quarta-feira, 4 de julho de 2012

Euro 2012: Os Dez Mandamentos do Europeu, da campeã Espanha às revelações passando por bons, maus e vilões















































































Agora que o Europeu chegou ao fim fiquem com alguns apontamentos acerca do que se passou na Polónia e Ucrânia nas últimas 3 semanas. Pistas sobre o bom futebol, os melhores jogadores e tácticas mas também sobre as decepções e fracassos deste Euro 2012:

1. Uma campeã pragmática a tempo (quase) inteiro. Apesar da conquista do título e da vitória concludente na final, a selecção espanhola teve de se confrontar com algumas dificuldades ao longo do seu percurso. Não obstante o estilo, para uns bonito de se ver para outros "aborrecido", a equipa sentiu em si mesma alguns problemas. Os jogadores já não têm a mesma frescura física, estão no fim de época e em vários jogos pareceu-me que isso também pesou. No entanto, a ideia que fica de alguns jogos desta Espanha é que os adversários começam a encaixar melhor no seu esquema e esta já começa a sentir dificuldades em várias situações. Foi assim na 1ª jornada, contra o arrojado e pressionante 3x5x2 da Itália de Prandelli, foi assim frente à bem organizada Croácia, na última ronda da fase de grupos e por último frente a Portugal, o jogo unanimemente reconhecido como o mais complicado para a Espanha neste Euro 2012. Salvo as goleadas contra Irlanda e Itália, na final, e a vitória pragmática mas sem muitas dificuldades frente à França, a Espanha sentiu sempre muitas dificuldades, só conseguindo a vitória em tempo regulamentar frente aos croatas. Portanto, concluímos que metade dos jogos espanhóis neste Euro foram bem difíceis e poderiam ter caído para o lado do adversário. Mas essa, meus amigos, já é outra história...Nos momentos decisivos esta Espanha não vacila e mesmo a sorte já lhe sorri sempre. Antes dizia-se "11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha". Pois bem parece-me que agora se pode trocar, sem margem para dúvidas, a Alemanha por Espanha...
2. Iniesta, Xavi ou Casillas para a Bola d´Ouro? Parece-me um apelo pertinente e sensato. Depois da vitória de Ronaldo em 2008 e Messi em 2010, acho que seria uma injustiça incrível o prémio de Melhor do Mundo não ser para um jogador da Roja, em ano de título internacional. Iniesta por ter sido o melhor do Euro e por ser um génio do futebol, um criativo incrível, jogador com uma inteligência, velocidade e visão de jogo como há poucos; Xavi por ser igualmente um jogador de uma enorme capacidade táctica e um médio-centro de excelência e Casillas por ter sido campeão no Real Madrid e por ter tido um papel fundamental na conquista deste Europeu. Se algum destes jogadores for premiado será feita justiça para com o futebol espanhol, finalmente!
3. Portugal de novo no topo. Depois das prestações razoáveis em 2008 e 2010 a selecção portuguesa voltou em 2012 ao topo do futebol europeu. A presença nas meias-finais confirmou que o futebol português está bem vivo e tem vários valores seguros para o futuro próximo. Começando na estrela-maior Cristiano Ronaldo passando pelo génio de Moutinho, a rapidez de Nani e Coentrão, a segurança da dupla Pepe-Bruno Alves e acabando na segurança do novo keeper Rui Patrício, não esquecendo Veloso, Meireles, enfim, todos aqueles que contribuiram de forma útil para esta grande campanha. Muito mérito de Paulo Bento claro está. Pode ser teimoso mas levou a sua avante. Nada a apontar. Pouco mais era possível tendo em conta as circunstâncias e as limitações do plantel. Como disse aqui, tínhamos um excelente "onze", 3 ou 4 boas opções e depois temos um grupo que, na minha humilde opinião, parece-me pouco capaz de acrescentar algo de útil à Selecção. Alemanha, Dinamarca, Holanda, República Checa e Espanha. 3 vitórias, 1 empate (que viria a resultar em derrota nos pénaltis) e 1 derrota, ainda por cima pela margem mínima e de forma algo injusta. Para mim o grande jogo da Selecção foi o encontro frente à Holanda. Mostrámos capacidade de reagir à adversidade de sofrer um golo cedo, demos a volta, ainda perdoámos muitos golos e, melhor, aguentámos aquela frente ofensiva diabólica da Laranja Mecânica. Contra Rep.Checa e Espanha também nos batemos muito bem mas, especialmente contra a primeira, faltou capacidade de concretizar as ocasiões. O jogo contra a Dinamarca foi bom mas sofrido e contra a Alemanha fomos anjinhos ao subir um pouco no terreno deixando algum espaço livre para o contra-ataque alemão, o que veio a resolver o encontro. No cômputo geral foi uma grande prova. Todos estão de parabéns. Como disse no rescaldo do Portugal-Espanha: que venha 2014 e depressa!
