segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Apontamentos do fim-de-semana(19/12/2011): De Coimbra a Norwich ouvindo a mesma sinfonia catalã da semana passada







Mais um fim-de-semana de muito e bom futebol. Como sempre, à segunda-feira, os meus apontamentos:

1. Académica vs Sporting. Perspectivava uma partida emocionante entre estudantes e leões e de facto assistiu-se a um jogo interessante, com resultado justo(1-1) e domínio repartido. Marcou Éder para a Académica, ao minuto 28, após assistência de Diogo Valente, respondeu Elias, aos 80´, na recarga a um remate de Carrillo defendido por Peiser. Académica melhor na primeira hora de jogo, com o Sporting a responder com algumas jogadas de perigo desperdiçadas. Sporting forte depois dos 60´, a criar mais perigo e a submeter a Briosa a uma pressão constante. Melhores da Académica: Pape Sow( impecável, foi o verdadeiro "pulmão" do meio-campo coinimbricense), Abdoulaye( imperial na defesa), Diogo Valente( incansável, deu muito trabalho a João Pereira e fez a assistência para o golo) e Éder( um golo e mais uma exibição abnegada do "17" da Briosa). Melhores do Sporting: João Pereira( começa a afirmar-se com um dos líderes dos leões), Insua( profunidade constante do lado esquerdo, bela aquisição e bela exibição ontem. O melhor do Sporting) e Carrillo( depois da sua entrada ao intervalo, o Sporting foi outro, com as constantes aceleradelas que puseram a cabeça em água ao lateral recém-entrado Nivaldo).
2. Vitor Pereira e os dilemas do "9". Parece-me evidente que falta ao FC Porto, actualmente, um bom ponta-de-lança, alguém que faça a diferença e que, no fundo, dê confiança também aos companheiros de ataque. Considero que Kléber tem um grande futuro pela frente( Walter, embora vá marcando golos, levanta-me mais dúvidas) e que Hulk tem cumprido nesse papel, mas, ainda assim, falta um homem de área. Penso que é fundamental que o Porto, para afrontar o resto da época com total confiança, contrate um "9" que se adapte rapidamente ao 4x3x3. Penso em Olivier Giroud, revelação do ataque do Montpellier esta época, como exemplo do ponta-de-lança que pode faltar aos azuis-e-brancos. É alto(1,92m), tem 25 anos e já é internacional A por França. Leva 14 golos esta época e é um jogador que vem buscar jogo atrás, domina bem a bola, combina bem com os extremos( o Montpellier joga em 4x3x3) e é letal em frente à baliza. No entanto há mais goleadores que ficariam bem no "onze" dos dragões. Por enquanto, e apesar de tudo, o Porto pratica bom futebol e vai ganhando.  Mas não se deixa de notar a falta desse "9"...
3. Bedi Buval: um dos homens do fim-de-semana. Tem 25 anos e é francês. Leva 3 golos e 1 assistência em 3 jogos na Liga. Um autêntico globetrotter, passou por França, Inglaterra, Dinamarca, Grécia e Polónia antes de chegar ao nosso cantinho à beira-mar plantado. Foi uma das figuras da jornada 13 da Liga Zon Sagres. Bedi Buval, avançado-centro do Feirense, foi mais uma vez decisivo e promete tornar-se num caso sério. Segundo rezam as crónicas( com muita pena minha, ainda não o pude ver ao vivo ou, quanto muito, pela televisão), é mesmo bom de bola. Este fim-de-semana resolveu o encontro do seu Feirense contra a União de Leiria, com dois golos, plenos de oportunismo. Cito a análise do jornal A Bola à sua exibição: " A sua atracção pelo esférico, pelo golo, desenvolve-se de um modo apaixonante, empolgando a plateia e envolvendo todo o colectivo na missão da vitória. Dois golos plenos de oportunidade e tantas outras ameaças de quem se desfaz em promessas". Veremos se é mesmo revelação ou se não passam de meros fogachos na terra das Fogaças...
