terça-feira, 5 de março de 2013

Apontamentos do fim-de-semana: Do clássico de Alvalade ao clássico de White Hart Lane passando por outros clássicos e revelações

1. " Lição de defender" por Prof.Jesualdo Ferreira. Terminou empatado o jogo grande da jornada 21 da Liga Zon Sagres. Apesar dos 30 pontos de diferença entre FC Porto e Sporting, o nulo prevaleceu num jogo em que os dragões tiveram sempre mais bola, mais remates, mas onde efectivamente não tiveram grandes ocasiões de perigo. Pela frente, encontraram um Sporting defensivo, montado atrás da linha da bola. Creio que nem havia outra maneira de Jesualdo Ferreira abordar este jogo. Jogar aberto contra este FC Porto seria um suicídio. E o que se passou então com o FC Porto para não conseguir melhor que este empate? Simples. Foi pouco acutilante no último terço, mostrou estar muito dependente de Jackson, num jogo em que se viu uma intervenção menor dos laterais. Parece que estes se inibiram de atacar durante boa parte do jogo, o que, juntando à interiorização dos extremos, raramente resultou em perigo. Vítor Pereira lançou, e bem, James e Atsu na 2ª parte. Digo bem porque a ideia era dar profundidade (no caso do ganês) e movimentos diagonais para criar remate (no caso de James). Só que, por azar, não era a noite destes dois. Jesualdo fechou a porta com Fokobo (já depois da expulsão de Rojo), juntando-o a um bravíssimo Ilori (melhor em campo) e a um duo esforçado e musculado, que muito trabalhou a defender (Rinaudo-Dier). Outro aspecto fundamental para explicar este "apagão" de ideias dos portistas será a ausência de Moutinho. Faltou clarividência no meio-campo, capacidade de rasgar a defesa contrária com um passe decisivo. Lucho cumpriu o que pôde nessa função, enquanto que vimos um Defour tantas vezes desnecessariamente agarrado a Fernando (o melhor portista em Alvalade). Com um Sporting tão defensivo, Vítor Pereira poderia ter sido mais ousado desse ponto de vista. De qualquer maneira, mérito ao Sporting e a Jesualdo Ferreira. Fez o que estava ao seu alcance. Mereceu, juntamente com os seus jogadores, os aplausos que a plateia lhe dispensou no final.
2. Um líder preguiçoso e uma lanterna a querer mudar de cor. O Benfica aproveitou, naturalmente, o empate do FC Porto para se colocar na liderança isolada do campeonato. A deslocação a Aveiro para defrontar o "lanterna-vermelha" Beira Mar não parecia antever muitas dificuldades. No entanto, a equipa aveirense, agora treinada por Costinha, deu água pela barba aos encarnados neste duelo. Especialmente a meio-campo, onde depois da meia hora se viu uma disputa muito interessante. Certo é que o Benfica abrandou muito o ritmo de jogo mas há mérito de um Beira Mar disciplinado, lutador e que, como disse anteriormente, deu muita luta a meio-campo. O resultado ficou escrito logo ao minuto 15, com um pénalti convertido por Cardozo. De facto, nos primeiros 15/20 minutos o Benfica foi manifestamente superior. Explorando a debilidade no lado direito da defesa do Beira Mar (jogou um central adaptado a lateral...), Ola John e Melgarejo forçaram e obtiveram prémio (neste caso, um pénalti). Depois disso, foi sofrer até final. O Beira Mar pegou na bola, galgou terreno e pressionou o Benfica, faltando claramente quem conseguisse ser mais incisivo no último terço. Grandes exibições do lateral-esquerdo Hélder Lopes e do médio-ofensivo Rúben Ribeiro, promessas de um Beira Mar a lutar com afinco pela manutenção daqui para a frente. Quanto ao Benfica, o que se pode dizer é que cumpriu. 3 pontos. Pouco futebol, mas isso pouco importa nas contas finais. No entanto, pode ser encarado como algo preocupante dado que foi mais um jogo em que o Benfica teve momentos de pouca intensidade. Nalguns jogos mais duros, pode pagar caro...
3. Quim, o salvador da semana. Há momentos em que um guarda-redes ascende à categoria de herói. Nesta última semana, Quim pode ser considerado um "salvador da pátria" para os lados de Braga. Primeiro, ao parar 2 pénaltis na meia-final da Taça da Liga frente ao Benfica. Depois, no encontro desta segunda-feira, frente ao Olhanense, fora de portas, num jogo absolutamente fulcral na luta pelo 3º lugar. Quim voltou a corresponder com óptimas defesas numa altura em que dava a sensação de que os algarvios podiam surpreender. Não conseguiram. Do outro lado estava um veterano guarda-redes que, apesar dos 37 anos, ainda vai enchendo balizas. E que até já fala de um regresso à Selecção...
