quinta-feira, 31 de julho de 2014

IFK Gotemburgo: uma breve análise técnico-táctica e o um-por-um do plantel


Finalmente, chegou o dia! A tão ansiada estreia do Rio Ave na Liga Europa chega numa quinta-feira de Verão, ao som do Snart Skiner Poseidon, o hino do adversário Gotemburgo, criado em 2009 pelo ex-jogador do clube Joel Alme. É verdade, será na Suécia que será dado o pontapé de saída para a época oficial das equipas portuguesas na Europa. Pela frente, os vilacondenses terão um adversário que ocupa, actualmente, a 6ª posição da Allsvenskan, o principal campeonato de futebol sueco e que vem já de duas eliminatórias europeias, ambas ultrapassadas com sucesso, perante os luxemburgueses do Fola Esch e os húngaros do Gyori ETO.

Este Gotemburgo é, de facto, um oponente difícil e que leva uma cadência de jogo e uma disponibilidade física muito superiores às que o Rio Ave apresentará por estas alturas. Treinada por Mikael Stahre, a formação sueca apresenta como desenho táctico habitual o 4x4x2, sendo que tem como variante principal o 4x2x3x1 (que se pode desdobrar num 4x4x1x1 ou num 4x5x1). Equipa perfilada para jogar em contra-ataque, caracteriza-se pela velocidade dos seus homens mais adiantados, aos quais se acrescenta o talento do jovem Sam Larsson e o critério com bola dos médios Mahlangu e Jakob Johansson. Este é o registo preferido dos suecos, embora tenham vários momentos em organização ofensiva, no qual a velocidade no último terço, as bolas em profundidade e as diagonais dos alas/extremos se revelam verdadeiramente essenciais. Nas laterais, encontram sempre saída, quer em largura quer em profundidade. Por dentro, reina a ordem e o critério no momento de saída, se bem que em transição defensiva a equipa possa ficar um pouco exposta em determinados momentos do jogo.

Naturalmente, o Gotemburgo tem os seus pontos negativos, dos quais se destacam a reduzida flexibilidade dos centrais, o espaço nas costas dos laterais e as brechas que podem existir entre a linha mais recuada e a linha do meio-campo. As coberturas defensivas dos médios-centro nem sempre são as melhores, o que aliado à falta de agilidade dos centrais pode criar um "buraco" a ser explorado pelos rioavistas. Já em termos de bolas paradas, a formação sueca apresenta qualidades do ponto de vista ofensivo, dado que possui jogadores habilitados em termos do jogo aéreo e do aproveitamento de segundas bolas. No entanto, neste tipo de situações mas em termos defensivos, a equipa revela algumas fragilidades, sobretudo quando opta por acções de marcação individual.

Passemos então a uma breve análise individual dos principais jogadores deste Gotemburgo:

Marcus Sandberg: Guarda-redes jovem e com boa compleição física, não atravessa, porém, o seu melhor momento de forma. Algo inseguro e pouco prudente em certas abordagens fora da área, falta-lhe alguma velocidade de reacção a determinado tipo de lances. Ainda assim, já teve exibições interessantes este ano, apesar de ter tido falhas graves recentemente. Talvez fosse mais indicado lançar o experiente Alvbage nesta eliminatória...

Adam Johansson: Lateral já trintão, irá discutir a titularidade na direita com Salomonsson. Internacional sueco, apoia o ataque com algum critério e mostra atributos no desarme. Destro, é razoavelmente rápido e apresenta alguns atributos ao nível do passe e do cruzamento, embora esteja longe de ser um jogador perfeito...

Emil Salomonsson: A outra alternativa para a lateral-direita. Jogador robusto e dinâmico, pode ainda actuar como ala. Rápido, pode melhorar os seus predicados ao nível do cruzamento.

Mattias Bjarsmyr: Central rotinado e experiente, é a principal referência defensiva deste Gotemburgo. Destro, costuma dar uma saída de bola interessante, tentando até abrir jogo através de passes longos. Não é muito rápido, mas costuma ter uma colocação interessante. Apresenta qualidades no desarme, embora não se revele particularmente ágil...

Hjálmar Jónsson: Aos 34 anos, este central islandês tem sido aposta de Mikael Stahre no "onze" inicial, por norma. Possante, este esquerdino pode ainda actuar como lateral. Razoável em termos gerais, apresenta alguns atributos quando bem posicionado, mas falta-lhe alguma flexibilidade e velocidade.

