1. Fernando e o "novo" Porto: Parece-me evidente que tem havido um elemento preponderante na estrutura azul-e-branca nos últimos jogos, um jogador que tem sobressaído, pese embora o grande momento de forma de outros colegas. Esse jogador é Fernando, conhecido também como o "Polvo". Observei ontem um dos melhores jogos do Porto esta temporada e concluí que os momentos de maior pressão e melhor futebol dos dragões coincidem com constantes recuperações de bola a meio-campo ou já no meio-campo adversário. Incrível como, nessas zonas avançadas, lá vai aparecendo o brasileiro de forma cada vez mais decidida. No entanto é mesmo ao centro ou na sua habitual zona de acção que faz mais mossa, recuperando e permitindo as saídas em apoio. Está intratável e pode ser ausência importante na deslocação a Barcelos no próximo domingo. No entanto, como já referi, não só Fernando se tem destacado. Também Álvaro Pereira segue a um ritmo ímpar, subindo e descendo a ala praticamente sempre ao mesmo ritmo durante os 90 minutos. Ontem realizou mais uma exibição soberba tal como Rolando( um golo marcado, outro evitado e uma exibição à "patrão" da defesa), Moutinho( um golo e mais um jogo incrível, de recuperação e constante condução de bola, claramente o "relógio suíço" deste FC Porto) e James( assistência, golo e outros pormenores interessantes). Ah, foram precisamente estes os autores de todos os golos do triunfo sobre o Vitória de Guimarães por 3-1. Os dragões continuam em forma!
2. Gil Vicente e o Auto da Barca do Inferno da Luz: Dizem uns especialistas que a obra Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente constitui uma moralidade. Outros defendem que é uma farsa. A mim deu-me ideia que o Auto da Barca do Inferno da Luz do Gil Vicente de Barcelos mais se pareceu a uma farsa. Porque a vitória dos donos do Inferno foi travestiu-se de excessivo pragmatismo, uma pontinha de sorte e um guarda-redes pronto para o que der e vier. Ah, e culpa também de um indivíduo que cada vez mais se assemelha a Jesus Cristo, no aspecto físico e no toque mágico que confere à sua equipa. Falo, obviamente, do " Mago" Pablo Aimar. Quando entra em campo, estamos perante uma moralidade: "Velhos são os trapos". Assim diz o povo, o mesmo povo que se maravilha ao ver este génio do futebol em acção. Seja por 10, 20 ou 90 minutos. Quantos aos rapazes de Barcelos, descendentes de nome do nobre autor português, tentaram seguir o caminho da Barca da Glória mas acabaram por ir parar em 2 minutos à desgraçada e mal afamada Barca do Inferno. No entanto, gabo-lhes espírito de luta e a maneira como prenderam, por momentos, o dono da Barca do Inferno. Paulo Alves tem espírito de grandeza, gosta de lutar de igual para igual. Já dizia Camus, autor que admiro: " A grandeza consiste em tentar ser grande. Não há outro meio". O futebol agradece bons exemplos, equipas destas não merecem ir parar ao Purgatório...
3. Que leão é este? O Sporting parecia lançado, nos meses de Outubro e Novembro, para uma recuperação épica, capaz de surpreender tudo e todos e de poder discutir o título até ao fim. Pois bem, ainda não terminámos Janeiro e tudo parece não ter passado de uma bela ilusão. Esta noite os leões de Domingos Paciência não foram além de um mísero empate a zero em Olhão, embora esta atribuição de mísero se deva mais ao resultado em si e à actual classificação do que ao próprio jogo. Porque se tivermos em conta os 90 minutos de futebol disputados, perante bela casa, no José Arcanjo, iremos constatar que o Sporting teve imensa sorte em não ter saído derrotado desta partida. Valeu um Rui Patrício super inspirado, em especial no segundo tempo, a um Sporting que começou o jogo com três extremos na frente. Desses só Carrillo merece nota positiva. E eis que, de repente, vemos o Sporting a partilhar o 4º lugar com o Marítimo, a 5 pontos do Sporting de Braga. Estranho? Em Novembro pareceria, agora nem por isso...
