemanha e França. Já referenciei, num texto de há uns meses, esse mítico jogo. Aliás, é costume fazer-se essa comparação quando temos um empate a 3 num jogo de futebol. Ora, passados mais de 30 anos, na mesma cidade, tivemos mais um 3-3 emblemático. Neste caso, num jogo muito mais sentido por toda a comunidade sevilhana: o derby local Betis-Sevilha. Foi jogo em que Deus e o diabo passearam pelo relvado, tamanha agitação apaixonante o jogo conheceu. De um 3-0 a favor do Sevilha (fruto de meia-hora de futebol inesquecível, ardente e veloz, imagem fiel de uma cidade quente e romântica) até a um 3-3 final (resposta bética, aproveitando erros alheios, foi absolutamente notável!). Foi, de facto, um espectáculo excepcional. Quatro duques de vermelho (Reyes, Navas, Rakitic e Negredo), escudados por um fiel guerreiro francês (Kondogbia), tornaram a meia-hora inicial num dos momentos futebolisticamente mais prazenteiros de toda a época. Porém, ninguém contava que o outro guarda-de-honra vermelho (Medel) falhasse e assim a equipa verde-e-branca ganhou esperanças de poder vir a discutir o resultado. No 2º tempo, a artilharia bética foi potenciada ao máximo. Molina e Vadillo juntaram-se a Castro e fizeram a cabeça em água ao pobre esquadrão do Nervión. Fazio e novamente Medel foram vilões desta história romântica. E assim, e com um toque de força africana no final, os bravos Béticos conseguiram chegar a um impensável ponto, especialmente depois de início tão bruto dos sevilhistas. Que grande jogo foi este, retrato perfeito de um futebol espanhol apaixonante, vibrante, com golos, boas propostas de jogo e grandes intérpretes (jogadores) e comandantes (treinadores).
6. Uma Sociedad que merece a Realeza. Entusiasmo puro. É esta a sensação que tenho quando vejo a Real Sociedad de Phillipe Montanier entrar num relvado para disputar mais um jogo da Liga espanhola. A proposta é sedutora: uma equipa que pressiona alto, gosta de ter bola, sabe o que fazer com ela e que, em termos ofensivos, tem um poder de criação e concretização notável. Este fim-de-semana, porém, vimos a Real num registo um bocadinho diferente. O cenário era perfeito: domingo de manhã soalheiro no bairro de Vallecas, em Madrid. Frente-a-frente, duas grandes equipas (daquelas que gostam de jogar com a melhor amiga nos pés) e dois grandes treinadores (Paco Jémez contra o já citado Phillipe Montanier). O jogo correu muito bem à Real Sociedad. Em dois lances idênticos (bola longa, aproveitando espaços no lado direito da defesa do Rayo, desmarcação de homem na esquerda e cruzamento para Agirretxe finalizar), a equipa basca colocou-se em vantagem. Isto tudo antes do minuto 20! Depois disso, foi gerir com calma e pragmatismo. O Rayo Vallecano pegou na bola, pôs Piti a comandar a distribuição de jogo, mas este novo registo da Real, mais pragmático e controlador sem bola, revelou-se igualmente eficaz. Mikel e Iñigo, dupla de centrais, fizeram um jogo de muita qualidade. Os laterais cumpriram, sobretudo De la Bella. Markel Bergara foi um gigante a equilibrar a equipa a meio-campo e a dar os passes de ruptura necessários. Na frente, o diabo em forma de trio ofensivo: os velozes e estupendamente tecnicistas Vela e Griezmann e o matador de serviço Agirretxe. Grande vitória, totalmente justificada. Valência e Málaga ficaram a 4 pontos na imensa luta pelo 4º lugar. Uma Sociedad de bom futebol que merece ser Real (e com esta realeza, falo da realeza futebolística, da Champions League...).
