terça-feira, 30 de outubro de 2012

Notas soltas do fim-de-semana (30/10/2012): De um colombiano rei a um Palacio encantador passando pela saudade do Rio de Prata

1. Um colombiano que vale ouro. Está a ser uma das grandes revelações da edição 2012/2013 da Liga Zon Sagres. Muitos desconfiavam, mas a verdade é que ele está a superar as expectativas. Falo-vos, claro está, de Jackson Martínez. Autor de 9 golos em 11 jogos na estreia no futebol europeu. Depois de ter ajudado o Porto a conquistar mais três importantes pontos na Champions League (marcou dois golos), Jackson voltou a revelar-se decisivo, desta feita no Estoril, em jogo da 7ª jornada da Liga. Já na 1ª parte se viu como os colegas lhe tentavam colocar bolas a jeito, para este finalizar. Perante tamanha falta de aceleração do conjunto portista, Jackson ia sendo dos mais mexidos. Até que chegou o segundo tempo. Foi aí que tudo mudou: o Porto passou a pressionar mais alto, a jogar mais próximo da área do Estoril e aí apareceu o novo "9" do Dragão, mais uma vez a decidir. Uma arrancada fulgurante, olhando para o sítio para o qual ia cruzar para o golo de Varela e um desvio de cabeça sublime fizeram as delícias dos aficionados portistas. Jackson está em grande forma. Além disso é rápido em espaços curtos (como se viu no 1º golo), frio na finalização e começa a recepcionar cada vez melhor a bola. Um killler instinct a fazer lembrar o compatriota Falcao (para já até leva melhor média inicial que El Tigre).
2. Éder faz-nos sonhar... Finalmente parece que temos um grande ponta-de-lança português no pós-Pauleta. Falo de Éder. Para já está a ser uma das grandes revelações da temporada. Já o ano passado, antes de ter sido afastado depois de uma confusão com a Académica, mostrava desenvolvimentos no seu trabalho: segurava a bola cada vez melhor, apresentava um melhor registo em frente à baliza e trabalhava mais e melhor em prol da equipa. Passado meio ano sem jogar, não se confirmam os receios: está cada vez melhor. Afastou em definitivo o Éder trapalhão e aparentemente preguiçoso do início de carreira. Domina cada vez melhor a bola, remata com maior incisão, trabalha em consonância com a equipa, no fundo, está feito um ponta-de-lança de classe. Para já é, junto com o rapaz de que falei no ponto anterior, o melhor marcador da Liga. Tem 6 golos, 2 deles marcados nesta jornada, no Caldeirão dos Barreiros, frente a um Marítimo que tem um trauma a jogar em casa este ano. O primeiro, então, é uma delícia. Remate à meia-volta, sem hipóteses. A prova de que temos, definitivamente, avançado! Paulo Bento agradece...
3. Por falar em goleadores, Lima e ainda o prodígio André Gomes. Continuando com a conversa dos matadores, falo de Lima. O brasileiro fez um jogo maravilhoso no passado sábado em Barcelos. Aliás, tem feito, até agora, uma época maravilhosa. Começou aos 90 segundos, correspondendo de cabeça a um cruzamento de Maxi Pereira, após arrancada prodigiosa de Enzo Pérez. Depois continuou no resto da primeira parte. Um autêntico recital de futebol. O segundo golo define a importância de Lima, actualmente, no "onze" encarnado: gizou com Luisinho lance fantástico, de trocas sucessivas de bola, até assistir o lateral português para o golo. Um excelente golo, mais pela jogada do que propriamente pelo movimento em si. Portanto, com a sua mobilidade, inteligência e capacidade finalizadora, Lima vai mostrando que o dinheiro investido em si será rapidamente amortizado. Depois temos André Gomes: o portuense de 19 anos, nascido portista (o futebol tem estas curiosidades maliciosas...) mas pronto a rebentar enquanto jogador do Benfica. Para já registo sublime: 2 jogos, 2 golos. Mas mais que os golos é a sua influência na construção de jogo, o seu sentido táctico e o perfume que empresta ao jogo do Benfica que o fazem notabilizar-se. Um excelente projecto de jogador, com origens nortenhas e consolidação made in Seixal.
