quarta-feira, 2 de abril de 2014

Sevilha: Uma equipa pragmática que sonha conquistar (de novo) a Europa

Depois de uma eliminatória em que foi do Inferno ao Céu, o Sevilha entra para estes quartos-de-final da Liga Europa com a certeza de que, pelo menos em teoria, terá um dos adversários mais difíceis que lhe poderia ter calhado. Também o FC Porto, por outro lado, pode considerar o Sevilha um dos adversários mais complicados que lhe poderia ter calhado. Ora, o que vale a equipa andaluza então?

O Sevilha de Unai Emery é, de certa forma, uma equipa avessa ao risco, que gosta de jogar pelo seguro e que se destaca sobretudo pelos elementos de maior valia que possui do meio-campo para a frente. Partindo de uma base em 4x2x3x1, com o 4x4x2 como variante, a formação do Sul de Espanha entrará para o jogo do Dragão na expectativa, procurando não desposicionar-se atrás e tentando explorar a velocidade dos seus homens mais adiantados. Há que destacar, por certo, as ausências, por castigo, do central Fazio e do pivot defensivo M´Bia, dois jogadores importantes para garantir o equilíbrio dos sectores mais recuados.

O segredo para que o FC Porto impeça este Sevilha de criar muito perigo passará muito pela forma como a equipa de Luís Castro irá lidar com o perigo chamado Ivan Rakitic. O talentoso médio croata tem rubricado uma época tremenda e quanto mais os dragões limitarem o seu raio de acção, mais dificuldades em encontrar espaços terá a equipa sevilhista. Sem o seu elemento mais criativo a distribuir jogo, será complicado activar as movimentações de jogadores como Reyes, Marin ou Bacca. Impedir as diagonais de Reyes ou Marin (caso joguem, claro...) ou as loucas correrias no espaço do goleador Bacca podem ser também chaves para resolver esta eliminatória com sucesso.

O Sevilha é uma equipa organizada, que pressiona bem no meio-campo e que é bastante agressiva na tentativa de recuperar a bola. Em organização ofensiva, Rakitic é a chave. Em transição ofensiva, o croata é também importante a lançar bolas em profundidade e a iniciar desequilíbrios, combinando de forma rápida com os três elementos mencionados no parágrafo anterior. O jogo recente com o Real Madrid mostrou, em toda a sua plenitude, alguns destes aspectos: transição rápida, com Reyes e Rakitic a activarem a desmarcação vertical e no espaço do veloz e perspicaz Carlos Bacca.

Em termos defensivos, este Sevilha organiza-se num bloco médio, sendo que em vantagem no marcador tem tendência a baixar as linhas de forma bem vincada. Apesar de possuir jogadores de elevada estatura (Fazio, Iborra, M´Bia ou Navarro, por exemplo), esta equipa revela algumas fragilidades no jogo aéreo defensivo, que podem eventualmente ser exploradas pelos portistas, sobretudo em lances de bola parada. Além do mais, falta alguma velocidade e flexibilidade ao duplo-pivote e à linha defensiva, deixando filtrar algumas bolas entre-linhas ou nas costas da defesa.

Quanto às bolas paradas, há que ter em atenção jogadores como Iborra, Daniel Carriço ou Fazio (que não joga esta 1ª mão) e a qualidade das bolas colocadas por Rakitic na área contrária. Na defesa deste tipo de lances, há que ter em consideração o facto do Sevilha marcar ao homem e não à zona, o que pode incitar o FC Porto a explorar as desmarcações em antecipação dos seus atacantes.

Um-por-um:

Beto: Guarda-redes de bons reflexos, ágil, felino, muito forte a lançar-se às bolas, apesar da sua estatura (relativamente baixinho para um guarda-redes de topo...). Por vezes, exagera na espectacularidade dos seus voos e é demasiado ousado nas saídas. Ainda assim, pode ser considerado um dos pontos fortes desta equipa.

