terça-feira, 30 de outubro de 2012

Notas soltas do fim-de-semana (30/10/2012): De um colombiano rei a um Palacio encantador passando pela saudade do Rio de Prata

1. Um colombiano que vale ouro. Está a ser uma das grandes revelações da edição 2012/2013 da Liga Zon Sagres. Muitos desconfiavam, mas a verdade é que ele está a superar as expectativas. Falo-vos, claro está, de Jackson Martínez. Autor de 9 golos em 11 jogos na estreia no futebol europeu. Depois de ter ajudado o Porto a conquistar mais três importantes pontos na Champions League (marcou dois golos), Jackson voltou a revelar-se decisivo, desta feita no Estoril, em jogo da 7ª jornada da Liga. Já na 1ª parte se viu como os colegas lhe tentavam colocar bolas a jeito, para este finalizar. Perante tamanha falta de aceleração do conjunto portista, Jackson ia sendo dos mais mexidos. Até que chegou o segundo tempo. Foi aí que tudo mudou: o Porto passou a pressionar mais alto, a jogar mais próximo da área do Estoril e aí apareceu o novo "9" do Dragão, mais uma vez a decidir. Uma arrancada fulgurante, olhando para o sítio para o qual ia cruzar para o golo de Varela e um desvio de cabeça sublime fizeram as delícias dos aficionados portistas. Jackson está em grande forma. Além disso é rápido em espaços curtos (como se viu no 1º golo), frio na finalização e começa a recepcionar cada vez melhor a bola. Um killler instinct a fazer lembrar o compatriota Falcao (para já até leva melhor média inicial que El Tigre).
2. Éder faz-nos sonhar... Finalmente parece que temos um grande ponta-de-lança português no pós-Pauleta. Falo de Éder. Para já está a ser uma das grandes revelações da temporada. Já o ano passado, antes de ter sido afastado depois de uma confusão com a Académica, mostrava desenvolvimentos no seu trabalho: segurava a bola cada vez melhor, apresentava um melhor registo em frente à baliza e trabalhava mais e melhor em prol da equipa. Passado meio ano sem jogar, não se confirmam os receios: está cada vez melhor. Afastou em definitivo o Éder trapalhão e aparentemente preguiçoso do início de carreira. Domina cada vez melhor a bola, remata com maior incisão, trabalha em consonância com a equipa, no fundo, está feito um ponta-de-lança de classe. Para já é, junto com o rapaz de que falei no ponto anterior, o melhor marcador da Liga. Tem 6 golos, 2 deles marcados nesta jornada, no Caldeirão dos Barreiros, frente a um Marítimo que tem um trauma a jogar em casa este ano. O primeiro, então, é uma delícia. Remate à meia-volta, sem hipóteses. A prova de que temos, definitivamente, avançado! Paulo Bento agradece...
3. Por falar em goleadores, Lima e ainda o prodígio André Gomes. Continuando com a conversa dos matadores, falo de Lima. O brasileiro fez um jogo maravilhoso no passado sábado em Barcelos. Aliás, tem feito, até agora, uma época maravilhosa. Começou aos 90 segundos, correspondendo de cabeça a um cruzamento de Maxi Pereira, após arrancada prodigiosa de Enzo Pérez. Depois continuou no resto da primeira parte. Um autêntico recital de futebol. O segundo golo define a importância de Lima, actualmente, no "onze" encarnado: gizou com Luisinho lance fantástico, de trocas sucessivas de bola, até assistir o lateral português para o golo. Um excelente golo, mais pela jogada do que propriamente pelo movimento em si. Portanto, com a sua mobilidade, inteligência e capacidade finalizadora, Lima vai mostrando que o dinheiro investido em si será rapidamente amortizado. Depois temos André Gomes: o portuense de 19 anos, nascido portista (o futebol tem estas curiosidades maliciosas...) mas pronto a rebentar enquanto jogador do Benfica. Para já registo sublime: 2 jogos, 2 golos. Mas mais que os golos é a sua influência na construção de jogo, o seu sentido táctico e o perfume que empresta ao jogo do Benfica que o fazem notabilizar-se. Um excelente projecto de jogador, com origens nortenhas e consolidação made in Seixal.
