quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Lopez Ufarte, Uralde ou Bakero revisitados numa magnífica noite de Verão


A temporada 82/83 ficou marcada para sempre como uma das mais brilhantes da história da Real Sociedad. Depois do título espanhol do ano anterior, a formação txuri-urdin entrou para a Taça dos Campeões Europeus com a ambição de chegar o mais longe possível, quiçá até ao título. E, na verdade, ficou bem próxima de o conseguir. Os bascos eliminaram o Vikingur, Celtic e Sporting até chegarem à meia-final, onde perderam com o futuro campeão europeu, o Hamburgo, onde pontificavam craques como Hrubesch, Magath, von Heesen ou Bastrup. Muitos lembrar-se-ão do talento de Lopez Ufarte e Bakero, da eficácia de Uralde ou da segurança do keeper Arconada. Volvidos 30 anos, voltámos a reviver toda essa grandeza numa maravilhosa noite de Verão...

A actual Real Sociedad não goza da reputação internacional que a equipa dos anos 80 tinha. É uma equipa que procura recuperar a grandeza de outrora através de um conjunto de jogadores absolutamente comprometidos e dedicados à causa. Quem veste aquela camisola parece sentir o peso de uma forma positiva, cerra os dentes e trata de dar a vida em campo. Pelo menos, olhando para o maravilhoso campeonato da última época (4º lugar, à frente de equipas como o Valência, Málaga ou Sevilha) e para o início desta temporada, concluímos que a Real está no bom caminho e se pode orgulhar do grupo de jogadores que tem. E do treinador, Jagoba Arrasate, homem da casa, escolhido para substituir o herói que pôs, de novo, o emblema basco na rota da Europa dos grandes (Phillipe Montanier).

O regresso às lides europeias deu-se, precisamente, no campo onde haviam feito o último jogo internacional: Stade Gerland, em Lyon. Quase 10 anos volvidos dessa eliminação nos oitavos-de-final, a Real Sociedad soube ultrapassar os traumas do passado e venceu de forma bastante convincente (2-0). Os dois golos foram absolutamente brilhantes: o primeiro, ao minuto 17, num pontapé de moínho de Griezmann, em plena área, após assistência certeira de Carlos Vela. O segundo surgiu logo após ao intervalo. Após troca de bolas no meio-campo, Seferovic recebeu o esférico em posição pouco favorável, aproveitou a má colocação de Anthony Lopes e disparou de primeira, de pé esquerdo. Bola na gaveta, um golo magnífico, capaz de fazer levantar qualquer estádio. Foram dois momentos de sonho, provavelmente decisivos para o regresso basco à Liga milionária. Porém, houve mais vida para lá destes momentos de rara beleza...

A Real Sociedad foi uma equipa tacticamente cumpridora e que mostrou uma notável capacidade de segurar os criativos do Lyon e, ao mesmo tempo, soltar-se com grande perspicácia para o ataque. Montada em 4x1x4x1, a formação de Jagoba Arrasate deu a bola ao Lyon e tratou de fazer uma ocupação criteriosa dos espaços. Nota máxima, ou quase, para o meio-campo. Soberbo trabalho com e sem bola de Zurutuza, importantíssimo a fechar a porta, assim como Xabi Prieto, pau para toda a obra, ele que é um jogador de características manifestamente ofensivas. Atrás desta dupla, esteve um Markel Bergara impecável a equilibrar a equipa. Muitas vezes silencioso, Bergara foi a base perfeita do meio-campo basco, mostrando sempre enorme rigor táctico e posicional. Este trabalho defensivo soberbo, tirando gás a Grenier e apagando jogadores como Malbranque ou Benzia foi extremamente importante e deu logo aí, à partida, uma vantagem tremenda à formação do País Basco.

Depois, soltavam-se os génios: Xabi Prieto e Zurutuza, para lá do imenso trabalho de apoio ao sector mais recuado, eram os responsáveis pelo início das transições. Nas alas, apareciam, velozes e desequilibradores, Carlos Vela e Antoine Griezmann. Foram eles que, aliás, construíram o lance do maravilhoso primeiro golo (sendo que foi precisamente Zurutuza a desmarcar Vela para o cruzamento decisivo). Vela, sempre móvel, dinâmico e vertical, foi um quebra-cabeças para a defesa francesa, tendo inclusive obrigado Bisevac a cometer falta, que viria a valer o segundo amarelo para o central sérvio. Já Griezmann foi jogador importantíssimo, não só pelo golo, como também pelo acrescento de qualidade técnica e pela maneira como foi aparecendo nos espaços. Um jogo brilhante de todo o meio-campo ofensivo que teve continuação no ataque: Seferovic. O jovem suíço, reforço deste Verão, vai ser uma referência do ataque txuri-urdin. Móvel a toda a largura, inteligente a ler o jogo e a movimentar-se sem bola, mostra ainda qualidades interessantes no jogo aéreo e qualidade técnica nas finalizações. Depois do golo na estreia na Liga, mais um, de execução dificílima, na estreia milionária. Pode marcar uma era em San Sebastián.

Quem também esteve bastante acertada foi a defesa. Laterais muito sólidos, sendo que De la Bella (lateral-esquerdo) até se mostrou mais activo nos apoios ao ataque do que o ofensivo Carlos Martínez (lateral do lado direito). Ambos fecharam a zona com critério e revelaram-se importantes para este desfecho. Assim como os centrais: Iñigo Martinez, apesar dalguns deslizes, bateu-se bem com os atacantes do Lyon, assim como o internacional argelino Cadamuro, sempre muito concentrado e seguro nas suas acções. E, claro está, importa destacar também a importância de ter Claudio Bravo na baliza e de poder contar com substitutos valiosos como Chory Castro, Granero e Rubén Pardo (ia fazendo o terceiro). Um grupo de enorme qualidade e que tem as suas próprias estrelas. Assim como em 1982/83 brilhavam Lopez Ufarte, Bakero ou Uralde, agora é a vez de Griezmann, Prieto, Vela ou Seferovic poderem levar a Real ao topo da Europa.

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