quarta-feira, 29 de maio de 2013

Apontamentos do fim-de-semana: De uma Vitória estrondosa até uma final louca passando por Wembley, Navarra ou Oslo

1. A vitória do Vitória de Vitória. Pareceu-me uma aliteração adequada face ao tremendo sucesso conseguido pelo Vitória de Guimarães, de Rui Vitória, no passado domingo, no estádio do Jamor. À 6ª tentativa, o emblema vimaranense conseguiu triunfar numa final da Taça de Portugal. Isto tudo numa final com contornos épicos: 1ª parte sem grande chama, mas com Benfica ligeiramente superior. No 2º tempo, boa entrada do Vitória, mas com os encarnados a quebrarem bem o ritmo de jogo. E eis que, em singelos 2 minutos, a história do Vitória e de Vitória mudou para sempre. Dois golos repentinos viraram o jogo e colocaram a Taça a caminho do Toural. Soudani e Ricardo foram os heróis da soalheira tarde do vale do Jamor. Curiosamente, dois jogadores que se preparam para abandonar o clube no final da época (Soudani vai para o Dinamo Zagreb, Ricardo ruma até ao Dragão). Eles foram os obreiros da vitória, através dos golos e das endiabradas arrancadas (mais no caso de Ricardo...), mas não foram os únicos craques do triunfo vitoriano: os centrais Paulo Oliveira e El Adoua brilharam intensamente (o jovem português foi quase perfeito em antecipação, lendo todos os lances de uma maneira muito eficaz e mostrando-se muito rápido), André André formou uma dupla intensa e lutadora com Leonel Olímpio e o craque Tiago Rodrigues fez um jogo táctico excepcional (anulou Matic em várias situações) e foi essencial a usar a sua belíssima visão de jogo. No fundo, a prova de como a aposta na prata da casa e em jovens de divisões inferiores correu na perfeição. Muito mérito de Rui Vitória, um treinador cavalheiro, audaz, tacticamente sábio e com espírito de sacrifício notável. Gandhi disse um dia que uma vida de sacrifício é o cume supremo da arte; é uma vida cheia de alegria verdadeira. O sacrifício do Vitória (e de Vitória) valeu mesmo a pena e trouxe consigo a maior alegria da história do clube (e dos seus dedicados adeptos).
2. Um Benfica angustiante. Wilhelm Ekelund, escritor sueco do século XX, tem uma frase muito interessante para descrever a fase final da época do Benfica: A origem de toda a angústia é a de ter perdido o contacto com a verdade. O Benfica perdeu o contacto com a verdade, virou equipa falsa, apagada, sem chama, longe daquela formação audaz, veloz, vertiginosa, que nos proporcionou momentos de futebol bastante agradáveis ao longo de toda a temporada. A final da Taça foi só mais um triste exemplo de como a época que podia ter sido perfeita, se tornou numa época de pesadelo, com insultos, cuspidelas e tentativas de agressão a um homem que ainda há uma semana gozava de um crédito invejável junto dos adeptos encarnados. O jogo do Benfica teve bons momentos, mas foram escassos. A equipa jogou a medo, com um semblante triste, não afastando em definitivo os fantasmas que a assolavam. E tanto se notou esse medo que, em 2 minutos, tudo o que parecia bem encaminhado se perdeu (mais uma vez...). Culpas? Penso que as teremos que repartir. Jorge Jesus é o líder, logo porventura o maior culpado. A maneira como entrou a medo no Dragão, como menosprezou o jogo com o Estoril ou como "achou" que o 1-0 do Jamor era suficiente fez-nos ver a imagem de um técnico volátil e, quiçá, pouco racional em alguns momentos decisivos. Mas, obviamente, a equipa também tem as suas culpas. Não foi Jesus que fez uma marcação errada no canto de Ivanovic em Amesterdão. Não foi ele que ofereceu dois golos de bandeja em 2 minutos numa final decisiva. No fundo, o que eu quero dizer é que a culpa nunca morre solteira. O futebol é um jogo colectivo e deve ser entendido como tal, embora se devam abrir algumas (naturais) excepções para destaques individuais. Neste caso, é notória uma falha colectiva, que depois resulta em falhas individuais. A equipa joga receosa, parecendo fazer aquilo que não gosta (jogar de forma pragmática, quase abdicando de atacar), logo surgem os deslizes deste ou daquele jogador, nervosos por sentirem que o castelo se pode desmoronar a qualquer momento. Em suma, creio que a derrota benfiquista no Jamor se deveu à falta de confiança e ao desânimo colectivo. O risco de perder esteve sempre nas cabeças, mais do que o de querer resolver a contenda e arrecadar a Taça. Foi, de facto, angustiante...
3. Uma final frenética, com várias histórias. Depois do aborrecimento da final de 2012 (escrevi na altura que dificilmente veríamos uma final tão pouco entusiasmante nos tempos mais próximos), a Liga dos Campeões teve no seu jogo decisivo um dos pontos altos da temporada. Frente-a-frente, as duas melhores equipas alemães e, por consequência, as duas melhores da época da Champions. Em Wembley, Bayern e Borussia Dortmund foram a representação fiel do estado actual do futebol alemão: grande ambiente nas bancadas, jogo intenso, física e tacticamente, veloz e cheio de vida. Estivemos, sem dúvida, perante dois grandes finalistas, que encararam esta final como a hipótese de mostrarem ao mundo o crescimento da Bundesliga, também enquanto exemplo a seguir por outras Ligas europeias. O Bayern ganhou, mesmo no final, com um golo daquele rapaz que não parecia estar talhado para as finais (Arjen Robben). Foi justa a vitória? Eu creio que sim, apesar da belíssima entrada em jogo do Dortmund. A equipa de Jurgen Klopp comeu o meio-campo, com Bender e Gundogan a revezarem-se na tarefa de pressão sobre os elementos que dariam saída de bola ao Bayern (Schweinsteiger e Javi Martínez). Depois, na frente, Lewandowski e Reus davam a mobilidade e verticalidade necessária para criar desequilíbrios. Porém, ao Borussia faltou maior eficácia e passados esses 25 minutos de pressão intensa, o Bayern lá se começou a soltar. Javi Martínez ficou mais livre para a saída de bola, começou a arrumar a casa e os bávaros cresceram. Foram criando ocasiões mas Weidenfeller fez uma das exibições da sua vida (foi o melhor do BvB). Ao intervalo, nulo no marcador, justo tendo em conta que ambas as equipas haviam repartido domínio e oportunidades. Na 2ª parte, Borussia tentou entrar forte mas o Bayern respondeu bem. Robben, Ribéry, um mais esclarecido Muller e o goleador Mandzukic proporcionaram autênticos momentos de terror à defensiva do Borussia. O golo chegou (marcou Mandzukic), sendo que se seguiu resposta da equipa de Klopp: Reus, com a sua verticalidade, entrou pela área em velocidade e sofreu pénalti, convertido por Gundogan. Faltavam, sensivelmente, 20 minutos para o fim. E então, o que aconteceu? Daí para a frente, só deu Bayern. Velocidade, aproveitamento dos espaços e do cansaço da defesa do Borussia. Diz o provérbio, água mole em pedra dura, tanto bate, até que fura. Neste caso, nem a água era assim tão mole, nem a pedra dura. Mas a insistência e maior vivacidade do Bayern valeu um grande triunfo, conquistado em cima do minuto 90.   Um prémio para a época enorme desta equipa, de jogadores como Ribéry, Lahm, Robben, Alaba ou Mandzukic e, sobretudo, para um veterano técnico, daqueles que ama o futebol e gosta de fazer as suas equipas jogar com notável capacidade ofensiva (Jupp Heynckes). Uma grande final, entre duas grandes equipas e dois grandes treinadores. Todas deveriam ser assim, mas sabemos como o futebol não tem de ser sempre belo...
