terça-feira, 29 de abril de 2014

O Bayern num poema de Sophia e o Real numa frase de um conterrâneo de Ancelotti.

"A confusão a fraude os erros cometidos 
A transparência perdida — o grito 
Que não conseguiu atravessar o opaco 
O limiar e o linear perdidos 

Deverá tudo passar a ser passado 
Como projecto falhado e abandonado 
Como papel que se atira ao cesto 
Como abismo fracasso não esperança 
Ou poderemos enfrentar e superar 
Recomeçar a partir da página em branco 
Como escrita de poema obstinado?"

Penso neste poema de Sophia Mello Breyner Andersen, intitulado Os Erros, ao ver o Bayern esta noite. No fundo, os bávaros foram quase só "a confusão, a fraude e os erros cometidos". Agarrados a uma ideia interessante, mas que leva o seu tempo a ser implementada ao mais alto nível, os comandados de Pep Guardiola caíram sem honra, nem glória, depois de uma noite onde só existiram, como de costume, em termos de posse de bola. A transição defensiva continua a ser um susto, a saída de bola foi tudo menos confortável perante um Real capaz de adiantar as linhas de pressão em vários momentos-chave e a construção ofensiva foi somente um aglomerado de passes, sem qualquer efeito prático e objectivo. Mas, no meio do caos, Guardiola seguirá, certamente, a filosofia de Sophia e irá "enfrentar e superar, recomeçar a partir da página em branco, como escrita de poema obstinado". Uma derrota, por mais dura que seja, não deve, jamais, colocar em causa uma ideia que já provou ser capaz de vencer (e não, não foi só em Barcelona, caso contrário, o Bayern nunca teria sido campeão alemão com uma vantagem tão escandalosa, nem estaria na final da Pokal ou teria ganho Supertaça Europeia e Mundial de Clubes...).

"A verdadeira glória de um vencedor é a de ser clemente". 

Ao ler as declarações de Carlo Ancelotti no pós-jogo, lembrei-me desta frase do mítico escritor da Revolução Napolitana, Vincenzo Cuoco. Ao elogiar Guardiola e o seu sistema de jogo, ao referir as dificuldades e os méritos da sua equipa depois desta conquista, o italiano provou mais uma vez que não fica mal ser bondoso para com o adversário. Posto isto, importa referir que Ancelotti e os seus pupilos foram tudo menos bondosos ou clementes dentro das quatro linhas. Entrando a jogar num 4x4x2 com duas linhas de 4 bem definidas (tal como na semana passada), a estratégia do Real passava pela limitação de espaços aos criativos de Bayern, por uma recuperação agressiva e rápida e por uma transição veloz e eficaz. Em 20 minutos, o jogo e a eliminatória ficaram resolvidas, porém, após duas situações de bola parada, ambas finalizadas por um Sergio Ramos imperial, tanto ao ataque como na defesa. O Bayern estava desnorteado e tudo o que o Real Madrid fazia era um espectáculo: as recuperações de bola de Xabi Alonso e, sobretudo, de Modric, o início da transição rápida (muitas vezes activado pela excelência de passe do génio croata), as recepções de Benzema, esperando as entradas verticais de Bale ou Cristiano Ronaldo (ver o terceiro golo do Real, um autêntico hino ao futebol de contra-ataque), a maneira como Sergio Ramos ou Pepe limpavam tudo pelo ar e pelo solo, em antecipação, e a agressividade defensiva de Carvajal e Fábio Coentrão. Tudo correu na perfeição, sendo que com 0-3 a favor ao intervalo, bastou gerir desde trás no segundo tempo, perante um Bayern que parecia estar a jogar contra uma parede. No fim, Cristiano Ronaldo tratou de pôr a cereja no topo de um bolo em chamas, para mal dos pecados de Rummenigge...

5 apontamentos do fim-de-semana de futebol internacional

1. O Diabo veste...Adidas. Lá estava ele, qual Lúcifer, vestindo um fato-de-treino da marca Adidas, sempre interventivo e no final, após o segundo golo da sua equipa, dirigindo-se aos fiéis da sua paróquia infernal gritando, feliz da vida, porque uma vez mais o seu plano diabólico havia resultado. Falo, claro está, de José Mourinho (e já é a segunda vez que o faço esta semana!). O seu Chelsea até pode muito bem não vir a ser campeão mas a desfeita que fez ao Liverpool em pleno Anfield Road foi tão maquiavélica quanto saborosa. E como ele comemorou a vitória da sua estratégia defensiva! O futebol não seria o mesmo se não existissem estas espécies de anti-Cristo para nos dizer: nós também estamos aqui e mesmo com reservas e utilizando o cinismo como arma de trunfo conseguimos vencer. Quanto ao pobre Liverpool, fica a certeza de que teve um mau dia (onde até o capitão Gerrard fez de Cristo na cruz) mas que o título ainda pode ser conquistado. Afinal o City joga no campo do vizinho Everton no próximo fim-de-semana e por lá tudo pode acontecer. Até o Chelsea ser campeão...

2. Giggsy ao comando! Confesso-me admirador da personagem, aliás diria que todos os one-club men merecem de quase toda a gente uma consideração e admiração notáveis. Ryan Giggs fez sábado a sua estreia como treinador do seu clube de sempre, o Manchester United. O mais provável é que seja uma solução para apenas 3 jogos, mas a imagem não deixa de ser bonita: Giggsy, de fato vestido, saindo do túnel que dá acesso ao relvado, sendo ovacionado e cumprimentado por uma multidão decepcionada com a época do United mas esperançosa de que o futuro venha a ser bem melhor. De início, 4x4x2 puro, com o duplo-pivote Carrick-Cleverley e com Rooney lá na frente junto a Welbeck. Notou-se, desde o começo da partida, uma clara intenção de a equipa ser mais vertical e menos dada a ter a bola no pé por longos períodos de tempo. A primeira parte não foi excepcional, mas no segundo tempo a equipa melhorou o seu rendimento exponencialmente, muito graças à excelente entrada de Mata. Alternando entre o 4x2x3x1 e o 4x4x2, Giggs mostrou argúcia e capacidade de mexer bem com o jogo. No final, um 4-0 bonito, interessante e justo perante um Norwich que tem toda a pinta de vir a descer nas duas últimas jornadas do campeonato...