Kjetil Waehler: Muito experiente, é um internacional norueguês já consagrado. Poderoso e com atributos no jogo aéreo, já não dá a mesma resposta em termos físicos (pouco ágil). Provável suplente.

Ludwig Augustinsson: Lateral-esquerdo muito promissor, formou-se no Brommapokjarna (outra das equipas suecas presente nesta Liga Europa) e irá sair em Janeiro para o Copenhaga. É um jogador de propensão ofensiva, subindo com critério no terreno, aliando rapidez à capacidade de dar cruzamentos/assistências. No momento de recuperação defensiva, deve progredir, assim como em algumas colocações. Um dos jogadores com mais futuro desta equipa, pelo menos em teoria...

Jakob Johansson: Um dos elementos-chave desta equipa. Aos 24 anos, parece pronto para dar o salto para outro patamar competitivo, embora saiba bem vê-lo na Allsvenskan por possuir qualidades que muitos outros não têm. Jogador forte em termos físicos, possui uma boa saída de bola, além de conferir equilíbrio táctico à equipa. Desarma com qualidade e sobe no terreno, revelando atributos ao nível da meia-distância, de pé direito. Pode ainda jogar como defesa-central, embora não renda tanto aí...

Gustav Svensson: Médio-defensivo com passagens recentes pelo futebol turco e ucraniano, pode ainda jogar em posições mais recuadas, como as de defesa-central ou até lateral-direito. É um jogador correcto, com qualidades ao nível do passe mas por vezes parece-lhe faltar alguma intensidade defensiva e nem sempre faz bem as coberturas. No entanto, é um dos jogadores regulares do "onze" de Mikael Stahre.

May Mahlangu: Outra das figuras desta equipa. Coroado campeão em 2012 ao serviço do Helsingborgs, é um dos elementos fundamentais do IFK na actualidade. Médio completo do ponto de vista físico, transporta bem a bola e revela-se um belo condutor de transições ofensivas. Joga sobre a zona central, actuando preferencialmente a "8", embora possa aparecer na posição "6", "10" ou até como uma espécie de segundo avançado. Remata bem e marca grandes penalidades. Essencial.

Martin Smedberg-Dalence: Ala-direito experiente, revela atributos ao nível do cruzamento e costuma ser opção quando é preciso um jogador que revele capacidade de recuperar posição e ajude a defender. Cumpridor, tem como alternativa o experiente Daniel Sobralense.

Sam Larsson: O maior talento desta formação. Destro, embora actue geralmente a partir da ala esquerda, é um jogador rápido, com boa passada, hábil com bola, apresentando argumentos credíveis no drible e no um-para-um. Pode jogar mais encostado à linha, embora prefira vir por dentro, de forma a potenciar o seu bom remate de pé direito. É um dos jogadores com mais assistências no campeonato sueco. Craque.

Lasse Vibe: O goleador desta equipa. Avançado rápido, móvel e exímio a aproveitar espaços livres, revela uma enorme facilidade em desmarcar-se de forma a ficar em posição privilegiada para atirar à baliza contrária. Pode actuar como referência única do centro do ataque ou mais descaído numa das alas, dado que tem mobilidade e sabe fazer bem as diagonais. Atira com os dois pés e quando joga como ponta-de-lança, revela-se um jogador rápido e vertical, aproveitando o espaço nas costas dos centrais adversários. Como concorrentes, costuma ter Robin Soder (ex-avançado do Leiria, rápido e com interessante jogo aéreo) e o poderoso e veloz Malick Mané.





terça-feira, 29 de julho de 2014

3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões: 15 equipas à procura de um lugar ao sol (que é como quem diz, no "play-off"...)

Esta terça-feira começa-se a disputar uma das eliminatórias mais emocionantes, entretidas e bonitas da Liga dos Campeões, a 3ª pré-eliminatória, aquela cujo prémio é sempre uma das fases de grupos, quer seja da Champions ou da Liga Europa. Logo, estamos perante a primeira grande eliminatória, na verdade, desta competição, onde já entram alguns nomes respeitáveis e que poderão vir a rubricar boas campanhas durante a temporada europeia. Equipas como Zenit, Besiktas, Lille, Dnipro ou Feyenoord, além de campeões como o Celtic, Steaua ou Dinamo Zagreb, procuram aqui dar os primeiros passos rumo a um dos objectivos prioritários da época: o acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, conquistando assim também os cerca de 8 milhões de euros, oferecidos pela UEFA a quem atinge essa fase da prova.

