sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Ligue 1 2013/14: Novamente, milionários contra o mundo



Tem início nesta sexta-feira mais uma edição da Ligue 1. Como sempre, o campeonato francês é um dos mais fascinantes de seguir ao longo da época, quer pela qualidade das equipas, como dos jogadores, individualmente. Diria que mesmo nas equipas de orçamento mais baixo, é possível encontrar elementos bastante promissores. Para esta temporada, temos, porém, uma introdução importante: além do PSG, teremos outra equipa milionária, o Mónaco. Será, certamente, considerada uma luta desigual mas, por outro lado, podemos encarar isto como sendo um aditivo de qualidade e jogadores reconhecidos internacionalmente a uma liga que, algumas vezes, é um pouco posta de parte, face ao maior poder económico de ingleses, espanhóis ou alemães.

De entre as 20 equipas que compõem o principal escalão francês, PSG e Mónaco saltam à vista. Não deixa de ser curioso que estejamos perante o campeão da Ligue 1 e o campeão da Ligue 2, respectivamente. Ambos contrataram dois avançados-top (o PSG adquiriu Cavani, o Mónaco optou por Falcao) e tornaram-se assim nos principais agitadores do mercado de Verão. No entanto, vejo uma clara vantagem para a equipa mais experiente e habituada aos grandes palcos, ou seja, o Paris Saint-Germain. A formação parisiense, agora orientada por Laurent Blanc, procura o bicampeonato, sendo que para isso recrutou elementos de qualidade-extra, a juntar aos prodígios de que já dispunha. Além de Cavani, chegaram os jovens defesas Marquinhos e Lucas Digne, ambos muito promissores. Juntar estes 3 nomes aos que por lá já andavam (Ibrahimovic, Lucas Moura, Lavezzi, Pastore, Matuidi, Verratti, Thiago Silva, entre outros) é, no fundo, fazer jus ao dito popular, ouro sobre azul

Em princípio, Blanc não deverá alterar muito a estrutura de Ancelotti, ou seja, 4x4x2. Provavelmente, juntará Cavani a Ibra no centro do ataque (com Cavani mais adiantado, quiçá), nas alas terá opções como Lucas, Lavezzi ou Pastore e pelo centro deverão jogar Matuidi e Verratti (atenção à ascensão do promissor Rabiot). Na defesa, há dúvidas quanto à continuidade de Thiago Silva, embora o mais provável seja que fique na Cidade-Luz. A seu lado, três possibilidades (Sakho, Alex e o promissor Marquinhos). Na direita, Jallet parece fixo, sendo que acredito que à esquerda Digne venha a ganhar, de forma progressiva, a sua posição. Portanto, não me parece que Laurent Blanc venha a alterar muita coisa e, aliás, convém que não o faça. Sabemos como é um apologista de bom futebol, jogado com bola no pé, como era também Ancelotti. No campeonato deverá ser assim. No entanto, esta época, surge outra prioridade: a Champions. Nasser Al-Kheilafi, proprietário do clube de Paris, tem a ambição de ganhar a maior competição europeia de clubes e este ano surgirá mais um ataque a essa histórica conquista. Olhando ao plantel actual, diria que o PSG pode muito bem mover-se com qualidade no campeonato e na Europa. Tem opções de sobra para gerir, quando necessário...

Numa segunda linha, embora com recursos financeiros semelhantes aos do PSG, está o Mónaco. A chegada do milionário russo Dmitry Rybolovlev ao Principado revolucionou completamente o clube. Só em contratações, gastou mais de 146 milhões de euros. Números escandalosos, que nos levam a questionar sobre a justiça do futebol actualmente (isto daria para uma longa discussão aqui...). Apesar do valor, quiçá exagerado, dos negócios, o Mónaco ganhou aditivos de tremenda qualidade para o seu plantel: Falcao, James Rodríguez, João Moutinho, Toulalan, Ricardo Carvalho, o recuperado Éric Abidal e os promissores Martial e Isimat-Mirin. Além disso, manteve elementos importantes na subida de divisão, tais como Raggi, Ndinga, Ferreira-Carrasco, Touré ou Germain. Claudio Ranieri, técnico experiente e consagrado, tem nas mãos uma autêntica máquina, capaz de entreter os adeptos e de poder, a curto prazo, lutar com o gigante da capital pelo título. Em princípio, e olhando aos jogos de preparação, deverá apostar no 4x3x3 como táctica preferencial. Veremos se ainda chegarão, entretanto, mais reforços. Diria que este plantel precisa de um grande guarda-redes e de um lateral-direito de maior experiência. Fora isso, há plantel para lutar, pelo menos, pelo acesso à Liga dos Campeões.

