terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Apontamentos do fim-de-semana: Da magia negra do Dragão até a um novo Pibito passando pelas lições das nobres escolas do futebol

1. A pérola africana e o goleador que não (se) cansa... O FC Porto jogou este fim-de-semana num ritmo a que eu gosto de chamar "descanso activo". Mandou por completo no desafio frente ao Beira-Mar, não sofreu aflições atrás e foi eficaz na frente. Não precisou de insistir demasiado para conseguir construir vitória tranquila. Os golos foram apontados por Christian Atsu e Jackson Martínez, elementos com diferente protagonismo na carreira portista. Atsu é uma pérola que vai sendo trabalhada aos poucos. Leva tempo "construir" um jogador destes. Aperfeiçoá-lo, melhor dizendo. O golo deste último encontro mostra como também já consegue ser decisivo. Pega na bola, ao centro, longe da zona onde desborda com douta facilidade os adversários, e remata-a, de pé esquerdo, encaixada na gaveta de más memórias do guardião Rui Rego. Um momento tão bonito quanto simples. E o que dizer mais de Jackson, além de que estamos perante um colosso, um fenómeno de área? Tem tido um rendimento extraordinário para um estreante no futebol europeu. Absolutamente soberba a execução aos aveirenses: recupera a bola a meio-campo (mostrando que também ajuda atrás...), desmarca Moutinho, na direita, que depois o encontra na área, solto, esperando pela bola como um caçador que anseia pela passagem da presa, e este, com subtil finta, tira Hugo do caminho e faz baloiçar as redes. Mais um momento para coleccionar de Jackson "Cha Cha Cha" Martínez. 20 golos em 19 jogos na Liga. O rapaz não se cansa (nem nos cansa)...
2. Lima, Jesus e "autocarros". O Estádio da Luz assistiu este fim-de-semana a um dos jogos mais aborrecidos da nossa Liga nos últimos tempos. Frente-a-frente um Benfica cansado e lento perante uma Académica muito bem montada atrás, puramente defensiva. O duelo foi mole, até entediante em alguns momentos e foi decidido com um penalty (um jogo daquele jeito só mesmo de bola parada...) aos 95´. Alguns apontamentos há para contar (o rendimento apagado de André Almeida a trinco, com o meio-campo encarnado a pedir meças por Matic, o belíssimo jogo dos centrais e guarda-redes academista...) mas fico-me por 3 ideias-chave: 1ª, Lima. Muito mérito do brasileiro nesta temporada. Tem sido o abono de família do Benfica em jogos complicados como este. Desde o melhor Saviola que Cardozo não tinha tão bom complemento. 2ª, a maneira como Jorge Jesus pareceu estranhamente apático nalgumas decisões que tomou. Com aquela 1ª parte deveria ter sido mais vigoroso e algumas coisas podiam ter mudado, quando muito, ao intervalo. 3ª e última, "autocarros". Já confessei aqui que sou um admirador de futebol requintado. Mas também sou capaz de gabar e até admirar sistemas defensivos bem compactos. Quando não dá para mais, aceito a defesa do resultado. O que Olhanense e Académica fizeram nestes 2 últimos fins-de-semana, embora anti-espectáculo, é legítimo. Parafraseando Pedro Emanuel, "saber defender também é uma arte...".
3. O professor e a juventude das noites triunfantes. Victor Hugo dizia que quando somos jovens, temos manhãs triunfantes. No caso dos jovens do Sporting, são mesmo noites triunfantes. Pelo menos a do passado sábado foi. O Professor (Jesualdo Ferreira) não teve medo de lançar às feras os seus mais imberbes alunos e estes corresponderam logo de início: aos 6 minutos, já Bruma e Tiago Ilori, ilustres jovens da nobre Academia leonina, tinham colocado o Leão em vantagem. Um é extremo, o outro central, muito potencial escorrendo nas suas veias (apesar da falha de Ilori que deu golo para o Gil...). Mas não foram só eles que jogaram na equipa titular. Também o defesa Eric Dier e o médio Zezinho (brilhante neste jogo, equilibrou a equipa e deu sentido ao meio-campo) saltaram um patamar na sua evolução (no caso do primeiro já tinha acontecido, com Vercauteren ainda aos comandos). 4 titulares que, até há bem pouco tempo, só em sonhos imaginavam ter a possibilidade de jogar em simultâneo na equipa principal, num jogo de Liga. Agradeçam ao Prof aí da casa. Arriscou em prol de um futuro melhor para o Sporting!