4. Lazio a toda a linha. Um grande derby romano fechou a temporada de futebol em Itália. Mais uma vez, a Lazio levou a melhor sobre a grande rival AS Roma e logo no jogo mais importante da época, para ambas as equipas: a final da Taça de Itália. A Lazio, montada numa espécie de 4x5x1, foi sempre a equipa mais sólida em campo, mostrando grande capacidade táctica e defensiva. Do outro lado, uma Roma que melhorou a defender no pós-Zeman mas que perdeu criatividade ofensiva. Totti ou Lamela já não são os mesmos da melhor fase da época. É certo que a Lazio fechou muito bem o espaço por onde entram esses elementos mas faltou-lhes alguma clarividência. Na 2ª parte, a equipa laziale melhorou, com Onazi incansável a fechar o espaço defensivo (fundamental pela agressividade, embora por vezes exagere nas faltas cometidas) e Hernanes a subir um pouco mais para junto de Mauri. Nos flancos, Candreva (alarga imenso o jogo e tem uma capacidade técnica notável) e Lulic (incansável, a fechar e a sair com bola) estiveram soberbos e construíram o lance do golo (que começou com grande desmarcação de Mauri para Candreva, diga-se). Atrás, impecável Biava e um grande keeper, Marchetti, quase sempre atento e bem em antecipação. Espírito de sacrifício notável e capacidade táctica assinalável. A Lazio de Petkovic foi algo irregular mas nos jogos contra a Roma não falhou. Com isto, ganhou um título e o acesso à fase de grupos da Liga Europa. E não é coisa pouca, com toda a certeza...
5. Osasuna é de Primeira. Mais uma época a chegar ao fim e mais uma manutenção garantida pela equipa do Osasuna. Muito mérito para o técnico José Luis Mendilibar. O Osasuna terá, porventura, um dos plantéis menos atractivos da Liga espanhola, no entanto, tem a fibra e a garra que tem faltado a outras equipas (Maiorca ou Celta, por exemplo). Além disso, ajuda muito ter um elemento com experiência como Patxi Puñal que, aos 37 anos, continua a ser uma lenda do clube, trabalhador incansável e autor de golos decisivos como o do passado domingo frente a um decepcionante Sevilha (podem crer que a época do Sevilha dava para um capítulo longo...). Montada em 4x2x3x1, a equipa de Navarra costuma apostar numa estratégia defensiva, para depois sair em contra-ataque. Essencial a acção dos alas Masoud, De las Cuevas e, sobretudo, Cejudo, que entrou para o lugar de De las Cuevas na 2ª parte. Atrás, uma linha defensiva experiente, nem sempre flexível mas que, em certos jogos, se revela unida e consistente (Marc Bertrán-Rubén-Arribas-Damiá). Depois temos os extremos do campo: na baliza, um dos melhores do campeonato, Andrés Fernández, falado inclusive para o Real Madrid, em tempos recentes. No ataque, Kike Sola costuma ser a opção principal. Avançado móvel, não é um goleador-nato, mas tem um registo interessante (9 golos). Tem como alternativas Armenteros, Nino ou Joseba Llorente. Uma equipa sem grandes nomes, composta por muitos jogadores espanhóis, todos com uma enorme paixão e carácter. O Osasuna é mesmo uma daquelas equipas onde ninguém, mesmo ninguém, vira a cara a luta. Merecem o lugar entre os melhores!
6. Brasileirão: De um Cruzeiro goleador a um Inter em construção passando pelo Santos-Flamengo. Começou o Brasileirão. Tive a oportunidade de assistir a 3 jogos este fim-de-semana. Começo pelo Cruzeiro-Goiás, jogo que terminou com a goleada dos mineiros (5-0) e a conquista da liderança à 1ª jornada. Embora me pareça que falta algum banco a esta equipa, o Cruzeiro tem pelo menos um "onze" de candidato ao título, claramente. Dedé, Nilton, Diego Souza, Borges ou Dagoberto são elementos de grande valor e que poderiam actuar perfeitamente numa boa equipa europeia. A 1ª parte do Cruzeiro foi avassaladora (4-0 ao intervalo). Pressionante, pegando bem no jogo, a equipa de Belo-Horizonte foi extremamente incisiva e aproveitou bem as falhas defensivas tremendas da equipa do Goiás (3 golos consentidos após pontapés-de-canto). Uma exibição promissora, que deixou óptimos indicativos para o que resta de campeonato. Ainda no domingo, aconteceu o jogo da jornada: Santos-Flamengo. Em casa emprestada, o estádio Mané Garrincha de Brasília, numa espécie de último grande teste antes da Taça das Confederações. O resultado foi 0-0. Santos muito frouxo, com um Neymar pouco decisivo, em vésperas da viagem para Barcelona. Do outro lado, o Flamengo dispôs das melhores ocasiões mas foi equipa muito perdulária. Ficaram, ainda assim, bons apontamentos do conjunto orientado pelo ex-jogador Jorginho. Por último, o primeiro jogo do campeonato, disputado sábado, em Salvador da Bahia: Vitória vs Internacional. Grande entrada da equipa da casa com 2 golos antes do quarto-de-hora. Notórias dificuldades do novo Inter de Dunga, equipa que está claramente a passar por um processo de adaptação. No entanto, os gaúchos responderam muito bem, liderados por um enorme Fred (miúdo muito talentoso), ladeado pela experiência, qualidade e presença de elementos como D´Alessandro ou Forlán. O resultado final foi 2-2 (Forlán fez o primeiro após assistência de Fred, que faria o segundo). A impressão que fica é que este Inter, assumindo os jogos e melhorando bastante em termos defensivos, pode ser uma equipa a ter em conta. Se Dunga não trabalhar bem estes aspectos poderá vir a ter um ano bastante complicado. Veremos.