7. Imagens de Inglaterra: de um louco Di Canio à FA Cup passando pelo comeback king Arsenal: Um só ponto para falar de Inglaterra. Este fim-de-semana dediquei muito tempo aos jogos da Good Old Albion. Vou tentar ser conciso (tarefa nada fácil...). Primeiro destaque vai para Di Canio. Uma daquelas personagens que tornam o futebol num desporto mais apaixonante. Vibrou, correu, festejou loucamente, qual jogador, sujou o impecável fato que trazia vestido, cumprimentou euforicamente todos os jogadores no final de importante gesta. Vencer um derby é um cenário que Di Canio respeita muito e com o qual vibra imenso (não esquecer que sempre viveu com muita paixão os derbies entra a sua Lazio e a Roma). Este fim-de-semana deu a primeira vitória ao Sunderland em 3 meses (e digo deu, porque toda a equipa, responsável pelo feito, ganhou uma nova alma com a sua presença). E logo no duelo regional frente ao grande rival Newcastle! Todo este momento de loucura de Di Canio levou-me a pensar numa frase de Casimir Delavigne, autor francês do século XIX: Os loucos são espantosos nos seus momentos lúcidos. Sem dúvida. Em segunda instância, vem o tema FA Cup. Manchester City e Wigan apuraram-se para a final de 11 de Maio. Justamente, diga-se. O City despachou o Chelsea (que já não vence os citizens nesta competição há 98 anos!). Grande 1ª parte dos de Manchester, com um jogo magnificamente orquestrado pelo maestro Yaya Touré. No 2º tempo, houve reacção londrina mas o City soube merecer o sorriso final. Na outra meia-final, que opunha o Wigan ao mítico Milwall, equipa do Championship, vitória justíssima da formação de Roberto Martínez. No fundo, o corolário de uma época fantástica dos lattics nesta competição. Terceiro e último ponto, o Arsenal. Ou como descrevi no título, o comeback king (nome dado, por norma, às equipas que habitualmente operam reviravoltas). Este fim-de-semana mais uma vitória importantíssima na luta pela Champions. O Arsenal ia sofrendo com o esquema defensivo do Norwich mas um pénalti (bem marcado, diga-se), já à beira do fim, foi a primeira pedra rumo à construção de um grande resultado. Nessa altura, brilhou o que de melhor há nesta equipa: a frente ofensiva, composta por craques como Podolski, Walcott ou Giroud. Grande recuperação da equipa gunner, que somou 25 pontos dos últimos 30 possíveis. Notável!
8. A luta pela Champions em França. Também em França a luta pelo último lugar de acesso à Liga dos Campeões está ao rubro. Lyon, Nice e Saint-Étienne parecem ser, de momento, os maiores candidatos, mas muita atenção à grande recuperação do Lille nesta 2ª volta. Este fim-de-semana pude observar os jogos desse trio que ocupa as últimas posições europeias actualmente. O Lyon bateu o Toulouse por 3-1. Com Gourcuff de regresso às grandes exibições, a equipa de Rémi Garde vai mostrando força na luta por um lugar milionário. Mais uma grande exibição também dos médios Gonalons (mais defensivo) e Grenier (médio-ofensivo), dois dos jogadores mais interessantes desta equipa e da própria Ligue 1. Já o Nice teve problemas na 1ª parte. Apesar de ter muito mais posse de bola (chegou aos 75%!), a equipa da Côte d´Azur não foi eficaz. Na 2ª parte, porém, apareceram os golos. 3, no caso. Traoré, Digard e o goleador Cvitanich decidiram o encontro. Uma equipa muito interessante este Nice. Capaz de ter a bola e de criar perigo por fora, através do virtuosismo dos alas Pied e Bauthéac. No meio-campo, excelente trabalho do trio Anin-Digard-Traoré. Atrás, além do promissor lateral-esquerdo Kolodziejczak, vai despontando interessante central sérvio: Nicola Pejcinovic. Por último, o Saint-Étienne. Fiquei um pouco decepcionado com o nulo, sexta-feira, na deslocação a Valenciennes. Mais decepcionado, sobretudo, depois do início forte dos verts. Rapidamente a equipa pareceu, porém, conformada com o empate. Christophe Galtier, o treinador, é um daqueles técnicos que opta pelo pragmatismo fora de portas. Aubameyang, Hamouma e Mollo ainda mexeram com o jogos nos primeiros 25 minutos mas, de resto, foi quase sempre um longo bocejo. Honestamente, não creio que este Saint-Étienne chegue ao 3º lugar no fim do campeonato. O Olympique Lyonnais, pese embora a irregularidade recente, parece-me claramente o candidato mais forte. No entanto, atenção ao Nice, com uma bela proposta, jogadores a crescer e um treinador muito experiente, já campeão no Lyon (Claude Puel). E atenção redobrada ao Lille, que empatou este fim-de-semana contra o Marselha e que tem um plantel bastante competitivo!