3. San Mamés a la Champions! Mais um grande triunfo do Athletic nesta Liga 2013/2014, desta feita num duelo directo pelo apuramento para o "play-off" da Champions League contra o Sevilha (3-1). O golo cedo (e que golo, após um canto directo da autoria de Susaeta!) ajudou bastante os bascos, é certo, mas a maneira como geriram todo o jogo e dominaram sem demasiados problemas ajudou a construir uma vantagem robusta. Contra um Sevilha organizado num bloco compacto e de linhas baixas em 4x4x2, o Athletic entrou forte mas o facto de nunca ter encontrado muitas soluções através do jogo exterior acabou por se notar na criação de oportunidades de perigo ao longo do primeiro tempo. Depois do intervalo, porém, as coisas mudaram substancialmente, graças, em primeiro lugar, a uma actuação soberba de Iturraspe (já o estava a ser nos primeiros 45 minutos, diga-se) e depois às constantes investidas de Iraola pelo lado direito, ele que inventou as assistências para o segundo e terceiro golos do conjunto orientado por Ernesto Valverde (marcados por Muniain e Ander Herrera, respectivamente). No fundo, o Athletic aproveitou-se também de um certo cansaço e ausência de ideias do conjunto sevilhano (fruto da entrada tardia de Rakitic) para conseguir uma vitória potencialmente decisiva rumo à Liga dos Milhões. Qualidade na posse, acerto nas saídas de bola e na marcação defensiva, eficácia e bom aproveitamento dos corredores laterais, explorando a profundidade de Iraola e Balenziaga. Este projecto merece experimentar a sensação de estar no topo da Europa!

4. Primeiros apontamentos do Internacional de Abel Braga. Depois de um arranque interessante na 1ª jornada, com um triunfo magro mas justo (1-0) sobre o Vitória, o Inter entrou para a 2ª jornada como uma das equipas que estava na liderança do Brasileirão e com a intenção de querer manter essa posição. Ora o jogo era no Maracanã e o adversário era um Botafogo tocado pela estreia negativa no campeonato e sobretudo ainda pela eliminação na Libertadores. No final, o 2-2 terá agradado certamente muito mais aos cariocas, sobretudo depois do banho de bola dado pelo Internacional no primeiro tempo. Montada em 4x2x3x1, a formação gaúcha jogou bastante bem nesse período, dominando com comodidade, atacando com incisão e aproveitando a mais-valia técnica de jogadores como Áranguiz, D´Alessandro, Alan Patrick ou o jovem Valdívia e a eficácia do goleador Rafael Moura (dois golos apontados). Na segunda metade, porém, tudo se complicou: o Inter perdeu intensidade, deixou o jogo correr e desleixou-se atrás, permitindo assim a recuperação do Fogão (marcaram Emerson Sheik e Zeballos). De facto, a segunda parte do Internacional deixou detalhes preocupantes e esse adormecimento geral tem de ser trabalhado pelo seu treinador, de forma a evitar que vá acontecendo o mesmo ao longo do ano. Se o conseguir, temos aqui candidato a lutar pelo título!

5. Detalhes dos principais dérbis do fim-de-semana: De facto este foi um fim-de-semana com muitos e bons dérbis por esse Mundo fora. Tive a oportunidade de assistir a três: em Telavive, o Maccabi de Paulo Sousa perdeu justamente frente a um bom Hapoel (3-1), que terá feito porventura um dos melhores jogos da temporada. Grande exibição de jogadores como Vermouth, Abutbul ou um Damari a pedir uma Liga maior (França, por exemplo, seria um bom destino). Grande vitória dos vermelhos, depois de um jogo de domínio quase total. Já em Belgrado, dérbi entre Partizan e Estrela Vermelha, com vitória dos Coveiros (2-1). O Estrela Vermelha chegava a este jogo com seis pontos de vantagem na frente do campeonato, mas agora vai ter de suar muito até ao fim se quer manter a liderança. O jogo foi relativamente repartido, embora com mais bola e oportunidades para os forasteiros. No entanto, no final, a vitória acabou por sorrir à equipa mais eficaz. Liderado por um grande Drincic no meio-campo (já agora, que grande golo de livre directo do internacional montenegrino!), o Partizan soube aproveitar as ocasiões de que dispôs, para contrapor com uma certa irregularidade defensiva. Do outro lado, destaque para o golo (o 17º nesta Superliga) do avançado Mrdja (ele que, ou muito me engano, ou sai em breve para um grande clube asiático) e para a boa exibição do experiente "10" Milijas. Dos talentosos Zivkovic (do lado do Partizan) e Lazovic (do Estrela Vermelha), vimos detalhes mas nada de determinante. Por último, dérbi também do outro lado do Globo, em Montevidéu. No Clásico Padre vs Decano, ou seja, Peñarol vs Nacional, vitória gorda dos da casa, por 5-0, com exibições de luxo de Zalayeta, Luis Aguiar e Jonathan Rodríguez nos Aurinegros. Muito mais forte na recuperação a meio-campo e agressivo com e sem bola, o Peñarol conseguiu um triunfo histórico perante um adversário muito pobrezinho e a atravessar uma fase terrível.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A Realeza do futebol está de boa saúde e recomenda-se!

Quem esperava um massacre do Bayern, terá saído completamente defraudado do encontro de ontem à noite no Santiago Bernabéu. Eu vou dar a minha visão pessoal da coisa: nestes duelos de gigantes, é muito difícil termos encontros realmente desequilibrados. De um lado estava um Bayern encantador, inovador, campeão quase dois meses antes do fim da época, sim, mas do outro encontrava-se uma equipa de labor, de autênticos caballeros de honor, conforme está escrito no maravilhoso hino do clube. E o resultado, se para muitos foi inesperado, para mim não, absolutamente nada...

Ora então, tínhamos frente-a-frente um Real descansado por não ter jogado no fim-de-semana e motivado pela recente vitória na Copa del Rey e um Bayern, que tendo ganho no fim-de-semana, vinha de um período de dúvidas deixadas sobretudo após as duas derrotas seguidas em Augsburgo e em casa frente ao Borussia Dortmund. Os bávaros entraram, como seria de esperar, mais fortes, jogando no meio-campo contrário, pressionando alto, para depois recuperarem mais rapidamente a bola. A essa pressão alta respondia o Real, aparecendo no mesmo 4x4x2 que havia derrotado o Barça na semana passada, com linhas baixas e compactando o bloco através do recuo do duplo-pivote Xabi-Modric e com os laterais especialmente envolvidos no processo defensivo. Na verdade, a sensação de superioridade do Bayern durou pouco e ao quarto-de-hora surgiu o primeiro e único golo dos madridistas, após recuperação de Isco e jogada construída de forma rápida e vertical por Cristiano e Fábio Coentrão, para que Benzema finalizasse à vontade em plena grande área alemã. Um exemplo de contra-ataque letal, ainda para mais logo na primeira ocasião do jogo para o Real Madrid. O Bayern procurou responder, mas a posse não se traduzia em perigo, enquanto que do outro lado, através de contra-ataques rápidos conduzidos por jogadores como Di María, Modric ou Fábio Coentrão, com apoio de Benzema (uma espécie de pivot/receptor muito útil lá na frente) ou Cristiano Ronaldo, os merengues iam causando sobressaltos junto da área contrária.