7. Valerenga-Rosenborg. Perante a quase ausência de grandes jogos no sábado (motivada pela final da Champions League, naturalmente), decidi investir um pouco de tempo nos campeonatos mais underground. Um deles, o campeonato norueguês. O cartaz pareceu-me apelativo: o histórico da capital Oslo, Valerenga, contra o clube mais laureado da Noruega nos últimos anos, o Rosenborg. Valerenga, afundado na parte baixa da tabela; Rosenborg procurando aproximar-se do líder Stromgodset. O Rosenborg venceu por 2-1, mas o jogo nem sempre esteve fácil. Na 1ª parte, o Valerenga, liderado por um inspirado Diego Calvo (bons movimentos de fora para dentro, procurando o potente pé direito), criou mais perigo e poderia ter-se colocado em vantagem. No entanto, a resposta do Rosenborg no 2º tempo foi bastante concludente. Svensson soltou-se, Selnaes juntou-se a ele, vindo do banco e transfiguraram por completo o encontro. O Rosenborg começou a encontrar mais espaços e aproveitou na perfeição: Reginiussen, de cabeça, e o promissor Svensson, num pontapé fortíssimo à entrada da área, decidiram o encontro. Do outro lado, resposta já tardia, com um golo que não valeria para nada. Conclusão: foi um jogo interessante de seguir. Falta algum valor colectivo à liga norueguesa mas vão sempre surgindo jogadores muito interessantes (Svensson, Diego Calvo, Selnaes, Dockal ou Diskerud são claramente nomes a seguir). Tentem ver um jogo, mas escolham bem!
8. O Saint-Etienne forasteiro joga sempre a medo. Tem sido uma tendência da equipa de Christophe Galtier esta temporada: nos jogos teoricamente mais complicados, fora de portas, o Saint-Etienne nunca arrisca demasiado, jogando quase sempre para o empate. A equipa entra demasiado conservadora, não explorando bem as suas virtudes ofensivas (que até são bastantes). Este fim-de-semana, na deslocação ao terreno do Lille, só não foram goleados porque a equipa de Rudi Garcia esteve brutalmente perdulária em frente à baliza. Creio que todo este conservadorismo nunca me foi deixando muitas dúvidas sobre a capacidade da equipa ficar em 3º lugar. Seria difícil conseguir esse objectivo, não tendo ousadia nos momentos certos...
9. Crystal Palace de regresso ao convívio com os gigantes. Prémio justo para o Palace esta subida à Premier League. Na final de Wembley, com Mourinho nas bancadas, o Crystal Palace mostrou, especialmente a partir do 2º tempo, que era a equipa que mais ambicionava chegar ao escalão principal. A estrela Wilfried Zaha levou, literalmente, a equipa ao colo, numa exibição magnífica, repleta de grandes momentos, em velocidade, no um-para-um, fazendo a cabeça em água aos seus adversários. Foi claramente o melhor jogador da época no Championship. Mas não foi a única figura da época do Palace: o lesionado Murray (goleador da equipa durante toda a época), os médios Digkacoi (lesionou-se cedo na final) e Jedinak, os laterais Ward e Moxey, a experiente dupla de centrais (Gabbidon-Delaney), o jovem Williams, o "10" Garvan ou suplentes decisivos como Bolasie ou O´Keefe. Isto tudo sem esquecer a experiência do argentino Julian Speroni na baliza. Na fase regular, o Palace não conseguiu ser tão forte quanto o Watford. Porém, nesta final, mostrou-se superior e mereceu o destino final. Mérito enorme do técnico Ian Holloway, que consegue a 2ª subida da carreira (depois de ter levado o Blackpool à Premiership em 2010).
10. Um louco guarda-redes que virou o destino de uma final. Aconteceu no México este fim-de-semana: no jogo decisivo da final do Clausura, entre América e Cruz Azul, o guardião do América, Moisés Muñoz, subiu numa bola parada e cabeceou, com a bola a sofrer ligeiro desvio, é certo, para o fundo das redes, dando a chance à sua equipa de jogar o prolongamento e os penáltis (viriam a ganhar por 4-2 na lotaria final). Foi, de facto, um jogo incrível. Jogando com 10 desde o minuto 13 (expulsão do médio Jesús Molina), o América parecia condenado ao insucesso. Os contra-ataques velozes do Cruz Azul e consequentes oportunidades poderiam ter resolvido facilmente o jogo. No entanto, o América foi-se aguentando e, nos últimos minutos, em 2 lances de bola parada, conseguiu anular a vantagem do Cruz Azul (conquistada na 1ª parte, graças a um belo golo de Teo Gutiérrez). Depois, no prolongamento, o América jogou com a superioridade psicológica e poderia ter resolvido a contenda. Não conseguiu mas os danos do outro lado eram tão notórios que, chegados às grandes penalidades, os jogadores do Cruz Azul falharam as duas primeiras e mostraram que o América tinha o caminho aberto para completar uma reviravolta épica. Um título especial, conquistado por uma equipa lutadora e com bons valores (belíssima dupla de ataque, com o tanque Chucho Benítez e o jovem Jímenez, e meio-campo de qualidade composto por elementos como Medina ou Sambueza).