9. PSV-Ajax. Foi um jogo muito bem disputado o clássico holandês. O Ajax venceu (3-2) e está cada vez mais próximo de revalidar o título nacional. A equipa de Amesterdão tem acabado as Ligas mais recentes com muita saúde. Esta não parece ser excepção. Com Eriksen (que até "ofereceu" um golo ao adversário) a  comandar o jogo, o Ajax mandou quase sempre na bola e mereceu a conquista dos 3 pontos. Pela frente, um PSV, treinado pelo experiente Dick Advocaat e liderado a meio-campo por Strootman, que apostou em jogar no contra-ataque, tentando apanhar a equipa de Amesterdão desprevenida. Foi um jogo onde se viram os grandes defeitos das equipas holandesas: falhas posicionais a nível defensivo, erros individuais e fraca pressão a defender. Daí os clássicos do País das Tulipas terem sempre tantos golos. São bonitos, emocionantes, mas também denotam alguma falta de rigor...
10. Juventus a léguas de Milan e Nápoles. A jornada deste fim-de-semana da Série A deu a clara ideia de que a Juventus está, neste momento, num plano bastante superior ao da restante concorrência. O triunfo sem mácula frente à Lazio (2-0) foi mais uma prova dada nesse sentido. A maneira como a Juve pega no jogo, toma conta dele e o faz dele o que quer é notável. Meio-campo ao nível dos melhores, com Pirlo a pautar, Vidal a espalhar magia (e a facturar, ontem apontou 2 golos), Pogba a dar dimensão física e inteligência ao nível do passe e um Marchisio de qualidade em transições. Ontem, foram 4 por dentro e os laterais Lichtsteiner e Asamoah por fora. Na frente, jogou Vucinic mais solto. Mobilidade excepcional. O recuo dele no lance do golo (movimento comum do montenegrino), arrastando defesas, dando apoio e isolando Vidal foi excepcional. Atrás, um trio defensivo muito seguro (ontem com o reforço de Inverno, Federico Peluso no lugar de Chiellini). Uma grande equipa, sem dúvida. Visto o Milan-Nápoles do último domingo (bem disputado no primeiro tempo e quezilento no segundo) e o Lazio-Juve de ontem, fiquei com mais certezas acerca da justiça e clareza do título juventino. Se é que dúvidas havia ainda, antes desta jornada...




terça-feira, 9 de abril de 2013

Apontamentos do fim-de-semana: De um Benfica quase campeão num "cemitério" a um "elefante" goleador passando por leões ressuscitados, ministros ou máquinas trituradoras

1. Benfica "enorme" e o "cemitério" de Cajuda. Segue imparável, provavelmente rumo ao título, a trajectória encarnada nesta Liga Zon Sagres. Este fim-de-semana a vítima foi o Olhanense de Manuel Cajuda, ele que no final do jogo teve uma tirada curiosa (um clássico deste veterano treinador). Disse Cajuda que não esperava ser o "herói ou o mais inteligente do cemitério" perante um Benfica "enorme". Com isto quis dizer que , dentro das equipas do fundo da tabela, não seria o cemitério de dívidas, problemas financeiros e desportivos olhanense que iria conseguir contrariar a força deste Benfica. E força, precisamente, é algo que não tem faltado à equipa de Jorge Jesus. Atravessa momento físico e psicológico soberbo. Ontem, faltou o golo numa 1ª parte de várias ocasiões desperdiçadas. Apareceu (por duas vezes) no início de um 2ª tempo no qual vimos um Benfica a circular mais rápido a bola e a encontrar espaços mais facilmente. Salvio e Matic decidiram o jogo. O argentino foi o melhor encarnado: veloz, dinâmico, oportuno, decisivo com remate colocado, sem hipóteses para Bracalli. Matic voltou a ser gigante: arrumou a casa, distribuiu com serenidade e apontou bom golo. Destaque positivo também para André Almeida. Adaptado à esquerda, defendeu-se bem de Targino e apoiou imenso o ataque. Enorme disponibilidade e muito compromisso. Em suma, o Benfica não foi brilhante como noutras ocasiões mas resolveu bem o duelo contra um Olhanense defensivo, mas sem possibilidades de jogar de outra maneira. Cajuda não foi o mais inteligente do cemitério. E como tal o risco de fatalidade da sua equipa continua a ser bem grande...