4. Uma Itália renovada (e nós agradecemos!). Belo campeonato da selecção azzurri. Foi uma das equipas com mais bola em toda a competição, não tiveram medo de jogar ao ataque e, exceptuando o desastre da final, mostraram consistência defensiva. Pirlo foi rei numa equipa com muitas outras revelações: Bonucci, Balzaretti, Marchisio, Balotelli... No fundo, Cesare Prandelli soube trabalhar com aquilo que tinha e o resultado foi quase perfeito. Pena a derrota na final, pesada demais e quiçá injusta, isto se pensarmos no grande campeonato da Squadra Azzurra. Para a história a bela exibição na estreia contra a Espanha e as vitórias contra Inglaterra, nos "quartos", e sobretudo frente à toda-poderosa Alemanha, jogo esse que deu o passaporte para a final de Kiev.
5. Alemanha: o bom, o mau e o vilão. Foi uma Alemanha de duas caras aquela que vimos neste Euro: o lado bom, que mostrava momentos de qualidade, futebol de beleza estética e, acima de tudo, muita eficácia. E depois o lado mau, com erros próprios da muita juventude da equipa e com erros tácticos do treinador, o que se verificou no encontro da meia-final frente à Itália. Nas partidas da fase de grupos a equipa alemã pautou-se por uma eficácia e um pragmatismo dignos de registo. O melhor jogo foi claramente frente à Holanda. De longe a exibição mais conseguida da fase de grupos (efectivamente parece que todas as equipas do grupo B decidiram fazer o melhor jogo frente aos holandeses, para desgraça destes). Mostraram-se uma selecção temível, que parecia estar a ser dominada mas que ao primeiro golpe desferido "matava" o adversário. Ainda me lembro do início de 2ª parte que, em algumas oportunidades de contra-ataque, não deu goleada alemã por pouco. Depois contra a Grécia, os alemães deram-se ao luxo de poupar jogadores e venceram confortavelmente, com excelente espectáculo de golos (4-2). Até que chegou o momento não: 28 de Junho, Estádio Nacional de Varsóvia. O adversário era a Itália. Joachim Low, excelente treinador, adepto de um futebol atractivo (aquilo a que eu já chamei aqui de sexy football), tornou-se no vilão da história ao mudar o figurino táctico dos alemães para essa noite. O resto da história já sabem. Foi Balotelli, Balotellli e a dada altura podia ter sido Marchisio, Di Natale, enfim. Um descalabro de todo o tamanho que marcou claramente este Europeu. Conclusão: Alemanha valeu sobretudo pelos golos de Gomez na fase de grupos, pelas grandes exibições de Ozil, Khedira e Lahm e pela confirmação de Hummels como um dos melhores centrais da Europa (pese o erro tremendo frente à Itália). E foi isto, ponto final. 16 anos sem títulos já devem pesar na velha Germânia...
6. França e Inglaterra: a mesma queda com contornos diferentes. Ambas caíram nos quartos-de-final. No entanto, importa perceber de que forma caíram França e Inglaterra. Os franceses foram vítimas de erros próprios, da derrota frente à Suécia, das confusões no balneário após essa derrota e do medo com que enfrentaram a selecção espanhola. Já os ingleses pagaram cara a pouca ousadia em termos ofensivos no encontro dos "quartos" frente à vice-campeã Itália. A renovada Inglaterra mostrou-se consistente na defesa e eficaz no ataque nos primeiros 3 jogos, tendo conseguido o 1º lugar do grupo mas chegou ao jogo frente aos italianos e demonstrou uma apatia tremenda, tendo criado em 120 minutos poucas ocasiões de golo. Com problemas diferentes e sobretudo causas diferentes, as gigantes da Mancha voltaram a não chegar ao restrito grupo das 4 melhores da Europa. E vão 12 anos no caso francês, 16 no inglês!