4. Sangue novo no Berço. Para além do Sporting, há outro exemplo de aproveitamento perfeito de jogadores da equipa B na equipa principal. Falo-vos do Vitória de Guimarães. Fustigado pelas dívidas, o clube minhoto decidiu virar-se para a cantera. Para já o resultado tem sido francamente positivo. Ontem, durante o encontro contra o Moreirense, cheguei à conclusão de que esses jovens, já utilizados com regularidade, têm ganho maturidade e vão crescendo em termos de preponderância dentro da equipa. Ricardo será, porventura, o mais destacado. Dono de uma técnica entusiasmante, baila com os adversários, levando-os numa dança inebriante até à linha, de onde geralmente tira bons cruzamentos. Está a crescer no um-para-um, está mais maduro, perde menos bolas. A evolução com a permanente titularidade tem sido notória. Depois temos outros dois jovens, que ganharam a titularidade nos últimos meses, e que têm rubricado, geralmente, partidas muito conseguidas: o central Paulo Oliveira e o médio Tiago Rodrigues. O primeiro esteve emprestado ao Penafiel (onde se destacou) e o segundo revelou-se na 1ª volta ao serviço da equipa B. Tal como Ricardo, vêm da cantera vitoriana. Oliveira joga sempre muito concentrado, projecto de central elegante, por norma bem posicionado. Tiago Rodrigues é um médio-centro com boa visão de jogo, capacidade criativa e bom remate. Têm pormenores a melhorar, é claro, mas o progresso que têm feito é indiscutível. Que bom é para o futebol português olhar para estes casos de sucesso em tempos difíceis. Como diz o povo, as crises também trazem coisas positivas...
5. Espanha noutro prisma: observando as equipas mais pequenas. Este fim-de-semana, confesso, além de resumos, não vi os jogos de Real Madrid, Barcelona ou Atlético de Madrid. Preferi ir ver como anda a Espanha dos pequenos. Aliás já vinha assistindo a vários jogos nos últimos tempos. Bom futebol, jogadores muito interessantes e, sobretudo, equipas sem medo de atacar. No fundo, há entretenimento. Afinal não é só em Inglaterra que os jogos são estimulantes...
6. Barrada-Castro-Colunga: um trio diabólico. No Getafe-Celta, brilharam estes 3 rapazes. Barrada, nº10 do Geta, fez uma exibição estrondosa, a provar que rapidamente pode dar o salto para um escalão superior. Rematador, bem a construir jogo, a distribuir para Colunga, esteve muito activo. Regressou da CAN muito motivado. Depois temos Diego Castro, experiente médio-ala espanhol, jogador tecnicista, rápido, capaz de aparecer também em zona de finalização. Marcou um golo e encheu o campo com o seu dinamismo. Por último, Adrián Colunga. Caindo na esquerda e fazendo movimentos para o centro, desconcertou a defesa do Celta de Vigo. Apontou um golo e criou mais 5 ocasiões, só na 1ª parte. Dinâmico, móvel, repentino e eficaz. O ataque do Getafe, em 45 minutos, mostrou que em Espanha não são só os Messis, Ronaldos ou Falcões que brilham...