2. James vestido de D.Sebastião e um protagonista inesperado. E, passados 3 meses de ter contraído lesão, fez-se luz: James Rodríguez voltou a mostrar a sua cara mais feliz num jogo do FC Porto. Marcou, criou jogo e quando apareceu no centro foi absolutamente preponderante a desbaratar a defensiva do Sporting de Braga. No entanto, o protagonista maior da noite foi um jovem pouco habituado, por certo, a ser capa de jornal: Kelvin. O miúdo que pedala perante os adversários sem parar foi o salvador de um jogo que se complicou muito para o FC Porto quando Alan decidiu sacar genial coelho da cartola. Kelvin, entrado ao minuto 77, atirou por duas vezes, praticamente de seguida, sem hipóteses para Quim. No 1º remate, aproveitou uma segunda bola para disparar, à entrada da área. O 2º tento foi um lance estudado, com o canto a cair mesmo a jeito para um potente disparo de pé direito. Uma noite de sonho para Kelvin. E  um cheirinho a noite de sonho para James. 3 pontos que permitem ao FC Porto respirar na luta pelo Tri...
3. Sporting (re)nasceu um dia... Sob o signo de...Jesualdo Ferreira. Que grande trabalho tem realizado o veterano treinador transmontano. Esta semana foi verdadeiramente épica: duas vitórias arrancadas a ferros, em tempo de compensação, colocaram os leões na rota da Europa. Mais do que explicar os bons resultados através de um prisma simplista (como fez parte da imprensa, querendo associar o sucesso à presença do novo presidente no banco...), prefiro tirar conclusões à luz do que foram as exibições em Braga e em Alvalade, frente ao Moreirense. A equipa mostrou maior capacidade para criar perigo, fio de jogo e, sobretudo, foi eficaz. A entrada de André Martins trouxe outra clarividência à 2ª linha de meio-campo. Bruma e Capel continuam a desbaratar os laterais contrários. E há um Van Wolfswinkel, que parece mais motivado desde que foi vendido ao Norwich (4 golos e 1 assistências nestes 2 últimos jogos). Atrás, porém, continuam os problemas. Compreensíveis, digam-se. Ilori e Rojo não conseguem ainda formar, de todo, uma dupla sólida. Ambos passam ainda por um processo de crescimento enquanto defesas-centrais. Nas laterais, uma boa nova: Cédric. Autor de duas belíssimas exibições esta semana, o lateral-direito formado na cantera verde-e-branca vai ganhando confiança e mostrando qualidades. Ainda tem de melhorar a defender, mas continua a revelar grande capacidade ao nível dos apoios ofensivos (já o havia demonstrado na Académica, na temporada passada). Tem Miguel Lopes como concorrente, sendo que este jogou na esquerda frente ao Moreirense, face à ausência de Joãozinho. Boas opções, atrás e à frente. E atenção aos jogadores ressuscitados: além de André Martins, regressaram Schaars e o jovem Viola (que resolveu o desafio deste fim-de-semana). Variedade para atacar um final de época que pode compensar, em parte, a história terrível que se viveu até Jesualdo poisar no "banco" do clube leonino.
4. O adeus de Pedro Emanuel a Coimbra. Triste e soturno. As capas negras dos estudantes bem que podiam servir para esconder os rostos de desolação dos adeptos da Académica face aos resultados mais recentes. O despedimento de Pedro Emanuel parece-me um desfecho previsível, face à escassez de bons resultados e de boas exibições. E face, sobretudo, às invenções tácticas de Emanuel ao longo dos últimos tempos. A tentativa de encontrar a fórmula táctica ideal não correu nada bem. Houve variedade e não estabilidade e os jogadores ressentiram-se. Não falta qualidade ao plantel academista, parece-me óbvio. Também me parece que as culpas não podem ser assacadas à presença na Liga Europa. O problema esteve na falta de consistência táctica. Sobretudo aí. E essa falta de consistência leva a que a equipa se sinta insegura atrás e ataque de forma pouco objectiva e muito complicada. A intermitência da utilização do único médio criador de jogo (Cleyton) ou a irregularidade de rendimento de jogadores preponderantes (Wilson Eduardo, Edinho, Bruno China ou Reiner, por exemplo) são outras questões que ficam por explicar. Chega agora Sérgio Conceição. Homem da casa, com fama de disciplinador, embora tenha divergências desde há uns anos com o presidente da Académica (aparentemente sanadas, entretanto). Veremos se algo muda. Caso contrário, só uma eventual Liguinha poderá salvar a Académica de um desfecho absolutamente indesejável...