7. Holanda e Rússia, dupla decepção. Da Holanda já não esperava muito, vou ser sincero: os egos e a equipa totalmente desequilibrada (defesa fraquíssima, ataque fortíssimo mas fornecido por um meio-campo inexistente) fizeram a diferença, num Europeu muito triste da Laranja Mecânica. Já a Rússia foi eliminada de forma quase escandalosa de um grupo relativamente acessível e com o apuramento praticamente garantido à entrada para a última jornada. Os russos impuseram-se na primeira jornada com grande autoridade frente aos checos, empatando depois frente à Polónia num jogo difícil. Na última partida caíram frente à Grécia e acabaram no 3º lugar. De forma justa, a meu ver. Advocaat deveria ter dito aos seus jogadores que tudo estava ainda por resolver. Falhanços à holandesa com os russos à mistura.
8. Os laterais ofensivos da Croácia. Foi uma das duplas que mais me impressionou neste Euro 2012. Srna, à direita, e Strinic, à esquerda, mostraram como um lateral pode ajudar bem o ataque sem descurar em demasia o trabalho defensivo. Numa equipa que privilegia as jogadas pelas alas, a importância destes dois jogadores ficou bem patente, em especial nos dois primeiros encontros, frente a Irlanda e Itália. Foi pena não termos tido mais oportunidades para ver esta selecção com uma excelente ideia de jogo. Não a beneficiou, claramente, o facto de ter ficado no grupo de Itália e Espanha.
9. Marchisio, o novo Tardelli. É um dos maiores valores da nova vaga do futebol italiano. Claudio Marchisio, médio da Juventus, foi, para mim, um dos melhores médios deste Euro 2012. Jogando como interior (como é habitual na Juventus), revelou toda a sua capacidade técnica, visão de jogo e preponderância na última zona do meio-campo. Muitos o comparam ao mítico médio italiano Marco Tardelli, que apresentava características semelhantes. Se continuar assim, acho que Marchisio até pode atingir um nível superior...
10. Por último, as revelações do Euro: de Gebre Selassie a Dzagoev passando por Mandzukic entre outros. Este Euro trouxe também um perfume de novas revelações ao futebol europeu: apresentou-nos a nova geração da República Checa, com o trio Gebre Selassie-Jiracek-Pilar em destaque. O primeiro foi para muitos (jornal L´Équipe por exemplo) o melhor lateral-direito do torneio. Sobe bem, apoia bem os médios-ofensivos, tornando-se muitas vezes quase num extremo. Defende relativamente bem, embora precise de melhorar nas marcações (exemplo: o golo de Ronaldo à Rep.Checa). Quanto a Jiracek e Pilar revelaram-se como peças fundamentais do meio-campo checo. O primeiro era o principal dinamizador de jogo, homem activo, que pegava e distribuia jogo, procurando também, várias vezes, penetrar em apoio na defensiva contrária. Quanto a Pilar mostrou todo o seu talento, velocidade e capacidade de finalização neste Europeu. Tanto ele como Jiracek já pertencem aos quadros do Wolfsburgo. Gebre Selassie deve também seguir o caminho da Bundesliga. Mas não foi só na República Checa que se revelaram jogadores. A Croácia, além dos laterais de que já falei anteriormente, também mostrou um Mandzukic goleador, claramente a pedir outros voos. Outro jogador do Wolfsburgo curiosamente. Na Dinamarca com um Eriksen abaixo do esperado sobressaiu a ala esquerda, com o lateral ofensivo Simon Poulsen e o talentoso (e experiente) Krohn-Dehli. Na Grécia de Fernando Santos enquanto o talentoso Ninis me pareceu sempre um pouco perdido, o imperial  Kyriakos Papadopoulos mostrou-se como um dos centrais de maior futuro no futebol europeu. Na Polónia além dos craques do Dortmund (Lewandowski, Kuba e Piszczek) destacaria ainda o médio-pulmão da equipa Polanski e o "10" Obraniak. Na Ucrânia apareceram dois médios-ala que vão dar muito ao seu país num futuro próximo: o mais interior Yarmolenko, jogador talentoso e que pode também jogar na frente do ataque, e o ala-esquerdo Konoplyanka, boa revelação desta equipa, ala com tendência a flectir para o meio e a procurar o seu poderoso pé direito. Muita atenção a estes dois. Por último a decepcionante Rússia. Apesar de tudo, mostrou ao mundo (Europa neste caso) um talento que parecia andar perdido nos últimos tempos: Alan Dzagoev. O craque do CSKA Moscovo quis relembrar os "tubarões" do futebol europeu de que continuava a existir. Três golos colocaram-no no topo dos marcadores juntamente com craques como Fernando Torres (vencedor do prémio Bota de Ouro), Balotelli ou Cristiano Ronaldo. Foi um jogador influente, mostrou o seu talento e até de cabeça marcou.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Euro 2012, final, Espanha-Itália (4-0): A consagração definitiva de uma geração de ouro