4. Duelo de grandes guardas-redes. Espaço agora aos keepers. Dirão vocês, e com alguma razão, que eu falo pouco dos guarda-redes. Sendo eles peças tão importantes quanto todos os outros jogadores que entram em campo, aproveito para fazer uma reflexão no rescaldo do assustador (efeitos de Halloween, talvez) Sporting-Académica: não me lembro, em muito tempo, de ver um jogo em que ambos os guarda-redes eram as figuras das equipas. Aconteceu em Alvalade, onde tudo o que é bizarro parece que pode acontecer (e acontece!). Rui Patrício e Ricardo confirmaram a excelente forma, num jogo com poucas ocasiões, mas em que eles, os guardiões do templo sagrado a que se convém chamar baliza, se revelaram figuras de proa. Quanto ao jogo algumas notas: horrível da parte do Sporting, suficiente da parte da Briosa (os academistas com maior ousadia e frescura física poderiam ter ganho facilmente em Alvalade). Vercauteren terá ficado certamente assustado com o que viu do leão (mais uma vez, depois do desastre em Genk). Ainda uma referência individual: grande exibição do academista Keita. Enorme no trabalho a meio-campo, ganhando imensas bolas e, sempre que pôde, lançando os seus companheiros com passes certeiros.
5. Chelsea-Man.United. Foi dos grandes jogos do fim-de-semana. O United ganhou 3-2, com polémica à mistura, embora eu prefira cingir-me ao aspecto futebolístico da coisa: grande entrada do United, pressionando alto e colocando em evidência a fragilidade de Obi Mikel (continuo sem perceber o estatuto de indiscutível num jogador que, embora com qualidades ao nível do passe e no combate físico, é distraído e por vezes falha gravemente nas marcações) e, sobretudo, do lateral Ashley Cole (péssimo primeiro tempo, todos os golos tiveram origem em falhas no seu lado). Grande início de Van Persie, cada vez mais o guia espiritual deste United 2012/2013. No entanto, o Chelsea lembrou-se de começar a pressionar mais alto, com a dupla Ramires-Mikel a aparecer mais vezes no meio-campo contrário. Com Oscar sempre a trabalhar e a recuperar algumas bolas e Mata e Hazard a espalhar magia, o Chelsea tinha tudo para recuperar. Com um livre de Mata, à beira do intervalo, e um golo de Ramires, no início do segundo tempo, os blues restauraram a igualdade (o United vencia 2-0 desde o minuto 13, auto-golo de David Luiz e remate imparável de Van Persie). Pareciam capazes de partir para cima dos red devils, completamente atordoados. Só que por essa altura (por volta do minuto 60), o jogo começou a mudar: Ivanovic e Torres foram expulsos, quase de seguida, e o Chelsea ficou à mercê do United. Ferguson colocou em campo Giggs e Chicharito, sendo que o mexicano resolveu, em fora-de-jogo. Depois foi gerir até final, de forma pragmática, uma vantagem super importante. Para já o United recupera o ânimo mas ainda não me convenceu na totalidade. Vi bom futebol, acutilante, pressionante, de início, mas depois também vi como a equipa do Sir Alex Ferguson se perdeu depois do minuto 30, passando a estar a mercê de um quarteto que tanto me maravilha (Ramires-Mata-Oscar-Hazard). Apesar da derrota, o Chelsea pode sair de cabeça levantada. Mas, fica um alerta: depois de terem levado um banho de bola do Shakhtar na Champions (derrota 2-1, com jogo maravilhoso do trio Fernandinho-Willian-Mkitaryan), o Chelsea voltou a quebrar contra uma equipa com boa saída de bola e a apostar forte nas laterais. À atenção de Di Matteo...