5. Boas intenções não chegam senhor Ministro... É inquestionável que o Beira Mar conheceu o período de maior fulgor exibicional a partir do momento em que Costinha assumiu o "banco" dos aveirenses. No entanto, as vitórias não têm acompanhado a equipa. Nem sequer os empates têm aparecido e bem sabemos como nesta luta ao ponto eles interessam (e de que maneira!). Este fim-de-semana, o Beira Mar perdeu por 2-1 em Guimarães. Normal, dirá quase toda a gente. No entanto, a posse de bola foi aveirense e a equipa até merecia o empate, pela maneira como terminou a carregar sobre o Vitória. Mas defensivamente continua a ter enormes descompensações, falhas de concentração que deitam tudo a perder. Diria que as intenções são boas mas a equipa acusou claramente a mudança de um sistema defensivista (com Ulisses Morais) para um sistema que assume o domínio do jogo (com Costinha). Cria mais e joga com mais qualidade nos últimos 30 metros mas no espaço defensivo sente-se mais insegura. No entanto, também acredito que uma vitória nos próximos jogos pode ressuscitar este Beira Mar, que até tem vários jogadores a grande nível (excelente forma do lateral-esquerdo Hélder Lopes, dos médios Nildo e Rúben Ribeiro e atenção ao jovem Saleh, por exemplo). O tempo urge e o Ministro tem de encontrar a chave para a abrir a porta da manutenção.
6. Uma "saladeira" demolidora. Pode parecer um título estranho para um texto acerca de uma equipa campeã. Não tanto, se pensarmos que a "saladeira" é o nome dado ao título da Bundesliga (porque tem a forma de um prato usado para servir salada...), neste caso garantido por uma equipa demolidora, uma máquina de futebol, candidata a um triplete impressionante. Falo, naturalmente, do Bayern Munique. Na mesma semana, quase arrumou a eliminatória com a Juventus na Liga dos Campeões e garantiu desde já a conquista do título alemão. Impressionantes os números: 24 vitórias, 3 empates e 1 derrota (em casa, frente ao Leverkusen). 79 golos marcados, 13 sofridos. Muito provavelmente irão bater o recorde de pontos numa época da Bundesliga. A vitória que deu o título, curiosamente, nem foi brilhante ou avassaladora. Bastou um golo de Schweinsteiger para que o título ficasse desde já garantido (embora o empate também bastasse). Schweinsteiger que continua a ser, juntamente com Lahm, um dos históricos da casa, autêntico porta-estandarte do sentimento bávaro. Foram precisamente eles que construíram o lance do golo, no passado sábado, em Frankfurt: Lahm cruzou (um clássico já, claramente o melhor lateral-direito do mundo neste momento, pelo apoio ofensivo, capacidade de assistência e rigor defensivo) e Schweinsteiger tocou, brilhante, de calcanhar para o fundo das redes. Dois heróis construídos no berço de Munique. No entanto, há outros heróis a destacar: Mandzukic, goleador de todas as formas e feitios (época soberba); Ribéry, claramente a fazer das melhores épocas da carreira; Kroos, que se lesionou frente à Juventus, mas que vinha sendo um dos principais dinamizadores do jogo interior do Bayern; Alaba, lateral-locomotiva desta formação, jogador enorme no trabalho ofensivo e a progredir em termos defensivos; Muller, craque que arranca de fora para dentro e é fundamental na manobra de desestabilização das defesas contrárias. Sobretudo, estes 7 jogadores. No entanto, Javi Martinez, Dante, Boateng, Pizarro, Robben, Luiz Gustavo, Shaqiri ou Gómez também têm muito mérito (sem esquecer, claro, o grande keeper Manuel Neuer). Uma lista infindável de craques, num ano que pode vir a ser de sonho para o Bayern. Grande trabalho de Juup Heyneckes. Para o ano dará lugar a Pep Guardiola, numa mudança que suporá um boom mediático para a Bundesliga. Que sorte a do Bayern, que pode dar-se ao luxo de prescindir de um mestre como Heyneckes para poder ter Guardiola...
7. As bolas paradas de Kiyotake. A japonização da Bundesliga tem-se tornado num dos fenómenos mais interessantes dos últimos tempos no futebol europeu. A aposta permanente em jovens promissores do país do Sol-Nascente tem valido negócios interessantes e o despertar das atenções sobre o principal campeonato alemão no país nipónico (importante atrair o mercado asiático hoje em dia!). Este fim-de-semana, mais um japonês esteve em destaque na jornada da Bundesliga: Hiroshi Kiyotake. Tem 23 anos, é internacional A e tem sido uma das peças fundamentais da excelente época do Nuremberga. No jogo do último domingo, em casa, frente ao Mainz, foi decisivo, na marcação de duas bolas paradas que resultaram em golo (curiosamente apontados pelo mesmo jogador, Nilsson). É um executante irrepreensível. O seu pé direito é uma clara mais-valia, não só neste tipo de situações, mas também em construção de jogo organizado. Leva já 11 assistências na Bundesliga 2012/2013. Pode actuar como médio-ofensivo central ou descaído numa das alas. Sigam-no e descubram os encantos técnicos do jogador japonês. Sorte para Alberto Zaccheroni (seleccionador japonês): ele não é o único assim!