4. FC Barcelona, a história mais bonita da última década. Pego na incrível capa da excelente revista diária espanhola " SporYou", na sua edição de hoje e que ilustra bem o quão honrados nos podemos sentir por ter a oportunidade de presenciar ao vivo um fenómeno não só desportivo mas também cultural chamado FC Barcelona ou como é popularmente e mundialmente conhecido, Barça. É um hino à cultura, verdadeira poesia em movimento. Vejo o Barcelona de Guardiola a jogar e é como se estivesse a recuperar velhos poemas perdidos, de Pessoa a Neruda passando pelo helenismo de Oscar Wilde, nos passes infinitos de Xavi, no jogo romântico de Iniesta e no zigue-zague constante de La Pulga Messi. Estes, digamos assim, são os três referentes maiores do " futebol-total" deste Barcelona. No entanto, esta equipa distingue-se pelo colectivo, pelo grupo de operários que, em conjunto, torna o futebol um lugar muito mais romântico do que alguns crêem que seja. Este domingo bateram o Santos de Muricy Ramalho, por inapeláveis 4-0, na final do Campeonato do Mundo de clubes. As palavras de Neymar no final da partida ilustram bem o sentimento de impossibilidade de contrariar esta força da natureza:" Hoje assistimos a uma lição de futebol". Pois bem, o certo é que não foram os primeiros nem serão, certamente, os últimos. Marcaram Messi, por duas vezes, Xavi e Fabregás. A dada altura, os poetas de Camp Nou já jogavam num incrível 3x7x0( Muricy ficou escandalizado!), sem avançados, e com todos os 11 elementos da equipa trocando constantemente passes, em absoluta harmonia, sem notarem sequer a presença de 11 valorosos indivíduos que queriam disputar a bola com eles, do outro lado. Chamem-lhe bênção, trabalho, predestinação. O certo é que isto, meus amigos, é poesia. Não expressa por palavras, mas por movimentos, passes, golos, enfim... No entanto, as bases desta poesia não deixam de ser as mesmas da poesia literária: sentimento e paixão.
5. Afinal, tudo vai bem na casa Real. O problema de Mourinho parece que continua a ser os jogos contra o Barcelona. Mal regressa ao campeonato "normal", volta às exibições de sonho e às goleadas históricas. Desta vez, 6-2 em Sevilha. CR7, com três golos, diz "ter calado os críticos". Muitos críticos exageram, é certo, mas Ronaldo tem de assumir a prestação menos conseguida no fim-de-semana passado. De resto, tudo na mesma. Mais uma lição de futebol de um Real fortíssimo, candidadato maior, nesta altura, à conquista do ceptro espanhol. Apesar do Barcelona...
6.  Kevin-Prince Boateng. Um autêntico líder no meio-campo do Milan. Na senda de grandes craques como George Weah ou Seedorf, Boateng tem vindo a assumir um papel cada vez mais importante na transição a meio-campo dos rossoneri. Vê-lo jogar é uma entusiasmante experiência, que nos coloca perante um dos médios de transição mais interessantes dos últimos anos no futebol mundial. Vejam o Milan, só por este ragazzo vale a pena!
7. Raúl: um médio-ofensivo goleador. Foi uma das estrelas do fim-de-semana. Aos 34 anos, Raúl González continua a encantar-nos, a cada semana, com a sua classe, destreza, elegância e eficácia em frente à baliza contrária. Sábado, apontou três golos na goleada do Schalke 04 sobre o Werder Bremen(5-0). Quem sabe, não esquece, já diz o povo...
8. Sebastián Leto. Este argentino, de 25 anos( em tempos apontado ao Benfica) , continua a ser das melhores razões para que se siga uma Superliga da Grécia cada vez mais caída em desgraça. É a referência ofensiva do Panathinaikos de Jesualdo Ferreira, embora possa jogar também na ala esquerda( como médio-ofensivo descaído ou a extremo). Destaca-se pelo seu portentoso remate de pé esquerdo e por ser um jogador veloz a aparecer em zona de finalização. Está cada vez mais próximo daquilo que se pode definir como um avançado-centro. Leva 14 golos e 7 assistências em 12 jogos na Liga. Acredito que esta metamorfose táctico-estratégica feita pelo Professor Jesualdo Ferreira com Leto pode levá-lo, dentro de pouco tempo, a palcos maiores...