Mais do que o dinheiro, para muitas equipas (a maioria ou todas mesmo, diria...), o importante mesmo é o prestígio e a possibilidade de estar debaixo dos focos do mundo futebolístico. A Liga milionária é uma competição que dá, efectivamente, essa oportunidade aos jogadores que a disputam. Para começar esta ronda, temos três partidas do "caminho dos campeões", jogos, em teoria, equilibrados e de desfecho relativamente imprevisível. A abrir, o campeão checo Sparta Praga recebe os suecos do Malmo (18h30), num confronto entre dois habitués destas andanças. O Sparta, com o seu plantel composto maioritariamente por checos (como é normal naquele país, aliás), vem de um início de época potente, tendo ultrapassado facilmente o Levadia Tallin na 2ª pré-eliminatória, conquistado a Supertaça checa (frente ao Viktoria Plzen) e iniciado o périplo na Gambrinus Liga com um triunfo sobre o Bohemians 1905. Mantém uma base interessante e um registo de futebol coordenado, dinâmico e onde a boa interacção entre médios e atacantes se revela fundamental. Matejovsky, Husbauer (sobre o qual escrevi recentemente), Dockal, Krejcí ou o goleador Lafata parecem prontos para enfrentar uma equipa que está a meio da sua época, lidera confortavelmente a Allsvenskan mas tem deixado algumas dúvidas nas suas últimas exibições...

Hoje ainda, disputam-se mais duas partidas: Slovan Bratislava-Sheriff (19h15) e Debrecen-BATE Borisov (19h30). No confronto entre eslovacos e moldavos, parece-me que tudo mesmo poderá acontecer. O Slovan começou bem a época, com destaque para o esquerdino sérvio Marko Milinkovic, criativo dono de uma capacidade extraordinária de atirar à baliza, mas com os jovens Ninaj ou Soumah a quererem-se lançar na alta roda. Pela frente, estará um adversário cheio de sangue latino, de onde se destacam nomes com ligação ao futebol português (Degra, Joãozinho ou Leonel Olímpio) e outros jogadores que têm rubricado um excelente arranque de competição (o criativo Elkin Blanco ou os avançados Isa e Benson, além da alternativa Juninho Potiguar). Quanto ao confronto da Hungria, será interessante ver o nível actual de uma equipa habituada à Champions, o BATE Borisov, perante um campeão húngaro que sentiu dificuldades para ultrapassar um adversário da Irlanda do Norte, mas que conta com o talento e critério com bola de jogadores como Mihelic ou Varga, além da pujança do gigante de área Sidibé.

Para quarta-feira, temos um quadro de jogos bem mais completo e atractivo. Digamos que a "nata" dos jogos desta eliminatória estará aqui. A jornada começa às 16 horas, no Cazaquistão, com a recepção do Aktobe a um ex-campeão europeu, o Steaua de Bucareste. Os campeões romenos ultrapassaram o competitivo Stromsgodset na última ronda e pretendem dar um passo de gigante rumo à fase de grupos eliminando uma equipa compacta e com atacantes muito perigosos. Para isso, contam com a energia e talento de jogadores como Iancu, Chipciu, Stanciu, Keseru ou do experiente "tanque de área" Lemmaru, além de jovens como Vilceanu ou Gradinaru que têm dado conta do recado neste início de temporada. Meia-hora depois, joga uma das equipas que me cria maiores expectativas para esta eliminatória: o Red Bull Salzburgo. Depois do brilharete na última edição da Liga Europa, já é tempo dos austríacos finalmente conseguirem atingir uma fase de grupos da Liga dos Campeões. Para isso, continuam, para já, a dispor do talento de jogadores como Kampl, Sadio Mané, Jonathan Soriano ou Alan, tendo ainda acrescentado reforços de mais-valia como Peter Ankersen, Massimo Bruno ou o promissor médio-ofensivo francês Naby Keita. O adversário é o Qarabag, campeão de uma Liga que tem evoluído bastante ao longo dos últimos anos, muito por culpa do crescimento económico do próprio país (Azerbaijão).