6. O dilema Wilshere.  Está de regresso um dos melhores médios que a Premier League tem e que esteve de fora por demasiado tempo, fruto de uma lesão gravíssima. Falo-vos de Jack Wilshere, autêntico cérebro da equipa do Arsenal e possivelmente o médio inglês que melhor conjuga o sentido táctico com classe e qualidade técnica. Pois bem, o jovem de 20 anos regressou ao onze de Wenger contra o QPR, este fim-de-semana (1-0, golo de Arteta). Acertou 33 passes em 33 durante a primeira parte. Voltou a classe à equipa do Arsenal mas criou-se um problema: com Wilshere em campo, apareceu menos Cazorla. O espanhol, que tem estado sensacional neste início de época, mostrou pouco futebol. Com Wilshere a melhorar, Cazorla desapareceu em campo. Curiosamente, Wilshere nem apareceu muito perto da área contrária, como faz mais o médio internacional pela Roja. Só que Cazorla, precisamente devido a essa presença, não pôde vir buscar jogo ao meio-campo mais recuado, como habitualmente faz. No fundo, criou-se ali um conflito. Perguntam-se: pode ser resolvido? Eu creio que sim. Quando Wenger adaptar a equipa em função destes 2 craques a equipa vai dobrar ou triplicar o rendimento. Para já, sem grande adaptação e conhecimento de causa, ficou uma sensação de confusão, que tornou o jogo do Arsenal lento e previsível.
7. River-Boca. Tinha saudades do Superclásico. Eu e todos aqueles que adoram ver um estádio cheio, a fervilhar de paixão e dedicação aos clubes envolvidos. Acabou 2-2. Confirma-se, apesar de tudo, uma ideia que vou tendo nos últimos tempos: olhando para as duas equipas vejo cada vez menos jogadores com potencial para singrarem na Europa. Muitos veteranos, algumas promessas por revelar, jogadores banais e promessas perdidas. Para mim o único jogador que me fascinou realmente, neste jogo, foi o benfiquista, emprestado ao River Plate, Rodrigo Mora. Inteligente nas desmarcações, móvel e com sentido de baliza, Mora vai mostrando credenciais importantes, jogando ao lado do veterano David Trezeguet. No global, foi um jogo disputado, entre duas equipas que passam por uma crise de identidade. Faltam, de parte a parte, jovens que assumam o papel de novos craques. No River, e no pós Lamela e Ocampos, surgem Cirigliano e Lanzini como as duas maiores promessas (o primeiro é médio-centro, o segundo médio-ofensivo). No Boca um conjunto experiente, com jogadores interessantes (Tanque Silva, Burdisso, Somoza, Clemente Rodríguez, Viatri, Erviti...) mas sem uma promessa que entusiasme e revolucione as tardes/noites da Bombonera. Acho que a liga argentina está a precisar de um novo Maradona, ou Riquelme ou lá o que seja. Um jovem capaz de entusiasmar e encantar a afición. Para já vamos esperando, pacientes, a chegada do novo Messi(as)...
8. O Inter de Stramaccioni e o factor-Palacio.  Acompanhei no último domingo a deslocação do Inter de Milão até ao difícil terreno do Bolonha. Um Inter que chegava a este jogo em boa forma, no seguimento de uma série de 6 jogos sempre a vencer (juntando Série A e Liga Europa). Como apresentou então a equipa o jovem técnico interista: em 3x1x4x2, com Handanovic na baliza, linha de 3 defesas composta por Rannochia (defesa que apesar da boa compleição física e do jogo aéreo interessante, desposiciona-se e destapa a equipa atrás facilmente), o veterano Samuel e o jovem brasileiro Juan Jesus (forte fisicamente, tem velocidade e tacticamente em progresso, promete...), Mudingayi como trinco (o belga é raçudo, recupera e dá bolas mas por vezes abusa da agressividade), apoiado de perto por Gargano (belo médio, ex-Nápoles, também ele carracinha de trabalho e com bom passe) e pelo internacional argentino Cambiasso (já uma instituição no Inter e em grande forma), com Javier Zanetti e Nagatomo a aparecerem como laterais adiantados, sendo que vão baixando consoante as necessidades da equipa. Depois temos na frente o mais fixo Diego Milito (continua a ter um sentido de baliza fantástico) e um segundo-avançado que, para mim, neste momento, é a