segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O fim-de-semana em 10 pontos: Da novidade no Minho ao bom futebol na Galiza passando pela nova Guerra Mundial

1. Mudar de vida...para melhor. Jorge Jesus entrou para o jogo de Braga com um só pensamento em mente: acabar com a malapata bracarense, algo que se vinha verificando constantemente desde que ele é treinador do Benfica. E para o conseguir, o que fez? Mudou! Primeiro, no onze. Colocou Gaitán atrás de Lima (única referência de ataque), com Salvio e Ola John a ficarem incumbidos da missão de dar profundidade ofensiva nas alas. A estratégia resultou na perfeição, pelo menos nos primeiros 45 minutos. Usando e abusando da mobilidade de Lima para vir buscar jogo atrás e, consequentemente, desposicionar a defesa bracarense, o Benfica conseguiu ser incisivo e deixar o jogo quase resolvido nesse período. Além de Lima, vimos um Gaitán de grande utilidade ao centro, onde penso que ele pode e deve ser mais utilizado (até porque começou a carreira no Boca a jogar no meio), vimos dois alas, em especial Salvio, que variam entre a verticalidade e os movimentos interiores, na procura da jogada de entendimento ou do remate. Em termos defensivos, alguns problemas com os movimentos de Éder e com a criatividade de Mossoró. Apesar de tudo, os encarnados aguentaram bem (com a ajuda de um Matic muito presente no apoio ao quarteto recuado). Só que depois veio a parte sofrida do plano. O Benfica baixou demasiado as linhas e deu a iniciativa de jogo aos bracarenses. Algo contraproducente e certamente muito arriscado. O Braga foi pressionando melhor, com mais elementos, embora com dificuldades de organização. Até que um cada vez mais brilhante Éder sacou um passe longo, primoroso, que isolou João Pedro para o golo bracarense. O Benfica, aparentemente seguro de si nesta nova roupagem, tremia. Mas, até ao fim, lá aguentou. A prova como mudar uma vez pode ser óptimo, mas mudar uma segunda pode tornar as coisas complicadas...
2. Porto de Vítor Pereira ou Porto de Cruyff? Quando em 1984, Johan Cruyff decidiu acabar a carreira de jogador no Feyenoord, já perspectivava seguramente um futuro enquanto treinador de futebol. O seu amor ao jogo e a uma filosofia ("Futebol Total") certamente teriam continuidade num banco de suplentes qualquer. Teve a sorte de ter a primeira oportunidade, volvidos 2 anos, no clube onde tudo começou, o Ajax. E a verdade é que, de início, Cruyff sentiu imensas dificuldades para (re)implementar a tal ideia que tinha levado esse mesmo Ajax e a selecção holandesa ao domínio do futebol europeu nos anos 70.  Acabou por baralhar os jogadores com essa tentativa de colocar o futebol total, de novo, no topo do mundo. Foi um começo duro de carreira, onde sofreu na pele algumas críticas injustas, daqueles que tanto gostam de vaticinar a desgraça ao primeiro (pequeno) passo em falso (depois viria a ter o sucesso que se sabe no FC Barcelona...). Enfim, tudo isto para comparar o início de carreira de Cruyff com o de Vítor Pereira, actual treinador do FC Porto (curiosamente um amante assumido da filosofia que Cruyff implementou em Amesterdão e na Catalunha). Também ele foi muito criticado, após uma fase de resultados negativos muito dura de superar. No entanto, assim como fez Cruyff, reergueu-se: levou de vencida o campeonato (Cruyff ganhou a Taça das Taças logo em 1987...) e preparou a 2ª época da melhor forma, com a consciência de que teria aprendido com os erros cometidos na época anterior. Pensei nesta comparação enquanto via o Porto despedaçar suavemente e com muito charme um pálido galo de Barcelos esta segunda-feira. Olhei para Vítor no banco e pareceu-me ter visto aquela figura rebelde, de traço eternamente jovial, de seu nome Johan. A filosofia do Porto neste jogo foi a mesma do mestre: pressão constante, recuperações rápidas de bola, não dando sequer tempo ao adversário para respirar. Passes curtos, muito toque, intervenções ofensivas permanentes dos laterais (não é à toa que Danilo faz dos melhores jogos de dragão ao peito), meio-campo quase divino na gestão do espaço e da bola e um ataque interventivo, com um falso extremo super-útil (Defour), um extremo puro (Varela), em perfeita sintonia com o lateral e um ponta-de-lança, de movimentos largos e curtos de grande importância (Jackson). Foram 5 os golos marcados, podiam ter sido mais, se a máquina estivesse mais afinada para massacrar sem piedade do que massacrar com estilo. Optaram pela segunda. Foi bonito. O perfume de Cruyff espalhou, por 90 minutos, um suave aroma de classe no relvado do Dragão.
3. Como desencantar caçadores em época baixa? A pergunta pode parecer estranha, à primeira vista. O caçador chama-se Amido Baldé e com época baixa quero dizer época de crise. Ficam já esclarecidos. Esta parece-me uma pergunta pertinente, à qual Rui Vitória soube responder na perfeição. Perante a debandada de jogadores em Janeiro (CAN e mercado complicam a vida de muitos treinadores...), o técnico vimaranense teve de desencantar um ponta-de-lança, de aparência tosca, até aí pouco utilizado. O seu nome, já referido anteriormente, é Amido Baldé. Um jovem internacional português, de origem guineense, alto, muito forte fisicamente, estrutura física tipo tanque. E não é que tem resultado? Utilizando o seu físico poderoso, impõe-se bem sobre os centrais adversários, aguentando muito bem a bola, esperando os apoios laterais. Além disso, vem mostrando sentido de baliza interessante e um apetite voraz pelo golo. Um promissor ponta-de-lança, uma prova de que nas horas adversas, em que escasseiam opções, ainda se conseguem desencantar jogadores de alto rendimento.