Javi Varas: Alternativa directa a Beto, não tem tido muitas opções, embora até tenha jogado no último fim-de-semana, devido a um problema físico do português. É uma alternativa credível, em teoria. Sem ser muito alto (1,82 m), tem reflexos interessantes, sai bem da baliza, embora também deixe algumas dúvidas com os pés. Fez uma exibição incrível da última vez que o Sevilha visitou o Dragão, há 3 épocas.

Coke: Lateral que gosta de apoiar o ataque, desprende-se bem e aparece inclusive em zonas de finalização (já apontou 5 golos esta época). Voluntarioso em termos defensivos, revela, porém, dificuldades no um-para-um contra jogadores mais velozes e tecnicistas.

Diogo Figueiras: Começo tremido no clube andaluz, tendo vindo a subir de rendimento progressivamente. Diria que Unai Emery soube explorar as suas qualidades em várias partidas: boa projecção ofensiva, qualidades interessantes no um-para-um em fase ofensiva e jogador aplicado a compensar defensivamente. Ainda assim, continua a mostrar alguma debilidade na hora de travar cruzamentos laterais.

Nico Pareja: Central interessante e experiente, dá boa saída de bola, tanto em passe curto, como em passe longo. Capaz de fazer bons desarmes, não mostra, porém, grande velocidade, sendo que muitas vezes é apanhado em contrapé em certas jogadas rápidas dos adversários. Internacional argentino, é um dos indiscutíveis de Unai Emery.

Federico Fazio: Alto, forte no jogo aéreo, característica que tão bem explora em lances de bola parada ofensivos, tal como Pareja não tem na velocidade um atributo. Como é bastante forte e lê bem os lances, é um jogador praticamente insuperável dentro da sua área. É o central mais promissor do Sevilha, embora precise de melhorar em alguns aspectos como, por exemplo, na reacção à entrada de bolas nas suas costas.

Daniel Carriço: Central que deverá jogar como trinco no Dragão, devido ao castigo imposto a M´Bia. Forte nos lances de bola parada (mesmo não sendo muito alto...), mostra-se certinho ao nível do passe e competente em acções defensivas. Melhorou com Unai Emery, visto que no Sporting demonstrava, por vezes, alguma lentidão e falta de agressividade em lances-chave.

Fernando Navarro: Lateral-esquerdo que também pode jogar como defesa-central (provavelmente irá desempenhar essa função no Dragão). Robusto, tende a fechar muito por dentro, mesmo quando joga como lateral (deixa algum espaço por fora, ficando a equipa por vezes desprotegida). Os anos vão passando e velocidade deixou de ser um atributo (vem sempre à memória a maneira como deixou entrar Marcos Tavares nas suas costas no Maribor-Sevilha, permitindo um golo aos eslovenos...).

Alberto Moreno: Lateral de uma projecção ofensiva muito considerável, foi um dos responsáveis maiores pelo apuramento do Sevilha frente ao Betis, ao fazer as duas assistências que permitiram aos nervionenses levar o jogo do Benito Villamarín a prolongamento. Cruza bastante bem (de pé esquerdo) e bate inclusive algumas bolas paradas. Revela qualidade de passe, velocidade nas desmarcações e competência no jogo associativo. Defende com bastante critério. É, sem margem para dúvidas, um dos laterais mais promissores do futebol espanhol e europeu!

Vicente Iborra: Jogador de perfil físico, mais um extremamente útil no aproveitamento das bolas paradas ofensivas, aparecendo muitas vezes ao 1º poste, tentando a antecipação aos defensores contrários. Alto, possante, deixa as suas costas desprotegidas nalgumas situações, tendo de recorrer à falta em diversas situações. A nível de passe, cumpre relativamente bem, sem ser um jogador excepcional.