De seguida, no horário das 17 horas, temos três partidas: AEL Limassol-Zenit, Dnipro-Copenhaga e HJK Helsínquia-APOEL. A equipa russa, orientada por André Villas Boas, tenta chegar onde habitualmente costuma estar, a fase de grupos, sendo que, pelo segundo ano consecutivo, terá de começar nesta eliminatória. Este será o primeiro jogo oficial da equipa de São Petersburgo na temporada 2014/2015, perante um adversário com vários portugueses ou jogadores com ligação ao futebol luso (Cadú, os dois Carlitos, Zezinho ou os brasileiros Diego Barcellos e Luciano Bebê). Interessante também ver o arranque "milionário" para o Dnipro, uma equipa habituada à Liga Europa, mas sem grande experiência de Champions. Os ucranianos não poderão jogar em casa (por força da instabilidade política na região), actuando no "emprestado" Olímpico de Kiev. O arranque de campeonato do Dnipro no último fim-de-semana foi convincente (vitória por 2-0, fora, frente ao Metalurg Donetsk) e a base da última época mantém-se, pelo menos para esta eliminatória. Pela frente, terão o rotinado Copenhaga, que manteve craques como Claudemir, Nicolai Jorgesen ou Cornelius e acrescentou ainda ao seu plantel nomes de respeito como Zanka (formado precisamente no Copenhaga) ou de Ridder. Já na Finlândia, defrontam-se HJK e APOEL, dois acrónimos habituados às lides europeias nesta fase da temporada. Os finlandeses estão a meio da época e já jogaram uma ronda (eliminaram o Rabotnicki da Macedónia), enquanto que os cipriotas estão no arranque, embora apresentem, em boa verdade, um conjunto mais experiente e de maior qualidade. Por lá se mantêm nomes bem conhecidos como Manduca, Nuno Morais, Tiago Gomes, João Guilherme ou Kaká.

Entretanto, entre as 18 e as 19 horas, temos quatro dos jogos certamente mais intensos desta ronda. Para começar, um interessante Grasshoppers-Lille em Zurique. Tal como há um ano, os suíços voltam a defrontar uma formação francesa nesta fase da prova (na altura, foram eliminados pelo Lyon). Para que a história não se repita, contam com a potência e eficácia de jogadores como Dabbur, Caio ou Ngamukol, além do critério dos médios Salatic, Abrashi e Sinkala e do talento do reforço Merkel. Do outro lado, vai estar um Lille ainda sem o português Marcos Lopes mas com nomes importantes como Kalou ou Roux. Uma hora mais tarde, iniciam-se três outras partidas de destaque: Feyenoord-Besiktas, Standard de Liège-Panathinaikos e Ludogorets-Partizan. Na Banheira de Roterdão, vulgo de Kuip, os donos da casa, desfalcados pelas saídas de jogadores como Janmaat, Martins Indi ou Pellè, defrontam um Besiktas que até pode ter perdido os portugueses Manuel Fernandes e Hugo Almeida mas recrutou o possante goleador Demba Ba, juntando-o a um conjunto razoavelmente equilibrado e bem construído pelo "louco" treinador croata Slaven Bilic. Em Liège, no Maurice Dufrasne, um Standard animado pelo grande arranque no campeonato (vitória caseira sobre o Charleroi, por 3-0), recebe um Panathinaikos ainda a necessitar de ritmo competitivo e com um plantel constituído essencialmente de peças que já transitam da época passada. Já em Razgrad, duelo intenso, por certo, entre búlgaros e sérvios, sendo que tanto Ludogorets como Partizan ultrapassaram os rivais da 2ª pré-eliminatória sem qualquer tipo de problemas...

Depois, teremos mais três encontros super-entusiasmantes a finalizar uma primeira mão de grandes emoções. A partir das 19h15, na Dinamarca, defrontam-se Aalborg, campeão da Superligaen e o campeão croata Dinamo Zagreb, este ano bem apetrechado de reforços portugueses (ao todo cinco: Eduardo, Ivo Pinto, Gonçalo Santos, Paulo Machado e, mais recentemente, Wilson Eduardo). Veremos se os dinamarqueses não irão acusar em demasia a perda de Kasper Kusk (grande figura da última época) para o Twente. Entretanto, quinze minutos depois, inicia-se o Maribor-Maccabi Tel-Aviv. Ainda a viver a ressaca da saída do português Paulo Sousa e com Óscar García de novo ao leme da equipa, vem aí eliminatória certamente dura, perante um adversário que esteve na fase de grupos da Liga Europa nas últimas três temporadas. Finalmente, no horário-Champions League, o campeão polaco Legia, com os portugueses Hélio Pinto e Orlando Sá, recebe o Celtic, agora treinado pelo norueguês Ronny Deila. Uma eliminatória que promete entretenimento, pelo nível e qualidade técnica dos polacos e pela maior experiência (agora, é certo, com muita juventude à mistura) dos escoceses.