4. Descobrindo jovens laterais-esquerdos por essa Europa fora...  Neste caso, reporto-me a três, que vi este fim-de-semana e que já venho seguindo há algum tempo. Primeiro, Holanda. Dois laterais muito interessantes vão despontando, no Vitesse e no PSV. No Vitesse, Patrick Van Aanholt, 22 anos, emprestado pelo Chelsea. Faz todo o corredor com enorme descaramento, em apoio ou aparecendo até em zona de finalização (como se viu este fim-de-semana, na vitória frente ao Ajax). Não tem muitas assistências mas é muito útil em apoio. E vem defendendo cada vez melhor, com mais critério. O outro holandês chama-se Jetro Willems. Produto da geração 1994, Willems vai mostrando qualidades, tentando justificar o estatuto de lateral-esquerdo mais promissor da Holanda. Defensivamente tem ainda bastante por onde progredir, embora esteja melhor. Quando perde nas costas, tem velocidade para recuperar posição. Velocidade essa que usa nas subidas pelo corredor, com a bola colada ao pé esquerdo e procurando apoios interiores ou indo à linha cruzar. Não é fácil achar laterais muito seguros na Holanda, mas estes dois têm muito potencial. Por último, Lucas Digne. O jovem de 19 anos do Lille tem sido o titular esta época. Já vinha, aliás, rotulado de promessa desde as camadas jovens. Forte no jogo aéreo, é um lateral aplicado nas marcações e que sobe bem, jogando em apoio. Tem enorme disponibilidade física, fazendo todo o corredor com grande à vontade. Este fim-de-semana mostrou-se a no estádio de um clube (PSG) que pode muito bem vir a ser o seu próximo destino...
5. A aura de Khedira e o mago turco de Bremen. Uma dupla alemã, de origem turca, fascinou-me este fim-de-semana. Falo-vos de Khedira e Ozil, médios internacionais da Mannschaft e figuras de proa do Real Madrid de José Mourinho. As suas exibições frente ao Getafe deixaram-me deliciado. O primeiro, entrou ao intervalo, e logo mexeu com o jogo madridista, até aí pouco objectivo. De facto, temos assistido a uma metamorfose técnico-táctica muito interessante em Khedira. Passou a ser o Khedira da selecção (mais ofensivo, dinâmico, capaz de perfurar na 2ª linha) a tempo inteiro. O Real ganhou claramente uma nova aura com ele em campo e também por isso foi mais fácil chegar aos 4-0. No entanto, Khedira teve no compatriota Mesut Ozil um fiável companheiro de construção. O "10" do Chamartín brilhou intensamente nos 70 minutos em que esteve sobre o bem tratado césped madrileno. Pelo centro ou derivando para a direita, mostrou sempre grande clarividência e capacidade criativa nas suas acções. Poucos têm a sua qualidade técnica, de recorte fino. Quando está em forma, é um jogador que enche o campo. O Madrid precisa dele sempre assim...
6. Passagem breve pela 3ª Guerra Mundial. E com 3ª Guerra Mundial falo da eterna discussão (eu prefiro assim, embora haja quem goste mais da designação bélica, daí o título do parágrafo...) sobre quem é o melhor do mundo. Messi ou Ronaldo? Ronaldo ou Messi? (confesso que às vezes me apetece soltar um grito pelo Iniesta para não tornar a luta bipolar...). Pela manhã, Ronaldo marca 3 (em 13 minutos...), Messi responde ao fim da tarde com poker. Um é uma máquina, outro um extraterrestre, dizem muitos. Eu gosto de olhar para eles como seres humanos. Daqueles que me fazem acreditar em impossíveis e milagres. Abençoados sejamos nós que vivemos nesta era de colossos . Bem se pode dizer, abençoada Guerra Mundial esta...
7. Por falar em Guerra Mundial... Vem aí confronto entre os dois batalhões mais poderosos deste planeta. Quarta-feira, 20h00, Real Madrid-Barcelona. 1ª mão das meias-finais da Taça do Rei. O mundo vai parar, mais uma vez. Uma guerra no bom sentido. Ou se preferirem, no sentido táctico. Cristiano vs Messi, Ozil vs Iniesta, Khedira vs Busquets, etc., etc.. Futebol em estado puro.
8. Mauro Icardi, de bluff ao poker. No início da época apareceu na Sampdoria como sendo um jovem avançado, promissor, contratado por pouco mais de 300 mil euros ao Barcelona. Já mostrava qualidades mas não foi sendo opção nos primeiros jogos. Até que chegou o derby de Génova e logo se revelou, com golo na estreia a titular. Depois disso, tem vindo a registar ascensão brilhante : bis na vitória forasteira frente à Juventus e agora um poker na recepção ao Pescara. Golos marcados com ambos os pés, em movimentos muito sólidos, típicos de grande ponta-de-lança. Mais um jogador para nos enamorarmos no que resta de época. Fica a dica...
9. Piszkczek.  Um dos excelentes laterais-direitos europeus neste momento. Arrisco-me a dizer que é um dos melhores do Mundo, neste momento, junto ao juventino Lichtsteiner. Sobe, sobe (como se fosse o balão de Manuela Bravo...), sem parar, sendo um dos jogadores mais úteis na manobra ofensiva do lado direito no Borussia Dortmund. E defende com muito critério, recuperando geralmente bem quando perde alguma posição. Um dos melhores apontamentos dos últimos tempos na Bundesliga. É lateral para equipa grande (embora já esteja numa mesmo muito grande...).
10. Celta-Real Sociedad. Há equipas de toque apaixonante a jogar na Liga espanhola neste momento. Este fim-de-semana tivemos confronto belíssimo (Rayo-Betis, o qual não pude, infelizmente, assistir), mas não foi só esse. Na tarde de sábado passei um bom bocado a ver o Celta de Vigo-Real Sociedad. Duas das mais interessantes propostas futebolísticas no país vizinho. Empataram 1-1. Foi justo. Adorei a primeira parte, muito bem disputada, com domínio inicial da Real, logo desfeito num movimento de fora para dentro, sublime, de Krohn-Dehli (com a assistência de calcanhar de um enorme Iago Aspas). No segundo tempo, a Real voltou ao comando do encontro, empatou, mas perante cerrada defesa não conseguiu encontrar muitas soluções. Daí a justiça do resultado. E quanto a jogadores? Na equipa da casa, adorei o labor da dupla de centrais (Cabral-Demidov) e o jogo esforçado de Krohn-Dehli (além, claro está, de Iago Aspas, que saiu ao intervalo). Nos forasteiros, grande primeira parte do ala esquerdo Chory Castro, certeiro nas movimentações, na condução de bola e passe e partidas enormes dos centrais Elustondo e Iñigo Martínez (dos melhores centrais jovens da Europa, na minha opinião), do lateral-direito Carlos Martínez (muita profundo, sobretudo no 2º tempo) e do médio Asier Illarramendi, impecável a cobrir o meio-campo e a descobrir linhas de passe. 90 minutos bem passados na companhia de bom futebol e de bons intérpretes!

