sexta-feira, 4 de julho de 2014

Battiston, a trave de Amoros, a louca correria de Giresse e o "vilão" Schumacher condensados numa tarde no Maracanã

Os livros de História contam-nos sempre um passado bélico e de rivalidade entre França e Alemanha. Essa constatação de ambiente tenso e de grande rivalidade, em termos futebolísticos, leva-nos sempre à noite de 8 de Julho de 1982. No Sánchez Pizjuán, em Sevilha, numa noite quente em todos os sentidos, assistimos a um dos confrontos mais épicos da História dos Campeonatos do Mundo. E se foram tantos os momentos marcantes, daqueles que ficarão para sempre gravados na memória de quem presenciou e de quem assistiu (em directo ou anos mais tarde) a esse encontro. Desde a quase morte de Battiston ao minuto 62, depois de um choque com o assassino (assim ficou conhecido para os franceses, a partir daquele momento) Schumacher, até a uma dramática lotaria de grandes penalidades (onde Schumacher se revelou novamente o vilão francês), passando pela bola na barra de Amoros, a uns bons 35 metros da baliza, já no minuto 90, lance esse que, além de um golo espectacular, teria resultado no provável apuramento francês para a final da prova ou pela louca correria de Giresse ao minuto 98 (imitada, dias mais tarde por Tardelli no Santiago Bernabéu), depois de ter apontado um 1-3, que parecia destinado a colocar os franceses na decisão de 11 de Julho contra os vizinhos do Sudeste, a Itália. 4 anos volvidos, em Guadalajara, México, a história repetir-se-ia, embora com uma vitória mais clara (2-0 para os germânicos, golos dos mitos Brehme e Voller).

Quase 3 décadas depois do último confronto entre França e Alemanha num Campeonato do Mundo, temos reedição deste mítico duelo, desta feita num dos palcos mais propícios a que um jogador de futebol se transcenda e faça história: o estádio do Maracanã. Frente-a-frente, estarão uma França de contra-ataque, bem organizada, com um meio-campo que é misto de trabalho e talento e uma Alemanha bem diferente da da "Antiguidade", com um estilo de posse e recheada de jogadores muito dotados do ponto de vista técnico. Este choque de estilos será interessante, sabendo que ambas as equipas sabem bem o que fazer quando têm a bola. A mobilidade e a rapidez na circulação poderão ser chaves para resolver este jogo, tanto de um lado, como do outro. A França procurará ser mais incisiva e vertical, apostando certamente no espaço que costuma existir nas costas da defesa germânica. As conduções e os movimentos de ruptura de Pogba e Matuidi, no momento de apoio e criação de desequilíbrios ofensivos, serão fundamentais. No ataque, Valbuena será peça-chave na condução e distribuição e é de prever que Deschamps aproveite a velocidade no espaço de Griezmann para este jogo. Ainda no ataque, será essencial que apareça o melhor Benzema, algo que não se viu demasiado no jogo frente à Nigéria (embora até tenha realizado uma fase de grupos excepcional).

Já Joachim Low deverá manter-se fiel ao seu 4x3x3, jogando desta feita com Lahm na lateral direita, de forma a que a Mannschaft possa ter maior profundidade e consistência naquele sector. As acções de Khedira, Schweinsteiger e Kroos, em condução e passe e a mobilidade/permutas do trio ofensivo serão pontos fundamentais da abordagem que Low pretenderá fazer a este encontro. Para os centrais franceses (Varane-Sakho, embora Koscielny tenha feito um jogo quase imaculado a fechar por dentro contra a Nigéria), poder-se-á esperar, certamente, uma noite de muito trabalho. Atrás, uma vez mais, a capacidade de Neuer jogar como líbero poder-se-á revelar essencial, dado que a linha defensiva ainda revela alguma tendência para se organizar de forma incorrecta. No fundo, é quase certo e sabido que os alemães terão mais bola e procurarão ser dominadores, enquanto que é de esperar que a França promova uma abordagem inicial mais pragmática e de aposta constante na contra-ofensiva. Um duelo que, esperamos nós, irá respeitar os pergaminhos do passado. Paixão, belicismo, rivalidade e emoção num encontro muito bonito. Senhores, ponham a bola a rolar!

"Onzes" iniciais:
França: Lloris; Debuchy, Varane, Sakho, Evra; Cabaye, Pogba, Matuidi; Valbuena, Benzema, Griezmann.
Alemanha: Neuer; Lahm, Boateng Hummels, Howedes; Khedira, Schweinsteiger, Kroos; Muller, Klose, Ozil.


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