9. As variações do Montpellier de Girard. Ora aí está um exemplo de camaleão táctico implementado por René Girard no seu Montpellier. Habitualmente em 4x3x3, mostrou este fim-de-semana uma alternativa interessante mas não tão bela e atractiva quanto a habitual táctica dos homens que lideram a Ligue 1. Desta vez, Girard jogou em 4x2x3x1, na recepção ao Toulouse, com uma dupla de médios a fechar ao meio( Estrada e Saihi), três homens mais adiantados( os habituais extremos Utaka e Dernis um pouco mais recuados e o " 10" Belhanda, jogando precisamente na posição do playmaker) e um único ponta-de-lança( o interessantíssimo Olivier Giroud, sobre o qual já falei no ponto 2 destes apontamentos). Confesso que não tive oportunidade de ver o jogo até final, mas apreciei boa parte das movimentações ofensivas desta equipa. Belhanda é bom de bola, gere com mestria o esférico, embora se note que precisa de evoluir definitivamente como "10". Dernis na direita, flecte constantemente para dentro enquanto que Utaka dá mais profundidade ao jogo, do lado esquerdo. Atrás, dupla que não me convenceu: Estrada e Saihi. Algo lentos, especialmente o último. Quando Marveaux está em campo, tudo se torna diferente. Falando da defesa( Jeunechamp-Yangambiwa-Hilton-Bedimo), não tiveram muito trabalho, mas foram notórias as dificuldades em segurar a perigosa ala esquerda do Toulouse( M´Bengue e Tabanou, dois jogadores muito interessantes). Yanga-Mbiwa parece-me, claramente, o jogador com mais futuro nesta defesa, até porque os outros já são quase veteranos. Foi um bom jogo, o Montpellier dominou, mas não logrou mais que um empate(1-1). Ficam os apontamentos sobre um surpreendente líder, a sonhar, de novo, com os lugares europeus...
10. Norwich: experiência puramente britânica. É uma das equipas que tenho acompanhado com mais atenção neste início de época em Inglaterra. O recém-promovido Norwich City tem na génese o típico jogo britânico, do pontapé para a frente e do jogo puramente físico. Basta, aliás, olhar para o seu médio-ofensivo/avançado Morison( jogador tosco, mas que lá vai marcando golos e impondo o seu porte físico) para que tenhamos uma noção do estilo da equipa treinada por Paul Lambert. Acompanhei-os, no passado sábado e há uma semana, contra Everton e Newcastle, respectivamente. Conseguiram uma vitória em casa frente ao Newcastle(4-2) e empataram em Liverpool(1-1), este fim-de-semana. Na primeira ocasião, assumiram mais o jogo, sem abdicar da estratégia tipicamente british. Já frente ao Everton, foram completamente dominados, viram o adversário fazer quase 30 remates, ter 61% de posse de bola, mas aguentaram, jogaram directo, em contra-ataque e conquistaram um precioso ponto. Neste último jogo apresentaram o seguinte onze: Ruddy na baliza( bom guarda-redes, seguro, tem sido uma boa revelação); Naughton( interessante lateral-direito, emprestado pelo Tottenham), Martin, Whitbread e Tierney; o ex-WBA Fox e o irlandês Hoolahan como dupla mais recuada do meio-campo, com dois alas( o médio-centro Crofts, à direita e o ofensivo Surman, na ala esquerda) e um homem a jogar nas costas do ponta-de-lança Holt, o tal tosco Morison. Uma equipa de cariz defensivo, com uma defesa relativamente estável liderada por Martin, meio-campo trabalhador e forte e ataque com homens altos, prontos a receberem cruzamentos ou bolas longas de trás. Estão em 9º lugar, com 20 pontos em 16 jogos. Excelente registo de uma equipa que, apesar de tudo, consegue ser fiel aos princípios britânicos do futebol directo.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Apontamentos do fim-de-semana( 12/12/2011): Do Funchal a Bolonha ouvindo uma sinfonia catalã