terça-feira, 21 de maio de 2013

Apontamentos do fim-de-semana: Da história de um título surpreendente (ou não tanto...) até ao título de um clube de militares passando pelos grandes duelos da velhas escolas de Leste

1. Agora sim, em definitivo: o "27" chegou ao Dragão! Terminou a Liga 2012/13. O campeão, o mesmo de sempre (ou quase isso...). Pela 7ª vez nos últimos 8 anos, o FC Porto sagrou-se campeão nacional. Um título conquistado após uma recta final desastrosa do Benfica (1 ponto ganho entre Estoril e Dragão). Muito se pode discutir em torno de qual terá sido o momento decisivo deste campeonato. Eu diria que um campeonato, como prova de regularidade, se faz de diversos momentos. Para o Porto, os golos de Kelvin frente a Braga e Benfica foram decisivos, naturalmente, mas não podemos esquecer as difíceis vitórias frente ao Braga (fora) ou frente ao Rio Ave no Dragão. Ou o sofrido triunfo na deslocação ao terreno do Estoril. E, certamente, não podemos esquecer o empate do Benfica frente ao Estoril que teve o condão de despertar as hostes portistas para a eventualidade de duas vitórias finais garantirem o tri. Foi o Porto um justo campeão? Sem dúvida. Assim como teria sido o Benfica, se porventura tivesse derrotado o Estoril, empatado ou vencido no Dragão ou se não tivesse empatado na Choupana ou, por exemplo, na primeira jornada, em pleno Estádio da Luz, frente ao Sporting de Braga. No fundo, tudo isto foi decidido em detalhes. Foi uma belíssima disputa entre dragões e águias. Parabéns aos vencedores, respeito pelos vencidos!
2. Vítor Pereira em " A história do bi-campeão mal amado". 60 jogos para o campeonato depois, Vítor Pereira é um dos homens mais felizes do mundo. Afinal estamos a falar de um treinador bi-campeão. Com uma só derrota nesses mesmos 60 jogos! Os números são avassaladores, no entanto a crítica não é unânime: Vítor Pereira merece continuar no FC Porto? Eu diria que sim, a avaliar pela competitividade azul-e-branca numa prova de regularidade como o campeonato. Fico com mais dúvidas, porém, quando penso nos insucessos somados em provas a eliminar. Parece que o técnico portista tem uma natural predisposição para alterar o estado das coisas em momentos decisivos (Coimbra o ano passado, Braga ou Málaga já esta época...). Dá a impressão que lhe falta um controlo dos acontecimentos, o que não pode ser visto como uma característica positiva. No entanto, tal como evoluiu este ano, quer em termos comunicacionais, quer na maneira como colocou a equipa a jogar bom futebol em vários desafios (sim, só quem não entende de futebol ou não viu os jogos com a mínima atenção pode dizer que o nível exibicional do Porto foi quase sempre medíocre esta época), também pode evoluir nesse sentido: na próxima temporada, caso fique no Dragão, poderá vencer uma das Taças e chegar ainda mais longe na Champions. Tudo isto é um processo de aprendizagem também para ele. Resta saber se " A história do bi-campeão mal amado" terá continuação ou não. PS: Campeonato melhor do que na primeira época, Champions melhor e até nas Taças chegou um pouco mais longe. Mas sabemos como na casa portista, e sobretudo entre os adeptos, a exigência é grande...
3. Jogadores-chave do título azul-e-branco. Decidi escolher 5. Cá vão eles, por categorias. Melhor jogador: João Moutinho. A energia inesgotável, o "motor" do meio-campo azul-e-branco. Quando tem a bola nos pés, gere-a com mestria e encontra o melhor espaço onde colocá-la. Lesionou-se e todo o Porto tremeu qual terramoto 8.0 na escala de Richter. O tempo e o espaço são dele. É o dono do jogo por excelência. Jogador-coração: Lucho González. Se Moutinho é o "motor", Lucho é a alma da equipa. Já lhe falta algum dinamismo, uma maior amplitude de movimentos, mas a abnegação e o espírito de sacrifício são uma constante. Joga num ritmo mais pausado mas a classe com que se movimenta e pega na bola é notável. 6 golos esta época são uma marca muito forte. Jogador decisivo: Jackson Martínez. O que no México era, essencialmente, um avançado de aproveitar bolas em profundidade, nas costas da defesa, tornou-se, em Portugal, num matador completo, técnico e capaz de se movimentar em espaços curtos e médios de uma maneira soberba. Muito inteligente a ler o jogo, Jackson revelou todo um cardápio de boas maneiras futebolísticas. Pontapés de bicicleta, de escorpião, cabeceamentos imparáveis, fintas e remates. Resultado: 26 golos e o prémio de melhor marcador da Liga, no ano de estreia na Europa. Soberbo. Jogador decisivo (mas que nem sempre é devidamente valorizado): Fernando. O polvo. Parece-me uma definição perfeita para este jogador. Está em todo o lado, compensa atrás, nas laterais, sobe cada vez mais, criando linhas de passe em zonas mais adiantadas e, sobretudo, rouba bolas e equilibra a equipa de uma forma quase perfeita. Nem sempre é gabada a sua árdua tarefa mas não tenham dúvidas de que Fernando é um jogador indispensável. Vendê-lo? Só mesmo por uma boa maquia. Jogador-revelação: Mangala. Maravilhosa época do central francês. Refreou os ânimos, alguma agressividade e falta de preparação tornaram-se em capacidade de usar o físico para ganhar quase todos os lances, por alto e por baixo. Rápido, capaz de antecipar e implacável na marcação individual, usa ainda o seu poderio físico para ir à frente, marcando vários golos de cabeça. Na retina, fica a incrível capacidade de impulso, no golo apontado em Guimarães, no inicio de uma das vitórias (e exibições) mais vistosas da época.