domingo, 20 de janeiro de 2013

CAN 2013: À procura do ouro em terras de Madiba

Começou este sábado mais uma edição da Taça das Nações Africanas, vulgo CAN. Como sempre, enorme expectativa para ver o melhor futebol de África , os melhores jogadores e as melhores equipas. Apesar das ausências, colectivas (Egipto ou Camarões) e individuais (dentro das selecções apuradas faltam craques como Boateng, Essien ou Obafemi Martins, entre outros), penso que será mais uma edição recheada de boas surpresas, bom futebol, animação e o sal do futebol que são, claro está, os golos.

4 grupos, uns mais equilibrados, outros mais previsíveis (se é que essa palavra pode ser utilizada numa competição destas...), os quais passamos a analisar de seguida, por ordem:

Grupo A

África do Sul: A selecção da casa, certamente com vontade de triunfar perante o seu público. Os Bafana Bafana, treinados por Gordon Igesund (técnico sul-africano de 55 anos e muita experiência local), procuram a glória num grupo que, pese embora difícil e extremamente equilibrado, não contém nenhum dos candidatos maiores à vitória final (bem, quanto a isso, logo veremos...). Depois de ter sido anfitriã de um Mundial que lhe correu dentro das expectativas (fazer mais era francamente difícil), recebe uma CAN, numa época em que começam a surgir alguns valores interessantes, que se irão juntar a elementos experientes como Parker, Dikcagoi ou o irreverente Tshabalala (figura da equipa em 2010). Destacaria dois, que se podem tornar em grandes revelações do torneio: os médios May Mahlangu (Helsingborgs) e Thulani Serero (Ajax). Destaque ainda para os defesas Ngonca (Genk) e Khumalo (PAOK), com experiência europeia que lhes será certamente muito útil nesta competição. O meu veredicto? Aposto numa campanha interessante, em que estarão motivados pelo factor-casa. Podem passar o grupo, se forem consistentes na defesa, se apostarem em Mahlangu como patrão do meio-campo e se contarem com o talento e verticalidade de Tshabalala na busca da melhor finta e do melhor passe para golo. Golo (neste caso no plural, golos) que poderá estar na bota de um Parker, de um Mphela ou até de um Serero vindo de trás...

Cabo Verde: Lia com atenção, nos últimos dias, as previsões de alguns jornalistas africanos para a surpresa da competição. Boa parte deles apontava a selecção cabo-verdiana como sendo a candidata-maior a revelação desta CAN. E não é que concordo com esses jornalistas? Apesar da ausência de referências ao nível da defesa (a maior será, porventura, Fernando Varela, actualmente no Vaslui), Cabo Verde possui uma equipa interessante do ponto de vista técnico, em particular na frente de ataque, onde possui 3 setas, capazes de criar bastante perigo: Heldon (Marítimo), Ryan Mendes (Lille) e o benfiquista (emprestado ao Olhanense) Djaniny. Depois atrás, no meio-campo, apresenta elementos de valor como o feirense Sténio ou o olhanense Babanco. Os tubarões azuis, treinados por Lúcio Antunes, procuram confirmar o estatuto que trazem das eliminatórias, onde se apuraram às custas da forte selecção dos Camarões. Penso que têm condições para disputar o apuramento. Nunca serão uma decepção (dado que se trata da estreia), logo só podem pensar em surpreender o mundo do futebol.

Angola: Outra das selecções "queridas" dos portugueses. Entra para a edição deste ano com expectativas de se intrometer na luta pelo apuramento. Os palancas negras, treinados pelo uruguaio Gustavo Ferín, procuram apurar-se neste grupo super-equilibrado e, sinceramente, acho que têm boas hipóteses. Porventura serão os favoritos teóricos do grupo a par de Marrocos. A destacar no conjunto angolano, sobretudo, o poderoso e versátil trio ofensivo composto por Djalma, Manucho e Mateus. Três setas apontadas à baliza contrária, que prometem velocidade, perigo e golos. De resto, destacaria dois jovens, previsivelmente titulares e que poderão dar que falar: o central Bastos e o lateral-esquerdo Miguel, ambos do Petro de Luanda. Isto para não falar do "brasileiro" Geraldo. Craques para seguir com atenção numa selecção que promete surpreender.

Marrocos: Do Norte de África chega uma das selecções mais interessantes do ponto de vista técnico desta CAN. Falo de Marrocos, histórico do futebol aficano e que procura nesta edição 2013 repetir o feito único de 1976, quando conseguiram arrecadar o troféu mais ambicionado do futebol africano. Treinados por Rachid Taoussi, os marroquinos apresentam valores emergentes em bons clubes do futebol europeu, prontos igualmente para explodir ao serviço da sua selecção. Belhanda, Barrada, Benatia, Amrabat, El Ahmadi ou El Hamdaoui são os nomes mais sonantes de uma equipa que do ponto de vista táctico ainda terá de progredir. Qualidade técnica e individual não falta. Apesar dos muitos jogadores de classe, creio que será difícil para Marrocos conquistar esta CAN. E não falo só porque existe uma Costa do Marfim neste torneio...