Serão, portanto, dois dias de entusiasmo e, seguramente, de bons espectáculos, ainda que, para muitas destas equipas, estejamos no início de uma nova temporada. O caminho rumo a Berlim (onde se jogará a final da Champions, a 9 de junho do próximo ano) começa aqui, sejam bem-vindos a mais um grande ano da Liga dos Campeões!

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O que fazer sem Enzo e Gaitán?

Num Verão muito movimentado para os lados da Luz em termos de mercado (sobretudo saídas), dois nomes saltam à vista como possíveis vendas do clube até 31 de Agosto: Enzo Pérez e Nicolas Gaitán. Sendo os dois argentinos peças fundamentais do clube encarnado, serão precisos substitutos à altura, numa época em que o Benfica ambiciona chegar ao bicampeonato. Posto isto, decidi fazer um exercício, equacionando possíveis substitutos para ambos os jogadores...

Médios-centro:

Mario Vrancic: Eleito pela revista Kicker o melhor jogador da 2.Bundesliga na época passada, o médio bósnio de 25 anos (internacional pela Alemanha nas camadas jovens) procura este ano a afirmação no principal escalão do futebol alemão, ao serviço do recém-promovido Paderborn. Jogador disponível do ponto de vista físico, conduz bem a bola e gosta de romper vindo de trás, aparecendo na segunda linha ou na área para finalizar, habitualmente de pé esquerdo, embora também possua atributos com o pé direito. Diria que é uma espécie de "box-to-box", rápido, forte fisicamente, capaz de equilibrar a equipa em fase defensiva e de sair a jogar com relativa facilidade. Jogador de processos simples e eficazes, revela-se assertivo ao nível do passe e disciplinado em termos tácticos. Perfil interessante, nota-se que tem boa escola (Mainz 05). Preço estimado: entre 1,5 e 5 milhões de euros.

Charles Aránguiz: Autor de um Mundial muito interessante no Brasil, este médio formado no Cobreloa poderia vir a ser uma das boas opções para reforçar o meio-campo encarnado neste defeso. Contratado em definitivo pelo Internacional de Porto Alegre antes do Campeonato do Mundo (onde se valorizou...), nunca sairá por menos de 10 milhões de euros, em teoria. Jogador completo do ponto de vista táctico, destaca-se pela qualidade de passe, visão de jogo e maneira como se desmarca na segunda linha, lendo o jogo e atacando os espaços livres com muita astúcia. Vertical e dinâmico, aparece inclusive na área contrária a finalizar, por norma de pé direito. Nos momentos defensivos, revela-se um jogador célere e equilibrado, conseguindo interceptar bolas e desarmando algumas vezes os seus oponentes. Aos 25 anos, já merece pisar os palcos europeus e jogar na Liga dos Campeões! Preço estimado: entre 10 e 15 milhões de euros.

Carlos Peña: Indiscutivelmente, um dos jogadores mais destacados do campeonato mexicano no último ano. Médio-centro todo-o-terreno, Peña destaca-se pela sua rapidez, verticalidade e pela pujança que coloca em cada acção. Quase parecendo um extremo a jogar por dentro, rompe bem na segunda linha e aparece na área adversária em posição de finalização, quer seja com o pé ou de cabeça. Ao longo dos últimos meses, conheceu uma evolução técnico-táctica, progredindo imenso, ao ponto de ter sido observado pelo Manchester United. Jogador com uma notável visão de jogo, faz imensos passes a rasgar ao longo de um jogo, além de possuir também uma boa meia-distância. Não sendo primoroso em termos técnicos, revela-se muito criterioso em todas as suas acções. Mais do que pronto para dar o salto para a Europa, quer-me parecer... Preço estimado: entre 5 e 7 milhões de euros.