Depois dos tubarões milionários, surgem históricos, grandes de sempre do futebol francês, alguns deles a atravessar momento financeiro débil (como o futebol num mesmo país consegue ser tão discrepante...), mas seguramente dispostos a não facilitar a vida a PSG e Mónaco. Diria que o Marselha surge como candidato-maior a poder lutar pelo título. A formação de Élie Baup reforçou-se muito bem neste Verão, tendo recrutado jovens promissores como Benjamin Mendy e Imbula e jogadores com experiência de Ligue 1 como Payet e Khlifa. A contratação estratégica destes 4 elementos pareceu-me um golpe de mercado muito inteligente do clube do Sul de França. E, para lá dos reforços, conseguiu manter estrelas como os irmãos Ayew, o talento Valbuena, os centrais N´Koulou e Lucas Mendes e o monstro das balizas, Steve Mandanda. Naturalmente, o OM tinha de se reforçar bem este ano, dado que vai regressar à fase de grupos da Liga dos Campeões. Variedade e qualidade num plantel muito interessante e pronto a surpreender, mesmo sem os milhões doutras latitudes.

Logo de seguida, surge o Olympique Lyonnais, vulgo Lyon, com algumas perdas de relevo, uma crise financeira complicada em mãos e muita matéria-prima promissora, mas a necessitar de ser trabalhada. A equipa orientada por Rémi Garde, que terá ainda o "play-off" da Liga dos Campeões frente à Real Sociedad, vai começar o campeonato sem Lisandro, transferido para o Catar, e provavelmente ficará sem Gomis num futuro próximo, tendo portanto de se movimentar ainda no mercado. O restante conjunto é equilibrado e dá garantias de qualidade, sobretudo no meio-campo, onde Grenier se assume como o novo mago, depois do desaparecimento do melhor Gourcuff. Na defesa, dois reforços para as laterais (Miguel Lopes e Bedimo), num ano que pode ser da afirmação do jovem Samuel Umtiti. Nas alas, Danic foi recrutado ao Valenciennes e Lacazette mantém o lado direito, enquanto os jovens Pléa e Ghezzal esperam oportunidade no "onze" inicial. 

Ainda na luta pela Europa, temos outras equipas potencialmente competitivas: o Lille, que perdeu o veloz Payet mas ganhou o campeão mundial sub-20 Thauvin (e recrutou ainda Kjaer ou Delaplace); o Saint-Étienne, que estará na Liga Europa este ano e que contratou alguns jogadores muito interessantes para o meio-campo e para as alas (nomeadamente Corgnet, Tabanou e Sissoko); o Nice de Claude Puel, que manteve unidades importantes da última época como Pejcinovic, Kolodziejczak, Eysseric, Cvitanovich ou o promissor Maupay e ainda lhes acrescentou jogadores como Bruls ou Mendy (ex-Mónaco); o Bordéus, com a dupla Rolán-Saivet pronta a rebentar nesta nova época; o Montpellier de Jean Fernandez, com jogadores como Mounier, Cabella ou Bakar e o Stade Rennes de Phillipe Montanier, que o ano passado levou a Real Sociedad à Champions, isto sem esquecer o Lorient (com Alain Traoré em destaque), o Valenciennes (com ataque fortíssimo, composto por Le Tallec, Nguette ou Bahebeck) e o Toulouse, que mesmo sem Capoue, tem nos promissores Aurier, Abdennour e Ben Yedder um futuro garantido.