4. Duelo de grandes guardas-redes. Espaço agora aos keepers. Dirão vocês, e com alguma razão, que eu falo pouco dos guarda-redes. Sendo eles peças tão importantes quanto todos os outros jogadores que entram em campo, aproveito para fazer uma reflexão no rescaldo do assustador (efeitos de Halloween, talvez) Sporting-Académica: não me lembro, em muito tempo, de ver um jogo em que ambos os guarda-redes eram as figuras das equipas. Aconteceu em Alvalade, onde tudo o que é bizarro parece que pode acontecer (e acontece!). Rui Patrício e Ricardo confirmaram a excelente forma, num jogo com poucas ocasiões, mas em que eles, os guardiões do templo sagrado a que se convém chamar baliza, se revelaram figuras de proa. Quanto ao jogo algumas notas: horrível da parte do Sporting, suficiente da parte da Briosa (os academistas com maior ousadia e frescura física poderiam ter ganho facilmente em Alvalade). Vercauteren terá ficado certamente assustado com o que viu do leão (mais uma vez, depois do desastre em Genk). Ainda uma referência individual: grande exibição do academista Keita. Enorme no trabalho a meio-campo, ganhando imensas bolas e, sempre que pôde, lançando os seus companheiros com passes certeiros.
5. Chelsea-Man.United. Foi dos grandes jogos do fim-de-semana. O United ganhou 3-2, com polémica à mistura, embora eu prefira cingir-me ao aspecto futebolístico da coisa: grande entrada do United, pressionando alto e colocando em evidência a fragilidade de Obi Mikel (continuo sem perceber o estatuto de indiscutível num jogador que, embora com qualidades ao nível do passe e no combate físico, é distraído e por vezes falha gravemente nas marcações) e, sobretudo, do lateral Ashley Cole (péssimo primeiro tempo, todos os golos tiveram origem em falhas no seu lado). Grande início de Van Persie, cada vez mais o guia espiritual deste United 2012/2013. No entanto, o Chelsea lembrou-se de começar a pressionar mais alto, com a dupla Ramires-Mikel a aparecer mais vezes no meio-campo contrário. Com Oscar sempre a trabalhar e a recuperar algumas bolas e Mata e Hazard a espalhar magia, o Chelsea tinha tudo para recuperar. Com um livre de Mata, à beira do intervalo, e um golo de Ramires, no início do segundo tempo, os blues restauraram a igualdade (o United vencia 2-0 desde o minuto 13, auto-golo de David Luiz e remate imparável de Van Persie). Pareciam capazes de partir para cima dos red devils, completamente atordoados. Só que por essa altura (por volta do minuto 60), o jogo começou a mudar: Ivanovic e Torres foram expulsos, quase de seguida, e o Chelsea ficou à mercê do United. Ferguson colocou em campo Giggs e Chicharito, sendo que o mexicano resolveu, em fora-de-jogo. Depois foi gerir até final, de forma pragmática, uma vantagem super importante. Para já o United recupera o ânimo mas ainda não me convenceu na totalidade. Vi bom futebol, acutilante, pressionante, de início, mas depois também vi como a equipa do Sir Alex Ferguson se perdeu depois do minuto 30, passando a estar a mercê de um quarteto que tanto me maravilha (Ramires-Mata-Oscar-Hazard). Apesar da derrota, o Chelsea pode sair de cabeça levantada. Mas, fica um alerta: depois de terem levado um banho de bola do Shakhtar na Champions (derrota 2-1, com jogo maravilhoso do trio Fernandinho-Willian-Mkitaryan), o Chelsea voltou a quebrar contra uma equipa com boa saída de bola e a apostar forte nas laterais. À atenção de Di Matteo...
6. O dilema Wilshere.  Está de regresso um dos melhores médios que a Premier League tem e que esteve de fora por demasiado tempo, fruto de uma lesão gravíssima. Falo-vos de Jack Wilshere, autêntico cérebro da equipa do Arsenal e possivelmente o médio inglês que melhor conjuga o sentido táctico com classe e qualidade técnica. Pois bem, o jovem de 20 anos regressou ao onze de Wenger contra o QPR, este fim-de-semana (1-0, golo de Arteta). Acertou 33 passes em 33 durante a primeira parte. Voltou a classe à equipa do Arsenal mas criou-se um problema: com Wilshere em campo, apareceu menos Cazorla. O espanhol, que tem estado sensacional neste início de época, mostrou pouco futebol. Com Wilshere a melhorar, Cazorla desapareceu em campo. Curiosamente, Wilshere nem apareceu muito perto da área contrária, como faz mais o médio internacional pela Roja. Só que Cazorla, precisamente devido a essa presença, não pôde vir buscar jogo ao meio-campo mais recuado, como habitualmente faz. No fundo, criou-se ali um conflito. Perguntam-se: pode ser resolvido? Eu creio que sim. Quando Wenger adaptar a equipa em função destes 2 craques a equipa vai dobrar ou triplicar o rendimento. Para já, sem grande adaptação e conhecimento de causa, ficou uma sensação de confusão, que tornou o jogo do Arsenal lento e previsível.