Lucas Romero: Indiscutivelmente, um dos "box-to-box" mais interessantes do futebol argentino, demonstrando uma maturidade impressionante para um jogador com apenas 20 anos de idade. Tendo começado como médio mais ofensivo com Gareca, foi recuando no terreno com Flores no último ano, tendo-se destacado pela sua saída de bola, visão de jogo, capacidade de desarme e colocação defensiva. Disponível do ponto de vista físico e rápido nas suas acções, aparece bem em zona de construção, distribuindo jogo com precisão e eficácia, quer através de passes curtos, quer dando passes mais longos. Defensivamente, revela-se um jogador bastante astuto e com velocidade suficiente para ganhar em antecipação. Ofensivamente, é criterioso ao nível do passe, revela inteligência a ler o jogo e sabe aproveitar os melhores espaços livres. Condução, passe, desarme, velocidade, inteligência e dinamismo reunidos num só jogador. Pode assumir mais riscos em alguns momentos e deve melhorar o remate, de forma a tornar-se num jogador ainda mais decisivo. Preço estimado: entre 5 e 10 milhões de euros.

Saúl Ñíguez: Uma das revelações da Liga espanhola na última temporada, tendo sido uma das peças-chave da boa recuperação do Rayo Vallecano de Paco Jémez ao longo do campeonato. Médio de formação ofensiva, destacou-se numa posição mais central em 2013/14, revelando-se um jogador mais maduro e esclarecido. O seu passe pertence ao Atlético de Madrid e, na perspectiva de fazer negócios, uma vez mais, com os colchoneros, esta seria uma opção interessante num quadro de cedência temporária ou definitiva de jogadores. Médio intenso, rápido e com bom jogo aéreo, revela qualidades em antecipação, no desarme e no início de construção. Embora ainda se notem ainda algumas imprecisões na hora de fechar atrás, mostra-se um jogador agressivo e com sentido de equipa. Ofensivamente, revela qualidades ao nível do passe e também do remate de meia-distância, atirando bem com o pé canhoto. Internacional pelas camadas jovens espanholas, seria uma opção interessante para o meio-campo encarnado. Preço estimado: entre 5,5 e 8 milhões de euros.

Josef Husbauer: Interessante médio do Sparta Praga, demonstra já um nível para palcos maiores. Aos 23 anos, este internacional checo tem despertado o interesse de alguns clubes de grandes ligas, como o Marselha, Lazio ou Cagliari. Versátil e dinâmico, Husbauer é um médio de características ofensivas, técnica apurada e interessante visão de jogo. Inteligente a entrar no espaço, revela-se ainda um rematador nato, tanto na segunda linha como na grande área. Destro, embora saiba atirar de pé esquerdo, revela eficácia na hora de atirar à baliza contrária, além de ser um assistente notável. Como possui um bom remate e qualidade de cruzamento, pode ainda bater livres, directos e indirectos. Defensivamente, não é um jogador vistoso, sendo mais prudente actuar junto de um médio de perfil mais defensivo e fixo. Preço estimado: entre 3,5 e 5,5 milhões de euros.


Médio-ala esquerdo (ou direito):

Maxime Lestienne: Há muito que se questiona o porquê deste rapaz ainda não estar numa liga maior. Na verdade, parece-me que esta terá de ser a época do salto, caso contrário poderá correr o risco de estabilizar na Liga belga. Versátil, Lestienne tanto pode jogar na esquerda como na direita e apresenta-se como um jogador veloz, de boa técnica e capaz de criar desequilíbrios em progressão. Hábil com bola e forte a explorar diagonais, revela qualidades no um-para-um, usando o drible que tanto o caracteriza. Esquerdino com boa visão de jogo, dá várias assistências, além de revelar facilidade no remate com ambos os pés. É um jogador de ataque, desequilibrante e capaz de virar um jogo de pernas para o ar graças à inteligência e percepção de entrada nos espaços e à capacidade de definição. Seria uma adição de qualidade ao plantel benfiquista. Preço estimado: entre 10 e 15 milhões de euros.