4. O meio-campo do Paços e outras revelações. Grande época do Paços de Ferreira. Deixou de ser novidade há muito tempo mas certo é que os pacenses continuam a surpreender e a mostrar que o regresso à Europa é algo que está cada vez mais próximo de acontecer. Este fim-de-semana bateram o Vitória de Setúbal (2-0). 2 golos do possante Cícero. Mais uma exibição fantástica do meio-campo pacense. Em especial do médio-centro André Leão e do médio-ofensivo Josué. André, um verdadeiro Leão dentro de campo, está a fazer uma época incrível, a melhor até agora na sua carreira. Joga com grande clarividência, é um elemento tacticamente preponderante e tem uma excelente visão de jogo. Josué vai também brilhando. Em termos ofensivos, tem sido um jogador muito esclarecido, criador de jogo, sempre a encontrar linhas de passe de forma brilhante. Além disso tem no seu pé esquerdo uma arma letal em remates de meia-distância. Estes têm sido dois dos maiores craques da época pacense. No entanto, não são os únicos. Tiago Valente (central certinho e forte no jogo aéreo), Diogo Figueiras (lateral que apoia bem e defende com critério), Luiz Carlos (trinco trabalhador, forma grande dupla com André Leão), Hurtado (médio-ala/extremo peruano, tecnicamente interessante), Vítor (médio-ofensivo criativo e que joga com qualidade entre-linhas) e o já citado Cícero são algumas das outras revelações que têm feito deste Paços uma equipa consistente, táctica e tecnicamente muito interessante. O 3º lugar continua a ser deles. E com toda a justiça.
5. Novamente Paulo Oliveira e Tiago Rodrigues. Tenho falado muito deles por aqui e, na verdade, entende-se o porquê. Duas belas provas de como as equipas B trazem mais benefícios do que prejuízos ao futebol português. Quem diria, no início desta época, que Paulo Oliveira e Tiago Rodrigues, dois jovens portugueses, da equipa B do Vitória de Guimarães, se tornariam titulares da equipa principal e, consequentemente, iriam adquirir o estatuto de revelações da Liga 2012/2013? Muito pouca gente, certamente. Mérito de Rui Vitória que acreditou nos valores das camadas jovens vitorianas. Oliveira é um defesa muito atinado, inteligente a ler o jogo, pronto a despejar bolas quando necessário e relativamente forte em antecipação. Um belo projecto de central. Já Tiago Rodrigues tem uma história interessante: o ano passado estava emprestado ao Amarante (2ª Divisão Nacional), onde era, aliás, utilizado de forma algo intermitente. Este ano subiu de escalão, para jogar na 2ª Liga, no Vitória B. Foi rubricando excelentes exibições e agora é um dos indiscutíveis da equipa principal, no principal escalão. Joga como médio-centro. Possui uma excelente visão de jogo, é muito inteligente nas movimentações, tem uma meia-distância interessante e, além disso, é um jogador correcto do ponto de vista táctico, apoiando várias vezes a equipa em espaços mais recuados. Um jogador muito útil. Tem 21 anos e potencial para continuar a ascender na carreira. Dois belos exemplos da utilidade das equipas B, volto a dizer. Inclusive para as nossas selecções jovens que, de repente, descobrem aqui belas opções para o futuro próximo.
6. Olhando para a 2ª Liga, algumas revelações: Confesso que é uma pecha minha: falo pouco por aqui nas equipas da 2ª Liga e nos interessantíssimos jogadores que por lá vão aparecendo. Reflecti um pouco e vi que já era tempo de lhes dar mais alguma atenção. Fica aqui uma lista de algumas das revelações da temporada. Sigam estes jogadores porque podem estar aqui excelentes opções de futuro para a 1ª Liga: Ericson, 25 anos, Tondela. Um belo trinco que surgiu numa das revelações do escalão secundário. Possante, faz bons desarmes, equilibra bem a equipa e dá a saída de bola necessária na sua posição. É cabo-verdiano e já merece o salto para um clube da classe média da Liga Zon Sagres.
Tozé, 20 anos, FC Porto B. Figura-maior da equipa B do FC Porto. Médio com técnica, pezinhos de veludo, conduzindo muito bem a bola. Tem jogado como médio-centro, no entanto, é um médio-ofensivo de raiz. Com ele em campo, o talento e a qualidade de passe são presenças habituais no jogo dos azuis-e-brancos.
Luís Silva, 20 anos, Leixões. Médio-centro de grande qualidade a despontar no Mar. Leva 35 jogos esta época (4 golos apontados, todas na Liga). Jogador que trabalha bastante a meio-campo e capaz de aparecer em zonas de finalização, geralmente de pé esquerdo. Tem uma estampa física interessante (1,85m).
Tiago Silva, 19 anos, Belenenses. Uma das boas revelações da grande época do Belém. Tem técnica e é o elemento mais criativo do meio-campo. Parece algo franzino mas dentro de si cabe muito futebol. Começou no Benfica, mudando-se no escalão juvenil para o Restelo. Jogou quase todos os jogos da época, levando para já 7 golos apontados em todas as competições.
