terça-feira, 25 de setembro de 2012

Apontamentos do fim-de-semana: Do novo Pibe colombiano ao surpreendente Everton passando por uma tarde de históricos em Parma

1. James a 10. Foi uma das temáticas fortes do fim-de-semana. A colocação do craque colombiano na sua posição predilecta trouxe uma nova dinâmica à equipa. É certo que, noutros jogos, em que joga mais adiantado e numa ala, também tem tendência a vir para dentro. Mas, começando no seu habitat favorito, o rendimento é mais visível. 2 assistências, 1 golo e um par de jogadas em que auxiliou na perfeição o compatriota Jackson (autor de um golo fantástico) e combinou igualmente bem com o meio-campo mais recuado e os extremos. Apraz-me dizer que, neste jogo, a equipa foi de James. Conclusão: bom rendimento individual, entrosamento interessante a nível colectivo e capacidade de ajudar a resolver melhor o jogo. Para este tipo de jogos é uma óptima solução. A desvantagem? James cansa-se mais e o próprio Vítor Pereira alertou para isso (e bem...) no final do jogo. Mas se as contas já estiverem resolvidas quando aparecer o cansaço, tudo fica bem.
2. O génio de Salvio e outras dissertações sobre o Académica-Benfica. Tem sido claramente o melhor jogador deste início de época no Benfica. Eduardo Salvio continua a espalhar classe, velocidade, repentismo e verticalidade pelos nossos relvados. Ontem, em Coimbra, foi mais uma vez o melhor encarnado no empate a 2 do vice-campeão. Destacou-se sobretudo no melhor período do Benfica (primeiros 15 minutos). Ainda sobre este confronto ficam outros breves apontamentos: Enzo Pérez está a começar a aprender a ser um "8" (obviamente diferente de Witsel, mas sem comprometer nesta metamorfose táctica) e Cardozo parece atravessar uma crise de confiança (falhanço escandaloso aos 3 minutos) e Lima pode muito bem roubar-lhe o lugar (golo decisivo na noite de ontem). No que toca à equipa de Coimbra, um futebol mais com o coração do que com a cabeça. Pedro Emanuel procura acima de tudo salvar pontos. É compreensível. Faltam jogadores (e pernas...) para jogar como ele gosta. No entanto, consegue ser uma equipa digna do apelido que leva: Briosa.
3. Da solidão de Sá Pinto a um triunfo sofrido, muito sofrido. Olhando para Sá Pinto nesta última semana ocorreu-me um pensamento. Não meu, mas de Agustina Bessa-Luís, na obra Alegria do Mundo. Reflectindo ela sobre a solidão, o comportamento social e a construção da personalidade, chegava à conclusão de que "excessiva comunicação, debates exagerados de assuntos que requerem meditação e peso  moral(...) não enriquecem o património de uma sociedade". Além disso, acrescenta a autora, "a solidão favorece a intensidade do pensamento". Parece-me uma comparação sensata. Para que este Sporting ganhasse personalidade, Sá Pinto precisou de reflectir, para si mesmo, e não criar um debate público que acabasse por prejudicar o património da sociedade (neste caso, a sociedade Sporting). E a verdade é que este tempo de reflexão e de trabalho secreto resultou, pelo menos, na primeira vitória no campeonato. Foi à justa? Foi sim, meus senhores. Foi conseguida sem uma exibição deslumbrante? Pois sim, mas são sempre 3 pontos. E para mim a imagem forte deste jogo foi o onze inicial dos leões. Inúmeras alterações, ao nível de jogadores e da táctica ( foi um Leão mais próximo do 4x4x2). Sofreu-se a bom sofrer em Alvalade mas foi uma equipa diferente para melhor na atitude, na entrega e sobretudo na construção de lances de perigo, em especial no primeiro tempo (por paradoxal que possa parecer, dado que os golos apareceram no último quarto-de-hora de jogo). Maus resultados e más exibições exigem profundas reflexões internas. Sá Pinto fê-las e, para já, saiu a ganhar.
4. A alma de Rinaudo. Neste encontro entre Sporting e Gil (2-1 para os verde-e-brancos) outro destaque ainda. É certo que a notícia principal foi a estreia do jovem Viola a titular (bons pormenores técnicos, muito mexido, tem, no entanto, que se habituar ao ritmo de jogo europeu), mas há outro facto importante a relevar: o regresso de Fito Rinaudo à equipa sportinguista. As diferenças são por demais evidentes. Dezenas de bolas recuperadas e afastadas, clarividência no posicionamento táctico e capacidade de lançar o primeiro passe. Um jogador-chave, ao mesmo tempo tampão e passador, que faz uma diferença incrível na alma da equipa.