Óscar Romero: Muito falado recentemente para o Corinthians (onde já joga o seu irmão gémeo Ángel, diga-se), seria uma alternativa para potenciar, algo que Jorge Jesus já revelou, várias vezes, ser capaz de fazer. Médio-ala/extremo esquerdo recentemente chamado à selecção paraguaia, é uma jóias mais recentes do futebol daquele país. No primeiro semestre do ano, foi uma das figuras de um Cerro Porteño que realizou exibições muito interessantes na Copa Libertadores. Esquerdino, revela acutilância no um-para-um ofensivo, algo que está naturalmente aliado à sua boa técnica e velocidade nas acções. Capaz de vir mais por dentro ou de jogar mais junto à linha, executa remates com potência, além de possuir um interessante jogo associativo. Em fase defensiva, revela-se igualmente um jogador útil e bastante cumpridor. Poderá vir a ter um futuro brilhante pela frente, se encontrar o treinador certo para lhe trabalhar virtudes e defeitos. Quem sabe se esse treinador não poderá vir a ser Jorge Jesus... Preço estimado: entre 2 e 5 milhões de euros.

Douglas Costa: Em aparente conflito com o Shakhtar (assim como outros jogadores, que se recusam em regressar à Ucrânia por causa do ambiente instável que se vive por lá...), tem como empresário Kia Joorbachian, amigo de longa data do presidente Luís Filipe Vieira. Posto isto, importa referir que esta seria uma aposta justificada devido à circunstância. Médio-ofensivo versátil, pode jogar em todas as posições da segunda linha do meio-campo. Esquerdino talentoso e com qualidade no um-para-um, evoluiu imenso nos últimos dois anos, associando velocidade, técnica e capacidade de finalização. Forte na condução e no drible, revela-se um assistente arguto, além de atirar bem à baliza. Por vezes, até de cabeça pode criar perigo na área contrária. Jogador de vocação marcadamente ofensiva, seria um reforço de luxo para este Benfica, que não restem dúvidas acerca disso... Preço estimado: entre 12 a 18 milhões de euros.

Lucas Ocampos: Jogador que ainda não conseguiu encontrar o seu espaço no Mónaco, seria uma alternativa interessante para fazer crescer, sem dúvida. Aos 20 anos, pode actuar em qualquer posição no meio-campo ofensivo, embora as suas prestações sejam mais sólidas na ala direita. Embora ainda algo irregular, Ocampos é um ala/extremo à moda antiga, com uma técnica e uma velocidade notáveis. A sua capacidade de desembaraço no um-para-um é digna de nota, assim como o domínio e controlo de bola. Além disso, revela-se um rematador interessante, qualidade que, aliada à sua visão de jogo, o pode catapultar para outros palcos. No entanto, tem um pecúlio algo pobre em termos de golos e assistências. Na Luz, sendo bem trabalhado, creio que poderia crescer muito. No entanto, não deixaria de ser uma aposta de risco... Preço estimado: entre 6 e 10 milhões de euros.

Sadio Mané: Mais um jogador versátil e que poderia encaixar que nem uma luva no plantel encarnado. Ala/extremo que tanto pode actuar nas duas faixas, como até mais por dentro, Mané revela atributos ao nível da finta, no um-para-um, na condução em progressão e no remate. É um jogador robusto, rápido, muito activo e perspicaz a explorar os espaços dados pelos laterais contrários. Destro, mostra ainda atributos ao nível do passe e do cruzamento. Mesmo em fase defensiva, mostra critério e capacidade de entreajuda, embora caia algumas vezes na tentação da falta. Aos 22 anos, pode e deve dar o salto, sempre tendo em conta que deve fazer o upgrade competitivo de um campeonato como o austríaco para um de maiores dimensões. Preço estimado: entre 7,5 e 12 milhões de euros.

Éverton Ribeiro: Figura maior do último Brasileirão, este ala seria sempre um reforço-estrela para o emblema encarnado. Apto para jogar tanto na direita como na esquerda, Éverton Ribeiro é um canhoto de grande qualidade técnica, forte a explorar diagonais e de remate fácil e colocado. Hábil, empresta sempre grande destreza ao jogo ofensivo da sua equipa, além de demonstrar uma visão de jogo e uma qualidade de passe notáveis. No um-para-um ofensivo, revela-se um jogador muito forte, superando geralmente sem grandes problemas os defesas contrários. Capaz de ser decisivo, seria, em teoria, um reforço brutal para qualquer equipa do campeonato português. Preço estimado: entre 8,5 e 15 milhões de euros.









sexta-feira, 4 de julho de 2014

Battiston, a trave de Amoros, a louca correria de Giresse e o "vilão" Schumacher condensados numa tarde no Maracanã