chave-mestra desta equipa: Rodrigo Palacio, homem que joga mais solto e que é responsável pela organização dos ataques e contra-ataques do Inter. Não jogando com um médio organizador inicial, o que de início faz alguma confusão (parece muito defensiva a equipa), é Palacio o responsável pela condução da bola em zona ofensiva e geralmente o homem que vem pegar na bola a meio-campo, quando o Inter quer sair em apoio. Em Bolonha, o início até foi complicado, por via da boa pressão exercida pelo meio-campo da casa e por um Gilardino, apoiado de perto por Gabbiadini (promissor avançado emprestado pela Juventus) e atrás pelo organizador Diamanti, em excelente forma. Apesar de tudo o Inter aguentou. Fez-se de forte e pegou no jogo. Não criava muitas ocasiões nem o jogo era brilhante mas a equipa revelava uma solidez táctica que já não se via desde os tempos de Mourinho. Rannochia abriu o marcador, de cabeça, após livre de Cambiasso e aí o Inter sentiu-se completamente seguro. Quando Palacio não baixava lá ia a bola para a frente. Se o argentino recuava e pegava na bola o futebol saía com mais harmonia. No início do segundo tempo, foi mesmo este autêntico craque a decidir: primeiro assistindo Milito, num contra-ataque lançado por Walter Gargano e depois, assistindo outra vez, desta feita para Cambiasso, isolado, marcar, após grande desenho ofensivo dos nerazzurri : Nagatomo ganhou na esquerda, meteu para Palacio, que fintou 2 jogadores, em progressão, deu para Cambiasso, que tocou para Milito, que devolveu para a assistência sublime de Palacio. Tudo quase ao primeiro toque. Se Milito é o Princípe, faltava-lhe um Palacio para viver... Uma bela história de amor este Inter de Stramaccioni. Não fascina mas defende bem e ataca com critério. Faltam só mais opções viáveis, jogadores à campeão, para que o sonho de Moratti se possa concretizar.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

5 notas do fim-de-semana: De um leão a precisar de um psicólogo a um campeão em crise de identidade passando por dois duelos distintos mas igualmente emocionantes

1. Sporting, o anti-Hemingway e uma crise existencial. Gosto muito e, sempre que posso, leio livros de Ernest Hemingway. A propósito vem uma frase dele que se adequa bem à importância do jogo de ontem para o Sporting: o homem nunca se deve pôr em posição de perder o que não se pode dar ao luxo de perder. Pensei nesta frase ao ver o leão, penoso, a deixar-se perder na 2ª parte do encontro frente ao Moreirense. Depois de uma 1ª parte que tinha abrido boas perspectivas, os comandados de Oceano entraram macios e permitiram a reviravolta. Ainda recuperaram a hipótese prolongamento mas chegados aí voltaram a sucumbir ao contra-ataque moreirense (do qual vou falar no ponto seguinte). Este é um Sporting a viver uma profunda crise existencial. Ontem nem jogaram mal e tiveram atitude mas faltou o discernimento e a capacidade para saber defender em muitos momentos do jogo. Quando a alma está ferida e parece irrecuperável, não há táctica que resista. Salvam-se Patrício, Rinaudo e Viola em mais uma noite muito triste do clube que teima em não seguir a máxima de Hemingway...
2. A propósito do Moreirense: uma dissertação sobre contra-ataques certeiros. Ontem gostei muito do Moreirense, especialmente a partir do segundo tempo. Qual foi o segredo para a mudança então? A entrada do rápido e ágil ala direito Wagner. Foi tiro e queda, como diz o povo. Acrescentou verticalidade e velocidade ao conjunto de Jorge Casquilha. Depois há outros factores: a passagem do criativo Fábio Espinho para o seu habitat natural (nº10), o aproveitamento genial de Pablo Oliveira em dois lances (mais parecia Pablo Picasso pintando Les Demoiselles d´Avignon e Guernica) e o trabalho fantástico de Ghilas segurando bola, prendendo os centrais do Sporting e assistindo com toque, tão subtil quanto sublime, para o golo decisivo de Wagner. Uma bela lição de contra-ataque de uma equipa simpática, que tem feito um início bem promissor de época.