4. A tragédia final de uma equipa vistosa. A época do Benfica teve contornos de tragédia, quase como tivesse sido amaldiçoada pelos espíritos de Eurípedes ou Sófocles. Às portas do sonho, o conjunto de Jorge Jesus vacilou. Perdeu campeonato e Liga Europa numa semana. Trágica ironia: ambos no minuto 92. O tal que ficará para sempre mal visto na óptica encarnada. As pessoas perguntam-se: como foi possível isto ter acontecido? Fica a sensação de que o Benfica se assustou após o empate frente ao Estoril. Jogou para empatar no Dragão e teve uma espécie de divino castigo, obra de um miúdo endiabrado chamado Kelvin. Na final da Liga Europa, o castigo foi ainda mais duro, brutal, porque o Benfica foi sempre melhor equipa que o Chelsea. Mas ser melhor não significa ser astuto, pragmático e mais frio na hora decisiva. E foram estes 3 factores que faltaram, em momentos, ao Benfica finalista da Liga Europa. Um Benfica com uma qualidade de jogo e uma verticalidade assinaláveis mas sem criar muitas oportunidades e, por consequência, os golos. Para concluir a semana, a confirmação da perda do título para o FC Porto. Apesar da vitória frente ao Moreirense (com 1ª parte em cura lenta de estado depressivo e uma 2ª parte de cara alegre, graças à agitação e clarividência de Gaitán e Lima), o Benfica não conseguiu chegar ao 1º lugar. Merecia? Se o tivesse ganho sim. Foi como disse antes: se porventura não tivesse deixado escapar 2 pontos contra o Estoril, mereceria. Porquê? Porque ocupava o lugar, com mérito próprio e com a certeza de não ter vacilado, em definitivo, nos momentos decisivos. Vacilou e acabou sem os principais objectivos na mão. De forma cruel, é indesmentível, mas não podemos esquecer erros determinantes (a falta de ousadia no Dragão ou o relaxamento de Jardel no lance que valeu o golo decisivo do Chelsea). Porque isto do futebol não pode ser tido como questão de sorte ou azar. Como se costuma dizer, somos nós que fazemos a nossa sorte ou o nosso azar. Fica, porém, o registo das exibições positivas e avassaladoras. Para já, só isso. Resta ainda o contentamento descontente (como diria Camões) da Taça de Portugal. E mesmo aí, o Benfica poderá esperar oposição dura do Vitória de Guimarães. No fim da época, faremos as contas...
5. A saída de Jesualdo e a chegada de um vencedor. Parece-me que a saída de Jesualdo Ferreira foi um erro. Não sei o que aconteceu ao certo, mas depois do trabalho que fez parece-me um prémio injusto. Mudou mentalidades, tirou da equipa potenciais titulares de atitude displicente e arriscou, colocando jovens como Bruma, Dier ou Ilori, numa aposta clara para ganhar o futuro. Os adeptos gabaram-lhe o trabalho e os resultados, ficando só a mágoa por não ter apurado a equipa para a Europa. Compreendo, portanto, quando diz que este "foi um dos momentos mais difíceis da carreira e da vida pessoal". Este trabalho deveria ter tido continuidade e seria, quiçá, uma possibilidade de fim de carreira em beleza para Jesualdo (e o Sporting iria acabar por ganhar com isso...). Porém, o casamento não resultou. O divórcio foi consumado e, logo de seguida, se arranjou novo casório: Leonardo Jardim é o treinador do Sporting para as próximas 2 épocas. Boa opção? Veremos, mas acredito plenamente que sim. Leonardo Jardim tem o espírito dos vencedores, parece-me um homem ambicioso, metódico e capaz de colocar as suas equipas a jogar um futebol ofensivo, com golos mas sabendo ser também pragmático nos momentos certos. Com um dos orçamentos mais baixos dos últimos anos, não terá, muito provavelmente, oportunidades de fazer um brilharete mas se conseguir lutar pelo 3º lugar já será bastante aceitável. Ou seja, o Sporting arrisca mas pode não ficar mal com a mudança. Agora, parece-me indiscutível que Jesualdo tinha tudo para vir a ser uma "solução" e não um "problema". Mas ele entendeu que seria mais problemática a sua continuidade. Há que aceitar, mesmo não se sabendo ao certo o que esteve por detrás desta saída polémica...
6. A maravilhosa obra de Marco Silva. Quem conseguiu um inédito apuramento para a Europa esta temporada foi o Estoril. A equipa orientada pelo jovem Marco Silva conseguiu a subida no final da época passada e logo na temporada de regresso conseguiu um extraordinário 5º lugar. Não surpreende se formos a ver com atenção os jogos da equipa da Linha: uma defesa segura e com 4 titulares de bom nível (destaco Steven Vitória e Jefferson), um meio-campo que mistura trabalho (Gonçalo Santos) e criatividade (Evandro ou Carlos Eduardo) e um ataque técnico, eficaz e forte nas movimentações (Licá, Luís Leal ou Carlitos). Em casa, foram uma equipa interessantíssima, capaz de assumir riscos e de fazer bastantes golos. Fora, também tiveram jogos consistentes, sendo que o ponto alto foi o recente jogo disputado no Estádio da Luz. Para o ano, segue-se participação na Liga Europa (3ª pré-eliminatória se o V.Guimarães vencer a Taça, "play-off" se for o Benfica o vencedor da final do Jamor). Provavelmente já sem boa parte do plantel (Vitória, Jefferson, Carlos Eduardo ou Licá têm sido falados para os "grandes") e, quiçá, sem a equipa técnica maravilhosa que conseguiu comandar os canarinhos a uma temporada sensacional. Apesar de tudo, só a presença numa competição internacional já será motivo de orgulho para todos os adeptos do Estoril-Praia. Sorriam e desfrutem, sem pensar que época de Europa nem sempre se compagina com sucesso a nível interno.
