terça-feira, 1 de abril de 2014

5 apontamentos do fim-de-semana de futebol internacional

1. Será desta Liverpool?... Passaram mais de 20 anos desde o último título de campeão inglês do Liverpool. É muito tempo, de facto, mas a verdade é que esta temporada pode marcar o regresso a essa façanha do colosso red. De que será muito difícil, ninguém tem dúvidas. Porém, a equipa brilhantemente orientada por Brendan Rodgers precisa  de vencer todos os jogos que restam até ao final do campeonato para que se possa sagrar vencedora da Premier League. Tarefa hercúlea, embora o Liverpool tenha a vantagem teórica de receber no inferno de Anfield os principais rivais na contenda, Chelsea e Manchester City. Este fim-de-semana, jogando em casa, mais um banho de bola à moda do Merseyside, perante um pálido Tottenham, equipa que se tem apresentado nestes grandes jogos em estado cadavérico. André Villas-Boas saiu, entrou Tim Sherwood, mas, na verdade, poucas ou nenhumas melhorias se verificaram nos Spurs. Já o Liverpool passeia a confiança de um campeão. Num 4x3x3 vertical e de enorme disponibilidade física, os reds fizeram gato-sapato de um adversário muito frágil em termos defensivos. Atacando com Sterling na direita, Suárez na esquerda, a flectir constantemente para dentro e com Sturridge ao centro, a formação de Rodgers entrou a vencer bem cedo e a partir daí foi facílimo gerir o resto do jogo. Foi um jogo de domínio red, sem qualquer tipo de réplica do outro lado. Excelente Gerrard numa posição mais recuada e centrada, onde continua a ser útil, sem lhe faltar intensidade e participando no início da construção, estando muito bem acompanhado por Henderson e por um desequilibrante Coutinho. Na direita, enorme trabalho de Glen Johnson, subindo constantemente e garantindo uma boa compensação defensiva. Uma equipa de pressão alta, rápida, profunda, dinâmica e objectiva. Se continuarem assim, podem muito bem chegar lá...

2. O banho táctico de Galtier. Grande jogo de futebol entre Lyon e Saint-Étienne, um dérbi apaixonante e de enorme rivalidade. Venceram os verts (1-2), após mais uma demonstração de enorme sagacidade táctica do seu treinador, Christophe Galtier. Montou a equipa em 3x1x4x2, com Guilavogui a fazer as coberturas (grande exibição, por certo!), Cohade e Lemoine um pouco mais adiantados, Clerc e Trémoulinas como pêndulos nas alas e Brandão-Erding lá na frente. O plano resultou na perfeição: o meio-campo conteve facilmente os movimentos de ruptura de Malbranque, Mvuemba ou Gourcuff. Clerc e, sobretudo, Trémoulinas deram imensa profundidade nos corredores laterais e no centro do ataque, a dupla constituída por Brandão e Erding deu água pela barba a Bakary Koné e a um desamparado Gonalons (completamente fora de sítio). Belíssimo primeiro golo do Saint-Étienne, com Trémoulinas a cruzar, Brandão a ajeitar de cabeça e Erding a finalizar na pequena área, de primeira, à matador. Grande resposta dos donos da casa, numa combinação digna de ser emoldurada e ir para um museu (conforme escrevi no Twitter), entre um genial Gomis (que toque a tirar o adversário do caminho e que passe para golo de "Bafé") e o goleador Lacazette (papéis invertidos, na teoria...) que, de primeira, marcou um golo soberbo. Ao intervalo, não se justificava o empate, dado que, embora Lyon dominasse, o Saint-Étienne tinha controlado bem a partida. Nos últimos 45 minutos manteve-se a toada, sendo que numa grande jogada de Cohade, finalizada pelo suplente Max Gradel, após alívio deficiente do keeper português Anthony Lopes, o Saint-Étienne garantiu 3 importantes pontos, que lhe permitem continuar na luta pelo 3º lugar, que dá acesso ao play-off da Champions League. Um encontro onde ficou bem patenteada a menor qualidade do plantel do Lyon esta temporada (então quando há ausências importantes...), sobretudo em termos de opções alternativas, de banco e não só, face a um Saint-Étienne que, mesmo não tendo plantel superior, conseguiu competir melhor através das ideias e da sensibilidade técnico-táctica do seu treinador.