Os livros de História contam-nos sempre um passado bélico e de rivalidade entre França e Alemanha. Essa constatação de ambiente tenso e de grande rivalidade, em termos futebolísticos, leva-nos sempre à noite de 8 de Julho de 1982. No Sánchez Pizjuán, em Sevilha, numa noite quente em todos os sentidos, assistimos a um dos confrontos mais épicos da História dos Campeonatos do Mundo. E se foram tantos os momentos marcantes, daqueles que ficarão para sempre gravados na memória de quem presenciou e de quem assistiu (em directo ou anos mais tarde) a esse encontro. Desde a quase morte de Battiston ao minuto 62, depois de um choque com o assassino (assim ficou conhecido para os franceses, a partir daquele momento) Schumacher, até a uma dramática lotaria de grandes penalidades (onde Schumacher se revelou novamente o vilão francês), passando pela bola na barra de Amoros, a uns bons 35 metros da baliza, já no minuto 90, lance esse que, além de um golo espectacular, teria resultado no provável apuramento francês para a final da prova ou pela louca correria de Giresse ao minuto 98 (imitada, dias mais tarde por Tardelli no Santiago Bernabéu), depois de ter apontado um 1-3, que parecia destinado a colocar os franceses na decisão de 11 de Julho contra os vizinhos do Sudeste, a Itália. 4 anos volvidos, em Guadalajara, México, a história repetir-se-ia, embora com uma vitória mais clara (2-0 para os germânicos, golos dos mitos Brehme e Voller).

Quase 3 décadas depois do último confronto entre França e Alemanha num Campeonato do Mundo, temos reedição deste mítico duelo, desta feita num dos palcos mais propícios a que um jogador de futebol se transcenda e faça história: o estádio do Maracanã. Frente-a-frente, estarão uma França de contra-ataque, bem organizada, com um meio-campo que é misto de trabalho e talento e uma Alemanha bem diferente da da "Antiguidade", com um estilo de posse e recheada de jogadores muito dotados do ponto de vista técnico. Este choque de estilos será interessante, sabendo que ambas as equipas sabem bem o que fazer quando têm a bola. A mobilidade e a rapidez na circulação poderão ser chaves para resolver este jogo, tanto de um lado, como do outro. A França procurará ser mais incisiva e vertical, apostando certamente no espaço que costuma existir nas costas da defesa germânica. As conduções e os movimentos de ruptura de Pogba e Matuidi, no momento de apoio e criação de desequilíbrios ofensivos, serão fundamentais. No ataque, Valbuena será peça-chave na condução e distribuição e é de prever que Deschamps aproveite a velocidade no espaço de Griezmann para este jogo. Ainda no ataque, será essencial que apareça o melhor Benzema, algo que não se viu demasiado no jogo frente à Nigéria (embora até tenha realizado uma fase de grupos excepcional).

Já Joachim Low deverá manter-se fiel ao seu 4x3x3, jogando desta feita com Lahm na lateral direita, de forma a que a Mannschaft possa ter maior profundidade e consistência naquele sector. As acções de Khedira, Schweinsteiger e Kroos, em condução e passe e a mobilidade/permutas do trio ofensivo serão pontos fundamentais da abordagem que Low pretenderá fazer a este encontro. Para os centrais franceses (Varane-Sakho, embora Koscielny tenha feito um jogo quase imaculado a fechar por dentro contra a Nigéria), poder-se-á esperar, certamente, uma noite de muito trabalho. Atrás, uma vez mais, a capacidade de Neuer jogar como líbero poder-se-á revelar essencial, dado que a linha defensiva ainda revela alguma tendência para se organizar de forma incorrecta. No fundo, é quase certo e sabido que os alemães terão mais bola e procurarão ser dominadores, enquanto que é de esperar que a França promova uma abordagem inicial mais pragmática e de aposta constante na contra-ofensiva. Um duelo que, esperamos nós, irá respeitar os pergaminhos do passado. Paixão, belicismo, rivalidade e emoção num encontro muito bonito. Senhores, ponham a bola a rolar!

"Onzes" iniciais:
França: Lloris; Debuchy, Varane, Sakho, Evra; Cabaye, Pogba, Matuidi; Valbuena, Benzema, Griezmann.
Alemanha: Neuer; Lahm, Boateng Hummels, Howedes; Khedira, Schweinsteiger, Kroos; Muller, Klose, Ozil.