4. Incrível Leo. Messi poderia fazer como Oscar Wilde e assumir que" não tinha nada mais a declarar a não ser a sua genialidade". Mas Leo Messi é um tipo humilde, recatado, gosta de ajudar os seus a ganhar, sem que dêem por ele. A verdade é que é impossível não dar por ele. Bom, se tivermos em conta a sua altura até nos poderá passar despercebido mas se o virmos com uma bola nos pés, aí vamos ter de nos render a um dos melhores senão mesmo o melhor jogador da História. É sempre uma discussão difícil. Será que Messi resultaria há 50 anos ou Pelé resultaria agora? Impossível saber. Por enquanto contento-me em tratá-lo como o melhor do Mundo nos tempos modernos. E tendo em conta que o futebol actual circula uns segundos mais rápido do que há 30 ou 40 anos tudo isto parece mais relevante. E porque falo, mais uma vez, perguntam vocês, de Messi? Eu não me canso e desta vez tenho uma razão. Aliás, três. Um golpe de cabeça magistral, incrível para um ser de 1,69m de altura e dois lances à "la Maradona". Dotes de um génio dos tempos modernos. Concordo com Lobo Antunes , quando diz que "na vida só interessam mesmo 4 coisas: as mulheres, os amigos, os livros e Messi".
5. Taça de França e os grandes preguiçosos: Tive oportunidade de acompanhar alguns momentos deste fim-de-semana de Taça em França. E pude concluir que parte dos " grandes" passaram por dificuldades, por culpa própria. Samuel Johnson, famoso escritor britânico do século XVIII, costumava dizer que " as maiores dificuldades são as filhas da preguiça". Lembrei-me desta frase ao ver o Lille disputar o prolongamento com o modesto Compiegne, da CFA 2, o Bordéus ir a penáltis com os nossos "compatriotas" do Lusitanos de Creteil ou o Lyon a sofrer perante o modesto amador Luçon. Todos passaram, é certo. Apetece-me acrescentar, passaram por um mau bocado. Vícios de grande preguiçoso...
6. Patrick Herrmann, o novo Marco Reus. Jogador habituado a jogar nas alas, mas que é um mestre a flectir para dentro e a aparecer a finalizar junto à baliza. Um craque, irreverente, desmarca-se na perfeição e é um excepcional rematador. Este é Patrick Herrmann, o sucessor de outro mago, Marco Reus, que, no fim da época, vai ingressar no Borussia Dortmund. Dizia há um mês o mítico comentador e analista espanhol Maldini que Herrmann, há dez anos, seria a estrela do futebol alemão. Concordo, olhando aquilo que era o futebol germânico nessa altura de decadência da geração, campeã do Euro 1996, e que ainda não tinha promovido, em definitivo, a geração dos Ballacks e Kloses. E que dizer desta nova geração que junta talentos como Kroos, Gotze, Muller, Ozil, Reus ou Herrmann? Por enquanto, fico-me com estes dois. Que maravilha vê-los jogar juntos. Peço-vos que vejam, ou revejam, os golos do Borussia Moenchengladbach frente ao Bayern, jogo disputado na última sexta-feira e constatem que estamos perante uma dupla de génios desta nova e entusiasmante escola alemã. Que pena só continuarem juntos até Maio...
7. Estaduais de regresso! O futebol brasileiro está aí de novo, com os habituais Estaduais de início de ano. Bons começos para Vasco, Flamengo e Corinthians. O Inter despistou-se contra o Novo Hamburgo, no início do Gauchão. Mais o que mais entusiasma é a iminência do regresso da Libertadores. Flamengo estreia-se já esta semana, na Bolívia, contra o Potosi. Será que o Mengão irá soltar-se do dilema Ronaldinho e vai conseguir resolver este primeiro grande teste da época?