Aí vão os apontamentos de mais um fim-de-semana futebolístico, com grandes jogos, emoção e alguma polémica:

1. Marítimo-Benfica: Take 2. Depois do jogo da passada sexta-feira, a contar para a Taça de Portugal, Marítimo e Benfica voltaram a defrontar-se este fim-de-semana, no Funchal, mas desta vez na Liga Zon Sagres. Triunfo à justa do Benfica, com golo após carambola na área, aos 85 minutos, por Cardozo. Mais uma vez o Marítimo apresentou-se em campo com uma postura interessante, com a defesa subida( sempre um risco, é certo), meio-campo forte mas mais posicional e ataque com dois extremos muito velozes junto a Baba. O Benfica entrou com uma equipa mais forte e criativa que no jogo da Taça. Primeira parte equilibrada, embora o Benfica tenha tido mais oportunidades. Cardozo protagonizou, aliás, um dos falhanços da década em Portugal. Na segunda parte, Olberdam a ser expulso de início e Pedro Martins a ter de mudar a cara aos insulares. Passaram a recuar mais os extremos Heldon e Sami, transformando a equipa quase num 4x4x1 em situação defensiva. Ainda assim, o Marítimo teve precisamente aí o seu melhor período, perante um Benfica que já não criava tanto perigo. Foi preciso esperar até ao tal minuto 85 para vermos um golo, o tal de carambola de Óscar Cardozo. No final, fica a sensação de injustiça para os maritimistas e a sensação sempre agradável de triunfar este tipo de jogos duros da parte do Benfica;
2. Sábado díficil mas proveitoso. Também FC Porto e Sporting triunfaram os seus jogos, disputados sábado ao fim da tarde e noite. Os azuis-e-brancos derrubaram a imensa "muralha" defensiva do Beira-Mar com um momento de génio de James e mais um golo do Incrível Hulk. Um jogo, à excepção dos primeiros 10 minutos, totalmente dominado pelos "dragões", que apesar das críticas e aparente crise de resultados continuam lá em cima na tabela. Já o Sporting teve vida mais díficil durante os 90 minutos. O " Capitão América" Onyewu lá decidiu, de cabeça, a contenda, ao minuto 22. Mas, nomeadamente na segunda parte, viu-se muito Nacional para pouco Sporting. Domingos e os seus rapazes a gastarem os créditos de pragmatismo neste jogo, ainda assim mantém-se a 4 pontos da dupla líder;
3. Braga recupera de um susto! O Sp.Braga abriu a jornada com goleada sobre o Paços de Ferreira, na estreia de Henrique Calisto no banco dos pacenses. 5-2 foi o resultado. No entanto, o Braga assustou-se depois de uma vantagem inicial de 2-0, tendo consentido o empate no primeiro quarto-de-hora do segundo tempo. Valeu a reacção dos últimos 20 minutos, com 3 golos apontados. Destaque para a obra-prima de Alan no primeiro golo bracarense, para os dois golos de Lima e para os eternos problemas defensivos deste Paços de Ferreira. Prevê-se muito trabalho para Calisto!