Depois de uma primeira parte equilibrada, entretida e com muitas variantes interessantes, o pós-intervalo pressupôs que o Bayern voltasse à carga, sempre com Robben como um dos mais activos, mas nunca conseguindo colocar em xeque a baliza de Casillas. A partir daí, o Real Madrid soube ir ganhando o meio-campo, graças às incansáveis actuações de Xabi Alonso e Modric (o jogo destes dois merecia um texto à parte, de tão completo, soberbo e eficaz que foi) perante um Lahm em dificuldades e um Kroos desaparecido. A entrada de Javi Martínez permitia, em teoria, ao Bayern ter uma presença mais física e segura na saída de bola mas digamos que as diferenças não foram muito notórias. No Real, ainda entrou Bale (para o lugar de um Ronaldo ainda condicionado), o que supôs alguns sustos para a defesa bávara. Perto do minuto 90, após um dos poucos erros defensivos do Real Madrid (com Sergio Ramos ao barulho...), no lado esquerdo, Gotze ia empatando mas Casillas salvou a equipa de Carlo Ancelotti. No final, a vantagem mínima é justa e reflecte o que ocorreu, em termos gerais, neste encontro: um Real ligeiramente mais perigoso, mais acertado em termos defensivos e eficaz perante um Bayern dominador, mas incapaz de criar muito perigo e algo descontrolado atrás. A contenda segue em Munique dentro de cinco dias, com a certeza de que pode mesmo acontecer de tudo neste duelo de titãs!

terça-feira, 22 de abril de 2014

Mou e a filosofia de um Padre que lhe valeu um sorriso rumo a Lisboa

Nos idos do século XVII, um padre português revolucionou a maneira de dar os sermões e a sua oratória tornou-se numa referência para gerações e gerações vindouras. O seu nome era António Vieira e ficou conhecido pela eloquência no discurso, pela maneira como lutou pela defesa dos povos indígenas e pela abolição da escravatura. Todos nós, portugueses, decerto, conheceremos esta figura, nem que seja só pelo nome. Esta noite, na capital espanhola, um português da era moderna soube seguir algumas das sábias filosofias do mentor de há 4 séculos atrás...

O Padre António Vieira disse, certo dia, que "as cidades com ferro se defendem e não com ouro". Penso nesta frase quando reflicto acerca da maneira como o Chelsea defendeu esta noite no Vicente Calderón. Foi, de facto, uma defesa de ferro que permitiu à equipa londrina sair sem golos sofridos de um estádio onde, para muitos (diria, quase todos), tem sido impossível sair consentir. A estratégia estava bem delineada: linhas baixas, recuo estratégico dos extremos (Ramires e Willian) e um claro 4x1x4x1, construído para defender com ordem e prudência, tentando depois explorar alguma verticalidade desses mesmos extremos. Ok, a primeira parte da estratégia correu na perfeição, a segunda nem tanto (os alas pouco desequilibraram e o pobre Torres lá ficou desamparado na frente). 

Ao ver o Atlético hoje e a sua incapacidade para contornar o autocarro blue, veio-me à cabeça outra frase do Padre António Vieira: "Muito mais para temer é o inimigo oculto e dissimulado que o descoberto". Com isto quero dizer que este Chelsea dissimulado e revestido de cinismo acaba por se tornar muito mais perigoso do que um Chelsea, embora sempre pragmático, um pouco mais incisivo e letal no último terço. Diego Simeone, El Cholo, sabe que os seus se sentem como peixes na água a jogar em contra-ataque e com espaços contra adversários mais competitivos. Hoje, de forma pouco afortunada para os colchoneros, não foi possível jogar nesse registo. A equipa foi pouco profunda nos primeiros 45 minutos e, embora os laterais tenham aparecido muito mais no segundo tempo, nunca foi capaz de concretizar uma única ocasião. Na verdade (e o próprio Mourinho referiu-o no fim do jogo), nenhum dos guarda-redes realizou uma única defesa verdadeiramente determinante durante os 90 minutos...

E assim, o jogo terminou empatado a zero. Mérito para o 4x1x4x1 de Mou, com uma dupla de centrais notável a despejar bolas da área (Cahill e Terry), secundada por um terceiro central de um enorme pulmão (John Obi Mikel). No ataque, Torres foi uma ilha no meio da floresta colchonera. Por fora, poucas bolas lhe foram lançadas, na verdade. O Atlético, melhor na segunda parte, graças às incursões de Juanfran e Filipe Luís e à entrada assertiva de Arda Turan, não foi capaz de derrubar uma autêntica muralha, erguida por um especialista em destruição/detonação de adversários nestas eliminatórias. Mourinho, assim como António Vieira, foi fiel aos seus princípios e soube assim dar um Sermão defensivo aos peixes de Simeone.

terça-feira, 15 de abril de 2014

5 apontamentos do fim-de-semana de futebol internacional

1. Já só faltam 4 obstáculos, Liverpool! Mais uma grandiosa vitória para os "reds" este fim-de-semana. O jogo contra o Manchester City (3-2) teve tudo o que um bom encontro grande da Premier League costuma ter: espectáculo, emoção, vertigem, intensidade e (bons) golos. Tremenda primeira parte da equipa de Brendan Rodgers, com um Sterling a atravessar um momento de forma incrível (para mim, merece inclusive a titularidade na selecção inglesa). Além do jovem extremo (que foi aparecendo bastante por dentro), vimos um grande Gerrard a comandar o meio-campo, com a companhia dos inexcedíveis Henderson e Coutinho (autor do golo decisivo), um Skrtel a não perdoar na área contrária e os inesgotáveis Suárez e Sturridge, não tão determinantes em termos de golos, mas sempre prontos a trabalhar. Os citizens responderam à altura nos primeiros 20 minutos da 2ª parte, com um enorme David Silva e conseguiram transformar uma desvantagem de 2-0 ao intervalo num empate que poderia ter ido a vitória. Não foi, porque apareceu o tal golo de Phillipe Coutinho, após falha terrível de Kompany (bom defesa, do meu ponto de vista algo sobrevalorizado). E assim acabou um emocionante jogo, prova viva de que este campeonato, aconteça o que acontecer até final, parecerá ter durado 1000 anos quando chegar ao seu
términos.