3. Tottenham vs Chelsea. Jogo emocionante, típico de jornada da Premier League. Chelsea melhor na primeira meia-hora, liderado por um grande Ramires. Cahill fez o golo num remate fantástico, de vólei, após canto. Tottenham soltou-se na parte final e chegou a colocar em sentido a defesa blue. Estava dado o mote para a segunda parte. Em 10 minutos, Gallas e Defoe colocaram os Spurs na liderança do marcador. Grande início de 2º tempo, com Lennon, Sigurdsson e Defoe endiabrados. No entanto, a defesa do Tottenham meteu água. Óscar, que até aí havia feito muito pouco, arrancou grande jogada no lado direito, encetou cruzamento, a bola foi (mal) aliviada para a entrada da área, onde Mata atirou, sem hipóteses para o keeper da casa. Empate de um Chelsea que havia melhorado, depois de ter sentido dificuldades no início da 2ª parte, nomeadamente devido à ausência de controlo de jogo motivada pela presença do duplo-pivote Ramires-Mikel (pouco capaz de segurar a bola). Até ao fim, só deu Chelsea. Hazard também resolveu aparecer e ajudou à festa, com uma assistência divinal para Mata, isolado, bisar. Depois, já pertinho do fim, Mata voltou a ser decisivo, ao assistir Sturridge para o quarto e derradeiro golo do desafio. 4-2, resultado final, numa história com muitas histórias dentro de si. Podemos ir a qualquer sítio (futebolisticamente falando) mas no fim ficam sempre as memórias da Good Old Albion...
4. Um duelo pragmático resolvido por segundas escolhas. Foi assim o grande jogo da jornada da Serie A. Os líderes Juventus e Nápoles defrontavam-se num jogo que poderia dar a liderança destacada a qualquer um deles ou então mantê-los a par. Ganhou a Juve, 2-0. Mas foi um grande duelo táctico, resolvido pela maior astúcia na hora de substituir do adjunto do castigado Antonio Conte, Angelo Alessio. Primeira parte com boa entrada dos homens da casa. Giovinco a ameaçar destilar perigo, a cada passo que dava em campo com o seu 1,64 m. Apesar de tudo foi sol de pouca dura. Um Nápoles, a jogar, como é habitual, em 3x4x1x2, anulou bem as principais peças da máquina bianconera. Nem Pirlo, nem Vidal, nem Marchisio tiveram o espaço e a liberdade suficiente para criar perigo. Só Asamoah e os centrais se destacaram pela positiva numa primeira parte de marcações cerradas, de parte a parte. Do outro lado, incrível trabalho da dupla Inler-Behrami (com especial incidência para o primeiro) na anulação do meio-campo juventino. Grande jogo táctico dos napolitanos, compensados com um simpático 0-0 ao intervalo (se bem que o livre de Cavani à trave lhes pudesse ter trazido maior felicidade por essa altura). Na 2ª parte, mais Juve, com Pirlo e Marchisio mais vivos. O Nápoles ia aguentando, mas com mais dificuldades e, além disso, arriscava pouco no ataque. Foi com naturalidade, então, que o Alessio decidiu mudar: colocou em campo Matri e o jovem médio francês Pogba, como medida para ganhar rapidez e capacidade de chegar ao golo na área e para ganhar presença à entrada da área e na zona de meio-campo. Depois entraria Cáceres, defesa uruguaio que se revelaria verdadeiramente decisivo, ao apontar, de cabeça, após canto, o primeiro da Juve. Depois numa recarga foi a vez de Pogba, à entrada da área, com um pontapé imparável, matar o jogo. Finito. Uma Juve mais ambiciosa mereceu os 3 pontos contra um Nápoles conservador. Nem parecia Mazzarri. Melhores em campo? Na Juve, Asamoah, Bonucci e Marchisio. No Nápoles Inler, Behrami e Gamberini. Avançados nem vê-los. Não há a azáfama goleadora da Premier League mas o tacticismo e o equilíbrio também são fascinantes de acompanhar. Viva il calcio!