4. O inevitável Real-Barça. Não poderia escapar à análise do jogo do fim-de-semana, claro está. No palco dos sonhos de todos os madridistas, o Barça de Guardiola voltou a sair sorridente. E de sorriso largo, certamente, depois de tanta crítica depreciativa antes deste Clássico. O Madrid começou em grande, com golo aos 22 segundos, apontado por Benzema, na sequência de uma perda de bola de Valdés e duas tentativas falhadas de remate e como consequência óbvia da incrível entrada em pressão dos comandados de José Mourinho. No entanto, os "culés" mantiveram-se fiéis ao seu estilo e apesar dos problemas causados pelo Real nos primeiros 20 minutos, aguentaram e à meia-hora Alexis já tinha empatado, após assistência do inevitável Lionel Messi. Até ao intervalo, as forças foram-se equilibrando progressivamente. Chegados à segunda parte, temos o segundo do Barcelona, tiro de Xavi, desafortunadamente desviado por Marcelo para a própria baliza, ao minuto 52. Barcelona em vantagem, a partir daí tudo poderia ser diferente. E foi. Catalães, comandados pelo maestro Iniesta com um trio Alexis-Messi-Cesc em constante movimento no ataque, tornaram-se donos e senhores do jogo. CR7( que foi mais um CR0 na noite de sábado) a falhar soberana oportunidade de empate, de cabeça e logo de seguida Barça a finalizar, em contra-ataque, por Francesc Fábregas, de cabeça, estavam decorridos 65 minutos de jogo. Depois disso e até final, foi domínio absoluto do Barça, que podia ter aumentado a contenda por várias vezes. Do lado madridista, tanto Kaká como Higuaín não acrescentaram nada de relevante ao jogo ofensivo. 3-1 foi o resultado de mais um jogo sorridente do super-Barça de Guardiola;
5. Outros apontamentos d´ El Classico. Bertrand Russel, famoso filósofo e matemático inglês das primeiras décadas do século passado, costumava dizer que" na vida nunca se deveria cometer duas vezes o mesmo erro, dado que, havia bastante por onde escolher". Mourinho voltou a cometer( e não por segunda vez) alguns erros na abordagem a um clássico contra o principal rival, quando tinha muito por onde escolher. Não deixa de ser o melhor( ou dos melhores) do Mundo, mas, e exceptuando a final da Copa del Rey da última época, não conseguiu encontrar fórmula mágica para bater este Barça dos deuses na Terra. Creio que colocar Coentrão à direita e Lass a trinco não foram as melhores opções. No primeiro caso, porque faltou profundidade à equipa. É certo que Di Maria ou Ronaldo conseguem esticar o jogo madridista mas faltou essa muleta chamada Fábio Coentrão do lado esquerdo, quanto muito. É certo que defensivamente foi esforçado e cortou várias vezes lances de perigo, mas também não foi o jogador influente de outras noites. Faltou também, penso eu, um Khedira a meio-campo, em detrimento do mais defensivo e posicional Lass. Gosto muito da dupla Xabi-Khedira. Complementam-se muito bem, ficando Xabi Alonso mais posicional, recuperando bolas e dando aqueles passes de génio e Khedira, recuperando e saindo de bola no pé sempre que pode. Acho que José Mourinho, não apostando de início nesta dupla, poderia pelo menos tê-lo feito para a segunda parte. Seria melhor para o processo de uma equipa que ataca muito bem em velocidade, com várias unidades em permanente movimento e com esse jogador que tanto ataca como defende como Khedira tudo poderia ter sido diferente. Outro apontamento vai na direcção contrária, ou seja, do lado dos de Guardiola. Para mim Alexis e Iniesta foram os dois melhores jogadores " culés" em campo. O primeiro fez a cabeça em água a Marcelo, com penetrações constantes do lado direito do ataque, aparecendo muito bem a finalizar na área, como se viu, por exemplo, no lance do primeiro golo. Quanto a Andrés Iniesta tenho que lhe agradecer por mais 90 minutos de puro talento e genialidade na condução da bola, a gerir o ritmo do meio-campo, com constantes acelerações capazes de provocar o maior desequilíbrio na defesa contrária. É o homem que anda com o "piano" futebolístico do Barça. Xavi suporta-o, quase sendo uma base enquanto que Iniesta aproveita esse trabalho mais posicional do nº6 para ser o chefe da orquestra catalã. Mais um hino ao futebol!