2. A vitória do mestre táctico Rémi Garde. Excelente triunfo do Lyon sobre o Paris Saint-Germain (1-0), na ante-câmara de um confronto entre ambos na final da Coupe de la Ligue (próximo sábado, às 20 horas). Jordan Ferri decidiu, com um golaço de fora da área, um jogo interessante, uma típica batalha táctica entre dois treinadores tão sagazes quanto o são Rémi Garde e Laurent Blanc. O técnico lyonnais saiu claramente a ganhar, no seu habitual 4x4x2 losango, mesmo com algumas baixas e poupanças consideráveis (só no banco tinha os habituais titulares Umtiti, Bedimo, Malbranque ou o goleador Lacazette). Apesar de estar a esconder a estratégia para o jogo do próximo fim-de-semana em Saint-Denis, Rémi Garde preparou uma equipa competitiva o suficiente para fazer o PSG perder pontos de forma inesperada. É verdade que o campeonato dos parisienses não deixa de ser um passeio, mas este jogo vem mostrar ao quase bicampeão francês que sem Ibrahimovic a coisa não funciona tão bem. O sueco, fazendo de "9" e um pouco de "10", é revela-se tremendamente útil para o sucesso desta equipa. O PSG teve ocasiões suficientes para levar os 3 pontos para a Cidade-Luz, sim, mas pela frente teve um Anthony Lopes cada vez mais merecedor de bilhete para o Brasil, junto de outros 22 Conquistadores da Armada Lusitana. Cabe a Paulo Bento fazer a escolha, mas acredito plenamente que o keeper do Lyon estará presente. Agilidade, destreza, velocidade de reação, coragem e determinação. Está aqui uma das bases de um Lyon que, apesar das dificuldades financeiras, ainda vai conseguindo ser competitivo. Por causa dele, de Garde e de uma equipa irrepreensível no sentido táctico do jogo...

3. A semana de reconciliações do Borussia Dortmund. Depois da importante vitória sobre o Wolfsburgo (2-1) e do triunfo inconsequente mas motivador frente ao Real Madrid para Liga dos Campeões (2-0), a meio da semana, o Borussia Dortmund voltou a brilhar, desta feita com um impressionante triunfo no terreno do já campeão Bayern (0-3). Foi, provavelmente, a vitória mais saborosa da época, na sequência de uma grande semana, ajudando assim a consolidar o segundo posto do conjunto orientado por Jurgen Klopp. A exibição em Munique foi notável: o Borussia, desde cedo, foi uma equipa audaz e atrevida, jogando com bastante verticalidade e aproveitando os (muitos) espaços concedidos pela defensiva bávara. Tremendos Reus, Mkhitaryan, Aubameyang e o jovem Hofmann na frente. Mesmo sem Lewandowski e com outras ausências consideráveis, o Borussia Dortmund foi uma equipa eficaz e que deixou sem reacção um Bayern mais insípido do que nunca. Diz-se que Pep Guardiola sempre encontra soluções para todos os problemas, mas este final de campeonato já ganho pode-se revelar extremamente penoso, ainda para mais quando o Bayern já só pensa nas outras duas competições que tem para ganhar (Taça e Champions), de forma a repetir o triplete da última temporada.

4. Goleadores argentinos na Serie A: o primeiro hat-trick de Higuaín e a guerra Maxi López-Icardi. Fim-de-semana de grandes emoções no principal campeonato italiano, em especial para um conjunto de pontas-de-lança argentinos. Gonzalo Higuaín marcou três golos na mesma partida pela primeira vez desde que chegou a Itália, na vitória por 4 a 2 sobre a Lazio. Uma grande exibição de um avançado que não estava a atravessar a sua melhor fase. Já em Génova, um duelo pessoal entre Maxi López e Icardi (a ex-mulher de Maxi López é a actual namorada do jovem avançado interista) transformou-se num jogo agressivo, vivo e intenso entre Sampdoria e Inter. O resultado? 0-4, favorável ao Inter, resultado bastante exagerado para uma Samp que, mesmo com 10 desde o minuto 20, teve oportunidades suficientes para chegar ao intervalo em vantagem. E bom, no tal duelo pessoal, quem saiu mesmo a ganhar foi Icardi, com 2 golos...

5. Ituano campeão paulista. Outra das notícias do fim-de-semana foi a conquista do título paulista pelo Ituano (Série D). Depois da vitória por 1-0 na primeira mão, neste segundo encontro, novamente no Pacaembu, 1-0 (desta feita, favorável ao Santos) e final resolvida nos pénaltis. Muito mérito para o técnico Doriva (que, por certo, dedicou a vitória a Deus), escolha do director técnico Juninho Paulista (seu ex-colega no Middlesborough). Revelou-se um treinador maduro, organizado e que colocou esta equipa do quarto escalão do futebol brasileiro a bater-se como gente grande. Poucos golos sofridos, eficácia e uma organização táctica interessantíssima. As figuras? O goleiro Vagner, os defesas Anderson Salles e Alemão ou os médios Jackson Caucaia e Esquerdinha.



quarta-feira, 9 de abril de 2014

5 apontamentos do fim-de-semana de futebol internacional

1. Atlético até em modo-poupança consegue manter a liderança. Rimou, não foi? Soa bem mas melhor ainda soa esta fantástica luta a três pelo título espanhol. Boa vitória do Atleti, contra um adversário competitivo e difícil de defrontar como o Villarreal. Este era, sem dúvida, um dos jogos mais perigosos que a equipa do Cholo Simeone tinha até ao final do campeonato, até porque chegou a meio de uma dura e equilibrada eliminatória europeia contra o Barcelona (altura inconveniente...). Os colchoneros ganharam por uma bola a zero, tendo Raúl García marcado mais um golo de cabeça esta época, após canto do lado direito. Os líderes da Liga espanhola dominaram no primeiro tempo, não concederam muitas chances ao Submarino Amarelo e foram mais eficazes, mesmo sem ter criado muitas ocasiões de golo. Excelentes exibições de Filipe Luís, Godín e Alderweireld e bons momentos de Diego ou Raúl García. Nos últimos 45 minutos, notou-se claramente o peso da eliminatória da Champions, tendo o Atlético de Madrid acabado a pedir a hora. Salvar este tipo de vitórias, numa fase tão complicada da época, sabe mesmo bem. E soa bem, já agora...