Grupo B

Gana: Uma das crónicas candidatas ao título. Porém apresenta algumas ausências que podem pesar (Kevin Prince Boateng, Essien ou os irmãos Ayew), especialmente se formos a comparar com outras selecções mais bem apetrechadas em termos de opções. Naturalmente, não terão tarefa fácil, embora sejam a equipa mais forte deste grupo. A principal estrela da selecção treinada por James Appiah continua a ser Asamoah Gyan, agora jogador do Al-Ain (Emirados Árabes Unidos). No entanto, outros nomes poderão sobressair neste torneio, nomeadamente o portista Christian Atsu, o jogador do Espanyol Wakaso ou ainda o talentoso ponta-de-lança Richmond Boakye, jovem emprestado pela Juventus ao Sassuolo e que promete muito.

Mali: Outra boa selecção neste Grupo B. O Mali, treinado pelo francês Patrice Carteron, quer chegar longe nesta CAN, contando para isso com um conjunto bastante interessante de jogadores, que mistura experiência e alguma juventude com bastante qualidade. A grande referência do conjunto maliano no pós-Kanouté passa a ser o médio do PSG, Mohammed Sissoko, que irá fazer dupla com o "veterano" Seydou Keita no miolo do terreno. Em termos defensivos, para lá do vimaranense N´Diaye, não há muito a destacar. Já no ataque há nomes de sobra para causar dores de cabeça aos adversários: Maiba, Diabaté ou Samassa. Atenção ainda a um jogador que pode ser uma das boas revelações da CAN: Samba Diakité, 23 anos, trinco do QPR, peça fundamental no conjunto de Harry Redknapp (13 jogos na Premier League esta época). Uma equipa que promete dar luta!

RD Congo:  Uma selecção que pode vir a surpreender! Treinada pelo mítico Claude Le Roy, a equipa congolesa apresenta-se nesta CAN como uma potencial candidata a revelação do torneio. Vejo-os com capacidade para poderem deixar o mundo boquiaberto, tal qual o Zâmbia fez há cerca de 1 ano. Para lá do craque local Trésor Mputu, há ainda uma lista de jogadores com experiência a nível europeu e que prometem, em conjunto, criar dificuldades aos restantes oponentes do grupo. Desde o médio Mulumbu (West Bromwich) até ao goleador Mbokani (Anderlecht) passando pelo promissor central Mongongu (Évian), está aqui uma equipa com boa cadência de jogo. Uma interessante mistura entre a experiência europeia e a irreverência de um dos grandes clubes africanos dos últimos anos (o TP Mazembe, precisamente da RD Congo). Atenção aos Leopardos (alcunha dos congoleses)!

Níger:  Depois da estreia na edição do ano passado, a selecção do Níger pretende fazer melhor e conquistar um dos 2 primeiros lugares. Difícil, mesmo muito difícil, para não dizer quase impossível. Um conjunto sem experiência de onde sobressai o craque Moussa Maazou, promessa perdida para a Europa, agora a pairar sobre os campos tunisinos (Étoile du Sahel). O treinador nesta edição é o mesmo que em 2012 orientou os anfitriões do Gabão: Gernot Rohr, alemão de 59 anos, referência da história do Girondins Bordeaux, enquanto jogador e treinador e que procura agora o concretizar do sonho deste pequeno e pobre país da África Ocidental.

Grupo C

Zâmbia: O inesperado campeão de 2012 entra para a edição sul-africana debaixo de um foco de expectativas muito intenso. Duvido que este ano consigam repetir o feito, mas também é certo que nada de igual lhes é exigido. O ano passado viveram uma situação fantástica mas possivelmente esporádica. Ainda assim, um bom feeling para os jogos desta selecção. Mantém o treinador (o francês Hervé Renard, autêntico herói nacional após a vitória do último ano) e também a base da equipa. A figura e referência continuará a ser Chris Katongo, líder das operações a meio-campo, sendo que Emmanuel Mayuka pode aproveitar a CAN para ganhar oportunidades no Southampton. Destaque também para o quarteto defensivo dos congoleses do TP Mazembe (Stophira Sunzu, Francis Kasonde, Hichani Himoonde e o trinco Nathan Sinkala), que prometem valorizar-se nesta prova.

Nigéria: Uma das grandes selecções do futebol africano. Em termos históricos, recordamos sempre a mítica equipa do fim dos 90´s, início de 2000 com Kanu, Okocha, entre outros craques. Essa será porventura a última recordação que temos de uma grande equipa nigeriana. Desde essa altura temos tido equipas com bons jogadores mas resultados relativamente fracos. Ora então o que podemos esperar das Super Águias nesta CAN? Eu diria que há potencial para fazer mais e melhor do que nos últimos anos, claramente. Ofensivamente poderosos (Musa, Ideye Brown, Emenike, Moses e Uche), têm, no entanto, no seu meio-campo a grande figura e referência internacional: John Obi Mikel. O médio do Chelsea será o líder de um meio-campo que conta ainda com os promissores Nosa Igiebor (Bétis) e Ogenyi Onazi (Lazio). Atrás, Joseph Yobo continua a ser a referência, destacando-se ainda o suplente do Braga, Elderson. Um bom conjunto, quiçá desequilibrado, mas que não deixa de ter hipóteses de chegar longe. Veremos.

Burkina-Faso: Uma selecção sem historial de grandes resultados (o melhor na CAN foi mesmo a chegada à semi-final em 1998) mas com ambição de poder seguir em frente para os quartos-de-final. Orientados pelo experiente Paul Put, os rapazes do antigo Alto Volta pretendem chegar longe, com uma proposta de jogo interessante e que assenta sobretudo no trabalho de um meio-campo com excelentes elementos: os trincos Koné e Kaboré (ambos jogam em França) e, sobretudo, o médio-ofensivo Alain Traoré, outro "francês" do plantel, craque maior do Lorient. Muita qualidade claramente neste grupo, aos quais ainda podemos juntar os perigosos avançados Pitroipa, Bancé e Abdou Traoré além do central do Lyon, Bakary Koné. Uma base interessante do futebol francês que procura dar a surpresa nesta edição de 2013.