7. Fim-de-semana de clássicos a Leste. Sábado jogaram-se dois jogos escaldantes e potencialmente decisivos para os títulos da Polónia e Sérvia. Curiosamente ganharam as equipas que eram líderes, jogavam em casa, tinham 2 pontos de vantagem sobre o 2º classificado e ambas com golos apontados nos últimos minutos, de bola parada. Há coincidências extraordinárias. Comecemos pelo confronto polaco: Legia Varsóvia vs Lech Poznan. Vitória sofrida, com pénalti tardio, desencantado pelo promissor Kosecki (é rápido, tem técnica mas parece algo imaturo e excessivamente teatral, na tentativa de sacar faltas aos adversários) e convertido pelo experiente Vrdoljak. O jogo foi quase sempre dominado pelo Legia, perante Lech Poznan muito cauteloso, quase parecendo querer jogar para o empate, apesar da desvantagem na tabela. No Legia, além de Kosecki, destaco também o promissor lateral-direito Bereszynski (bastante vertical, dá profundidade e defende com critério) e o médio-ofensivo/2º avançado Dvalishvili (muito móvel e com bons recursos técnicos). O jovem médio-centro Lukasik saiu cedo, mas também mostrou qualidades (jogou com boa qualidade de passe e forte no desarme). Do lado do Lech, há que destacar o certinho central Kaminski, o combativo lateral-esquerdo Henriquez e os médios de 2ª linha Lovrencsics (ala forte no um-para-um) e Hamalainen (finlandês com bons pés mas sem grande intensidade). O outro clássico do dia opôs Partizan a Estrela Vermelha. Curiosidade para ver o reciclado Estrela Vermelha de Sá Pinto (foi somente o 2º jogo da era Sá Pinto que consegui ver), perante o crónico campeão dos últimos anos e que, muito provavelmente, o voltará a ser já esta época. O jogo foi resolvido numa bola parada fantástica de Jojic. Antes tivemos um jogo intenso, bem disputado, típica amostra da paixão sérvia. Sobretudo no 2º tempo, quando vimos um Partizan bem mais forte desde início, tentando constantemente o golo (a 1ª foi intensa mas teve menos ocasiões e menos Lazar Markovic!). A equipa de Sá Pinto sofreu duro golpe com a lesão de Lazovic, a meio da 1ª parte. Tentou jogar em contra-ataque, defendendo compacta mas a 2ª parte endiabrada de Markovic deu cabo dos planos ao técnico português. No Partizan, muita atenção ainda ao ponta-de-lança Mitrovic (muito forte no jogo aéreo e bom finalizador) e ao central Ivanov (forte e bastante concentrado a defender). Do outro lado, pena a lesão do talentoso Lazovic. Ainda assim vimos bons pormenores do ala esquerdo Kasalica e atenção ainda ao médio-centro Milivojevic (boa visão de jogo). O mercado sérvio deve claramente ser mais explorado. A velha escola jugoslava continua a dar os seus frutos...
8. Atleti melhor que o Real e o espírito-Simeone. Os últimos 4 anos têm posto em evidência um facto muito raro até aqui: o Atlético de Madrid tem somado mais títulos do que o rival Real Madrid. Desde 2009, 5 títulos para o Atleti e somente 3 (todos com Mourinho ao leme) do Real. Um destes títulos dos colchoneros foi conquistado na última sexta-feira, em pleno Santiago Bernabéu, precisamente frente ao Real Madrid. Simeone reconheceu a superioridade do maior rival, apostou numa estratégia de contenção, para depois contra-atacar. Teve sorte atrás, claro, mas foi uma equipa que acabou por merecer essa fortuna perante desinspirado Real Madrid (claramente em fim de ciclo). Na frente, duas setas, Falcao e Diego Costa, foram tentando semear o pânico junto da defesa madridista. O 1º golo é exemplo da perfeição do entendimento entre esta dupla. Mas há mais: gigante Arda Turan, jogador com uma qualidade técnica notável, grande trabalho da dupla Gabi-Mario Suárez e um decisivo Miranda, que apareceu na área contrária para dar o 10º troféu ao Atleti. Como disseram em Espanha, a tão desejada Décima foi mesmo para os rojiblancos. Quanto ao Real, final de época frustrante, com a confirmação da saída de Mourinho. Pôxa, como diriam os brasileiros: é mesmo um cemitério de treinadores!
9. Ferguson despede-se na maior das loucuras. Se alguém se virasse para Ferguson há 26 anos e lhe dissesse: meu caro, o seu jogo de despedida, dentro de uns bons anos, irá terminar 5-5, o escocês por certo pensaria que entretanto ter-se-ia tornado treinador de hóquei. No entanto, aconteceu mesmo num campo de futebol. O The Hawthorns, casa do West Bromwich, tornou-se, de repente, em mais um pedaço da história do futebol mundial. Um jogo entre duas equipas que já não necessitavam do resultado para nada acabou por ser um hino ao golo e à emoção. O United chegou a estar com vantagem gorda por 2 vezes (0-3 e 2-5) mas permitiu o empate final à equipa da zona de Birmingham. Foi um jogo épico, onde o factor-descontracção permitiu a dezena de golos vista. Ferguson não deve ter gostado na perspectiva de treinador de uma equipa que desperdiçou duas vantagens de goleada. Mas, pondo-se no lugar do adepto imparcial, deve ter aceitado o resultado. Quem viu o jogo delirou. E com razão!
10. CSKA, o justo campeão russo. Um empate a zero bastou ao CSKA Moscovo para garantir o título da Liga russa. A recepção ao surpreendente Kuban Krasnodar resultou num jogo monótono, sem grandes ocasiões, dando sempre a ideia de que o CSKA entrou a pensar mais na festa do que noutra coisa. E tinha razões para isso: faltava 1 ponto e a equipa cumpriu tranquilamente. Isto tudo depois de uma época em que o CSKA foi praticamente sempre melhor equipa. Houve regularidade, consistência exibicional e uma frieza nos momentos-chave que permitiu à equipa de Leonid Slutsky regressar ao trono do futebol russo. Uma equipa que tem no meio-campo a sua base, com a presença regular da dupla sueca Wernbloom-Elm. Costumam ser fortes na recuperação defensiva e têm boa saída de bola. Na 2ª linha, costumam estar Dzagoev e Tosic, descaídos nas alas, com Vagner Love a aparecer como uma espécie de "enganche" ou 2º avançado, permutando constantemente com o rápido e tecnicista Musa. Atrás, uma dupla sólida e que já joga de olhos fechados (Beretzuski e Ignaschevich) e um lateral-direito brasileiro, central de formação, muito certinho a defender e que não apoia mal o ataque (Mário Fernandes). Na esquerda, alternam Schennikov e Nababkin, enquanto que a baliza pertence ao titularíssimo Akinfeev. Não esquecer as segundas opções de enorme qualidade que Slutsky maneja, como, por exemplo, Honda ou Doumbia. Um plantel que não tem sofrido muitas alterações ao longo dos anos mais recentes e que, também por isso, conseguiu chegar finalmente a um título, que já escapava desde 2006.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Apontamentos do fim-de-semana: De um clássico que virou o mundo do avesso a um génio "escondido" passando por pobres e ricos que ganharam a lotaria...