2. André Ayew e Çalhanoglu: heróis de uma sexta-feira à noite. Imensa exibição do internacional ganês, decisivo no triunfo do Marselha sobre o Ajaccio (3-1), apontando um hat-trick (já agora, também o seu irmão Jordan marcou ao serviço do Sochaux, no sábado, no empate a dois em Bastia) e rubricando uma exibição brutal como médio-centro. Segundo o L´Équipe, irá abandonar o OM no Verão (juntamente com Mandanda, N´Koulou e Valbuena), o que a confirmar-se será uma má notícia para os adeptos marselheses (que ficaram a saber, esta semana, que poderão vir a ter Marcelo Bielsa como treinador na próxima época). Já na Bundesliga, o herói voltou a ser...Çalhanoglu. Quantas vezes já terei falado neste espaço deste magnífico jogador ao longo da temporada? Todas as que ele mereceu, por certo! Mais uma vez, foi importantíssimo num triunfo de um Hamburgo que tenta escapar à descida de divisão. Apontou mais um golaço e teve pelo menos mais dois remates perigosíssimos, que teriam dado dois golos do outro Mundo. Um talento puro a surgir nos relvados do histórico clube nortenho, claramente habilitado a dar o salto para um patamar competitivo mais atractivo.

3. O Anderlecht de Tielemans. Tem apenas 16 anos mas o perfume espalhado pelo seu talento em cada jogo faz com que ele parece um jogador bem mais experiente. Youri Tielemans é só mais uma de muitas promessas da (aparentemente) inesgotável  fábrica de talentos belga. Médio-centro de fino recorte, grande visão de jogo e capaz de meter passes de ruptura extraordinários, o jovem internacional sub-21 belga foi uma das figuras do gordo triunfo do Anderlecht sobre o Club Brugge (3-0), que relança a equipa de Bruxelas na luta pelo título nacional. Além disso, apontou um excelente golo (o 1-0), num remate de primeira, de pé esquerdo, à entrada da área. Este golo foi o primeiro passo dado rumo a uma importante vitória, construída numa primeira parte de luxo. Início forte e pressionante da equipa de Besnik Hasi (que boa decisão terem-no colocado no lugar de um insípido John van der Brom), com Kouyaté tremendo na recuperação de bola, Tielemans em evidência na construção de jogo, apoiando-se no trabalho dos alas Najar e Praet (com tendência a vir por dentro) e um eficaz Cyriac, autor de dois golos, o segundo deles absolutamente brutal. Na 2ª parte, o Anderlecht tentou controlar o jogo, permitiu até que o Brugge criasse perigo mas nada que colocasse em questão a vitória da formação de Bruxelas. Uma grande exibição colectiva na noite em que um adolescente saltou para as luzes da ribalta.

4. Primeiras notas do Malmo de Age Hareide. Grande entrada na Allsvenskan do campeão Malmo, agora orientado pelo experiente técnico norueguês Age Hareide (60 anos). Depois do 3-0 ao Falkenbergs a abrir o campeonato, resultado repetido no "clássico" contra o Gotemburgo, desta feita fora de portas. Excelente primeira parte do Malmo, pressionando desde início o adversário, jogando no seu meio-campo e aproveitando as ocasiões que criava. Duas extraordinárias definições de Guillermo Molins (remate cruzado e chapéu) deram uma justa vantagem a uma equipa onde todos pareciam trabalhar em sintonia e de uma forma bastante convicta. Na verdade, o Gotemburgo tentava explorar as transições rápidas, mas o acerto defensivo do Malmo foi tal que os donos da casa tiveram poucas chances para tentar uma épica reviravolta (ou empate, vá...). Na segunda parte, o Gotemburgo cresceu, também porque o campeão permitiu essa aproximação do seu oponente. Criaram-se ocasiões suficientes para o Malmo ficar assustado mas numa jogada rápida, Eriksson assistiu o experiente Rosenberg e o jogo ficou resolvido. Um passeio em Gotemburgo para um Malmo que vai deixando, desde já, muito boas sensações para esta nova temporada...

5. O Clásico Rosarino. O confronto Newell´s Old Boys-Rosario Central não é só mais um clásico do futebol argentino. É, provavelmente, um dos maiores eventos futebolísticos do ano na América do Sul, pela paixão que desperta e por ser capaz de parar uma cidade grande como Rosario. No Estádio Marcelo Bielsa, assistimos no último domingo a uma excelente vitória do Rosario Central, com um golo apontado, curiosamente, por um habitual suplente (Niell). O jogo foi aberto e vimos boas oportunidades de parte a parte, sobretudo no primeiro tempo. Guzmán brilhou na baliza do Newell´s, o que mostra bem que o Central foi uma equipa constantemente audaz e perigosa. No final, triunfo pela margem mínima para os forasteiros, num dérbi rosarino que foi super-entretido e que teve aquilo que se espera de um jogo grande: emoção, oportunidades, espectáculo e golos (embora só tenha havido um...).

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Sevilha: Uma equipa pragmática que sonha conquistar (de novo) a Europa

Depois de uma eliminatória em que foi do Inferno ao Céu, o Sevilha entra para estes quartos-de-final da Liga Europa com a certeza de que, pelo menos em teoria, terá um dos adversários mais difíceis que lhe poderia ter calhado. Também o FC Porto, por outro lado, pode considerar o Sevilha um dos adversários mais complicados que lhe poderia ter calhado. Ora, o que vale a equipa andaluza então?

O Sevilha de Unai Emery é, de certa forma, uma equipa avessa ao risco, que gosta de jogar pelo seguro e que se destaca sobretudo pelos elementos de maior valia que possui do meio-campo para a frente. Partindo de uma base em 4x2x3x1, com o 4x4x2 como variante, a formação do Sul de Espanha entrará para o jogo do Dragão na expectativa, procurando não desposicionar-se atrás e tentando explorar a velocidade dos seus homens mais adiantados. Há que destacar, por certo, as ausências, por castigo, do central Fazio e do pivot defensivo M´Bia, dois jogadores importantes para garantir o equilíbrio dos sectores mais recuados.