Etiópia: Só o facto de estarem presentes nesta CAN já surpreende. A Etiópia, além de ser uma das nações mais desfavorecidas do planeta, é também uma nação desfavorecida no que toca a recursos futebolísticos, tanto materiais como, sobretudo, humanos. O seleccionador é etíope (Sewnet Bishaw), logo não haverão problemas de adaptação à realidade futebolística. Que é complexa e um pouco distante do profissionalismo e competitividade das rivais do grupo. A grande figura, na ausência do líder da equipa Fikru Tefera, será, porventura, o médio-esquerdo Yussuf Saleh, dos suecos do Syrianska FC. Muitas dificuldades em perspectiva para os etíopes. No entanto, quem sabe se não teremos uma fábula daquelas que tanto gostamos...

Grupo D

Costa do Marfim: A grande favorita. E, olhando para os convocados, entende-se o porquê. Drogba, Yaya Touré, Kolo Touré, Cheick Tioté, Eboué, Arouna Koné, Kalou ou Gervinho, aos quais devemos juntar ainda os promissores avançados Wilfried Bony e Lacina Traoré. Um conjunto de estrelas que se quer redimir da final perdida nos penalties para o Zâmbia na última edição. E como superar a frustração? Jogando bom futebol, coerente com a qualidade do plantel e onde não há individualismos mas sim um conjuntos de grandes craques prontos para conquistar África, jogando em equipa. O seleccionador é ainda jovem (41 anos), francês e foi um jogador de qualidade: Sabri Lamouchi. Se enquanto jogador passou em grandes equipas como Mónaco, Parma, Inter ou Marselha, procura agora iniciar a sua carreira de treinador em grande. E haverá melhor oportunidade do que esta? Talvez não, por isso é hora de a aproveitar!

Tunísia: Orientados pelo ex-jogador Sami Trabelsi, os tunisinos tentarão discutir, previsivelmente, o 2º lugar com a vizinha e rival Argélia e talvez com o Togo de Adebayor. Isto pensando que o 1º lugar será para a super-favorita Costa do Marfim. Para esta CAN, surgem algumas personagens novas, entre muitas que já vêm do grupo dos últimos anos. Em termos de talento puro, destacaria Youssef Msakni, virtuoso médio ofensivo, recentemente transferido para os milhões do Qatar mas com potencial para crescer e chegar rapidamente à Europa. Há ainda outros bons nomes a ter em conta: o central Abdennour do Toulouse, muito forte e ainda jovem, o playmaker Wahbi Khazri, promissor médio-ofensivo/ala do Bastia e os avançados Jemâa, Khelifa (goleador no Évian, em França) e Harbaoui. Uma selecção que pode revelar algumas das pérolas mais interessantes desta CAN. E certamente uma selecção com esperanças de chegar bem longe este ano...

Argélia: Outra séria candidata aos "quartos". Com o valencianista Sofiane Feghouli como principal estrela, a Argélia procura um regresso em grande ao palco maior do futebol africano, depois da ausência em 2012. Orientados por um mito-vivo chamado Vahid Halilhodzic, os argelinos irão certamente dar água pela barba aos seus rivais de grupo. Voltando aos jogadores, para além do referido Feghouli, Halilhodzic leva ainda craques como Boudebouz, Kadir ou Lacen além da jovem promessa do Saint-Étienne, Fariz Ghoulam. Previsão? Não garanto que se apurem mas parece-me que têm capacidade para discutir o 2º lugar do grupo, pelo menos. Há condições, treinador e talento. Falta jogar!

Togo: Adebayor + 10. Podíamos quase descrever assim a selecção togolesa, que teve em 2006 o seu grande ano (participações na CAN e Mundial da Alemanha). Sem dúvida que o avançado orientado por André Villas Boas no Tottenham é a grande referência desta equipa. No entanto, jamais poderá resolver todos os problemas sozinho. Isto numa CAN que marca o regresso dos togoleses depois do susto em Angola há 3 anos (sequestro ao autocarro da equipa). Com o ex-internacional francês Didier Six como seleccionador, o Togo tem em França a sua principal base de recrutamento para esta CAN. Destaque para o experiente guarda-redes Kossi Agassa, o médio Alaixys Romao ou os avançados Ayité e Gakpé. Isto para além, claro está, da superstar togolesa referida no início do parágrafo. Adebayor pode não jogar sozinho mas também dele depende uma grande CAN dos Gaviões.

10 jogadores a seguir nesta CAN:

