terça-feira, 23 de outubro de 2012

5 notas do fim-de-semana: De um leão a precisar de um psicólogo a um campeão em crise de identidade passando por dois duelos distintos mas igualmente emocionantes

1. Sporting, o anti-Hemingway e uma crise existencial. Gosto muito e, sempre que posso, leio livros de Ernest Hemingway. A propósito vem uma frase dele que se adequa bem à importância do jogo de ontem para o Sporting: o homem nunca se deve pôr em posição de perder o que não se pode dar ao luxo de perder. Pensei nesta frase ao ver o leão, penoso, a deixar-se perder na 2ª parte do encontro frente ao Moreirense. Depois de uma 1ª parte que tinha abrido boas perspectivas, os comandados de Oceano entraram macios e permitiram a reviravolta. Ainda recuperaram a hipótese prolongamento mas chegados aí voltaram a sucumbir ao contra-ataque moreirense (do qual vou falar no ponto seguinte). Este é um Sporting a viver uma profunda crise existencial. Ontem nem jogaram mal e tiveram atitude mas faltou o discernimento e a capacidade para saber defender em muitos momentos do jogo. Quando a alma está ferida e parece irrecuperável, não há táctica que resista. Salvam-se Patrício, Rinaudo e Viola em mais uma noite muito triste do clube que teima em não seguir a máxima de Hemingway...
2. A propósito do Moreirense: uma dissertação sobre contra-ataques certeiros. Ontem gostei muito do Moreirense, especialmente a partir do segundo tempo. Qual foi o segredo para a mudança então? A entrada do rápido e ágil ala direito Wagner. Foi tiro e queda, como diz o povo. Acrescentou verticalidade e velocidade ao conjunto de Jorge Casquilha. Depois há outros factores: a passagem do criativo Fábio Espinho para o seu habitat natural (nº10), o aproveitamento genial de Pablo Oliveira em dois lances (mais parecia Pablo Picasso pintando Les Demoiselles d´Avignon e Guernica) e o trabalho fantástico de Ghilas segurando bola, prendendo os centrais do Sporting e assistindo com toque, tão subtil quanto sublime, para o golo decisivo de Wagner. Uma bela lição de contra-ataque de uma equipa simpática, que tem feito um início bem promissor de época.
3. Tottenham vs Chelsea. Jogo emocionante, típico de jornada da Premier League. Chelsea melhor na primeira meia-hora, liderado por um grande Ramires. Cahill fez o golo num remate fantástico, de vólei, após canto. Tottenham soltou-se na parte final e chegou a colocar em sentido a defesa blue. Estava dado o mote para a segunda parte. Em 10 minutos, Gallas e Defoe colocaram os Spurs na liderança do marcador. Grande início de 2º tempo, com Lennon, Sigurdsson e Defoe endiabrados. No entanto, a defesa do Tottenham meteu água. Óscar, que até aí havia feito muito pouco, arrancou grande jogada no lado direito, encetou cruzamento, a bola foi (mal) aliviada para a entrada da área, onde Mata atirou, sem hipóteses para o keeper da casa. Empate de um Chelsea que havia melhorado, depois de ter sentido dificuldades no início da 2ª parte, nomeadamente devido à ausência de controlo de jogo motivada pela presença do duplo-pivote Ramires-Mikel (pouco capaz de segurar a bola). Até ao fim, só deu Chelsea. Hazard também resolveu aparecer e ajudou à festa, com uma assistência divinal para Mata, isolado, bisar. Depois, já pertinho do fim, Mata voltou a ser decisivo, ao assistir Sturridge para o quarto e derradeiro golo do desafio. 4-2, resultado final, numa história com muitas histórias dentro de si. Podemos ir a qualquer sítio (futebolisticamente falando) mas no fim ficam sempre as memórias da Good Old Albion...
