segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Apontamentos do fim-de-semana(19/12/2011): De Coimbra a Norwich ouvindo a mesma sinfonia catalã da semana passada







Mais um fim-de-semana de muito e bom futebol. Como sempre, à segunda-feira, os meus apontamentos:

1. Académica vs Sporting. Perspectivava uma partida emocionante entre estudantes e leões e de facto assistiu-se a um jogo interessante, com resultado justo(1-1) e domínio repartido. Marcou Éder para a Académica, ao minuto 28, após assistência de Diogo Valente, respondeu Elias, aos 80´, na recarga a um remate de Carrillo defendido por Peiser. Académica melhor na primeira hora de jogo, com o Sporting a responder com algumas jogadas de perigo desperdiçadas. Sporting forte depois dos 60´, a criar mais perigo e a submeter a Briosa a uma pressão constante. Melhores da Académica: Pape Sow( impecável, foi o verdadeiro "pulmão" do meio-campo coinimbricense), Abdoulaye( imperial na defesa), Diogo Valente( incansável, deu muito trabalho a João Pereira e fez a assistência para o golo) e Éder( um golo e mais uma exibição abnegada do "17" da Briosa). Melhores do Sporting: João Pereira( começa a afirmar-se com um dos líderes dos leões), Insua( profunidade constante do lado esquerdo, bela aquisição e bela exibição ontem. O melhor do Sporting) e Carrillo( depois da sua entrada ao intervalo, o Sporting foi outro, com as constantes aceleradelas que puseram a cabeça em água ao lateral recém-entrado Nivaldo).
2. Vitor Pereira e os dilemas do "9". Parece-me evidente que falta ao FC Porto, actualmente, um bom ponta-de-lança, alguém que faça a diferença e que, no fundo, dê confiança também aos companheiros de ataque. Considero que Kléber tem um grande futuro pela frente( Walter, embora vá marcando golos, levanta-me mais dúvidas) e que Hulk tem cumprido nesse papel, mas, ainda assim, falta um homem de área. Penso que é fundamental que o Porto, para afrontar o resto da época com total confiança, contrate um "9" que se adapte rapidamente ao 4x3x3. Penso em Olivier Giroud, revelação do ataque do Montpellier esta época, como exemplo do ponta-de-lança que pode faltar aos azuis-e-brancos. É alto(1,92m), tem 25 anos e já é internacional A por França. Leva 14 golos esta época e é um jogador que vem buscar jogo atrás, domina bem a bola, combina bem com os extremos( o Montpellier joga em 4x3x3) e é letal em frente à baliza. No entanto há mais goleadores que ficariam bem no "onze" dos dragões. Por enquanto, e apesar de tudo, o Porto pratica bom futebol e vai ganhando.  Mas não se deixa de notar a falta desse "9"...
3. Bedi Buval: um dos homens do fim-de-semana. Tem 25 anos e é francês. Leva 3 golos e 1 assistência em 3 jogos na Liga. Um autêntico globetrotter, passou por França, Inglaterra, Dinamarca, Grécia e Polónia antes de chegar ao nosso cantinho à beira-mar plantado. Foi uma das figuras da jornada 13 da Liga Zon Sagres. Bedi Buval, avançado-centro do Feirense, foi mais uma vez decisivo e promete tornar-se num caso sério. Segundo rezam as crónicas( com muita pena minha, ainda não o pude ver ao vivo ou, quanto muito, pela televisão), é mesmo bom de bola. Este fim-de-semana resolveu o encontro do seu Feirense contra a União de Leiria, com dois golos, plenos de oportunismo. Cito a análise do jornal A Bola à sua exibição: " A sua atracção pelo esférico, pelo golo, desenvolve-se de um modo apaixonante, empolgando a plateia e envolvendo todo o colectivo na missão da vitória. Dois golos plenos de oportunidade e tantas outras ameaças de quem se desfaz em promessas". Veremos se é mesmo revelação ou se não passam de meros fogachos na terra das Fogaças...