1. E tudo Kelvin mudou... Há 2 semanas dei conta de que o "33" estava a caminho da Luz. Era uma alusão à possibilidade cada vez mais forte de que o Benfica levantasse o 33º título da sua história. Porém, em duas jornadas, a classificação da Liga sofreu volte-face tão épico quanto surpreendente. Nada nos garante que o "33" não possa chegar à Luz (com tanta volta e reviravolta numa Liga louca e emocionante, já nem sei...), no entanto, neste momento o título está nas mãos de um Dragão que tem sido fiel a si mesmo, não desistindo, competindo ao máximo e tendo a recompensa à entrada para a última jornada. Um golo de Kelvin (se o Porto ultrapassar o Paços, no próximo fim-de-semana, este campeonato bem se pode passar a chamar Liga Kelvin), à entrada para o 2º minuto de compensação, levou o Dragão ao êxtase e supôs mudança na tabela classificativa. O FC Porto passou para a 1ª posição muito por culpa do jovem da crista de galo. 2 golos ao Braga e o deste fim-de-semana, com curiosa assistência de Liedson, valeram mais 4 pontos, os tais que marcavam as diferenças entre Porto e Benfica até à jornada 28. Agora, com um ponto de vantagem, os dragões não têm em mente vacilar mas, atenção, porque a última jornada se joga na difícil e nobre casa onde mora o 3º classificado desta Liga. Um campeonato louco. De cima a baixo. Vai a caminho do prémio de "Campeonato português mais emocionante de sempre"...
2. Clássico morninho resolvido com toque de samba adolescente. Em termos de qualidade de jogo, este Porto-Benfica não foi, claramente, dos melhores nos tempos mais recentes. Teve emoção, um quê de incerteza e intensidade mas não foi um jogo aberto, com muitas ocasiões e muitos golos. Aliás, se há jogo em que tivemos mais golos que ocasiões claras este é, definitivamente, um deles. FC Porto, como habitual, procurou asfixiar o adversário, tentando dominar desde início. O Benfica baixou bem as linhas, aguentou compacto atrás e, num lance fortuito, colocou-se em vantagem (muita inteligência de Lima, apesar de tudo). Os dragões tinham bola mas pouco rompiam, por força da desinspiração de James e da falta de apoio próximo a Jackson. Entretanto, numa incursão de Varela pela esquerda, tudo mudou, em mais um golo fortuito (neste caso na própria baliza). Depois disto, fomos tendo um jogo sem muitas oportunidades, com mais iniciativa azul-e-branca e um Benfica, com um grande Enzo e um bom Matic no controlo das operações a meio-campo, a gerir bem precioso empate. O Benfica tinha mesmo o jogo sob controlo quando se deu a genialidade de Kelvin. Um contra-ataque, uma assistência e um golo tão surpreendentes quanto precisos e que podem ter significado volte-face na edição 2012/2013 da Liga. Em suma, jogou-se futebol, sim senhor, mas não foi de grande casta...
3. Colombianos na reserva... Para mim este Clássico evidenciou uma situação: James e Jackson estão longe da melhor forma. Em especial o "10", que desde a lesão raras vezes apareceu em plano decisivo. No entanto, também Jackson parece outro: menos explosivo, mais preso de movimentos e não tão acertado a ler os lances. Se bem que tenha a atenuante de ter defrontado forte dupla de centrais, além do facto de boa parte das bolas lhe chegarem por via de passe longo, não havendo tanta margem de manobra para o Cha Cha Cha. De facto, os colombianos do ataque portista destacaram-se pouco neste jogo decisivo. Se Jackson tem as tais atenuantes, James tentou ser o "10" do costume, mas colou-se demasiado à bola, insistiu em jogadas sem efeito e não foi o acelerador de jogo de que o FC Porto necessitava. Valeu um bom Varela que, de forma surpreendente, foi o melhor do trio atacante azul-e-branco. Quem diria há uns tempos, hein?
4. O duelo Fernando/Matic. Foi uma batalha muito interessante de seguir. Dois dos médios-defensivos mais completos do futebol europeu na actualidade, frente-a-frente, no grande Clássico português. O duelo foi bonito e intenso, como se previa. Fernando destacou-se mais, na verdade. Verdadeiro polvo, este médio operário, além da recuperação de bola, foi essencial na maneira como subia e como criava opções de passe na 2ª linha. Nota-se que está mais corajoso e empreendedor, não ficando somente renegado às tarefas defensivas. Equilibrou a equipa e só uma lesão, à entrada para os últimos 20 minutos, o retirou definitivamente do campo de batalha. Quanto a Matic, aguentou o tempo todo e, apesar de não de ter sido tão soberbo como noutras ocasiões, revelou-se bastante importante, recuperando imensas bolas, mesmo em situação de desvantagem numérica. Foi mais faltoso do que noutros jogos, mas compreende-se, dado que no seu raio de acção se movimentavam mais homens do que é habitual. Um médio abrangente e que teve a seu lado um enorme Enzo (assim como Fernando teve por perto um Moutinho muito esclarecido...).
5. 50.000 habitantes, 2000 sócios= Champions League. O fenómeno-Paços de Ferreira mostra-nos quão belo pode ser o futebol. Um clube com pouco mais de 2000 sócios, de uma cidade com cerca de 50000 habitantes acaba de se apurar para o "play-off" da Liga dos Campeões. Ou seja, irá ouvir pelo menos duas vezes o hino da Liga milionária. Além do hino, há a questão do prestígio e, sobretudo para uma equipa pequena como o Paços, a questão financeira. O objectivo milionário foi conseguido este fim-de-semana, após o empate em Coimbra e o deslize do Braga em casa frente ao Nacional. No jogo de Coimbra, vimos um Paços menos agressivo, com menos bola e a sofrer perante um início autoritário e determinado dos estudantes. Apesar das dificuldades, o Paços adaptou-se relativamente bem às condições, vestiu o "fato-macaco" e soube jogar de forma mais pragmática. Em termos individuais, destacaria os médios-ofensivos Josué e Vítor, com grande qualidade ao nível do passe e muito bons movimentos de ruptura na 2ª linha. Bom jogo também do central Ricardo (ganhou muitas vezes o duelo com Edinho) e do ala Manuel José, que fez o golo mais importante da história recente do Paços. A exibição pacense não teve o toque de classe de outros jogos mas teve bons momentos. Mérito a uma grande equipa e a um grande treinador: Paulo Fonseca. O técnico do Paços é, indiscutivelmente, uma das figuras da Liga 2012/2013. Jovem, adepto de uma filosofia de jogo positiva, transformou um plantel interessante de baixo custo numa equipa sensacional. Merece o céu!