2012: mais um ano para a história. Mais um título para a Espanha. A primeira selecção da história do futebol mundial a conquistar três títulos internacionais consecutivos. Depois do Euro 2008 e do Mundial 2010, 2012 marca a reconquista do título europeu para esta geração de futebolistas brilhantes.

O jogo contra a Itália foi surpreendente: vitória por 4-0, algo pouco usual numa final de uma grande competição. Mas, visto e revisto o jogo, concluímos que esta vantagem é compreensível e aceitável. A Espanha, mesmo sem a percentagem de posse de bola de outros jogos, foi sempre superior e provou que era a única equipa que entrou com coragem para este jogo. Cedo começou a pressionar a equipa italiana, mais amedrontada e menos consistente defensivamente por comparação com outros jogos. Aos 13 minutos, Iniesta, com um passe genial, lançou Fabregàs na direita e este assistiu para Silva que, de cabeça (!), fez o primeiro. Começava o festival espanhol. Até ao intervalo, Itália com mais bola, algumas oportunidades e a Espanha a criar perigo em jogadas rápidas. Numa dessas jogadas, ao minuto 41, Jordi Alba praticamente sentenciou o jogo, depois de assistência sublime do maestro Xavi.

A segunda parte teve alterações de início: Prandelli colocou Di Natale no lugar de Cassano. Foi dos pés do avançado da Udinese que surgiu o lance de maior perigo da Itália em todo o jogo. Casillas, autor de um incrível Europeu, fez grande defesa. Só que a Itália viu-se afectada pelo azar. Depois da lesão de Chiellini ao minuto 20, foi a vez do recém-entrado Thiago Motta se lesionar sozinho e deixar a sua equipa com 10. Pronto, agora sim estava tudo resolvido. Os espanhóis iriam confirmar em definitivo o triunfo mais robusto da história das finais europeias com dois golos, aos 84 e 88 minutos, através de Fernando Torres e Juan Mata, respectivamente.

No final, grande festa espanhola, desilusão italiana. A Espanha escolheu o melhor dia para rubricar a melhor exibição. Fantástico futebol (mesmo com "somente" 52 %!) e fantástica equipa. Toda uma nação está de parabéns. Em especial o marquês Del Bosque e  sus 23 muchachos. Que viva España!