4. FC Barcelona, a história mais bonita da última década. Pego na incrível capa da excelente revista diária espanhola " SporYou", na sua edição de hoje e que ilustra bem o quão honrados nos podemos sentir por ter a oportunidade de presenciar ao vivo um fenómeno não só desportivo mas também cultural chamado FC Barcelona ou como é popularmente e mundialmente conhecido, Barça. É um hino à cultura, verdadeira poesia em movimento. Vejo o Barcelona de Guardiola a jogar e é como se estivesse a recuperar velhos poemas perdidos, de Pessoa a Neruda passando pelo helenismo de Oscar Wilde, nos passes infinitos de Xavi, no jogo romântico de Iniesta e no zigue-zague constante de La Pulga Messi. Estes, digamos assim, são os três referentes maiores do " futebol-total" deste Barcelona. No entanto, esta equipa distingue-se pelo colectivo, pelo grupo de operários que, em conjunto, torna o futebol um lugar muito mais romântico do que alguns crêem que seja. Este domingo bateram o Santos de Muricy Ramalho, por inapeláveis 4-0, na final do Campeonato do Mundo de clubes. As palavras de Neymar no final da partida ilustram bem o sentimento de impossibilidade de contrariar esta força da natureza:" Hoje assistimos a uma lição de futebol". Pois bem, o certo é que não foram os primeiros nem serão, certamente, os últimos. Marcaram Messi, por duas vezes, Xavi e Fabregás. A dada altura, os poetas de Camp Nou já jogavam num incrível 3x7x0( Muricy ficou escandalizado!), sem avançados, e com todos os 11 elementos da equipa trocando constantemente passes, em absoluta harmonia, sem notarem sequer a presença de 11 valorosos indivíduos que queriam disputar a bola com eles, do outro lado. Chamem-lhe bênção, trabalho, predestinação. O certo é que isto, meus amigos, é poesia. Não expressa por palavras, mas por movimentos, passes, golos, enfim... No entanto, as bases desta poesia não deixam de ser as mesmas da poesia literária: sentimento e paixão.
5. Afinal, tudo vai bem na casa Real. O problema de Mourinho parece que continua a ser os jogos contra o Barcelona. Mal regressa ao campeonato "normal", volta às exibições de sonho e às goleadas históricas. Desta vez, 6-2 em Sevilha. CR7, com três golos, diz "ter calado os críticos". Muitos críticos exageram, é certo, mas Ronaldo tem de assumir a prestação menos conseguida no fim-de-semana passado. De resto, tudo na mesma. Mais uma lição de futebol de um Real fortíssimo, candidadato maior, nesta altura, à conquista do ceptro espanhol. Apesar do Barcelona...
6.  Kevin-Prince Boateng. Um autêntico líder no meio-campo do Milan. Na senda de grandes craques como George Weah ou Seedorf, Boateng tem vindo a assumir um papel cada vez mais importante na transição a meio-campo dos rossoneri. Vê-lo jogar é uma entusiasmante experiência, que nos coloca perante um dos médios de transição mais interessantes dos últimos anos no futebol mundial. Vejam o Milan, só por este ragazzo vale a pena!
7. Raúl: um médio-ofensivo goleador. Foi uma das estrelas do fim-de-semana. Aos 34 anos, Raúl González continua a encantar-nos, a cada semana, com a sua classe, destreza, elegância e eficácia em frente à baliza contrária. Sábado, apontou três golos na goleada do Schalke 04 sobre o Werder Bremen(5-0). Quem sabe, não esquece, já diz o povo...
8. Sebastián Leto. Este argentino, de 25 anos( em tempos apontado ao Benfica) , continua a ser das melhores razões para que se siga uma Superliga da Grécia cada vez mais caída em desgraça. É a referência ofensiva do Panathinaikos de Jesualdo Ferreira, embora possa jogar também na ala esquerda( como médio-ofensivo descaído ou a extremo). Destaca-se pelo seu portentoso remate de pé esquerdo e por ser um jogador veloz a aparecer em zona de finalização. Está cada vez mais próximo daquilo que se pode definir como um avançado-centro. Leva 14 golos e 7 assistências em 12 jogos na Liga. Acredito que esta metamorfose táctico-estratégica feita pelo Professor Jesualdo Ferreira com Leto pode levá-lo, dentro de pouco tempo, a palcos maiores...
