terça-feira, 22 de abril de 2014

Mou e a filosofia de um Padre que lhe valeu um sorriso rumo a Lisboa

Nos idos do século XVII, um padre português revolucionou a maneira de dar os sermões e a sua oratória tornou-se numa referência para gerações e gerações vindouras. O seu nome era António Vieira e ficou conhecido pela eloquência no discurso, pela maneira como lutou pela defesa dos povos indígenas e pela abolição da escravatura. Todos nós, portugueses, decerto, conheceremos esta figura, nem que seja só pelo nome. Esta noite, na capital espanhola, um português da era moderna soube seguir algumas das sábias filosofias do mentor de há 4 séculos atrás...

O Padre António Vieira disse, certo dia, que "as cidades com ferro se defendem e não com ouro". Penso nesta frase quando reflicto acerca da maneira como o Chelsea defendeu esta noite no Vicente Calderón. Foi, de facto, uma defesa de ferro que permitiu à equipa londrina sair sem golos sofridos de um estádio onde, para muitos (diria, quase todos), tem sido impossível sair consentir. A estratégia estava bem delineada: linhas baixas, recuo estratégico dos extremos (Ramires e Willian) e um claro 4x1x4x1, construído para defender com ordem e prudência, tentando depois explorar alguma verticalidade desses mesmos extremos. Ok, a primeira parte da estratégia correu na perfeição, a segunda nem tanto (os alas pouco desequilibraram e o pobre Torres lá ficou desamparado na frente). 

Ao ver o Atlético hoje e a sua incapacidade para contornar o autocarro blue, veio-me à cabeça outra frase do Padre António Vieira: "Muito mais para temer é o inimigo oculto e dissimulado que o descoberto". Com isto quero dizer que este Chelsea dissimulado e revestido de cinismo acaba por se tornar muito mais perigoso do que um Chelsea, embora sempre pragmático, um pouco mais incisivo e letal no último terço. Diego Simeone, El Cholo, sabe que os seus se sentem como peixes na água a jogar em contra-ataque e com espaços contra adversários mais competitivos. Hoje, de forma pouco afortunada para os colchoneros, não foi possível jogar nesse registo. A equipa foi pouco profunda nos primeiros 45 minutos e, embora os laterais tenham aparecido muito mais no segundo tempo, nunca foi capaz de concretizar uma única ocasião. Na verdade (e o próprio Mourinho referiu-o no fim do jogo), nenhum dos guarda-redes realizou uma única defesa verdadeiramente determinante durante os 90 minutos...

E assim, o jogo terminou empatado a zero. Mérito para o 4x1x4x1 de Mou, com uma dupla de centrais notável a despejar bolas da área (Cahill e Terry), secundada por um terceiro central de um enorme pulmão (John Obi Mikel). No ataque, Torres foi uma ilha no meio da floresta colchonera. Por fora, poucas bolas lhe foram lançadas, na verdade. O Atlético, melhor na segunda parte, graças às incursões de Juanfran e Filipe Luís e à entrada assertiva de Arda Turan, não foi capaz de derrubar uma autêntica muralha, erguida por um especialista em destruição/detonação de adversários nestas eliminatórias. Mourinho, assim como António Vieira, foi fiel aos seus princípios e soube assim dar um Sermão defensivo aos peixes de Simeone.

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