6. Premier League. Este fim-de-semana observei com atenção três jogos da primeira liga inglesa. Liverpool-QPR, Norwich-Newcastle e Stoke City-Tottenham. Liverpool a ganhar com alguma dificuldade a um aguerrido Queens Park Rangers. Suárez é um jogador extraordinário, mas continua muito agarrado à bola em determinadas situações. Adam continua a encher-me as medidas, é um médio daqueles combativos, à antiga. No Norwich-Newcastle, 6 golos( 4-2 para os donos da casa), sendo que o Newcastle realizou na primeira parte uma das piores prestações da época. Na segunda parte, pareciam querer subir de rendimento mas os "Canários" de Norwich mataram o jogo em contra-ataque. Destes três jogos que analisei, destaco o mais emocionante, o confronto entre Stoke e Tottenham. Péssima primeira parte do Tottenham, totalmente desfigurado, sem ligação entre meio-campo e ataque. Stoke a marcar dois golos( Etherington a bisar!) e a chegar ao intervalo com vantagem confortável. No entanto, tudo mudou na segunda parte e voltei a ver o Tottenham pressionante e a jogar bom futebol desta época. Marcou Adebayor de pénalti, mas foi insuficiente. O Tottenham perdeu, mas com muitas razões de queixa do árbitro, que não assinalou duas penalidades evidentes a favor dos Spurs. Outro apontamento: com Modric a mexer o jogo de ataque, quase como "10", todo o jogo do Tottenham muda, no sentido positivo. Prefiro-o assim do que mais como médio-centro, junto a Parker;
7. Bayern e um génio esforçado chamado Kroos. Goethe disse e bem ,um dia, que " a genialidade é esforço". Penso nessa citação do filósofo alemão, com mais de 2 séculos, quando vejo hoje em dia o seu compatriota Toni Kroos. No fundo, toda aquela entrega ao jogo e capacidade técnica revelam a genialidade de um dos jogadores que mais gosto de ver na Bundesliga. Algumas vezes acaba preterido em detrimento de outros colegas de equipa, também com grande qualidade, mas sem o seu génio para a coisa. Com ele junto a Tymoschuk no meio-campo, e sem o habitual Schweinsteiger, a orquestra bávara funciona de outra maneira. Revela-se como o típico médio de transição, dado que raramente consegue ficar muito posicional junto a Tymoschuk. Mas, de facto, não precisa, pois estando em perfeita simbiose com Robben, Ribéry e Muller torna-se  muito mais útil ao jogo do Bayern;
8. Bolonha-AC Milan. Belo jogo, resultado justo(2-2) e uma arbitragem de bradar aos céus. Gastón Ramírez, jovem uruguaio do Bolonha, mais uma vez a mostrar bons pormenores. Tem futuro. Ainda em destaque dois veteranos, autores de magníficos golos: Marco di Vaio, do lado do Bolonha, com chapéu imenso a Amelia e Clarence Seedorf, com disparo indefensável para Gillet. Tudo isto no primeiro tempo. Na segunda parte, pénalti inexistente de Ibrahimovic e no minuto seguinte( 73´), Diamanti a empatar. Ficaram ainda dois pénaltis por marcar a favor do Bolonha e um para o Milan. Ainda assim, viva o Calcio!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Apontamentos do fim-de-semana(6/12/1011): Da Madeira a Bordéus passando por uma América do Sul de punho erguido









Mais um fim-de-semana de muito e bom futebol, aí vão alguns apontamentos:

1. Marítimo. É na Madeira que está uma das equipas mais interessantes do nosso campeonato. Há 14 jogos oficiais que os maritimistas não perdem. Estão em 4º lugar no campeonato, fase de grupos da Taça da Liga e estão também nos "quartos" da Taça de Portugal, após terem eliminado o Benfica sexta-feira( 2-1). Dupla de meio-campo mais recuado fantástica( Olberdam e Roberto Souza, dois recuperadores de bola natos), ataque irreverente( ao ponta-de-lança Baba, juntam-se os extremos velozes e técnicos Danilo Dias, Sami ou Heldon) e outro jogador que gostei bastante de ver frente ao Benfica, Rafael Miranda, médio de transição, jogador de toque refinado. Perguntam-me: se Baba sair em Janeiro, como se prevê, o Marítimo cai de rendimento? Bem, ele tem sido importante mas se aparecer um bom substituto os comandados de Pedro Martins podem continuar a realizar uma boa época. Excelente, aliás!