O segredo para que o FC Porto impeça este Sevilha de criar muito perigo passará muito pela forma como a equipa de Luís Castro irá lidar com o perigo chamado Ivan Rakitic. O talentoso médio croata tem rubricado uma época tremenda e quanto mais os dragões limitarem o seu raio de acção, mais dificuldades em encontrar espaços terá a equipa sevilhista. Sem o seu elemento mais criativo a distribuir jogo, será complicado activar as movimentações de jogadores como Reyes, Marin ou Bacca. Impedir as diagonais de Reyes ou Marin (caso joguem, claro...) ou as loucas correrias no espaço do goleador Bacca podem ser também chaves para resolver esta eliminatória com sucesso.

O Sevilha é uma equipa organizada, que pressiona bem no meio-campo e que é bastante agressiva na tentativa de recuperar a bola. Em organização ofensiva, Rakitic é a chave. Em transição ofensiva, o croata é também importante a lançar bolas em profundidade e a iniciar desequilíbrios, combinando de forma rápida com os três elementos mencionados no parágrafo anterior. O jogo recente com o Real Madrid mostrou, em toda a sua plenitude, alguns destes aspectos: transição rápida, com Reyes e Rakitic a activarem a desmarcação vertical e no espaço do veloz e perspicaz Carlos Bacca.

Em termos defensivos, este Sevilha organiza-se num bloco médio, sendo que em vantagem no marcador tem tendência a baixar as linhas de forma bem vincada. Apesar de possuir jogadores de elevada estatura (Fazio, Iborra, M´Bia ou Navarro, por exemplo), esta equipa revela algumas fragilidades no jogo aéreo defensivo, que podem eventualmente ser exploradas pelos portistas, sobretudo em lances de bola parada. Além do mais, falta alguma velocidade e flexibilidade ao duplo-pivote e à linha defensiva, deixando filtrar algumas bolas entre-linhas ou nas costas da defesa.

Quanto às bolas paradas, há que ter em atenção jogadores como Iborra, Daniel Carriço ou Fazio (que não joga esta 1ª mão) e a qualidade das bolas colocadas por Rakitic na área contrária. Na defesa deste tipo de lances, há que ter em consideração o facto do Sevilha marcar ao homem e não à zona, o que pode incitar o FC Porto a explorar as desmarcações em antecipação dos seus atacantes.

Um-por-um:

Beto: Guarda-redes de bons reflexos, ágil, felino, muito forte a lançar-se às bolas, apesar da sua estatura (relativamente baixinho para um guarda-redes de topo...). Por vezes, exagera na espectacularidade dos seus voos e é demasiado ousado nas saídas. Ainda assim, pode ser considerado um dos pontos fortes desta equipa.

Javi Varas: Alternativa directa a Beto, não tem tido muitas opções, embora até tenha jogado no último fim-de-semana, devido a um problema físico do português. É uma alternativa credível, em teoria. Sem ser muito alto (1,82 m), tem reflexos interessantes, sai bem da baliza, embora também deixe algumas dúvidas com os pés. Fez uma exibição incrível da última vez que o Sevilha visitou o Dragão, há 3 épocas.

Coke: Lateral que gosta de apoiar o ataque, desprende-se bem e aparece inclusive em zonas de finalização (já apontou 5 golos esta época). Voluntarioso em termos defensivos, revela, porém, dificuldades no um-para-um contra jogadores mais velozes e tecnicistas.

Diogo Figueiras: Começo tremido no clube andaluz, tendo vindo a subir de rendimento progressivamente. Diria que Unai Emery soube explorar as suas qualidades em várias partidas: boa projecção ofensiva, qualidades interessantes no um-para-um em fase ofensiva e jogador aplicado a compensar defensivamente. Ainda assim, continua a mostrar alguma debilidade na hora de travar cruzamentos laterais.

Nico Pareja: Central interessante e experiente, dá boa saída de bola, tanto em passe curto, como em passe longo. Capaz de fazer bons desarmes, não mostra, porém, grande velocidade, sendo que muitas vezes é apanhado em contrapé em certas jogadas rápidas dos adversários. Internacional argentino, é um dos indiscutíveis de Unai Emery.

Federico Fazio: Alto, forte no jogo aéreo, característica que tão bem explora em lances de bola parada ofensivos, tal como Pareja não tem na velocidade um atributo. Como é bastante forte e lê bem os lances, é um jogador praticamente insuperável dentro da sua área. É o central mais promissor do Sevilha, embora precise de melhorar em alguns aspectos como, por exemplo, na reacção à entrada de bolas nas suas costas.

Daniel Carriço: Central que deverá jogar como trinco no Dragão, devido ao castigo imposto a M´Bia. Forte nos lances de bola parada (mesmo não sendo muito alto...), mostra-se certinho ao nível do passe e competente em acções defensivas. Melhorou com Unai Emery, visto que no Sporting demonstrava, por vezes, alguma lentidão e falta de agressividade em lances-chave.

Fernando Navarro: Lateral-esquerdo que também pode jogar como defesa-central (provavelmente irá desempenhar essa função no Dragão). Robusto, tende a fechar muito por dentro, mesmo quando joga como lateral (deixa algum espaço por fora, ficando a equipa por vezes desprotegida). Os anos vão passando e velocidade deixou de ser um atributo (vem sempre à memória a maneira como deixou entrar Marcos Tavares nas suas costas no Maribor-Sevilha, permitindo um golo aos eslovenos...).

Alberto Moreno: Lateral de uma projecção ofensiva muito considerável, foi um dos responsáveis maiores pelo apuramento do Sevilha frente ao Betis, ao fazer as duas assistências que permitiram aos nervionenses levar o jogo do Benito Villamarín a prolongamento. Cruza bastante bem (de pé esquerdo) e bate inclusive algumas bolas paradas. Revela qualidade de passe, velocidade nas desmarcações e competência no jogo associativo. Defende com bastante critério. É, sem margem para dúvidas, um dos laterais mais promissores do futebol espanhol e europeu!

Vicente Iborra: Jogador de perfil físico, mais um extremamente útil no aproveitamento das bolas paradas ofensivas, aparecendo muitas vezes ao 1º poste, tentando a antecipação aos defensores contrários. Alto, possante, deixa as suas costas desprotegidas nalgumas situações, tendo de recorrer à falta em diversas situações. A nível de passe, cumpre relativamente bem, sem ser um jogador excepcional.