Rafael Porcellis, 26 anos, Santa Clara. Poderia falar aqui do cabo-verdiano Platini, que tão bons jogos fez na recente Taça das Nações Africanas, mas decidi falar deste goleador, dado que foi falado há bem pouco tempo como possível reforço do SC Braga. Não é particularmente jovem, o que faz com que já tenha um registo de carreira interessante e variado. Fomado no Internacional de Porto Alegre, chegou a passar pela Suécia (Helsinborg e Vanamo), entre 2009 e 2011. Leva 17 golos em 35 jogos esta temporada (9 em 27 jogos da 2ª Liga). Forte no jogo aéreo, possui igualmente um disparo potente de pé direito. Tem bons pormenores e é capaz de bater bolas paradas. Não deve ficar nos Açores por muito mais tempo...
7. Real a toda a linha. Incrível a superioridade evidenciada pelo Real Madrid nos 2 Clássicos da última semana. Primeiro em Camp Nou, com um triunfo (3-1) de autoridade. Um golpe anímico muito forte num Barcelona ainda combalido pela derrota em San Siro na Champions. CR7 voltou a brilhar nos dois jogos. Marcou 2 em Camp Nou e quando entrou no jogo deste fim-de-semana mudou radicalmente a história do jogo. Vertical, veloz, rematador exímio, está, claramente, a gozar o auge da sua carreira. Nunca foi um futebolista tão maduro e consolidado como é agora. E ao lado dele vão brilhando outros craques, nomeadamente Ozil, Di Maria, um regressado Coentrão e o jovem central Varane, uma das maiores pérolas do futebol mundial dos últimos tempos. Do outro lado, um Barça a viver crise de identidade profunda. Pode voltar à vida se der a volta à eliminatória com o Milan. O que neste momento se afigura muito complicado. Xavi aparece menos, assim como Messi. A equipa continua a avançar linhas mas já não recupera tão bem em zonas adiantadas. Pior, desposiciona-se facilmente atrás e sofre muito mais golos. Uma semana de sonho para os pupilos de Mourinho e de terror para os culé.
8. Um Milan em crescimento e uma sólida Juventus. Em Itália foi também jornada de grandes jogos: Nápoles (2º) vs Juventus (1º) e Milan (4º) vs Lazio (3º). Neste último caso, as posições inverteram-se com a vitória do Milan (3-0). Começando precisamente por aqui: grande vitória de um Milan cada vez mais forte. A equipa de Massimiliano Allegri atravessa grande momento de forma. El Sharaawy vai jogando muito futebol, quando não está Balotelli aparece Pazzini e a isso tudo há que juntar o regresso à boa forma de Boateng e as exibições brilhantes da jovem dupla de laterais Abate-De Sciglio. Quanto à Juventus, mostrou grande maturidade na difícil deslocação a Nápoles. Não fosse o desperdício ofensivo e a equipa bianconera poderia ter deixado a questão do título definitivamente arrumada. 1-1 foi o resultado, com mais Juve no 1º tempo e bela réplica dos napolitanos nos últimos 45 minutos. De destacar mais duas grandes exibições de Pirlo e Lichtsteiner. Pirlo foi o regista que a equipa necessitava, abrindo linhas de passe em permanência e ajudando a defender. Lichtsteiner, mais uma vez, mostrou grande disponibilidade em toda a linha, quer a apoiar o ataque, quer a defender. Um dos melhores laterais-direitos da actualidade numa das equipas mais equilibradas da Europa.
9. Palacio/Icardi: 2 gerações de argentinos decisivos. Ainda por Itália, grande fim-de-semana de 2 avançados argentinos: Rodrigo Palacio, relegado de início para o banco na difícil viagem a Catania. Ao intervalo, a perder 2-0, Stramaccioni colocou-o em campo. E tudo mudou com o argentino. Em 45 minutos, deu uma assistência e fez dois golos. Vertical, dinâmico, com capacidade de começar e finalizar jogadas. De cabeça ou pé direito. O outro argentino é o jovem Mauro Icardi. Já falei dele aqui nesta temporada. Tem feito uma segunda volta absolutamente sensacional. Já lhe chamam em Itália, com escandaloso exagero, o "novo Messi". Pode não ser Messi (também, quem consegue ser?...) mas tem muito talento. No último domingo, converteu o 9º golo esta temporada. Só em 2013 já marcou 8! Diz-se que para o ano vai ser jogador do Inter. Imaginando uma dupla com Palacio, fico deveras entusiasmado. Duas gerações de argentinos (um tem 31 anos, o outro completou recentemente 20) com muito tango, futebolisticamente falando.
10. Tottenham-Arsenal. O "North London Derby" não foi um grande jogo de futebol. Venceu o Tottenham de André Villas Boas, por 2-1, numa altura em que atravessa, de longe, o melhor momento da época. Sensacional, diria mesmo. Dois golos de seguida (Bale e Lennon) aproveitando a defesa alta de um Arsenal, que em termos de posse e domínio até vinha sendo mais esclarecido. Mertesacker ainda assustou no início do segundo tempo mas foi um charco no meio do deserto. Um Arsenal capaz de ter bola mas desequilibrado, quer a defender quer a atacar (e com desequilibrado falo numa questão de organização das jogadas). De destacar mais um golo de Bale e a enorme exibição do central Vertonghen. Limpou tudo, raramente um atacante do Arsenal o conseguiu ultrapassar. And the Spurs go marching on...

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