2. Real Madrid. Começa a dar a sensação que este ano não vai escapar nada à turma de José Mourinho. Este fim-de-semana mais uma vitória, em Gijón(3-0), com grande exibição de Di Maria. Há jogos onde passa despercebido e outros, como este, em que espalha magia, marca golos incríveis e dá assistências do outro mundo. Sábado, clássico contra o Barcelona. Pelas 21h, mais uma vez pára o mundo;
3. Guardiola e o 3x4x3. É, digamos assim, o novo "fetiche" táctico de Pep Guardiola. O 3x4x3. Permite ao Barça mais uma presença a meio-campo, logo maior possibilidade de recuperação rápida da bola. Por outro lado, contra equipas rápidas na frente, coloca enormes problemas ao trio defensivo ao qual se junta invariavelmente Sergio Busquets( ou Mascherano). Veremos como entrará Guardiola no Bernabéu sábado. Não creio que vá arriscar assim tanto, tendo em conta o actual momento de forma do Real, seria suicida...
4.Corinthians e Boca Juniors: o domingo dos mitos. Dia histórico para dois dos maiores clubes da América do Sul e do Mundo. Corinthians triunfou no Brasileirão( é o penta!), após empate em casa contra o inimigo de sempre Palmeiras( 0-0). Boca Juniors a completar Apertura de sonho, com triunfo em casa sobre o Banfield( 3-0). Os contestados Tite e Falcioni sempre responderam da maneira ideal aos críticos. Duas imagens distintas de festa que eu guardo no final de ambos os jogos: em São Paulo, festa sofrida pela morte do ídolo Sócrates. Em Buenos Aires, tranquilidade absoluta de Falcioni a fumar um cigarro, enquanto os seus jogadores davam a volta olímpica à mítica Bombonera. Momentos diferentes, mas que ficarão guardados por muito tempo na nossa memória;
5. Sócrates: o adeus ao doutor. Mais um domingo de tristeza no futebol mundial. Depois de, no passado domingo, termos assistido incrédulos ao desparecimento precoce de Gary Speed, vimos agora a morte de um dos grandes do futebol, daqueles que irão ficar perpetuados na história por tudo o que fizeram de bom no exercício da modalidade. Sócrates foi mais do que um jogador. Era um ser que ultrapassava o imaginário do simples jogador, não só fisicamente e tecnicamente mas sobretudo intelectualmente. Muito poucos jogadores de classe mundial se formaram antes ou durante a carreira num curso tão trabalhoso e exigente como Medicina. Pois bem, o Doutor( e daí o apelido querido dos adeptos) Sócrates só começou a jogar futebol, de forma profissional, aos 25 anos. Antes, como referi. havia tirado o curso de Medicina. Do alto do seu 1,91m, cabeleira farta e barba, aspecto semelhante ao de um hippie. O Doutor passou a todas as cadeiras com distinção: em Anatomia, provou que para se ser um jogador genial não é preciso ser baixinho e que, com quase dois metros , também se consegue ser goleador e fazer magia com o calcanhar( foi nessa área que tirou a sua especialização), na Biomatemática( calculando onde colocar o esférico na perfeição, ele que jogava sempre certinho e de maneira simples) e na Genética( pois também o seu irmão Raí se notabilizou como jogador de classe, provando que os genes da família Oliveira tinham algo de especial). Para além do futebol e da profissão de médico, foi também um proeminente ser intelectual da sociedade brasileira, debatendo temas como a política e a economia de forma regular. Aliás foi ele o impulsionador da Democracia Corinthiana, maneira encontrada pelos jogadores paulistas de passarem uma mensagem subliminar contra a ditadura militar que vigorava no Brasil, nos anos 80. Morreu ontem, aos 57 anos, após complicações intestinais. Consequências da vida de vícios( tabaco e álcool), nomeadamente após o fim da carreira de futebolista. Foi-se um dos grandes. Um punho erguido em sua homenagem!