5. Os erros de Klopp. Foi uma das tragédias, futebolisticamente falando, do fim-de-semana. A maneira como Jurgen Klopp apresentou o seu Borussia Dortmund num jogo decisivo contra o Schalke 04. Klopp montou um esquema inédito com 3 defesas (os centrais Subotic e Hummels acompanhados do médio Bender). Tudo isto porque o lateral-esquerdo Schmelzer se lesionou no aquecimento. Ora, a invenção do técnico dos bi-campeões alemães não resultou, de todo. Muito espaço nas costas (assim surgiram os golos de um Schalke com muita personalidade) e dificuldade em construir jogo (foi uma constante, especialmente no primeiro tempo, vermos Subotic ou outro dos companheiros da improvisada defesa lançarem passes longos sem nexo e mal executados). Foi um Borussia morto à nascença aquele que entrou em campo sábado. Não houve saída de bola. Tanto Kehl como Leitner não quiseram dar o primeiro passo na construção de jogo. Alhearam-se da função de primeiros construtores, o que deixou a equipa orfã de ideias. À meia-hora de jogo, Klopp redimiu-se e mudou para uma defesa a 4 (com Bender a lateral-direito e Piszczek, habitualmente no lado direito, a lateral-esquerdo). Mesmo assim a equipa já estava perdida em campo. Melhorou um pouco no segundo tempo mas perdeu um jogo essencial, ficando a partir de agora a impensáveis 12 pontos do líder Bayern (continua a passear classe, 5-0 em Dusseldorf). Algumas conclusões deste mau dia de Klopp: impossível mudar e inventar a 30 minutos do início (Felipe Santana assumiu que Klopp pediu desculpas aos jogadores no final), continuam os problemas na saída de bola e organização defensiva e, pior, parece-me que este plantel é curto. Schmelzer lesionou-se e não havia alternativa para o lado esquerdo. Além de um "onze" muito bom e de 3 ou 4 boas opções no banco este Borussia tem um vazio. Importante pensar nesta questão. E evitar invenções, aconselha-se sobretudo isso a um dos técnicos mais promissores do futebol europeu.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Notas curtas (porque o tempo, infelizmente, é escasso) do fim-de-semana: De um génio cafetero até aos Canhões de Cazorla passando por um duelo de ET´s

1. Melhor que Madjer? Jackson! Para todos os amantes de futebol e, em particular, os portistas, o nome Madjer significa muito mais que um jogador brilhante, que marcou uma geração. É um sinal, significado de genialidade, associado ao maravilhoso calcanhar que ajudou o Porto a vencer a Taça dos Campeões Europeus de 87, em Viena. Pois bem, domingo à noite, o Porto revisitou o passado, ainda que mais sublime. Corria o minuto 10 do FCP-Sporting: Danilo a meio do meio-campo leonino assiste com passe bem medido  o colombiano Jackson Martínez. E este, o que faz? Segura com classe, com o joelho, e de repente, sublime, puxa de um remate de calcanhar fabuloso, no ar, qual artista de circo. Golaço, um autêntico regalo para a vista. Meus amigos, por muitas histórias que este campeonato possa ainda vir a ter, esta será uma das mais marcantes, seguramente.
2. E que tal o Porto-Sporting? Foi tacticamente interessante, sem grandes riscos assumidos pelo FC Porto e muito menos pelo Sporting. Primeiros 15 minutos dos dragões foram muito fortes, depois lesão de Maicon fê-los abrandar. Na segunda parte continuou o domínio, com ocasiões aqui e ali, mas sem o brilho da vitória (1-0) sobre o PSG a meio da semana. Os melhores? Otamendi, o inevitável Jackson e João Moutinho. Por esta ordem. Do lado leonino, só Izmailov, o génio solitário, a mexer um pouco com as águas. Mas num turbilhão de dúvidas e num mar de instabilidade seria difícil pedir mais ao Sporting.
3. Sevilha,1982-Braga,2012. Mais de 30 anos separam estas duas maravilhosas cidades e maravilhosos momentos que lá aconteceram. A 8 de Julho de 1982, no estádio Sanchez Pizjuán, defrontavam-se as selecções da Alemanha Ocidental e da França. Meias-finais do Mundial de Espanha. Ambiente incrível, num jogo entre duas constelações de estrelas: de um lado, o alemão, Rummenigge, Breitner, Littbarski, Fischer ou Schumacher; do outro, Platini, Rocheteau, Giresse, Six ou Amoros. Dia 7 de Outubro de 2012 (quase num dia 8, também), no Estádio AXA em Braga. Braga-Olhanense, 6ª jornada da Liga Zon Sagres. De um lado, Rúben Micael, Éder, Alan ou Hugo Viana; do outro, Ivanildo, Abdi ou Yontcha. E o que têm em comum estes dois encontros, tão distantes no tempo e na diferença dos génios? Um marcador imprevísivel, feito de muitos e bons golos e de absoluta incerteza quanto ao desfecho final. Diferença decisiva: em Sevilha teve direito a prolongamento, como meia-final de Mundial que era. 3-3 foi o resultado no fim desses maravilhosos 120 minutos (davam um livro, com golos, picardias e até uma lesão arrepiante...). Em Braga foi só mais um jogo de campeonato. Mas terminou 4-4, em 90 minutos! Um hino ao golo e à emoção, difícil de encontrar na nossa Liga. Olhanense esteve a vencer por 0-1, 1-2,1-3 e 2-4 e deixou-se empatar por um valente Braga. Deixo aqui o meu agradecimento pelo espectáculo. Aos de hoje pela recordação dos de há 30 anos.