8. Itália: do 4x3x3 da Fiore ao desastre do Inter. A Fiorentina de Montella é das equipas mais interessantes da época em Itália. Pelo estilo de jogo, pelo compromisso que tem com a bola e pela maneira como ataca posicional. A equipa começou o jogo deste fim-de-semana contra o Milan de novo em 4x3x3. Ainda assim, organizava-se muitas vezes em 3x5x2, em ataque posicional e em 4x1x4x1 em situação defensiva. Muitas perdas de bola, uma das quais fatal (de Pizarro), iam deitando tudo a perder para a equipa de Vincenzo Montella. O futebol habitualmente fluído da Fiore não apareceu, por força da pressão posicional muito bem feita pelos jogadores do Milan. No entanto, mesmo jogando com 10 e com a saída, por lesão, de Jovetic, a equipa melhorou bastante na 2ª parte. O Milan ainda fez o 2-0 mas a resposta da equipa de Florença, com um trio composto por Rômulo, Cuadrado e Ljajic verdadeiramente endiabrado, foi espectacular. Mesmo jogando com menos um, a Fiorentina tomou a bola de assalto, circulou-a com critério, pôs Cuadrado e Ljajic a romper em diagonais e chegou ao empate, através de duas grandes penalidades, ganhas precisamente pelos extremos anteriormente referidos. Um choque autêntico para o Milan esta reacção. Muito coração e crença num futebol positivo levaram a Fiorentina ao triunfo. Já no Giuseppe Meazza, aconteceu um grande jogo que, no entanto, não foi estranho para quem conhece os comportamentos irregulares desta equipa do Inter. Terminou 4-3 para a Atalanta. Ao intervalo, o Inter mandava tranquilamente, jogando permanentemente em cima da equipa de Bergamo e não dando hipóteses de saída de bola aos forasteiros. Por ironia do destino, foi um jogador do Inter (Livaja), emprestado à Atalanta, que começou a encontrar espaços para criar desequilíbrios. Bonaventura aproveitou e empatou. Só que, de seguida, Ricky Alvarez bisou e colocou o Inter com uma confortável vantagem (3-1). Parecia quase tudo decidido. Porém, num jogo deste Inter não se podem tirar conclusões tão precipitadas. Denis, com um "hat-trick", colocou a Atalanta na frente do marcador. O Inter descompensou em termos psicológicos após o 3-2 (grande penalidade muito duvidosa). É uma equipa pouco estável em termos psicológicos. Além disso, continua a ter um central, de seu nome Ranocchia, que complica atrás e à frente (o falhanço no minuto final figuraria em qualquer programa de comédia). Muitos erros, muita complicação e uma evidente necessidade de renovação, no plantel e, quiçá, no "banco"...
9. O génio de Ilicic. Foi um dos momentos do fim-de-semana. Minuto 5 da 2ª parte do Sampdoria-Palermo. 1-1 no marcador. Josip Ilicic, internacional esloveno, rompe pelo meio-campo da Samp, em zigue-zague, passando tudo e todos e facturando um golo de antologia. À la Messi ou à la Maradona (como preferirem). Execução brilhante de um jogador muito talentoso mas nem sempre em jogo. Junto a Miccoli, no renovado ataque do Palermo, tem brilhado nos últimos jogos. E eis que, de repente, os sicilianos, que pareciam já despromovidos, ganharam nova vida e estão mais perto da salvação. Como um golo do outro mundo pode ajudar a mudar a sorte das equipas...
10. Wilfried Bony a pedir o salto... Enorme a época do avançado costa-marfinense do Vitesse. Tem sido um recital de golos. Este fim-de-semana foram mais dois. De cabeça, de pé direito, tem sido uma das revelações da época nos campeonatos europeus. Leva 29 golos em 26 jogos da Eredivisie. Goleador puro, tem um sentido de baliza notável. Os gigantes da Europa já andam de olho nele. Provavelmente sairá para a Premier League no próximo Verão. Será justo se assim acontecer.