9. As variações do Montpellier de Girard. Ora aí está um exemplo de camaleão táctico implementado por René Girard no seu Montpellier. Habitualmente em 4x3x3, mostrou este fim-de-semana uma alternativa interessante mas não tão bela e atractiva quanto a habitual táctica dos homens que lideram a Ligue 1. Desta vez, Girard jogou em 4x2x3x1, na recepção ao Toulouse, com uma dupla de médios a fechar ao meio( Estrada e Saihi), três homens mais adiantados( os habituais extremos Utaka e Dernis um pouco mais recuados e o " 10" Belhanda, jogando precisamente na posição do playmaker) e um único ponta-de-lança( o interessantíssimo Olivier Giroud, sobre o qual já falei no ponto 2 destes apontamentos). Confesso que não tive oportunidade de ver o jogo até final, mas apreciei boa parte das movimentações ofensivas desta equipa. Belhanda é bom de bola, gere com mestria o esférico, embora se note que precisa de evoluir definitivamente como "10". Dernis na direita, flecte constantemente para dentro enquanto que Utaka dá mais profundidade ao jogo, do lado esquerdo. Atrás, dupla que não me convenceu: Estrada e Saihi. Algo lentos, especialmente o último. Quando Marveaux está em campo, tudo se torna diferente. Falando da defesa( Jeunechamp-Yangambiwa-Hilton-Bedimo), não tiveram muito trabalho, mas foram notórias as dificuldades em segurar a perigosa ala esquerda do Toulouse( M´Bengue e Tabanou, dois jogadores muito interessantes). Yanga-Mbiwa parece-me, claramente, o jogador com mais futuro nesta defesa, até porque os outros já são quase veteranos. Foi um bom jogo, o Montpellier dominou, mas não logrou mais que um empate(1-1). Ficam os apontamentos sobre um surpreendente líder, a sonhar, de novo, com os lugares europeus...
10. Norwich: experiência puramente britânica. É uma das equipas que tenho acompanhado com mais atenção neste início de época em Inglaterra. O recém-promovido Norwich City tem na génese o típico jogo britânico, do pontapé para a frente e do jogo puramente físico. Basta, aliás, olhar para o seu médio-ofensivo/avançado Morison( jogador tosco, mas que lá vai marcando golos e impondo o seu porte físico) para que tenhamos uma noção do estilo da equipa treinada por Paul Lambert. Acompanhei-os, no passado sábado e há uma semana, contra Everton e Newcastle, respectivamente. Conseguiram uma vitória em casa frente ao Newcastle(4-2) e empataram em Liverpool(1-1), este fim-de-semana. Na primeira ocasião, assumiram mais o jogo, sem abdicar da estratégia tipicamente british. Já frente ao Everton, foram completamente dominados, viram o adversário fazer quase 30 remates, ter 61% de posse de bola, mas aguentaram, jogaram directo, em contra-ataque e conquistaram um precioso ponto. Neste último jogo apresentaram o seguinte onze: Ruddy na baliza( bom guarda-redes, seguro, tem sido uma boa revelação); Naughton( interessante lateral-direito, emprestado pelo Tottenham), Martin, Whitbread e Tierney; o ex-WBA Fox e o irlandês Hoolahan como dupla mais recuada do meio-campo, com dois alas( o médio-centro Crofts, à direita e o ofensivo Surman, na ala esquerda) e um homem a jogar nas costas do ponta-de-lança Holt, o tal tosco Morison. Uma equipa de cariz defensivo, com uma defesa relativamente estável liderada por Martin, meio-campo trabalhador e forte e ataque com homens altos, prontos a receberem cruzamentos ou bolas longas de trás. Estão em 9º lugar, com 20 pontos em 16 jogos. Excelente registo de uma equipa que, apesar de tudo, consegue ser fiel aos princípios britânicos do futebol directo.

Sem comentários:

Enviar um comentário