1. Younès Belhanda (Marrocos/Montpellier): Talento, virtuosismo e magia. Características que este "10", nascido em Avignon (França), possui. Aos 22 anos, é o elemento tecnicamente mais vistoso da selecção marroquina. Quando o seu pé direito pega na bola, o jogo entra noutra dimensão. Uma dimensão onde magia, bola e futebolista confluem, tornando o campo de futebol num sítio mais bonito. Se Marrocos chegar longe, seguramente ele terá quota-parte nessa proeza...
2. Wilfried Bony (Costa do Marfim/Vitesse): Será a par de Lacina Traoré a "next big thing" do futebol marfinense. Aos 24 anos, tem-se mostrado como um dos mais promissores "9" do futebol actual. Excelente sentido de baliza, é um predador do golo. Destro de qualidade, tem também no jogo aéreo uma das suas maiores qualidades. Esta temporada leva 22 golos em 25 jogos, em todas as competições. Melhor cartão de visita não há...
3. Sofiane Feghouli (Argélia/Valência): Estreou-se pela selecção argelina há cerca de um ano, depois de  ter passado pelas selecções jovens de França (onde nasceu e cresceu). Bola de Ouro argelino em 2012, Feghouli assume-se como o líder natural desta equipa. Médio-direito (embora possa jogar em todas as posições do meio-campo), habitual titular do Valência, prefere jogar no centro, embora tenha feito essa adaptação ao flanco na perfeição. Jogador de toque curto, criativo e de excelente controlo de bola, tende a movimentar-se de fora para dentro, procurando igualmente aparecer em zonas mais ofensivas (é rápido e capaz de dar profundidade). Ajuda também a defender. Um jogador completo que, aos 23 anos, procura dar-se a conhecer ao continente africano.
4. Youssef Msakni (Tunísia/ Lekhwiya SC): Tunisino de 22 anos que promete muito. Bastante técnico, joga bem na 2ª linha de meio-campo. Excelente a abrir jogo entre-linhas, com boa visão de jogo e considerável capacidade de passe. Nascido e criado no Stade Tunisien, revelou-se no Esperance Tunis, onde o descobri, há um par de anos, em jogos da Liga dos Campeões africanos. Transferiu-se recentemente para o Qatar. Sinceramente via-o já com potencial para triunfar numa equipa média de uma grande liga europeia. Quem sabe se não estará próximo...
5. Aymen Abdennour (Tunísia/Toulouse): Abdennour pode ser uma das boas revelações ao nível de defesas-centrais nesta CAN. Aos 23 anos, afirma-se como o líder da defesa do Toulouse, mostrando características próprias dum bom central moderno . Relativamente alto (1,87m), tem bom jogo aéreo, usando também o porte físico para ganhar as disputas de bola. É forte em antecipação, tem técnica e até é capaz de sair a jogar. A isto se junta uma interessante capacidade de passe, seja curto ou mais longo. Um dos centrais mais promissores da Ligue 1 procura agora ganhar estatuto ao nível internacional.
6. Ahmed Musa (Nigéria/CSKA Moscovo): Uma das grandes promessas deste CAN´2013 mora na selecção nigeriana. Falo-vos de Ahmed Musa, completo avançado do CSKA Moscovo. Leva já 8 golos em 18 jogos no exigente campeonato russo. Joga preferencialmente na direita do ataque, embora possa todas as outras posições. Muito rápido e com grande capacidade de acelerar nos momentos decisivos, mostra também qualidades ao nível técnico, livrando-se dos adversários com grande "pinta". Joga bem de fora para dentro, mas também ocupa bem os espaços interiores. Finaliza e assiste, preferencialmente, de pé direito. 20 anos ainda, um diamante por lapidar e para seguir com grande atenção nesta CAN!
7. Abdelaziz Barrada (Marrocos/Getafe): Aos 23 anos, encontrou o seu habitat ideal nos espanhóis do Getafe. Diria que o próximo passo será para um clube maior, pelo menos tendo em conta a época que está a realizar. Médio-centro ofensivo, embora possa jogar na ala também, é um jogador de fino recorte técnico, bom pé direito, seja a assistir ou a finalizar. Não tem um registo brilhante de golos e assistências (3 de cada em 16 jogos na Liga) mas é importante vê-lo jogar por inteiro para perceber a importância na construção de jogo do Getafe. Veremos qual será a posição na equipa marroquina. Creio que jogará adiantado no meio-campo, entrando em disputa com o já citado Belhanda. Veremos se dá para os juntar...
8. Christian Atsu (Gana/FC Porto): Deste nome já falámos aqui algumas vezes. Christian Atsu, extremo do FC Porto, procura nesta CAN a afirmação definitiva dentro do "onze" do Gana. Não será fácil se bem que a concorrência esteja reduzia, sobretudo por via das ausências dos irmãos Ayew. Tecnicista, com grande capacidade de aceleração para ir cruzar à linha, é um jogador que pode virar, sozinho, o jogo de pernas para o ar. Tem 21 anos e muito futebol para dar.
9. Thulani Serero (África do Sul/Ajax): Médio tecnicista, promete ser um dos craques da equipa da casa. Não tem jogado muito esta época na Eredivisie (4 jogos, 238 minutos) mas já leva 3 golos. Acredito que pode explodir nesta competição. É rápido, aparece bem na área a finalizar e consegue criar boas jogadas individuais. Espera-se muito dele, de facto. Mas os números esta época são para desconfiar...
10. Nathan Sinkala (Zâmbia/TP Mazembe): O homem que secou Yaya Touré e Zokora na final do ano passado. 22 anos e continua no TP Mazembe, apesar de ter sido uma das revelações de 2012. Maduro, trabalha muito bem tanto defensiva como ofensivamente. Forte nas marcações, deverá ser o elemento mais recuado do meio-campo. Pode também jogar como central. Poderia ter destacado outra promessa do ano passado (o central Sunzu) mas preferi este homem. Uma das provas de que o Zâmbia pode acreditar numa boa CAN está aqui.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Análise ao primeiro fim-de-semana de 2013: das perspectivas de um grande clássico a um goleador em saldos passando por lições de contra-ataque