Stéphane M´Bia: Castigado no primeiro jogo, o camaronês pode ser baixa importante. Bastante poderoso fisicamente, confere bastante equilíbrio à zona mais recuada do meio-campo. Implacável nas marcações, usa bem o corpo para importunar as acções dos adversários. Revela alguns atributos técnicos interessantes, além de dar uma saída de bola segura e tranquila à equipa. Belíssimo jogador.

Ivan Rakitic: O "cérebro" da equipa. Destro (embora também saiba utilizar o pé esquerdo), é ele o construtor das principais jogadas de perigo do Sevilha. Jogador hábil, de fino recorte e notável visão de jogo, é claramente o alvo a abater pela formação azul-e-branca. Em 4x2x3x1, actua como médio-ofensivo, jogando um pouco mais recuado no duplo-pivote do alternativo 4x4x2 de Emery. Leva já 11 golos e 18 assistências em 41 jogos oficiais esta temporada. Destaca-se pelos golos que dá, embora também se revele um bom finalizador.

José Antonio Reyes: Jogador talentoso, que soube suplantar uma lesão chata que o apoquentou no início da temporada. Ala veloz e com salero, mostra grande astúcia nas movimentações na 2ª linha do meio-campo, vindo muitas vezes de fora para dentro, procurando um remate ou uma assistência de pé esquerdo. Costuma actuar do lado direito, até porque o lado esquerdo já está bem preenchido. Quando está em forma, é uma das figuras da equipa, jogador capaz de decidir em qualquer campo.

Vitolo: Ala que, tal como Reyes, gosta de flectir para dentro, foi um dos reforços de destaque do último Verão para o conjunto sevilhano. Destro, possui uma mobilidade interessante e boa qualidade técnica, além de se revelar abnegado quando lhe pedem para realizar tarefas mais defensivas. É um dos jogadores com mais assistências nesta equipa (cinco, ao longo de toda a época).

Marko Marin: Ainda não revelou em Sevilha todo o futebol que o levou a ser contratado para o Chelsea mas, de todas as formas, é um dos elementos tecnicamente mais dotados da equipa de Emery. Participativo, gosta de romper por dentro, criando desequilíbrios através do drible ou de um excelente jogo associativo. Inteligente a atacar os espaços e a construir jogadas, falta-lhe só um pouco mais de regularidade para se tornar um indiscutível.

Piotr Trochowski: Jogador de uma grande disponibilidade física e táctica, revela-se atinado na condução de bola e no aproveitamento das suas características mais destacadas (técnica e qualidade de passe). Não sendo um indiscutível, parece-me uma opção de banco bem válida. Pode jogar descaído na ala esquerda ou mais por dentro.

Jairo Samperio: Jovem talentoso, pode ser um bom revulsivo saído do banco. Tem técnica, descaramento e golo. Falta-lhe naturalmente ganhar maior consistência táctica e na tomada de algumas decisões, mas o potencial está lá. O FC Porto deve tê-lo debaixo da mira!

Carlos Bacca: De pescador a um dos melhores avançados da Liga espanhola em 5 anos. A história deste colombiano (que já leva 19 golos esta temporada!) bem que podia dar um filme, tendo também por base toda a qualidade e garra que coloca em campo. Veloz, forte nas desmarcações nas costas da defesa contrária, ataca muito bem o espaço e finaliza com grande qualidade. Dentro da área, o "9" do Sevilha mostra ainda bons atributos no jogo aéreo. A mobilidade e a qualidade de remate são as chaves do sucesso deste astuto finalizador. Vai ter seguramente um bom confronto contra o compatriota Jackson Martínez.

Kévin Gameiro: Outro finalizador-nato, talhado para jogar em cunha com Bacca, no tal 4x4x2 que o técnico do Sevilha muito bem poderá apresentar no jogo de hoje. Avançado de boa mobilidade e capaz de cair nas faixas, procura bem os espaços e revela características interessantes no jogo associativo. 14 golos esta época provam que ele é um avançado letal e muito perigoso quando lhe concedem espaço para o remate. Tem faro de golo.





terça-feira, 1 de abril de 2014

5 apontamentos do fim-de-semana de futebol internacional

1. Será desta Liverpool?... Passaram mais de 20 anos desde o último título de campeão inglês do Liverpool. É muito tempo, de facto, mas a verdade é que esta temporada pode marcar o regresso a essa façanha do colosso red. De que será muito difícil, ninguém tem dúvidas. Porém, a equipa brilhantemente orientada por Brendan Rodgers precisa  de vencer todos os jogos que restam até ao final do campeonato para que se possa sagrar vencedora da Premier League. Tarefa hercúlea, embora o Liverpool tenha a vantagem teórica de receber no inferno de Anfield os principais rivais na contenda, Chelsea e Manchester City. Este fim-de-semana, jogando em casa, mais um banho de bola à moda do Merseyside, perante um pálido Tottenham, equipa que se tem apresentado nestes grandes jogos em estado cadavérico. André Villas-Boas saiu, entrou Tim Sherwood, mas, na verdade, poucas ou nenhumas melhorias se verificaram nos Spurs. Já o Liverpool passeia a confiança de um campeão. Num 4x3x3 vertical e de enorme disponibilidade física, os reds fizeram gato-sapato de um adversário muito frágil em termos defensivos. Atacando com Sterling na direita, Suárez na esquerda, a flectir constantemente para dentro e com Sturridge ao centro, a formação de Rodgers entrou a vencer bem cedo e a partir daí foi facílimo gerir o resto do jogo. Foi um jogo de domínio red, sem qualquer tipo de réplica do outro lado. Excelente Gerrard numa posição mais recuada e centrada, onde continua a ser útil, sem lhe faltar intensidade e participando no início da construção, estando muito bem acompanhado por Henderson e por um desequilibrante Coutinho. Na direita, enorme trabalho de Glen Johnson, subindo constantemente e garantindo uma boa compensação defensiva. Uma equipa de pressão alta, rápida, profunda, dinâmica e objectiva. Se continuarem assim, podem muito bem chegar lá...