7. Real Sociedad-Levante. Um belo despertar dominical assistir a este duelo de candidatos à Europa. Empataram 1-1, num jogo em que, mais uma vez, a Real Sociedad jogou praticamente toda a 2ª parte contra menos um. É uma equipa interessante, capaz de dominar o adversário e pressionar com as linhas subidas mas às vezes parecem faltar ideias e, sobretudo, eficácia. Tem uma excelente dupla no meio-campo (Markel Bergara-Illarramendi) e um lateral-direito forte, Carlos Martínez, dos melhores em Espanha. Apoia e dá profundidade e defende com muito critério. Lá na frente soltam-se os criativos (Chory, Griezmann e Vela). Neste jogo a Real terminou com 3 pontas-de-lança mas só isso. Oportunidades para marcar foram escassas. E tudo graças a um esquema defensivo do Levante que resultou na perfeição, em especial no 2º tempo. A equipa de Juan Ignacio Martinez (conhecido em Espanha como JIM) costuma jogar muito organizada, com uma dupla de meio-campo brilhante, que mistura trabalho "pica-pedra" e classe na saída (Diop-Iborra). Na frente não deu muito nas vistas. Martins esteve sempre muito escondido e até o playmaker Michel quase só apareceu para converter o pénalti do empate. Defensivamente a equipa esteve bem, com destaque para os centrais (Ballesteros-Vyntra) e para o lateral, entrado na 2ª parte, Juanfran (limpou tudo). Apesar de ter mais posse e remates, o resultado é um castigo justo para a Real Sociedad. E um prémio para o conjunto de Valência, que continua a mostrar boas performances tácticas.
8. A melhor escola francesa. Voltando ao tema das escolas, mas agora em França. Para vos falar de um case-study chamado Olympique Lyonnais. Pode não ter a força da equipa hepta-campeã mas continua a mostrar ao mundo que há muita qualidade e talento a despontar nas escolas do clube. Este fim-de-semana venceram o Bordéus, fora de casa, por 4-0. Um jogo muito sólido, dominado na totalidade pela equipa de Remi Garde, que se sentiu muito confortável com a bola nos pés (acertaram 80 % dos passes). Com Gonalons e Fofana a trabalhar no meio-campo (o primeiro mais defensivo, o segundo a sair com bola e a tentar o remate) e Grenier mais próximo de Gomis, na 2ª linha, o Lyon funcionou na perfeição. Um trio de jovens jogadores que trazem uma nova vida ao "onze" do Olympique. Fofana foi contratado esta época, mas Gonalons e Grenier pertencem à casa. Assim como, por exemplo, Lacazette, que tem feito uma época sensacional. E no banco vão-se sentando Ghezzal ou Benzia...Provas de como o trabalho de formação continua a ser bem feito para os lados dos Alpes...
9. O 3º golo do Liverpool e um cheirinho a Coutinho... Foi uma dos momentos mais vistosos do fim-de-semana. Uma jogada colectiva a fazer lembrar o Barcelona. Entre José Enrique, Suárez e Sturridge, com finalização do primeiro, e ao primeiro toque, se construiu estupenda jogada. Aquilo foi Liverpool de Rodgers no seu melhor. Diria mesmo noutro registo, para lá do melhor que já tínhamos visto esta época. Isto num jogo totalmente dominado pelo Liverpool. Ganharam 5-0 ao Swansea mas podiam ter sido mais, tal o número de oportunidades. Futebol de posse, asfixiante e com momentos técnicos brilhantes. Será que a titularidade de Coutinho teve algo que ver? Um bocadinho, sim...
10. Luciano Vietto. Para terminar a longa corrida de fim-de-semana, vamos até ao início deste mesmo. Mais concretamente ao começo de madrugada de sexta-feira para sábado. Racing de Avellaneda-Argentinos Juniors. Eu vi novamente magia a acontecer no Cilindro de Avellaneda (nome pelo qual é carinhosamente tratado o Estádio Juan Domingo Perón). Magia que transbordou dos pés de um dos jovens craques que vão aparecendo nas canchas argentinas. Falo de Luciano Vietto. O craque do Racing pegou na bola na esquerda, acelerou pelo meio de vários adversários e à entrada da área, como é seu timbre, atirou forte disparo, sem hipóteses para o portero contrário. Um movimento tão simples quanto belo, isto na sequência de uma bela exibição. É um avançado com boa mobilidade, forte disparo e aceleração em espaços curtos e médios. Uma pérola a nascer no "jardim" cilíndrico de Avellaneda. Para seguir com atenção nos próximos tempos!

Sem comentários:

Enviar um comentário