1. Benfica vs FC Porto: que podemos esperar? Joga-se no próximo domingo um dos clássicos mais importantes dos últimos anos. E digo isto, porque o equilíbrio entre forças me parece enorme neste momento. Seguramente podemos esperar um belo duelo a meio-campo. Um Benfica com um Matic em grande forma, recuperador e primeiro construtor de jogo, e com uma dinâmica e verticalidade assinalável nas alas. Um FC Porto que sem James terá de se adaptar às alterações (Izmailov será já opção?). Previsivelmente jogará Defour como 4º elemento de meio-campo/falso ala, dando a Danilo maior liberdade para subir no terreno. Ou então, Lucho como o tal falso ala, o que até me parece mais plausível. Veremos. Certo é que será sempre um grande duelo táctico, entre dois grandes treinadores, que sabem muito do jogo, e duas equipas capazes de proporcionar grandes momentos de futebol.
2. Nico d´obra. Foi uma das "revelações" da Liga Zon Sagres este fim-de-semana. Falo-vos de Nico Gaitán. Exibição de mão cheia, ziguezagueando defesas contrários, espalhando detalhes de grande classe e contribuindo de forma decisiva para a importante vitória "encarnada" no Estoril. Primeiro, com um golo sublime, detalhe de calcanhar pintado a vermelho vivo, qual Picasso. Isto após impensável cobrança de canto de...Óscar Cardozo (sim, leu bem). Depois assistiu, com grande classe, Lima, para o segundo do Benfica. Em suma, voltámos a ver o melhor de Gaitán. Jesus com razões para sorrir. Ganha mais uma opção válida para a segunda metade da época. Se Gaitán ficar por cá (acredito que sim)...
3. Jackson: o cafetero voador. Se há jogador que é exemplo de uma perfeita adaptação a uma nova realidade, distinta da de onde era proveniente, esse é Jackson Martínez. Muito se duvidou dele no início (claro está, quando ainda ninguém o havia visto jogar...). Eram os 9 milhões, era o facto de chegar de um campeonato considerado (pelo menos em Agosto) exótico e, pasme-se, para alguns até o facto de não ter uma cara bonita. A verdade é que Jackson foi-se impondo. E tudo isto quando ainda está a crescer. Acredito que ainda pode dar mais ao Porto e a si mesmo. Uma coisa é certa (e ficou provada, mais uma vez, neste último jogo): a impulsão na área é brutal. Dêem-lhe espaço que ele aproveita. Segundo jogo consecutivo do FCP resolvido pela cabeça do goleador colombiano. E ambos na sequência de cantos da esquerda. Verdadeiramente decisivo. 16 golos em meia época para um estreante não são brincadeira nenhuma...
4. 4 golos de cabeça num só jogo! (e eu estive lá...) Guardamos sempre memórias engraçadas de jogos que vemos ao vivo. Para mim ficará uma do passado dia 5 (sábado). Posso dizer que foi o dia em que vi uma equipa marcar 4 golos de cabeça. Autores da proeza? Académica, no triunfo por 4-2 frente ao Vitória de Setúbal. Vimos um Edinho gigante, o melhor desde que chegou a Coimbra, com um "hat-trick". Vimos um Cissé a confirmar-se como uma das boas revelações desta época 12/13. E vimos Rodrigo Galo regressar aos relvados com 2 grandes assistências. Além de um enorme Makelele a conduzir com mestria o jogo a meio-campo. Boa exibição dos academistas, finalmente com o 4x3x3 de Pedro Emanuel a construir e a ter fio de jogo. Será (bom) indicativo para a segunda metade da época?
5. O tetra de Messi. Tudo o que dissermos sobre Messi poderá parecer soar repetido. Mas não. Os adjectivos por usar para o descrever começam a ser poucos mas a vontade de o gabar nunca desaparece. Estamos perante um prodígio, daqueles que vão surgindo por eras. O futebol, que noutras eras já nos deu Pelés, Maradonas, Cruyffs ou Di Stéfanos, dá-nos agora esta pérola, uma dádiva para ser desfrutada, felizmente, por mais alguns anos. Nesta segunda-feira, em Zurique, fez-se um pouco mais de história. Da história do futebol. Porque este jogo também é uma história. Com vários capítulos, uns mais emocionantes, outros mais intrigantes, outros grandiosos, mas todos providos da presença de génios, esses mesmos que nos fazem sonhar acordados, nos fazem imaginar que estamos perante uma fábula maravilhosa em forma de jogo de futebol.
6. O milagre da velha Doria. Itália, pátria-mãe das grandes organizações defensivas e do jogo cínico no último século, começa a mostrar mais do que equipas agarradas ao velho e caído em desuso catenaccio. Nem na Europa as equipas italianas apresentam esse estilo de jogo de aparência tão ruim. Curiosamente, a última a ter sucesso com uma fórmula semelhante foi uma equipa inglesa (Chelsea), cá está, treinada por um jovem italiano (Di Matteo) de velhos modos. Isto tudo para chegar à surpreendente vitória da Sampdoria, ontem à tarde, frente à favorita Juventus (2-1). Vitória essa conquistada fora de portas, depois de estarem a perder 1-0 ao intervalo e a jogar com 10 desde a meia-hora. Como foi possível então à Sampdoria conquistar os 3 pontos? No fundo, a reacção começou logo após o golo de Giovinco. A Samp subiu mais as linhas, procurou apertar a saída de bola dos bianconeri e com isso conseguiu também esticar o seu jogo. A chave teve na maneira como a equipa se reorganizou após a expulsão de Berardi. Delio Rossi colocou um lateral-direito (De Silvestri), tirando o médio-esquerdo (Estigarribia) que fez de lateral nos últimos minutos da 1ª parte, embora com notórias dificuldades. Tudo fez sentido. Linha de 4 com Silvestri, Gastaldello, Palombo e Volta mais encostado à esquerda. A única solução possível era defender da melhor maneira possível e tentar o contragolpe. Assim foi. A Juve tinha a bola mas, pese a superioridade numérica, não criava grandes ocasiões para matar o jogo. E pior que isso, balanceou-se demais para o ataque, perdendo consistência defensiva e capacidade de recuperação a meio-campo. Os jogadores da Samp passaram a dispor de maior liberdade para sair em velocidade. A partir daí a recuperação de Krsticic, a visão de jogo de Obiang, o dinamismo e condução de bola de Eder e Poli e a eficácia de Icardi (dois belos golos e bons pormenores do jovem ponta-de-lança argentino) fizeram a diferença. Uma lição de contra-ataque e uma reviravolta surpreendente. Um thriller à italiana na matiné dominical de Turim.