2. O banho táctico de Galtier. Grande jogo de futebol entre Lyon e Saint-Étienne, um dérbi apaixonante e de enorme rivalidade. Venceram os verts (1-2), após mais uma demonstração de enorme sagacidade táctica do seu treinador, Christophe Galtier. Montou a equipa em 3x1x4x2, com Guilavogui a fazer as coberturas (grande exibição, por certo!), Cohade e Lemoine um pouco mais adiantados, Clerc e Trémoulinas como pêndulos nas alas e Brandão-Erding lá na frente. O plano resultou na perfeição: o meio-campo conteve facilmente os movimentos de ruptura de Malbranque, Mvuemba ou Gourcuff. Clerc e, sobretudo, Trémoulinas deram imensa profundidade nos corredores laterais e no centro do ataque, a dupla constituída por Brandão e Erding deu água pela barba a Bakary Koné e a um desamparado Gonalons (completamente fora de sítio). Belíssimo primeiro golo do Saint-Étienne, com Trémoulinas a cruzar, Brandão a ajeitar de cabeça e Erding a finalizar na pequena área, de primeira, à matador. Grande resposta dos donos da casa, numa combinação digna de ser emoldurada e ir para um museu (conforme escrevi no Twitter), entre um genial Gomis (que toque a tirar o adversário do caminho e que passe para golo de "Bafé") e o goleador Lacazette (papéis invertidos, na teoria...) que, de primeira, marcou um golo soberbo. Ao intervalo, não se justificava o empate, dado que, embora Lyon dominasse, o Saint-Étienne tinha controlado bem a partida. Nos últimos 45 minutos manteve-se a toada, sendo que numa grande jogada de Cohade, finalizada pelo suplente Max Gradel, após alívio deficiente do keeper português Anthony Lopes, o Saint-Étienne garantiu 3 importantes pontos, que lhe permitem continuar na luta pelo 3º lugar, que dá acesso ao play-off da Champions League. Um encontro onde ficou bem patenteada a menor qualidade do plantel do Lyon esta temporada (então quando há ausências importantes...), sobretudo em termos de opções alternativas, de banco e não só, face a um Saint-Étienne que, mesmo não tendo plantel superior, conseguiu competir melhor através das ideias e da sensibilidade técnico-táctica do seu treinador.

3. O Superclásico de Lanzini. 10 anos depois, o River Plate voltou a triunfar na Bombonera. O protagonista da última noite de glória dos Millonarios na casa do maior rival também esteve lá na noite de domingo (Cavenaghi), porém, o protagonista maior, desta vez, foi outro: Manuel Lanzini. O pibito do River brilhou de forma intensa, mostrando grande descaramento a assumir os lances e movendo-se a toda a largura do ataque. O golo que apontou foi notável, após movimento perspicaz, muito próprio de um "10" que aparece muito bem em zonas de finalização. O jogo não foi extraordinário no 1º tempo (mais Boca Juniors, com destaque para as incursões de Insúa na esquerda), mas melhorou consideravelmente nos derradeiros 45 minutos. Após a grande entrada do River, que redundou no golo de Lanzini (assistência maravilhosa de Teo Gutiérrez, diga-se de passagem), o Boca respondeu através do mestre, do seu guru e líder espiritual do sentimento xeneize, Juan Román De Dios Riquelme. Um livre soberbo, só ao alcance dos predestinados (como ele...) deu o empate aos donos da casa que, no entanto, viriam a sofrer rude golpe, após cabeceamento surpreendente de Funes Mori (o mano mais novo do Funes Mori benfiquista), na sequência de um canto na esquerda. Um herói improvável selou o regresso às vitórias do River Plate na casa do inimigo (é mesmo assim) de sempre. Vitória aceitável, pelo maior atrevimento dos comandados de Ramón Díaz no segundo tempo, se bem que o Boca tenha tido ocasiões suficientes para vencer o jogo também...

4. Mucho América. Este foi um fim-de-semana de grande clássico também no México. Chivas Guadalajara e América defrontaram-se e o confronto de rivais mostrou uma clara superioridade das Águilas. O resultado foi de 0-4, favorável ao América e mostrou as inúmeras fragilidades defensivas do Rebanho Sagrado. A equipa orientada por Antonio Turco Mohamed apostou em contra-ataques rápidos, privilegiando um jogo pelos corredores laterais, o que desorientou por completo um frágil Chivas, sobretudo na transição defensiva. A equipa de Guadalajara entrou, como é habitual aliás e para o qual está formatada, para jogar em transições rápidas, mas a péssima entrada em jogo (aos 20 minutos já perdia por 0-2, bis do equatoriano Luis Gabriel Rey) obrigou a formação da casa a tomar uma postura de maior domínio onde, claramente, não se sente tão confortável. Do outro lado, a adaptação táctica do Club América às circunstâncias do jogo foi perfeita. Grande mérito do seu treinador e de vários jogadores como Sambueza, Molina, Jiménez, o já mencionado Rey, o suplente "Quick" Mendoza ou os laterais Paul Aguilar e Miguel Layún, que sem terem subido muito, revelvaram enorme consistência. Uma vitória notável no Estádio Omnilife, que catapulta este América em termos motivacionais, quiçá rumo a um final de Clausura que os possa colocar na rota do título...

5. A boa "surpresa" do fim-de-semana: Real Salt Lake. Apesar da mudança de hora no início da madrugada de sábado para domingo (totalmente inconveniente, diga-se...), não resisti a assistir ao desafio da MLS entre Real Salt Lake e o Toronto FC, equipa onde militam figuras de proa como o guarda-redes brasileiro Júlio César, Michael Bradley ou Jermaine Defoe. E fiquei deveras surpreendido com a boa prestação da equipa de Salt Lake City, em especial do criativo Javier Morales (nº11). Aliás coisa que não falta na MLS são craques de apelido Morales (há ainda Pedro Morales, ex-Málaga, que milita nos Vancouver Whitecaps). De resto, fiquei agradado com o bom jogo da equipa do Real Salt Lake, comandada pelo experiente Beckerman ao meio (imperial médio de rastas, internacional pelos Estados Unidos) e com unidades de bastante talento na frente como, por exemplo, o jovem promissor Luis Gil e os avançados García e Saborío (experiente internacional costa-riquenho, autor de dois golos, o segundo deles extraordinário). Do outro lado, impressão não muito grata de Bradley (perdeu no confronto directo com o concorrente no meio-campo da selecção norte-americana, Kyle Beckerman) e também do nosso bem conhecido Defoe. A equipa teve algumas chances (a mais clara de todas, porventura, um cabeceamento perigoso do central Henry após canto) mas faltou consistência, regularidade e chama à formação canadiana. Curioso acompanhar esta MLS, para mim, uma das ligas com maior potencial (em todos os aspectos) a nível mundial.