5. Éder: o novo homem-golo do Minho? Dois golos na goleada (4-1) ao Rio Ave fizeram Éder saltar para as primeiras páginas dos jornais (ou deveriam tê-lo feito, pelo menos. Parece que preferiram destacar um senhor de apelido Xistra). E com justiça, diga-se. O avançado ex-Académica provou mais uma vez que é um dos melhores pontas-de-lança nacionais a jogar no nosso campeonato. Aos 23 anos, exibe características diferentes de muitos outros: é forte fisicamente, tem um bom jogo aéreo, joga bem em apoio e finaliza bem na cara do golo. No início da carreira parecia ser um pouco trapalhão. Mas, quer com Villas Boas, Jorge Costa ou Pedro Emanuel, na Académica, foi crescendo. Aprendeu a jogar com os companheiros, aprendeu movimentações básicas e, essencial, progrediu imenso no domínio da bola. Peseiro teve de redimensionar a equipa no pós-Lima e encaixar convenientemente o ponta-de-lança internacional português. A equipa não joga em exclusivo para ele, nem depende só dele. Mas parece-me que Éder se vai tornar num elemento fundamental do onze minhoto. Para já, vai na frente da corrida com Michel, Zé Luís e Manoel...
6. A dupla lanterna que encadeia a Bundesliga. Neste caso não se trata de uma lanterna vermelha mas sim da dupla que lidera o campeonato: Bayern Munique e Eintracht Frankfurt. 4 jogos, 4 vitórias e muitas histórias para contar. Os bávaros venceram este fim-de-semana o Schalke, por 2-0, fora de portas. Exibição intratável. 75 minutos de domínio da equipa de Heyneckes. Futebol de pressão, com mais posse e tentativa de lançar os alas Robben e Muller e o móvel ponta-de-lança Mandzukic. Já em Frankfurt mora a grande surpresa deste campeonato, o histórico recém-promovido Eintracht. Este fim-de-semana bateram o Nuremberga, fora, por 2-1. Vi-os jogar no fim-de-semana anterior, frente ao Hamburgo (3-2) e fiquei com uma óptima impressão. Revelaram-se uma equipa madura, que quer ter o domínio do jogo e que apresentam algumas revelações bastante interessantes: o jovem lateral-direito Jung, muito seguro a defender e bem no apoio, os médios Schwegler e Rode, que seguram e esticam o jogo da equipa e o médio-ala esquerdo japonês Takashi Inui, de 24 anos, mais uma pérola nipónica a despontar na Bundesliga. Apesar de baixote (1,67m), é dotado tecnicamente, tem visão de jogo e arrancou dois excelentes golos nas últimas 2 jornadas. Muita atenção, portanto, a este Eintracht Frankfurt. Ah, e não percam de vista as diabruras de Robben, os remates de Mandzukic ou as correrias de Lahm no Bayern. Uma dupla de líderes que vale a pena seguir com redobrada atenção!
7. Ver futebol italiano ao sábado às 17 horas. É uma experiência sempre interessante. Parma-Fiorentina era o duelo. Se fosse na segunda metade da década de 90, iria delirar. De um lado iria ver Buffon, Cannavaro, Sensini, Thuram, Dino Baggio, Asprilla ou Crespo; do outro, Toldo, Torricelli, Repka, Rui Costa, Batistuta ou Amoruso. No meio deste duelo romântico, adaptado aos dias de hoje, encontro de um lado resquícios muito ténues de uma grande equipa (Parma) e do outro, uma equipa reforçada com jogadores de grande nível, claramente a clamar por outros palcos (Fiorentina). O jogo acabou 1-1. Teve 3 grandes penalidades. Emoção não faltou. Mas voltámos a assistir ao já estereotipado jogo aborrecido à italiana. Poucas oportunidades de golo, jogadas construídas com calma e sem grande genialidade. Foi neste sábado que revi, no entanto, o espanhol Borja Valero, talentoso médio-ofensivo ex-Villarreal, entretanto reciclado para médio-centro na equipa de Florença. Sem dúvida que é o elemento mais interessante do meio-campo viola, quer no capítulo do passe como no da condução de bola. Reencontrei ainda outro puro-sangue das canchas sul-americanas, o ex-sportinguista Matías Fernández, numa posição de quase trequartista, bem ao seu gosto. No entanto, acabou por não se revelar muito influente na manobra ofensiva. Já a referência Jovetic jogou sempre mais solto, caindo na esquerda, para depois tentar as habituais diagonais. É um grande jogador, capaz de romper qualquer defesa, mas sábado não teve a sua tarde (além disso falhou um pénalti). Defensivamente, a equipa treinada pelo ex-jogador Vincenzo Montella, estrutura-se com uma linha de 3 homens (Roncaglia, Rodríguez e Tomovic), sendo que a segurança nas laterais é garantida à direita por Cuadrado (jogador muito rápido, sem grandes noções defensivas, mas que é compensado por Roncaglia nessas funções) e à esquerda pelo experiente Mattia Cassani (jogador mais dotado para a posição, regular quer a defender, quer a atacar). Ao meio é a dupla Pizarro-Valero que garante os equilíbrios e desequilíbrios (neste último caso, causados sobretudo pelas acções da visão de jogo do espanhol). Quanto ao Parma de Donadoni é uma equipa algo enfadonha. Vive de fogachos dos homens mais adiantados, o francês Belfodil (ex-Lyon) e o rápido avançado colombiano Dorian Pabón. Ao meio vivem, na minha opinião, os dois melhores elementos do conjunto gialloblù: o médio-centro Galloppa (bem na recuperação e com notável visão de jogo) e o desequilibrador, puro nº10, Jaime Valdés, outro chileno ex-Sporting a espalhar classe pelos relvados da Serie A. No segundo tempo, Roberto Donadoni ainda lançou Amauri, Palladino (que saiu lesionado) e o talento grego Ninis. Este último foi aquele que me pareceu mais próximo de criar os desequilíbrios necessários no espaço ofensivo, tanto à direita como no centro. Em suma, fica o empate, num jogo sem grandes oportunidades, tacticamente razoável, mas sempre com a incerteza a pairar sobre o resultado. A Serie A procura a renovação. Meus amigos, pois bem, aqui...não encontrei nada de novo.
8. Benzema, o novo duplo-pivote e um CR a tremer. Ver o Real Madrid no terreno do Rayo Vallecano (triunfo por 2-0) trouxe-me à cabeça a ideia de uma equipa que ainda joga sobre brasas. Muitas foram as oportunidades em contra-ataque, desperdiçadas com soberba e falta de concentração. No entanto para mim o que fica deste jogo são três pormenores: primeiro, um Benzema que se assume como o avançado perfeito para este tipo de jogos. O francês progride bem com espaço, é um avançado móvel, aparece no sítio certo (ver primeiro golo) e inventa espaços que, por sua vez, resultam em golos, com grande facilidade (primeiro golo a meio da semana ao City é um exemplo). Ontem marcou numa execução precisa, à boca da baliza, e ainda fez um segundo, em contra-ataque, entretanto anulado por suposto fora-de-jogo. Segundo, o duplo-pivote. Diferente agora. Mais consistente acrescentaria, juntando Xabi Alonso e Essien. O problema de ambos, no entanto, eram os lances em velocidade nas costas, que os obrigaram várias vezes a recorrer à falta (ambos acabaram com amarelo). Apesar de tudo, roubaram muito mais bolas do que a habitual dupla Alonso-Khedira. Por último, Cristiano. Parece atravessar um momento de incertezas. Nem o golo a meio da semana frente ao Manchester City, na Champions, lhe deu a confiança suficiente. Marcou uma grande penalidade, é certo, mas pareceu afastado da dinâmica da equipa durante parte do desafio e, já na segunda metade, desperdiçou golo incrível de baliza aberta, entre outras jogadas. Como disse John Carlin ao El País, Ronaldo também precisa de olhar para os companheiros, não só para os adversários. Isso acaba por fazer a diferença na comparação com Messi...
9. PSG cada vez mais forte. A equipa de Ancelotti finalmente descobriu a fórmula do sucesso. Têm-se sucedido os bons resultados: só esta semana, 4-1 ao Dinamo de Kiev na Liga dos Campeões e 4-0 ao Bastia, para a Ligue 1. A máquina começou a carburar. Algumas razões: o reaparecimento de jogadores como Pastore, Matuidi e Nenê e a contratação do holandês Van der Wiel para a direita da defesa. Acrescente-lhe ainda a grande forma de Ibrahimovic e Ménez. Dia 3 de Outubro cá estarão, para defrontar o FCP. Que belo duelo podemos perspectivar!
10. Um Everton em grande forma. Já havia falado aqui do Everton esta época. Os toffees voltam a merecer destaque: mais um triunfo seguro, 3-0, no difícil terreno do Swansea. Primeiros 25 minutos de jogo de um sufoco impressionante. Este Everton gosta de mandar, ter bola, criar desequilíbrios, até fora de casa. Lembro-me do recital de futebol que deu em Villa Park, à 2ª jornada, em meros 60 minutos (sublinhe-se meros aqui.). Pienaar é o maestro, Fellaini a elegância e inteligência em forma de jogador de futebol, Mirallas e Anichebe dão os golos e Baines, Jagielka ou Osman a consistência e dinâmica de que a equipa necessita. 3º lugar, a par do surpreendente WBA, ao fim de 5 jornadas. David Moyes tem razões para estar orgulhoso do seu trabalho!




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