7. River-Boca. Tinha saudades do Superclásico. Eu e todos aqueles que adoram ver um estádio cheio, a fervilhar de paixão e dedicação aos clubes envolvidos. Acabou 2-2. Confirma-se, apesar de tudo, uma ideia que vou tendo nos últimos tempos: olhando para as duas equipas vejo cada vez menos jogadores com potencial para singrarem na Europa. Muitos veteranos, algumas promessas por revelar, jogadores banais e promessas perdidas. Para mim o único jogador que me fascinou realmente, neste jogo, foi o benfiquista, emprestado ao River Plate, Rodrigo Mora. Inteligente nas desmarcações, móvel e com sentido de baliza, Mora vai mostrando credenciais importantes, jogando ao lado do veterano David Trezeguet. No global, foi um jogo disputado, entre duas equipas que passam por uma crise de identidade. Faltam, de parte a parte, jovens que assumam o papel de novos craques. No River, e no pós Lamela e Ocampos, surgem Cirigliano e Lanzini como as duas maiores promessas (o primeiro é médio-centro, o segundo médio-ofensivo). No Boca um conjunto experiente, com jogadores interessantes (Tanque Silva, Burdisso, Somoza, Clemente Rodríguez, Viatri, Erviti...) mas sem uma promessa que entusiasme e revolucione as tardes/noites da Bombonera. Acho que a liga argentina está a precisar de um novo Maradona, ou Riquelme ou lá o que seja. Um jovem capaz de entusiasmar e encantar a afición. Para já vamos esperando, pacientes, a chegada do novo Messi(as)...
8. O Inter de Stramaccioni e o factor-Palacio.  Acompanhei no último domingo a deslocação do Inter de Milão até ao difícil terreno do Bolonha. Um Inter que chegava a este jogo em boa forma, no seguimento de uma série de 6 jogos sempre a vencer (juntando Série A e Liga Europa). Como apresentou então a equipa o jovem técnico interista: em 3x1x4x2, com Handanovic na baliza, linha de 3 defesas composta por Rannochia (defesa que apesar da boa compleição física e do jogo aéreo interessante, desposiciona-se e destapa a equipa atrás facilmente), o veterano Samuel e o jovem brasileiro Juan Jesus (forte fisicamente, tem velocidade e tacticamente em progresso, promete...), Mudingayi como trinco (o belga é raçudo, recupera e dá bolas mas por vezes abusa da agressividade), apoiado de perto por Gargano (belo médio, ex-Nápoles, também ele carracinha de trabalho e com bom passe) e pelo internacional argentino Cambiasso (já uma instituição no Inter e em grande forma), com Javier Zanetti e Nagatomo a aparecerem como laterais adiantados, sendo que vão baixando consoante as necessidades da equipa. Depois temos na frente o mais fixo Diego Milito (continua a ter um sentido de baliza fantástico) e um segundo-avançado que, para mim, neste momento, é a chave-mestra desta equipa: Rodrigo Palacio, homem que joga mais solto e que é responsável pela organização dos ataques e contra-ataques do Inter. Não jogando com um médio organizador inicial, o que de início faz alguma confusão (parece muito defensiva a equipa), é Palacio o responsável pela condução da bola em zona ofensiva e geralmente o homem que vem pegar na bola a meio-campo, quando o Inter quer sair em apoio. Em Bolonha, o início até foi complicado, por via da boa pressão exercida pelo meio-campo da casa e por um Gilardino, apoiado de perto por Gabbiadini (promissor avançado emprestado pela Juventus) e atrás pelo organizador Diamanti, em excelente forma. Apesar de tudo o Inter aguentou. Fez-se de forte e pegou no jogo. Não criava muitas ocasiões nem o jogo era brilhante mas a equipa revelava uma solidez táctica que já não se via desde os tempos de Mourinho. Rannochia abriu o marcador, de cabeça, após livre de Cambiasso e aí o Inter sentiu-se completamente seguro. Quando Palacio não baixava lá ia a bola para a frente. Se o argentino recuava e pegava na bola o futebol saía com mais harmonia. No início do segundo tempo, foi mesmo este autêntico craque a decidir: primeiro assistindo Milito, num contra-ataque lançado por Walter Gargano e depois, assistindo outra vez, desta feita para Cambiasso, isolado, marcar, após grande desenho ofensivo dos nerazzurri : Nagatomo ganhou na esquerda, meteu para Palacio, que fintou 2 jogadores, em progressão, deu para Cambiasso, que tocou para Milito, que devolveu para a assistência sublime de Palacio. Tudo quase ao primeiro toque. Se Milito é o Princípe, faltava-lhe um Palacio para viver... Uma bela história de amor este Inter de Stramaccioni. Não fascina mas defende bem e ataca com critério. Faltam só mais opções viáveis, jogadores à campeão, para que o sonho de Moratti se possa concretizar.


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