7. Por falar em Itália e contra-ataques, Nápoles e Udinese. Outras duas equipas que brilharam em contra-ataque na última jornada da Série A foram o Nápoles e a Udinese. A equipa napolitana bateu a Roma (4-1), com "hat-trick" de Cavani. O uruguaio tem feito uma época imensa, tendo nesta altura 16 golos em 16 jogos (na Serie A). E mais interessante, está a 22 golos de chegar ao nº de tentos de Maradona com a camisola azzurri. Já a Udinese bateu o Inter por volumosos 3-0, com a contribuição da dupla mais forte de avançados, Di Natale e Muriel. E o que tiveram em comum as exibições de Nápoles e Udinese? Simples. Um aproveitamento perfeito das jogadas rápidas de contragolpe, perante equipas tendencialmente mais dominadoras. No entanto, apesar de terem mais posse, tanto Roma como Inter são equipas altamente inseguras na manobra defensiva. Expõem-se muito e desequilibram-se facilmente. A Roma sem a jovem revelação Marquinhos foi um passador. O Inter sem Juan Jesus (expulso após o 1º golo) enervou-se e perdeu o norte. Mazzarri e Guidolin, dois treinadores de excelência em Itália, aproveitaram na perfeição as debilidades adversárias e viram as suas equipas conseguir vitórias bem robustas. E convenhamos que quem tem um killer de área como Cavani ou um super completo avançado como Di Natale (incrível como parece adivinhar onde vão cair todas as bolas) tem o caminho mais facilitado para contra-atacar.
8. A dimensão de Sergio. Parecia ser um mal amado. Para os rivais, era um teatrero. Para os próprios adeptos (alguns...), um jogador sem a dimensão dos companheiros de meio-campo. Para os analistas, um médio-centro recuado com um potencial tremendo. Estou a falar de Sergio Busquets. 2012 foi o ano da afirmação definitiva do jovem internacional espanhol. Como escreveu, e bem, o jornalista hispânico-escocês John Carlín, aqui há uns tempos, Busquets "é o melhor jogador desconhecido do mundo". Com isto quis frisar a importância invisível do médio, tanto na equipa do Barcelona como na selecção espanhola. Isto foi escrito, se a memória não me falha, por alturas do Barça-Atlético de Madrid. No último domingo, voltou a brilhar, desta feita no dérbi contra o Espanyol. Os números são manifestamente impressionantes: 132 passes certos. No Barça parece algo vulgar. Mas mostra bem a importância actual de Busquets no esquema de Tito Vilanova. Parece ser quase omnipresente. Recupera, distribui curto, protege as costas dos médios mais adiantados e dá passes de ruptura maravilhosos para golo. O melhor jogador desconhecido do mundo, dizem eles. Também deveria haver Bola de Ouro para esta categoria...
9. O incrível Épinal. A Taça de França é pródiga em momentos brilhantes. Começa no facto de até as equipas de bairro se poderem inscrever. Há uns três anos, recordo uma reportagem que vi sobre uma equipa que jogava num campo sintético de um bairro, com redes à volta, situado nos arredores de uma grande cidade francesa (não quero arriscar qual era, sob pena de vos estar a enganar). Assim mesmo, um campo como aqueles em que, muitas vezes, jogamos peladinhas com os nossos amigos. Eu diria que se trata de um cenário fascinante, no qual podemos ver os multimilionários "árabes" do PSG passar por dificuldades contra uma equipa da 5ª divisão (o que aconteceu mesmo...) ou uma equipa da 7ª divisão eliminar uma da 6ª e continuar com o sonho de poder chegar à final de Saint Denis. Mas quem eu queria destacar neste ponto era uma equipa em especial. Nem era das equipas mais fracas ou de um escalão assim tão inferior. Trata-se do Épinal, actual 19º classificado do National, equivalente à nossa 2ª Divisão (ou antiga 2ªB, para não criar confusões). 3º escalão portanto. Ora, o Épinal recebeu nesta eliminatória (é já a oitava da Taça este ano!) o todo-poderoso campeão da competição e um dos actuais líderes do campeonato, Olympique Lyonnais. E o que sucedeu? Depois de um entusiasmante 3-3 nos 120 minutos (sendo que o Épinal aos 15 minutos vencia 2-0!), o jogo foi para a lotaria de pénaltis. Aí, pensei eu, poderemos de facto ter tomba-gigantes. E o incrível aconteceu mesmo! O campeão da Taça foi abatido sem dó nem piedade pelos rapazes do Nordeste de França. Uma alegria imensa tomou, então, conta dos jogadores, equipa técnica, dirigentes e sobretudo adeptos deste pequeno clube. Na bancada presidencial, o histórico presidente do Lyon, Jean-Michel Aulas, assistia a tudo pálido e quase sem reacção. O futebol e os seus imprevistos, sem tirar nem pôr.
10. Demba Ba. Profissão: Goleador. Não interessa o estádio. Upton Park, St.James´s Park ou, agora, Stamford Bridge. Uma coisa é certa: o senegalês Demba Ba está destinado a ser referência de golos, seja qual for a equipa que representa. Acaba de se transferir para o campeão europeu Chelsea por uma quantia incrivelmente baixa (7 milhões de libras), nestes dias em que é tão difícil arranjar referência de golos a baixo custo. E é caso para dizer que chegou, viu e...marcou. Logo à primeira possibilidade, Benitez não desdenhou a sua utilização. Resultado: 2 golos e a confirmação de que será muito difícil, a partir de agora, Torres regressar ao "onze". O espanhol nem estava mal e havia recuperado confiança desde que o compatriota Rafa Benitez chegou ao banco. Mas não tem a constância e a regularidade goleadora de Ba, um ponta-de-lança de mão cheia: excelentes movimentos, posiciona-se bem para o remate, não foge ao choque, usando muitas vezes o impetuoso físico e é super-eficaz, seja de cabeça ou de pé direito. Um negócio da China em tempos difíceis. De pensar que há 2 anos o Chelsea despendeu 50 milhões de libras (aproximadamente 60 milhões de euros) em Torres. Há quem aprenda com os erros...