4. Um duelo pragmático resolvido por segundas escolhas. Foi assim o grande jogo da jornada da Serie A. Os líderes Juventus e Nápoles defrontavam-se num jogo que poderia dar a liderança destacada a qualquer um deles ou então mantê-los a par. Ganhou a Juve, 2-0. Mas foi um grande duelo táctico, resolvido pela maior astúcia na hora de substituir do adjunto do castigado Antonio Conte, Angelo Alessio. Primeira parte com boa entrada dos homens da casa. Giovinco a ameaçar destilar perigo, a cada passo que dava em campo com o seu 1,64 m. Apesar de tudo foi sol de pouca dura. Um Nápoles, a jogar, como é habitual, em 3x4x1x2, anulou bem as principais peças da máquina bianconera. Nem Pirlo, nem Vidal, nem Marchisio tiveram o espaço e a liberdade suficiente para criar perigo. Só Asamoah e os centrais se destacaram pela positiva numa primeira parte de marcações cerradas, de parte a parte. Do outro lado, incrível trabalho da dupla Inler-Behrami (com especial incidência para o primeiro) na anulação do meio-campo juventino. Grande jogo táctico dos napolitanos, compensados com um simpático 0-0 ao intervalo (se bem que o livre de Cavani à trave lhes pudesse ter trazido maior felicidade por essa altura). Na 2ª parte, mais Juve, com Pirlo e Marchisio mais vivos. O Nápoles ia aguentando, mas com mais dificuldades e, além disso, arriscava pouco no ataque. Foi com naturalidade, então, que o Alessio decidiu mudar: colocou em campo Matri e o jovem médio francês Pogba, como medida para ganhar rapidez e capacidade de chegar ao golo na área e para ganhar presença à entrada da área e na zona de meio-campo. Depois entraria Cáceres, defesa uruguaio que se revelaria verdadeiramente decisivo, ao apontar, de cabeça, após canto, o primeiro da Juve. Depois numa recarga foi a vez de Pogba, à entrada da área, com um pontapé imparável, matar o jogo. Finito. Uma Juve mais ambiciosa mereceu os 3 pontos contra um Nápoles conservador. Nem parecia Mazzarri. Melhores em campo? Na Juve, Asamoah, Bonucci e Marchisio. No Nápoles Inler, Behrami e Gamberini. Avançados nem vê-los. Não há a azáfama goleadora da Premier League mas o tacticismo e o equilíbrio também são fascinantes de acompanhar. Viva il calcio!
5. Os erros de Klopp. Foi uma das tragédias, futebolisticamente falando, do fim-de-semana. A maneira como Jurgen Klopp apresentou o seu Borussia Dortmund num jogo decisivo contra o Schalke 04. Klopp montou um esquema inédito com 3 defesas (os centrais Subotic e Hummels acompanhados do médio Bender). Tudo isto porque o lateral-esquerdo Schmelzer se lesionou no aquecimento. Ora, a invenção do técnico dos bi-campeões alemães não resultou, de todo. Muito espaço nas costas (assim surgiram os golos de um Schalke com muita personalidade) e dificuldade em construir jogo (foi uma constante, especialmente no primeiro tempo, vermos Subotic ou outro dos companheiros da improvisada defesa lançarem passes longos sem nexo e mal executados). Foi um Borussia morto à nascença aquele que entrou em campo sábado. Não houve saída de bola. Tanto Kehl como Leitner não quiseram dar o primeiro passo na construção de jogo. Alhearam-se da função de primeiros construtores, o que deixou a equipa orfã de ideias. À meia-hora de jogo, Klopp redimiu-se e mudou para uma defesa a 4 (com Bender a lateral-direito e Piszczek, habitualmente no lado direito, a lateral-esquerdo). Mesmo assim a equipa já estava perdida em campo. Melhorou um pouco no segundo tempo mas perdeu um jogo essencial, ficando a partir de agora a impensáveis 12 pontos do líder Bayern (continua a passear classe, 5-0 em Dusseldorf). Algumas conclusões deste mau dia de Klopp: impossível mudar e inventar a 30 minutos do início (Felipe Santana assumiu que Klopp pediu desculpas aos jogadores no final), continuam os problemas na saída de bola e organização defensiva e, pior, parece-me que este plantel é curto. Schmelzer lesionou-se e não havia alternativa para o lado esquerdo. Além de um "onze" muito bom e de 3 ou 4 boas opções no banco este Borussia tem um vazio. Importante pensar nesta questão. E evitar invenções, aconselha-se sobretudo isso a um dos técnicos mais promissores do futebol europeu.

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