4. ET já não é só um e não anda de bicicleta...são dois e jogam à bola. Voltamos a 1982 (este belo ano, quiçá o melhor dos 80´s), o ano em que um génio chamado Steven Spielberg decidiu criar um filme sobre a visita à Terra de um ser alienígena. O ser foi adoptado e criou uma amizade com uma criança de 10 anos, que o viria a salvar no fim da história. E o que isto tem a ver com futebol, perguntam vocês? Desde esse momento, aqueles fenómenos sobrenaturais que aparecem em forma de ser humano passaram a ser conhecidos por "extraterrestres" ou de "outro planeta". Duas expressões que se equivalem e que foram utilizadas por dois treinadores nesta última semana. Primeiro Jorge Jesus, que se referiu a Leo Messi como "extraterrestre", no rescaldo de uma inevitável derrota contra o Barça para a Champions (2-0). Depois José Mourinho, que falou deste mesmo Messi e do seu Ronaldo como seres de "outro planeta", acrescentando que devia ser proibido dizer quem era o melhor do mundo. Esta última surgiu no rescaldo de mais um grandioso encontro de craques, entre Barcelona e Real Madrid. 2-2 foi o resultado final em Camp Nou. Messi marcou dois para os catalães, respondeu na mesma moeda o português para os madridistas. Dois extraterrestres na Terra, criação real, não-fictícia, mas que nos faz pensar, quando os vemos, se não teremos entrado num filme sem termos dado conta de tal. Continuo a dizer que iremos agradecer aos deuses  termos a oportunidade de ver tão belo e estonteante duelo por mais anos.
5. West Ham vs Arsenal. Os ingleses têm uma expressão magnífica para definir o impagável ou o inestimável: priceless. Essa palavra vem-me a cabeça sempre que vejo um jogo do West Ham em casa. Quando me vêm com a conversa que os hammers vão mudar de estádio nem quero acreditar. Perder-se o ambiente do mítico Upton Park e o seu magistral Forever Blowing Bubbles é algo que empobreceria, e de que maneira, a Premier League. Pelo menos por enquanto, as bolhas continuam a rebentar em Boleyn Ground. Este último fim-de-semana assisti ao West Ham-Arsenal. Foi o jogo da jornada que me despertou mais curiosidade. Frente a frente, duas boas equipas deste início de época inglês, com estilos e formas de pensar o jogo bem diferentes. Um West Ham mais raçudo e directo contra um Arsenal mais dominador e esteticamente mais interessante. Assim foi o jogo no primeiro tempo, com 1-1 no marcador. Diamé, em grande lance individual, fez o golo para o West Ham; para os arsenalistas, bom desenho no golo: recuperação no meio-campo ofensivo, de Giroud, a lançar Podolski na esquerda, sendo que este devolveria para o francês matar na área. Resultado aceitava-se embora o Arsenal pudesse ter feito melhor no capítulo da finalização. No segundo tempo, por paradoxal que possa parecer, a equipa da casa entrou disposta a ter mais bola e a criar boas ocasiões. No entanto, com a entrada de Walcott e com o génio de Santi Cazorla a soltar-se em definitivo (jogador incrível, fez uma exibição de grande nível), os gunners deram a volta, em contra-ataque (por Walcott) e com um remate colocado, fenomenal, do génio espanhol atrás referido. Quanto ao West Ham, apesar da boa vontade mostrada no início do 2º tempo, faltou o golo. Aproveitou um Arsenal, fortíssimo nas transições e que com o trio Cazorla-Ramsey-Podolski mais o suplente de ouro Walcott pode fazer estragos esta época. Grande jogo e tarde muito bem passada a ver o melhor futebol do Mundo!