6. Sir Bob Martínez, nova alteza-real da FA Cup. A época já estava a correr mal ao Manchester City. Perdeu o título para o rival United de forma clara e na Champions caiu redondo na fase de grupos. Restava a consolação da Taça. A mítica FA Cup, ambicionada por todos os clubes ingleses e tratada com enorme respeito (ao contrário do que acontece com as Taças de outros países...). Só que pela frente teve um adversário, claramente inferior em teoria, mas que foi um justíssimo vencedor: o Wigan do espanhol Roberto Martínez, outrora jogador mediano, que parece claramente prometido ao Olimpo dos treinadores. E digo isto porque o que tem feito com este clube pequeno ao nível dos últimos anos tem sido assinalável. Tem salvado sempre a equipa da descida (algo que parece muito complicado agora...) e, esta temporada, conseguiu a proeza de levantar o troféu mais antigo do mundo em pleno estádio de Wembley. Bob Martínez, como é conhecido em Inglaterra, foi destemido e fez com que o seus jogadores jogassem com a mesma coragem. Ao longo dos 90 minutos, o Wigan foi praticamente sempre superior a um Man.City macio e que parece ter encarado este jogo sem grande chama. Os lattics foram vibrantes, sobretudo através de três homens, que jogam em zonas mais adiantadas e que têm sido as grandes figuras desta formação ao longo da época: o extremo McManaman, jogador explosivo, tecnicista e desequilibrador no um-para-um, o avançado móvel Arouna Koné, jogador batalhador, com técnica e capaz de jogar a toda a largura no ataque e o médio criativo Maloney, autor de uma segunda metade de época em grande nível. Destacam-se sobretudo estes três, mas há outros (Scharner, McCarthy, Jordi Gomez ou McArthur, por exemplo). Uma equipa sem grandes nomes mas com jogadores de nível-Premier League. Pena a oscilação exibicional e de resultados ao longo da temporada, que faz com que o destino mais provável seja o Championship, mesmo num ano em que conseguiram uma soberba FA Cup...
7. Sturridge e Coutinho, reforços de ouro. O Liverpool acertou na mouche no mercado de Inverno. Decidiu apostar no criativo Phillipe Coutinho, permanentemente relegado para o banco no Inter e no avançado Daniel Sturridge, também ele uma segunda opção no Chelsea. Contratou-os e ambos têm proporcionado momentos muito bons desde Janeiro. Os reds já não chegarão à Europa mas ver esta dupla faz-nos acreditar que na próxima época o cenário poderá ser mais risonho. Numa altura em que o craque Suárez se encontra castigado, os dois reforços invernais assumem a despesa ofensiva. No jogo do último sábado, Sturridge brilhou intensamente com um "hat-trick" notável e mais um par de boas ocasiões desperdiçadas. Coutinho foi genial na maneira como colocou a bola para o chapéu que resultou no 3º golo de Sturridge e teve outros pormenores muito bons. O Liverpool venceu 3-1 no difícil terreno do Fulham e deu a nítida impressão de que, quando a máquina está afinada, consegue ser das equipas mais atractivas da Premier League. O problema é que a máquina está mais vezes emperrada do que acertada...
8. Brighton vs Crystal Palace. Apesar de toda a azáfama em torno do Watford-Leicester (em especial do louco 2º jogo), acompanhei com maior atenção a meia-final do Championship entre Brighton e Crystal Palace. 1º jogo, sexta-feira, em Londres. 0-0 foi o resultado. Boa entrada do Brighton e resposta do Palace na 2ª parte, num jogo sem grandes oportunidades. Brilharam o lateral-direito Ward (Palace) e os médios Bridcutt e Hammond no Brighton. A estrela do Palace, Wilfried Zaha, apareceu pouco decidida. No entanto, no jogo de ontem, em Brighton, tudo mudou. Depois de uma 1ª parte muito equilibrada e disputada, apesar do receio em abrir o jogo de parte a parte, assistimos a uma 2ª parte louca, em que o Brighton arriscou um pouco mais, abrindo-se para os contra-ataques letais de um Crystal Palace que contou com um Zaha super-inspirado (2 golos depois de um longo jejum), em velocidade e em termos de concretização em plena área. A entrada do ala Bolasie também se revelou decisiva para que o jogo mudasse a favor do Palace (grande lance antes do primeiro golo). De destacar ontem, ainda, a exibição do lateral-esquerdo Moxley (muito concentrado a defender) e dos médios Jedinak e Digkacoi. Um Palace que contra as expectativas se superiorizou a um Brighton quiçá um pouco sobrevalorizado. E agora venha a final, dia 27 de Maio. Palco: Wembley. Precisamente 2 dias depois da final da Champions, Watford e Crystal Palace jogam a última vaga de acesso à Premiership. Venha de lá essa disputa de craques. Vydra, Forestieri, Deeney, Chalobah, Zaha, Ward ou Bolasie no mesmo campo parece-me um cartaz bastante apelativo!
9. 19 anos depois, PSG campeão francês. Total mérito de Ancelotti na conquista do 3º título da história do PSG. Tal como comentava outro dia no Twitter: o PSG pode ter grandes jogadores mas é preciso um treinador competente para conseguir obter sucesso com tamanha chuva de estrelas. Ancelotti soube capitalizar a seu favor o ego de Ibra, trabalhou muito bem o seu 4x4x2 (com variante 4x3x3) e fez explodir ainda jogadores como Lucas ou Verratti no seu primeiro ano ao mais alto nível. A vitória sobre um Lyon irregular (1-0, com golo de Ménez) veio oficializar aquilo que há muito vinha parecendo certo: a conquista da Ligue 1. Principais obreiros, além de Ancelotti: Ibrahimovic, Thiago Silva, Matuidi, Lavezzi e Jallet. Está de volta o grande PSG!
10. Lucas Biglia. É aquele jogador de qualidade, que continua num campeonato menos consagrado, debaixo da mira de grandes clubes, mas que, por enquanto, não sai de lá. Continuo a ter a sensação de que Biglia tem futebol para mais que a Liga belga (com todo o respeito que ela me merece). Aos 27 anos, este internacional argentino, médio-centro, vai criando raízes no interessante mas não tão competitivo futebol belga. A sua qualidade de passe, visão de jogo, capacidade de organização e inteligência sobressaem quando observo um jogo do Anderlecht. Continua a ser um jogador sem grande velocidade mas a sua competitividade continua a ser tremenda. Ficava bem numa grande liga, de preferência num clube que jogue a Champions regularmente. Fala-se no Arsenal. De facto, seria interessante vê-lo no esquema de Wenger. Mas a questão que fica é a seguinte: para quando essa saída?...