Por fim, as restantes equipas, em teoria, lutarão pela manutenção. Dentro destas formações, ainda assim, podem-se encontrar jogadores bem interessantes: Wahbi Khazri e Gianni Bruno (SC Bastia), Aissa Mandi, Gregory Krychowiak e Gaetan Charbonnier (Stade Reims), Mathieu Peybernes, Sébastien Corchia, Jérôme Roussillon e Ryad Boudebouz (Sochaux), Dja Djedjé (Évian), Benjamin André (Ajaccio), Younousse Sankharé (Guingamp) ou os promissores Jordan Veretout e Fernando Aristeguieta do FC Nantes. No fundo, um campeonato com muito por explorar e sempre aberto a novos talentos. Apesar do domínio milionário, é um campeonato que há-de valer do 1º ao 20º classificado!

5 jogadores a acompanhar na Ligue 1 esta época: 
Marquinhos (PSG): Estou muito curioso para ver Marquinhos no meio de tantas estrelas, depois de um ano de estreia na Europa tremendo, ao serviço da AS Roma. Aos 19 anos, este defesa central, de passaporte português, deu o salto para um patamar mais competitivo, dado que jogará a Liga dos Campeões. Provavelmente, não será titular de início, visto que a concorrência é fortíssima, mas lá chegará. É um jogador muito sereno, destro, com boa saída de bola, elegante, sem muitos deslizes posicionais e fortíssimo no desarme. Mais do que contratado para substituto de Thiago Silva, foi contratado para aprender ao lado do mestre. Terá seguramente um futuro risonho no clube parisiense e na selecção brasileira. Quem sabe já em 2014...
Gilbert Imbula (Marselha): Outro dos grandes reforços da Ligue 1 para esta época. O ano passado fez uma temporada brilhante ao serviço do recém-promovido Guingamp. Imbula, 20 anos, um monstro físico, da escola-Patrick Vieira, gere bem os ritmos do jogo, tem boa visão de jogo e é um "box-to-box" de muito valor, pelo que trabalha atrás e pelo que consegue fazer na 2ª linha. Tem muito critério nas suas acções e é um elemento de grande importância ao meio, sendo portanto um sério candidato a assumir o meio-campo marselhês neste ano de regresso à Champions. 
James Rodríguez (Mónaco): Um jogador bem conhecido dos adeptos portugueses pelo que fez no Dragão nas últimas três épocas. Muito talentoso e dotado de um pé esquerdo certeiro, James pode actuar como "10" ou, tal como fazia no Porto, como extremo, jogando de fora para dentro para potenciar o seu remate (Ranieri tem-no utilizado sobretudo nessa posição). Desequilibrante, criativo e bom a jogar em associação com os seus companheiros, James pode-se tornar rapidamente numa das estrelas da Ligue 1, aos 21 anos. Má notícia: não vai jogar as competições europeias esta época. Porém, deverá assumir a "10" da Colômbia no Mundial, depois de uma época, espera ele, de muito sucesso, em Monte Carlo. 
Samuel Umtiti (Lyon): Um central que é um seguro para o futuro próximo do Lyon. 19 anos, esquerdino, joga preferencialmente ao centro, embora também possa actuar como lateral-esquerdo. Umtiti é um defesa capaz de sair a jogar, ágil e que desarma bem. Não é um jogador muito forte do ponto de vista físico, na aparência, mas a resistência africana está lá. Promete fazer uma boa época.
Florian Thauvin (Lille): Uma das figuras da França no último Mundial Sub-20. Thauvin, 20 anos, é um médio-ofensivo, que actua preferencialmente do lado esquerdo e que já é comparado ao belga Eden Hazard. Ao vê-lo jogar compreende-se, ainda que com um certo exagero. É um esquerdino muito talentoso, forte a vir de fora para dentro, rompendo defesas com os seus movimentos inebriantes. É um jogador dotado e capaz de aparecer facilmente em zonas de finalização. Esta época, depois de ter sido a figura do Bastia e da selecção de sub-20, pode subir mais um patamar na sua evolução. O Lille agradeceria, ainda para mais no pós-Payet...

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