3. O Superclásico de Lanzini. 10 anos depois, o River Plate voltou a triunfar na Bombonera. O protagonista da última noite de glória dos Millonarios na casa do maior rival também esteve lá na noite de domingo (Cavenaghi), porém, o protagonista maior, desta vez, foi outro: Manuel Lanzini. O pibito do River brilhou de forma intensa, mostrando grande descaramento a assumir os lances e movendo-se a toda a largura do ataque. O golo que apontou foi notável, após movimento perspicaz, muito próprio de um "10" que aparece muito bem em zonas de finalização. O jogo não foi extraordinário no 1º tempo (mais Boca Juniors, com destaque para as incursões de Insúa na esquerda), mas melhorou consideravelmente nos derradeiros 45 minutos. Após a grande entrada do River, que redundou no golo de Lanzini (assistência maravilhosa de Teo Gutiérrez, diga-se de passagem), o Boca respondeu através do mestre, do seu guru e líder espiritual do sentimento xeneize, Juan Román De Dios Riquelme. Um livre soberbo, só ao alcance dos predestinados (como ele...) deu o empate aos donos da casa que, no entanto, viriam a sofrer rude golpe, após cabeceamento surpreendente de Funes Mori (o mano mais novo do Funes Mori benfiquista), na sequência de um canto na esquerda. Um herói improvável selou o regresso às vitórias do River Plate na casa do inimigo (é mesmo assim) de sempre. Vitória aceitável, pelo maior atrevimento dos comandados de Ramón Díaz no segundo tempo, se bem que o Boca tenha tido ocasiões suficientes para vencer o jogo também...

4. Mucho América. Este foi um fim-de-semana de grande clássico também no México. Chivas Guadalajara e América defrontaram-se e o confronto de rivais mostrou uma clara superioridade das Águilas. O resultado foi de 0-4, favorável ao América e mostrou as inúmeras fragilidades defensivas do Rebanho Sagrado. A equipa orientada por Antonio Turco Mohamed apostou em contra-ataques rápidos, privilegiando um jogo pelos corredores laterais, o que desorientou por completo um frágil Chivas, sobretudo na transição defensiva. A equipa de Guadalajara entrou, como é habitual aliás e para o qual está formatada, para jogar em transições rápidas, mas a péssima entrada em jogo (aos 20 minutos já perdia por 0-2, bis do equatoriano Luis Gabriel Rey) obrigou a formação da casa a tomar uma postura de maior domínio onde, claramente, não se sente tão confortável. Do outro lado, a adaptação táctica do Club América às circunstâncias do jogo foi perfeita. Grande mérito do seu treinador e de vários jogadores como Sambueza, Molina, Jiménez, o já mencionado Rey, o suplente "Quick" Mendoza ou os laterais Paul Aguilar e Miguel Layún, que sem terem subido muito, revelvaram enorme consistência. Uma vitória notável no Estádio Omnilife, que catapulta este América em termos motivacionais, quiçá rumo a um final de Clausura que os possa colocar na rota do título...

5. A boa "surpresa" do fim-de-semana: Real Salt Lake. Apesar da mudança de hora no início da madrugada de sábado para domingo (totalmente inconveniente, diga-se...), não resisti a assistir ao desafio da MLS entre Real Salt Lake e o Toronto FC, equipa onde militam figuras de proa como o guarda-redes brasileiro Júlio César, Michael Bradley ou Jermaine Defoe. E fiquei deveras surpreendido com a boa prestação da equipa de Salt Lake City, em especial do criativo Javier Morales (nº11). Aliás coisa que não falta na MLS são craques de apelido Morales (há ainda Pedro Morales, ex-Málaga, que milita nos Vancouver Whitecaps). De resto, fiquei agradado com o bom jogo da equipa do Real Salt Lake, comandada pelo experiente Beckerman ao meio (imperial médio de rastas, internacional pelos Estados Unidos) e com unidades de bastante talento na frente como, por exemplo, o jovem promissor Luis Gil e os avançados García e Saborío (experiente internacional costa-riquenho, autor de dois golos, o segundo deles extraordinário). Do outro lado, impressão não muito grata de Bradley (perdeu no confronto directo com o concorrente no meio-campo da selecção norte-americana, Kyle Beckerman) e também do nosso bem conhecido Defoe. A equipa teve algumas chances (a mais clara de todas, porventura, um cabeceamento perigoso do central Henry após canto) mas faltou consistência, regularidade e chama à formação canadiana. Curioso acompanhar esta MLS, para mim, uma das ligas com maior potencial (em todos os aspectos) a nível mundial.


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