6. Nocerino e Marchisio. Dois dos melhores médios do momento na Série A. O primeiro actua no Milan, o segundo na Juventus. Boa dupla em perspectiva para a selecção italiana no Euro 2012. Nocerino, 26 anos, chegou em Julho proveniente do Palermo e já leva 5 golos na Liga. Vi-o em acção frente ao Génova( vitória 2-0), sexta-feira, e constatei que apesar de jogar como médio-centro ou médio defensivo aparece muitas vezes a finalizar à entrada da área ou até mesmo dentro da área. Além disso tem um "pulmão" incrível, sendo um bom recuperador de bolas a meio do terreno. Está cada vez melhor. Já Claudio Marchisio, 25 anos, leva 18 presenças na selecção A de Itália e é outro médio de grande qualidade. Pensa e leva o jogo da Juve, seja como médio-centro ou interior esquerdo. Tem 6 golos em 12 jogos na Série A, esta época. Este fim-de-semana jogou mais recuado, junto a Pazienza, com Vidal pela frente. Outro médio muito inteligente, recupera bem e é um rematador de grande qualidade. Dois jogadores para continuar a acompanhar!
7. Ribéry e Robben. Outra dupla fascinante. O Bayern-Werder Bremen só foi realmente interessante na 2ª parte, especialmente a partir do momento em que o génio de Robben entrou em acção. É certo que só marcou de penalty, mas agitou o jogo de ataque do Bayern e de que maneira. Ribéry também bisou e foi o melhor elemento dos bávaros neste desafio. Criativo, inteligente e eficaz, Franck Ribéry está definitivamente a voltar aos bons velhos tempos. Oxalá as lesões não voltem a atormentar estes dois filhos pródigos do desporto-rei;
8. Stevan Jovetic e a nova Fiorentina de Delio Rossi. Sempre gostei de Delio Rossi, já quando este treinava a Lazio. As suas equipas sempre jogaram de maneira pragmática, esperando a altura certa para atacarem o adversário. Este domingo a Fiorentina, agora treinada por ele, bateu inapelavelmente a Roma de Luis Enrique( cada vez mais caída em desgraça, acabou com 8 este jogo), por 3-0. E a grande figura da Fiorentina, obviamente e invariavelmente, acabou por ser Stevan Jovetic. O jovem montenegrino está em grande forma e tem sido o destaque dos homens de Florença neste campeonato. Gosto de o ver lá na frente junto a Gilardino( mais posicional) ou caindo na faixa esquerda para depois flectir para dentro em "dribbling". É claramente a unidade mais interessante e influente da Fiorentina, em termos ofensivos. Uma equipa que foi estável defensivamente e que ,sobretudo através de Jovetic, Vargas e Lazzari, foi dinâmica em contra-ataque. Neste momento estão a 4 pontos da zona europeia. Com um pouco de sorte e mais jogos como este podem seguramente surpreender...
9. Bordéus. Vi o Bordéus em acção este fim-de-semana, no triunfo em casa frente ao Nancy(2-0). Só os tinha visto em acção esta época em alguns jogos( recepções a Saint-Étienne, Montpellier e PSG) e fiquei com a sensação clara de que é uma equipa para consumo interno e mesmo assim muito limitada. Faltam craques, falta sangue novo, faltam os Tiganas, os Zidanes ou os Gourcuffs de outrora. Esta é uma equipa sem estrelas e creio que com mais 3 ou 4 jogadores de classe tornar-se-iam diferentes. Falta um bom lateral-direito, um central experiente, médios de transição, um "10" top e um ponta-de-lança mais eficaz.No fundo, quase uma equipa. Marvin Martin, do Sochaux, por exemplo, assentaria que nem uma luva a este Bordéus. Haja dinheiro...