Stéphane M´Bia: Castigado no primeiro jogo, o camaronês pode ser baixa importante. Bastante poderoso fisicamente, confere bastante equilíbrio à zona mais recuada do meio-campo. Implacável nas marcações, usa bem o corpo para importunar as acções dos adversários. Revela alguns atributos técnicos interessantes, além de dar uma saída de bola segura e tranquila à equipa. Belíssimo jogador.

Ivan Rakitic: O "cérebro" da equipa. Destro (embora também saiba utilizar o pé esquerdo), é ele o construtor das principais jogadas de perigo do Sevilha. Jogador hábil, de fino recorte e notável visão de jogo, é claramente o alvo a abater pela formação azul-e-branca. Em 4x2x3x1, actua como médio-ofensivo, jogando um pouco mais recuado no duplo-pivote do alternativo 4x4x2 de Emery. Leva já 11 golos e 18 assistências em 41 jogos oficiais esta temporada. Destaca-se pelos golos que dá, embora também se revele um bom finalizador.

José Antonio Reyes: Jogador talentoso, que soube suplantar uma lesão chata que o apoquentou no início da temporada. Ala veloz e com salero, mostra grande astúcia nas movimentações na 2ª linha do meio-campo, vindo muitas vezes de fora para dentro, procurando um remate ou uma assistência de pé esquerdo. Costuma actuar do lado direito, até porque o lado esquerdo já está bem preenchido. Quando está em forma, é uma das figuras da equipa, jogador capaz de decidir em qualquer campo.

Vitolo: Ala que, tal como Reyes, gosta de flectir para dentro, foi um dos reforços de destaque do último Verão para o conjunto sevilhano. Destro, possui uma mobilidade interessante e boa qualidade técnica, além de se revelar abnegado quando lhe pedem para realizar tarefas mais defensivas. É um dos jogadores com mais assistências nesta equipa (cinco, ao longo de toda a época).

Marko Marin: Ainda não revelou em Sevilha todo o futebol que o levou a ser contratado para o Chelsea mas, de todas as formas, é um dos elementos tecnicamente mais dotados da equipa de Emery. Participativo, gosta de romper por dentro, criando desequilíbrios através do drible ou de um excelente jogo associativo. Inteligente a atacar os espaços e a construir jogadas, falta-lhe só um pouco mais de regularidade para se tornar um indiscutível.

Piotr Trochowski: Jogador de uma grande disponibilidade física e táctica, revela-se atinado na condução de bola e no aproveitamento das suas características mais destacadas (técnica e qualidade de passe). Não sendo um indiscutível, parece-me uma opção de banco bem válida. Pode jogar descaído na ala esquerda ou mais por dentro.

Jairo Samperio: Jovem talentoso, pode ser um bom revulsivo saído do banco. Tem técnica, descaramento e golo. Falta-lhe naturalmente ganhar maior consistência táctica e na tomada de algumas decisões, mas o potencial está lá. O FC Porto deve tê-lo debaixo da mira!

Carlos Bacca: De pescador a um dos melhores avançados da Liga espanhola em 5 anos. A história deste colombiano (que já leva 19 golos esta temporada!) bem que podia dar um filme, tendo também por base toda a qualidade e garra que coloca em campo. Veloz, forte nas desmarcações nas costas da defesa contrária, ataca muito bem o espaço e finaliza com grande qualidade. Dentro da área, o "9" do Sevilha mostra ainda bons atributos no jogo aéreo. A mobilidade e a qualidade de remate são as chaves do sucesso deste astuto finalizador. Vai ter seguramente um bom confronto contra o compatriota Jackson Martínez.

Kévin Gameiro: Outro finalizador-nato, talhado para jogar em cunha com Bacca, no tal 4x4x2 que o técnico do Sevilha muito bem poderá apresentar no jogo de hoje. Avançado de boa mobilidade e capaz de cair nas faixas, procura bem os espaços e revela características interessantes no jogo associativo. 14 golos esta época provam que ele é um avançado letal e muito perigoso quando lhe concedem espaço para o remate. Tem faro de golo.





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